sábado, 28 de fevereiro de 2009

O Indómito Cruzado



"É mais difícil ser portista em Lisboa que muçulmano na Bósnia-Herzegovina"



É uma espécie de homem dos sete ofícios: advogado de formação, jornalista, comentador político, escritor, agora até actor – segundo creio, no papel do seu bisavô o 4º Conde de Mafra, D. Tomás de Mello Breyner, na serialização televisiva do seu romance “Equador” – e comentador portista do fenómeno futebolístico, coisa distinta de comentador de futebol, área reservada para iniciados, especialmente daqueles que conseguem ver coisas num jogo de futebol das quais nem os próprios treinadores das equipas em liça suspeitam.

Mas se os seus comentários políticos, embora de grande independência, se não distinguem pela subtileza, e se os seus romances ficam aquém dos dotes literários de sua mãe – como actor ignoro as suas qualidades - já como “comentador portista” Miguel Andresen Sousa Tavares, que viu a luz do dia na Invicta a 25 de Junho de 1950, tem-se distinguido pela acutilância e pela combatividade dignos de um filho do destemido político, jornalista e polemista Francisco Sousa Tavares.

Instalado por trás das “linhas inimigas” e sempre com a mira bem assestada à ignomínia e à desvergonha adversárias, este autêntico guerrilheiro azul-branco é na actualidade o maior defensor do F.C.Porto junto da opinião pública. Quer se trate do Apito Dourado ou sua versão sucedânea o Apito Final, das lágrimas de crocodilo de adeptos ou dirigentes da dupla da capital, ou simplesmente da vulgar discussão semanal acerca de off-sides e penalties – labirinto em que se perde grande parte da discussão futebolística em Portugal – Miguel Sousa Tavares lá está, à 3ª feira, de dentro de um dos principais redutos inimigos, pronto a pôr os pontos nos “ii” e a desmascarar a vilania e a hipocrisia.

Como herdou do pai um extraordinário espírito de independência, Miguel Sousa Tavares junta à impiedosa crítica do adversário uns remoques àquilo de que discorda na condução dos destinos do F.C. Porto, o que já lhe tem valido incompreensão e censura. Infelizmente, para alguns portistas o adepto “perfeito” do FCP, além de se atirar devidamente a “mouros” e quejandos, deve enaltecer tudo o que provém do clube e nunca nada criticar, especialmente se essas críticas podem ser lidas ou ouvidas por ouvidos inimigos.

Só que Miguel Sousa Tavares vem por atacado e não a retalho: se queremos ouvir a sua voz, tanto mais respeitada quanto a sua independência é reconhecida, se queremos ver a nossa dignidade ferida ser defendida pela sua destemida pena, temos também de aceitar que critique aquilo que ele descreve como os “contentores” de jogadores sul-americanos ou que hoje ache que o Alan, que ontem considerava um nabo, é quase um Cristiano Ronaldo. Outros há que descontraidamente se prestam ou prestariam ao papel de cronistas oficiosos, mas Miguel Sousa Tavares é completamente desprovido de temor reverencial e tiques de bajulador perante o poder, seja ele qual for.

Por minha parte espero que a pena nunca se lhe esmoreça e a voz firme nunca lhe fraqueje.

5 comentários:

  1. Miguel Sousa Tavares é um homem que põe o dedo na ferida. Leia-se "Lisboa". MST é um homem portista. Leia-se um dos 1.9 milhões.E tem razão quanto ao ser portista em Lisboa! Moro nesta cidade há 3 anos e se já era portista antes... bem, o jornalismo que se faz aqui sobre os clubes não alinhados, leia-se FCPorto, é de tal maneira ignóbil que desperta os instintos mais básicos de sobrevivência, pelo que luto constantemente entre o dilema da racionalidade tentando não pensar sobre a constante lavagem cerebral informativa sobre os actos gloriosos da segunda circular, (mesmo quando estes sofrem pesadas derrotas e oferecem espectáculos tenebrosos de futebol), e o da emotividade, (mostrar que por não gostar de vermelho não sou por isso deficiente mental e, desde logo, tenho direito a pensar e sentir diferente) munindo-me de todas as armas possiveis e ao meu alcance, uma delas a recorrência surda ao português vernáculo lembrando-me, de segundo a segundo, a minha origem nortenha. Todas as notícias lidas e ouvidas fazem lembrar o MATRIX, uma rede criada para fazer pensar os supostos 6 milhões, e os outros, de que toda a escorregadela (ou "bué delas" nos últimos 20 anos...)não passa de mais uma "maravilhosa vontade de erguer a cabeça e arrecadar um título que é nosso por direito". Este direito tem que ser posto em causa. Da melhor maneira!Como? Continuando o FCPorto a jogar para ser o melhor, mesmo sabendo que qualquer Taça de Portugal, Campeonato da Liga, Taça do Mundo, ou Champions Cup vale sempre zero comparativamente a uma qualquer taça disputada entre os clubes da segunda circular, (mesmo que seja a Taça da Liguilha da Páscoa do Distrito de Lisboa).Isto é o que leio todos os dias. O meu espírito crítico só se restabelece e ganha forças todas as segundas feiras quando entro no Metro, às 8.30, e vejo as caras deles...Eu sei que eles sabem que eu sei que eles sabem que o FCPorto é o Melhor Clube nacional!

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  2. Bom texto, boa análise. Concordo.
    Eu, que nasci em Lisboa e por cá vivo, embora tenha tido a sorte de morar e viajar por razões profissionais e de lazer noutros paises e continentes, sei quão difícil pode ser assumir-se portista na "capital do império falido"!

    Felizmente, os meus genes minhoto-beirãos e a minha formação infanto-juvenil entre Matosinhos e o Porto forjaram-me o orgulho de ser Português e defensor de valores que se sentem mais a Norte, sem perder a abertura ao Mundo.

    Gosto, também por isso, das crónicas do MST, mesmo quando não concordo. Escreve bem, assume o seu portismo e é independente.
    A sua inteligência e genética indomável, associadas às circunstâncias da vida, moldaram-lhe uma personalidade forte, numa pessoa privilegiada, diria eu, à imagem do FCPORTO.

    Eu também assumo o meu portismo em todas as circunstâncias. Na minha janela vidada para o Tejo, lá estão em permanência o cachecol do Tri e um pano-bandeira do FCPORTO a marcar território. No café mais abaixo, também registei, de várias formas, a marca do Dragão, quando antes apenas calimeros e gayvotas marcavam pontos.

    E, apesar de gostar das mãos limpas, no sentido literal e global do termo, faço-me acompanhar de um anel oferecido há anos pela minha Mãe, com o emblema do FCPORTO.

    É também uma maneira de afirmar "visualmente, o meu portismo, em detalhes como reuniões, encontros, no metro, etc.

    Bom, tenho que me despachar por que ainda vou "galagar" 300 km até ao Dragão (e outros tantos na volta), com o desejo e a esperança de ver um bom jogo, uma grande exibição e vitória do FCPORTO, esperando que "o João pode ser..." seja sóbrio e não incline o campo, como o Lucílio "Calabote" Baptista ontem fez, cortando jogadas ou não marcando faltas que prejudicaram o Leixões, e depois, talvez atrasado para um qualquer encontro, terminou o jogo com apenas mais 3 minutos, deixando outros tantos para as calendas...

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  3. «Miguel Sousa Tavares lá está, à 3ª feira, de dentro de um dos principais redutos inimigos, pronto a pôr os pontos nos “ii” e a desmascarar a vilania e a hipocrisia.»

    As crónicas do MST são uma lufada de ar fresco numa comunicação social cada vez mais controlada e reverencial perante os poderes que emergem da Capital.

    O facto das crónicas do MST serem publicadas em A BOLA (a "Biblia" dos benfiquistas), faz com que sejam ainda mais dificeis de engolir por aqueles que pretendem impôr uma verdade oficial única e inquestionável.

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  4. Sobre MST, digo apenas isto. Às terças-feiras, a primeira coisa que faço é ir comprar "a bola" para ler a sua crónica.

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  5. Precisamos de muitos como ele!

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