Corria a época de 1968/69 e o F.C. Porto, dez anos depois do seu último triunfo na prova, disputava taco-a-taco com o inevitável Benfica o Campeonato Nacional da I Divisão (os patrocinadores, tal como "a luta pela verdade desportiva", os "paineleiros" e as "transições rápidas" eram ainda uma coisa do futuro).
Atendendo ao aquecer da luta pelo título, José Maria Pedroto, que cumpria a sua terceira época à frente da equipa, elaborou um programa especial de estágios. Esse programa, contudo, viria a enfrentar a oposição dos jogadores, especialmente do trio formado pelo guarda-redes Américo, o médio Eduardo Gomes e o ponta-de-lança Custódio Pinto. O trio foi suspenso por indicações de Pedroto e no jogo seguinte, frente à tradicionalmente difícil equipa da CUF (actual Fabril do Barreiro), no seu Estádio Alfredo da Silva, surgiu uma surpresa de monta: a lateral-esquerdo estreava-se um jovem de 19 anos e, mais, era ele o capitão de equipa. Com esse gesto, José Maria Pedroto pretendeu significar aos restantes jogadores que nenhum deles era imprescindível ou mais importante que a equipa. Assim nascia para o futebol da alta roda o Leopoldo, que os adeptos do F.C. Porto viriam a popularizar com a alcunha de "o Bacalhau".
O F.C. Porto venceria o desafio por 1-0, mas o título, esse, depois de novas peripécias e de algumas ignóbeis atitudes por parte da direcção do clube, culminando no despedimento de Pedroto, ficaria "no tinteiro".
Entretanto "o Bacalhau", de seu nome completo Leopoldo José Nogueira Amorim, foi singrando no clube, o qual, como sabemos, atravessava uma época de vacas magras em matéria de êxitos desportivos. Sem nunca ser um jogador brilhante, não estava, porém, abaixo da média - muito pelo contrário - dos ocupantes do lugar de defesa-esquerdo antes da sua aparição. Com os tempos chegou a ser utilizado a defesa-direito, e recordo-me bem de um jogo no Bessa, em Dezembro de 1973, precisamente uma semana depois da morte do grande Pavão, em que o primeiro golo do F.C. Porto numa vitória de 2-0 foi da autoria do "Bacalhau". E não sei mesmo se não terá sido o seu único golo ao serviço do clube.
Mais tarde, por volta de 1976, o "Bacalhau" rumaria ao Varzim, onde jogou, segundo creio, até 1980. Ou seja, falhou por pouco a época em que aquele que o lançara na equipa principal, regressado triunfalmente, haveria de levar o F.C. Porto de novo ao título nacional.
É também dos "Bacalhaus" deste mundo, jogadores da casa e dedicados ao clube, que se faz a história do F.C. Porto. Bem hajas, Bacalhau!
Nota: nesta foto de uma equipa do F.C.P. do iníco da década de 70, o "Bacalhau" é o terceiro a contar da esquerda na fila de trás, entre os "monstros" Pavão e Rolando.
Créditos: O Baú dos Cromos, Paixão pelo Porto
Mas afinal, qual era a razão dessa curiosa alcunha?
ResponderEliminarAlexandre, por falar em Pavão, vejo-o com capacidades para escrever um artigo em que se fale apenas do futebolista em si mesmo.
Muito do que se escreve sobre ele, normalmente coloca o acento tónico na sua morte.
Julgo que faz falta uma análise às suas qualidades futebolísticas, apenas e só.
"Mas afinal, qual era a razão dessa curiosa alcunha?"
ResponderEliminarEu penso que era por ele ser alto e magro....
Na época o dinheiro não abundava e os bacalhaus não tinham a gordura dos nossos dias....
"recordo-me bem de um jogo no Bessa, em Dezembro de 1973"
ResponderEliminarnão sei porquê, mas pensava que fosse mais novito :)
foi precisamente nesse ano que vim para Portugal e que "aderi" ao FCPorto.
(Futebol Clube do Porto, a vencer desde 25 de Outubro de 1147)
Alexandre, peço desculpa, mas com os devidos créditos ao autor
ResponderEliminare a este magnífico blogue, eu copiei esta postagem e coloquei-a no meu blogue. É que eu fui e sou fã deste Homem!
Convém dizer, que no Varzim, fez parte daquela equipa maravilha, que se sagrou campeã da 2ª divisão com mais de uma dezena de pontos de avanço do segundo classificado. Nessa equipa tinha o Fonseca (que depois se mudou para a baliza do FCPorto), o Marco Aurélio, o Washington (pai de Bruno Alves), Cacheira e outros craques...
ResponderEliminarManteve-se do Varzim até que um dia, Pedroto, pois então, o convidou a jogar no Vitória de Guimarães, treinado por si na altura.
Uma coisa é certa, o seu coração clubístico é e foi sempre do FCPorto.
Luís Carvalho: Com certeza que o Pavão, a cuja trágica morte já aqui em tempos dediquei um artigo, fará parte desta galeria que hoje iniciei.
ResponderEliminar"Kosta de Alhabaite": É um prazer. Disponha sempre. Escrevi praticamente apenas de memória, e já não me recordava que o Bacalhau tinha jogado no Guimarães. E sim, essa equipa do Varzim era magnífica e chegou a fazer belos campeonatos na 1ª divisão.
Meu caro Pedro, é pena que alguns não tenham noção desses tempos difíceis, se comportem como primas-donas e não valorizem o que têm. Estive lá no Bessa a ver esse jogo e lembro-me do golo que foi, se a minha memória não me atraiçoa, logo no início do jogo e num meio cruzamento meio remate. Acho que ele queria cruzar...
ResponderEliminarUm abraço
Parabéns pelo post. Excelente mesmo, obrigado pelas recordações de um tempo difícil mas que não nos abateu e nos tornou fortes.
ResponderEliminarLembro-me bem dessas peripécias que não permitiram se calhar ganhar um campeonato, lembro-me da surpresa de ouvir via rádio a entrada do Leopoldo como Capitão, o Bacalhau, magro e seco, vi o jogo no Bessa ( e vi o do fatídico Porto-Setubal que vitimou Pavão), o Marco Aurélio que estava no Varzim, tinha sido do Porto, foi para o Varzim e regressou mais tarde, era um belíssimo jogador que na Luz partiu uma perna em choque com entrada ríspida do Toni, tantas recordações desse tempo de vacas magras, do "é para o ano", mas sempre na luta, Portistas até mais não.
Cumprimento e subscrevo o primeiro parágrafo do Vila Pouca, Homem destas andanças e que sabe bem o que diz.
E vejo com saudade grandes jogadores dessa época, o recentemente falecido Manhiça, o Bené, O Rui, e até o "Mariano" desse tempo o Ricardo - primeiro da esquerda, em baixo - que também não podia tocar na bola. Um dia marcou 3 golos e foi um herói. Coisas...
Dragão Vila Pouca,
ResponderEliminarSim, o golo do Bacalhau no Bessa foi como descreve. Não sei até se não terá sido um livre. Lembro-me que foi do lado direito do nosso ataque (eu estava atrás daquela baliza) e que ele de facto mais parecia ter querido cruzar a bola.
Jorge Aragão,
ResponderEliminarTambém estive no jogo em que o Pavão morreu e nesse Benfica-Porto em que o Toni partiu a perna ao Marco Aurélio. Mas, ressalvo, eramos campeões e fômo-lo de novo nessa época (1978/79).
A equipa da foto é esta:
De pé, da esq. para a dta.: Manhiça, Pavão Leopoldo, Rolando,Gualter e Rui;
Em baixo e pela mesma ordem: Ricardo, Bené, Nóbrega, Abel e Lemos.
Tem razão, o Ricardo era uma espécie de Mariano! : -))
Esta equipa era bem boa e a dupla de pontas-de-lança Abel-Lemos não era inferior ao nosso actual duo Falcao-Farias. Já para não falar que o Pavão e o Bené eram dois médios de grande categoria, que entravam de caras na actual equipa (a não ser que não "encaixassem" nas transições rápidas! ;-))