sábado, 7 de março de 2009

O jornalismo vergado a interesses


«Ontem, no início de um curso de pós-graduação em "Comunicação e Desporto" da Escola de Jornalismo do Porto, de que tenho o pesado encargo de ser professor, peguei num título de um jornal diário que dizia na capa: "Auditores falam de risco de falência da SAD" do FC Porto.

Este é um bom caso para falar dos defeitos do chamado sistema mediático e do que é ser jornalista hoje em dia. O título é factualmente verdadeiro, mas o jornalismo implícito é factualmente errado. É que os auditores - cujo prestígio anda aliás, em todo o mundo, pelas ruas da amargura - falam há muito, pelo menos há uns cinco anos, da possibilidade de falência de todas as SAD e várias outras empresas por causa do artº 35 do Código dos Valores Mobiliários e o jornal tem obrigação de o saber. Se não soubesse, também bastava um "click" no computador para chegar a essa conclusão. Sabendo-se isso, a novidade da notícia, que foi manchete no mesmo jornal há uns anos, deixava de o ser.

Ou seja, com a verdade me enganas. Porque as notícias devem ser tratadas com rigor e honestidade, mesmo que nesse caso se perca uma boa manchete... comercial. E o rigor mandava enquadrar as coisas como deve ser e não atirar para o ar com a parcela que dá jeito, perdendo a face poucas horas depois em face do que naturalmente veio a público.

Expliquei aos meus alunos, um belo grupo aliás, muitos jornalistas ou candidatos a sê-lo, que os jornalistas têm ser honestos e humildes. Que têm direito a errar, mas não têm direito a vergarem-se a interesses. Porque o vício mais caro que há nesta vida é o da independência e o de andar de espinha direita. Quem não estiver para pagar esse preço, é melhor escolher outra profissão.»

Manuel Queiroz, 03/03/2009
in 'De Trivela'


No final do ano 2000, Manuel Queiroz saiu do PÚBLICO (onde tinha integrado a equipa fundadora 10 anos antes) e aceitou o convite para ser subdirector do ‘Record’ e responsável pela redacção do Porto.
Em 30 de Janeiro de 2003, Manuel Queiroz assumiu interinamente a direcção do ‘Record’ quando os antigos directores – José Manuel Delgado e João Querido Manha – foram afastados pela administração da Edisport (empresa do grupo Cofina que controla o ‘Record’).
Nota: José Manuel Delgado e João Querido Manha tinham chegado à direcção do ‘Record’ em Fevereiro de 2002, na sequência de ida de João Marcelino para o ‘Correio da Manhã’.

Nesse mesmo ano – 2003 – Manuel Queiroz passou a desempenhar as mesmas funções (subdirector responsável pela redacção do Porto) no ‘Correio da Manhã’ de onde foi demitido em 23 de Junho de 2007, deixando de haver cargo de director no Porto e mantendo-se a Direcção do CM toda em Lisboa.

Desde que saiu do Grupo Cofina, Manuel Queiroz tem vindo a tornar-se incómodo para os seus antigos companheiros.
Este artigo que publicou no seu blog (de que reproduzi cópia em cima), ou a forma desassombrada como comentou o último FC Porto x Sporting, são apenas dois exemplos.

Mas há mais. Chamo a vossa atenção para alguns artigos que Manuel Queiroz publicou no blog Bússola, envolvendo o Ministério Público e jornalistas do CM, entre os quais destaco:
• ‘O novo director da PJ do Porto’ (23 de Fevereiro de 2008)
• ‘As carpideiras’ (4 de Fevereiro de 2008)
• ‘Bem prega Saldanha Sanches’ (21 de Dezembro de 2007)

O Manuel Queiroz anda a "esticar a corda" e a forma como vem desmascarando diversas situações envolvendo o MP e/ou ex-companheiros do 'Correio da Manhã' (os dois Octávios e o Eduardo Dâmaso) irá, sem dúvida, suscitar ódios e retaliações.
Espero que o Manel (conforme o tratou o João Querido Manha no último Jornal de Domingo da TVI24) continue determinado e que não lhe falte a coragem, mas é bom que tenha um pé de meia substancial, porque quem se mete com os senhores todo poderosos da capital arrisca-se a ficar sem trabalho.

Nota: A selecção da foto e os destaques no texto a negrito são da minha responsabilidade.

4 comentários:

  1. Neste país de vermelhuços, o futuro dos jornalistas isentos e honestos está condenado ao fracasso.

    A Comunicação Social é uma arma muito poderosa, há muito dominada pela vertente económica que «influencia» a opinião pública na medida dos seus interesses, o que equivale a dizer, «trabalha» as notícias para que os pacóvios do costume as consumam e tenham o orgasmo colectivo de que tanto necessitam, para exorcizar as frustrações que a realidade lhes impõe.

    Trata-se afinal, da «PROSTITUÍÇÃO INTELECTUAL» de que Mourinho recentemente falou em relação à CS italiana e que assenta como uma luva à portuguesa.

    Lutar contra esta realidade, é mesmo um acto de coragem, que espero se mantenha, nas excepções que felizmente vão aparecendo.

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  2. Saudações!

    Gostaria mais uma vez de recomendar uma notícia. Esta já tem mais de um mês. Trata dos despedimentos e encerramento de algumas redacções no Porto (JN, OJogo, 24Horas e DN). Bem sei que as redacções no Porto não são um garante de isenção nem um possivel espaço para podermos (aqui falo das gentes do Norte e não só FCP) ter voz, no entanto, se essa possibilidade existia parece-me que o rumo foi invertido. Decisões de gestão...certamente. Dá a sensação é que vão passar a escrever para 6 milhões.

    http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1364105

    Melhores cumprimentos

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  3. Caro Capitão Bacalhau,

    Já tinhamos dedicado um artigo a esse assunto.
    Poderá lê-lo aqui:
    http://reflexaoportista.blogspot.com/2009/02/ditadura-da-capital-na-comunicacao.html

    Cumprimentos

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  4. Mais um caso de gripante bairrismo lisboeta...

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