sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O caso Calabote (VI)

I. A trajectória da bola e as decisões da FPF
II. A pouco inocente nomeação de Calabote
III. Os estágios das selecções em... Lisboa
IV. Treinador-adjunto do SLB no banco do Torreense
V. Deus deu o campeonato à melhor equipa

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VI. Um Gama avermelhado na baliza da CUF


O Grupo Desportivo da CUF não era um clube qualquer. Esteve 22 épocas consecutivas na 1ª divisão do futebol português (desceu de divisão após a revolução do 25 de Abril, na época 1975/76) e, logo a seguir aos quatro grandes da altura, o GD CUF foi das equipas mais fortes e regulares do futebol português entre o final da década de 50 e meados da década de 60, como atestam as seguintes classificações:
• 1958/59 - 11º
• 1959/60 - 5º
• 1960/61 - 6º
• 1961/62 - 4º
• 1962/63 - 12º
• 1963/64 - 5º
• 1964/65 - 3º

Conforme já foi referido, à entrada da última jornada do campeonato o Benfica tinha uma desvantagem de quatro golos em relação ao FC Porto. Ou seja, se os “dragões” vencessem o Torreense (último classificado) pela margem mínima, o SLB, para superar a diferença de golos global, teria de vencer a CUF por seis golos de diferença.

O SLB necessitava de uma goleada, mas será que a CUF era uma equipa propensa a sofrer goleadas?
Nesse campeonato, quantas vezes é que a CUF tinha perdido por seis golos de diferença?
A resposta é simples: nunca.
Aliás, olhando para os 25 jogos anteriores, verifica-se que só por uma vez a CUF tinha perdido por mais de três golos de diferença (em Guimarães). Nos jogos com os outros “grandes” da época, a CUF tinha perdido por 3-0 nas Antas e em Belém e apenas por 1-0 em Alvalade.
Mais. Nos 12 jogos fora que já tinha disputado, a CUF tinha sofrido 25 golos (2,08 golos por jogo), o que fazia da defesa da CUF a 5ª melhor fora de casa antes do jogo com o SLB.

Por tudo isto, fácil é concluir que, em condições normais, não era provável a CUF sofrer a goleada de que o SLB necessitava. Contudo, conforme se iria constatar, houve várias “anormalidades” nesse célebre Benfica x CUF.

A começar pelo desempenho do guarda-redes da CUF – um tal de Gama (que nome tão apropriado neste contexto...) – que, de tão “infeliz” nesse jogo, foi substituído quando a equipa perdia por 5-1... a pedido dos próprios colegas!

No Mundo Desportivo (23/03/1959) pode ler-se: «Gama, o guardião da turma que a determinada altura foi substituído aparentemente cansado do trabalho aturado que teve de suportar, respondeu-nos quando o interpelámos:
Faz pena, depois de tamanho esforço e tenacidade desenvolvidas verificar que o Benfica não conseguiu o número de golos suficiente para chegar a campeão! E a verdade é que ocasiões não lhe faltaram.”»

Leram bem. Quem disse isto não foi um jogador do SLB, foi o guarda-redes da equipa que tinha sofrido uma goleada com o prestimoso contributo dele próprio.

Ao contrário de Gama, José Maria, o guarda-redes que o substituiu a pedido dos colegas, afirmou:
Os benfiquistas obrigaram-me a trabalho intenso, e confesso que tive de realizar várias defesas em condições difíceis. Quanto ao resultado, considero-o expressivo em demasia, visto que nele interferiu o desacerto da arbitragem.”

Em declarações ao Norte Desportivo, o treinador da CUF, Cândido Tavares, diria:
Não posso acreditar no que se diz a respeito de Gama e, embora não seja seu costume falhar tantas jogadas, creio na sua honestidade! Simplesmente ele esteve, no domingo, demasiado infeliz. Vendo isso, e ainda porque dois dos seus próprios companheiros me solicitaram que alterasse o desempenho posto, mandei-o sair do terreno. Estava muito nervoso, e manifestava sintomas de total desorientação. Todavia daí a aventarem-se torpes insinuações terá de percorrer-se larga distância.”

Sim, não vale a pena fazer “torpes insinuações”. Os factos e as declarações do próprio Gama falam por si.

Mas, para além do estranho caso do guarda-redes “nervoso”, “desorientado” e “demasiado infeliz”, houve outras anormalidades.

No final do jogo, Cândido Tavares (que, saliente-se, tinha sido jogador e campeão ao serviço do Benfica), não escondia a sua revolta relativamente à arbitragem e diria:
Só estranhei que Inocêncio Calabote não tivesse arranjado uma quarta grande penalidade nos últimos minutos. Não foi árbitro não foi nada...”


Manuel de Oliveira, que viria a ser um dos mais cotados treinadores portugueses, era na altura jogador da CUF. Em declarações ao jornal RECORD de 23/01/2006, não teve dúvidas em afirmar:
Estava tudo feito. Foram assinaladas três grandes penalidades contra nós e nenhuma delas existiu. (...)
O jogo foi preparado muito antes (...) Para começar, o Benfica promoveu um atraso de 7 minutos para o recomeço do jogo e depois confirmou-se o momento mau pelo qual passava o nosso guarda-redes, Gama, que foi muito pressionado durante a semana por elementos ligados ao adversário. E a verdade é que ele não foi feliz. (...)
O jogo obedeceu a um arranjo e, quanto a isso, não tenho a menor dúvida
”.


(continua: Treinador do FC Porto comprometido com o SLB)

Fontes:
[1] ‘CSI – Calabote Scene Investigation’, Pobo do Norte, Maio de 2008
[2] 'Glória e Vida de Três Gigantes', A BOLA, 1995
[3] zerozero.pt, 1958/59


Fotos: Record, ‘Grupo CUF – elementos para a sua História

12 comentários:

  1. Mais um bom testemunho de como se faziam as coisas por outro lado, já naqueles tempos. Tudo bons rapazes. Li a entrevista de Manuel Oliveira, de resto complementada com outra a A Bola.

    Não conhecia os pormenores defensivos da CUF, pelo que fica mais um registo factual desta história mirabolante.

    Obrigado José Correia.

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  2. Caro Zé Luís, antes de mais nada deixe-me dizer que não tem nada que agradecer.

    Eu é que agradeço os contributos que o Zé Luís, ou outros leitores do 'Reflexão Portista' possam dar (através de comentários ou do e-mail do blog), tendo em vista a elaboração de um dossier o mais completo possível sobre o que era o Sistema e os seus "tentáculos" há 50 anos atrás.

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  3. À medida que vou aprofundando as pesquisas, torna-se cada vez mais claro que o designado 'Caso Calabote' é muito mais que um mero caso de arbitragem.

    Deste modo, no final da publicação desta série de artigos, tenciono elaborar um dossier, que irei disponibilizar no 'Reflexão Portista', de modo a que possa ser lido e consultado por quem tiver interesse em perceber o que era o futebol português do antigamente.

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  4. Zé Luís disse...
    «Li a entrevista de Manuel Oliveira, de resto complementada com outra a A Bola.«

    Caro Zé Luís, será que me podia enviar (através do e-mail do blog) a entrevista que o Manuel Oliveira deu ao jornal A BOLA?

    Obrigado.

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  5. tendo em vista a elaboração de um dossier o mais completo possível sobre o que era o Sistema e os seus "tentáculos" há 50 anos atrás.

    Caro amigo José deixe-se do "Nós somos maus mas eles são piores", porque isso é que o nosso pais faz sempre dai estar no estado em que está, se continuarmos com a conversa do "nos temos 10% de desemprego mas Espanha tem 12%" e por ai fora não se vai a lado nenhum.
    Porque não o amigo despender o seu tempo em vez de falar dos outros, em provar que o Sr. Pinto da Costa está inocente em todos os seus processos, em provar por exemplo que nenhum arbitro foi ao Brasil a pala do porto nos anos 90', que nenhum vereador foi espancado as ordens do sr. Pinto da Costa, que o mesmo não recebe árbitros na sua humilde casa antes um dia dos jogos só para dar o exemplo...

    Agora nesse tempo meu amigo, fique já a saber o Benfica em 10 anos apenas ganhou 3 campeonatos e ficou 4 vezes em segundo, o porto ganhou 2 campeonatos e ficou 4 vezes em segundo e o Sporting ganhou 5 campeonatos ficando por uma vez em segundo...

    Realmente como vê isto é que é um sistema cheio de tentáculos, ou o Benfica era a madre Teresa de caucuta, "nos compramos isto tudo mas deixem os outros ganhar para não dar nas vistas" enfim...

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  6. Serafim Leite, para si basta uma palavra: Estorilgate.

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  7. Serafim Leite disse...
    «Caro amigo José deixe-se do "Nós somos maus mas eles são piores"»

    Caro Serafim, não sei onde foi buscar a frase, ou a ideia, de que eu afirmei que "nós somos maus mas eles são piores".

    Uma coisa lhe posso garantir: até agora, nenhum dos nomes, datas, factos, resultados ou citações que transcrevi nos seis artigos já publicados foram alvo de qualquer contestação ou desmentido.

    Mas eu compreendo perfeitamente o desconforto e, em alguns casos, a irritação que esta série de artigos causa em algumas pessoas.

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  8. Estorilgate.

    Vocês são fantásticos em arranjar bodes expiatórios, tentem é ser mais imaginativos porque assim não vão a lado nenhum.

    Caro Serafim, não sei onde foi buscar a frase, ou a ideia, de que eu afirmei que "nós somos maus mas eles são piores".

    É simples caro José, você é que ainda não percebeu onde eu quero chegar, Após o apito final a única coisa que os adeptos do porto tentam fazer todas as semanas é arranjar um caso parecido para o Benfica, pois caro amigo desculpe mas ainda está longe, se o melhor que consegue é arranjar casos de há 50anos atrás, eu não necessito de recuar tanto basta descer uma dezena de anos para ver o que era e o que é o sistema em Portugal.

    Segundo, e vou repetir

    .... o Benfica em 10 anos apenas ganhou 3 campeonatos e ficou 4 vezes em segundo, o porto ganhou 2 campeonatos e ficou 4 vezes em segundo e o Sporting ganhou 5 campeonatos ficando por uma vez em segundo...

    Como explica então este grande sistema de compra de árbitros nesse tempo pelo Benfica e mesmo assim não ganhava os campeonatos? realmente, arranjem outros assuntos para se entreter nos tempos livres.

    Como disse e repito usem esse tempo para provar a inocência no Apito dourado, e deixem os outros, eu quando o porto é beneficiado não venho falar em Calheiros e Martins dos santos...

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  9. Quarta-feira, 21 de Janeiro de 2009

    O caso Calabote (I)

    Talvez por sentirem que o peso de décadas de privilégios não foi esquecido pelo país desportivo, vários blogues benfiquistas e o próprio site oficial do SLB têm tentado reescrever a história do emblemático caso Calabote. O descaramento é tal que em alguns casos chegaram ao ponto de insinuar que, vistas bem as coisas, quem foi beneficiado pelas arbitragens dessa época (1958/59) foi o FC Porto.

    Ainda esta semana, um relativamente conhecido comentador benfiquista (participante habitual no painel do Porto Canal), escreveu o seguinte num dos principais blogues do SLB (de que ele é um dos mentores):
    “Uma mentira dita mil vezes não passa a ser verdade. Nos últimos dias, a tentação de ir ao baú da História para tentar explicar o presente, fez ressuscitar um nome: Inocêncio Calabote. Quem o fez não conhece a história, nem tem tempo para essas minudências do estudo e da investigação séria e rigorosa. (...)
    Calabote, que foi irradiado (sendo o primeiro árbitro a sofrer tal punição) já cá não está para se defender, mas é preciso que a História o reabilite e lhe faça justiça.”

    Leram bem. Segundo benfiquistas do século XXI, é preciso que a História reabilite Inocêncio Calabote e lhe faça justiça!

    Pois bem, numa altura em que se estão quase a completar 50 anos do “Caso Calabote”, e para que um número cada vez maior de pessoas fique a conhecer o que era o futebol português do antigamente, o ‘Reflexão Portista’ irá publicar uma série de artigos sobre este caso em que, para além dos penalties e da habitual discussão à volta dos minutos de compensação dados por Calabote no Benfica-CUF, iremos abordar os antecedentes, as decisões da FPF, o comportamento de jogadores e treinadores, o relacionamento entre clubes e as reacções dos jornais.

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  10. Continuo à espera que o Serafim, o César e outro dos benfiquistas que têm passado por cá, corrijam ou desmintam algum dos nomes, datas, factos, resultados ou citações que transcrevi nos seis artigos já publicados.

    Aproveito a ocasião para garantir que não me irei desviar do caminho que tracei quando iniciei a publicação desta série de artigos e, embora perceba a estratégia de quem o tenta, obviamente não irei transformar os comentários a estes artigos em discussões envolvendo o Calheiros, o Martins dos Santos, o Carlos Valente, o Porfírio Alves, o “chinês”, o Bruno Paixão, o Lucilio Baptista, entre outros.

    Para além de repor a verdade que alguns blogues benfiquistas e o próprio site do SLB pretendem reescrever, a publicação desta série de artigos vai servir (já está a servir!) para demonstrar que à volta do denominado “caso Calabote” houve muito mais que um mero caso de arbitragem.

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  11. caiu-lhes a nascara estavam a espera que ningem soubesse disto ja agora e o rapto do eusebio

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  12. Joaquim Leite, de facto a qualidade da sua VERBORREIA/DIARREIA MENTAL, só poderá ser comparável à ignorância e insuficiência intelectual de que padece. Juntando a esses "predicados" a MENTIRA E A DESINFORMAÇÃO, depressa poderemos concluir que, essas são "qualidades" que me parecem ser condição "sine qua non" de uma grande percentagem do estado lampiónico.

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