segunda-feira, 30 de março de 2009

O "goodwill" de Jesualdo


«Depois do empate a zero no Dragão frente ao Sporting, e de escolher uma equipa com Pedro Emanuel a defesa-direito – o que não era o máximo da ambição –, as acções de Jesualdo Ferreira tiveram uma queda abrupta, tipo Millennium BCP. Ontem, depois de conseguir um importante apuramento para os quartos-de-final da Liga dos Campeões, afastando o Atlético de Madrid, as mesmas acções do treinador do FC Porto experimentaram uma subida interessante.

Pelo discurso dos últimos tempos, Jesualdo Ferreira tem sérias dúvidas sobre se o clube quer que ele continue para a próxima época. Os jornais já avançaram vários nomes de possíveis substitutos – Paulo Bento, Jorge Jesus – mas a verdade é que os méritos de Jesualdo Ferreira são vários. Independentemente de não ter conseguido vencer nenhum dos jogos com o Atlético de Madrid, foi claro nestes 180 minutos que a equipa portista tinha um trabalho táctico de base incomparavelmente melhor. O Atlético mudou de treinador recentemente, é certo, mas isso foi porque a equipa já não estava bem.

Nestes três anos, Jesualdo tornou-se melhor treinador, respondendo a exigências cada vez maiores e conseguindo resultados.
Tinha os meios para isso?
Claro. Mas soube pôr a render os talentos. Passar aos quartos-de-final foi também um prémio para ele.
Jesualdo não é aquilo a que se chama um treinador cujas equipas tenham grandes arroubos atacantes – não é. Mas quem o faz hoje – Mourinho? Capello? Rafa Benitez? Mesmo Alex Ferguson? Quem o fazia e faz era Del Neri e no Dragão durou quinze dias e zero jogos competitivos.

Não sei qual vai ser a decisão de Pinto da Costa no final da época, ou sequer se essa decisão já foi tomada, nem sei obviamente quais vão ser os resultados a partir daqui. Mas sei que não é fácil mudar para muito melhor. Sei que Jesualdo tem a vantagem da idade madura, que não procura arranjar problemas, procura resolvê-los, é honesto. Sei que nas suas mãos o FC Porto tem chegado a Março sempre com a equipa bem treinada, saudável, com boas possibilidades de ganhar coisas, sem problemas de maior fora do campo ainda que sempre com alguns dentro dele. Não fez tudo bem, mas fez bem a maioria das coisas. O balanço é positivo.

Discutir o "goodwill" das acções de um treinador de mais de 60 anos é um pouco espúrio. Jesualdo é o tipo de gestor que não aposta nunca em activos tóxicos, mesmo que isso signifique menos ganhos imediatos na comparação com outros. Jesualdo transmite mais segurança do que ilusões. Em tempos de crise, se calhar esse é um valor importante. Ou mesmo decisivo.»

Manuel Queiroz
in ‘De Trivela’, 12/03/2009

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