«Tentei ontem conhecer o nome do vencedor do Campeonato do Mundo dos Jovens Pasteleiros, mas não o consegui. O site da Associação de Hotelaria e Similares de Portugal (AHRESP) disse-me que eu não tinha permissão para aceder a essa extraordinária informação sobre a prova que decorreu de 31 de Março a 2 de Abril do ano passado em Lisboa.
Apesar de esse magnífico certame ter tido o apoio do Turismo de Portugal no valor de 50 mil euros - tanto como o Fantasporto, e mais do que todo o distrito de Aveiro durante todo o ano de 2008 - não consigo assim dizer aos meus eventuais leitores quem foi esse magnífico vencedor, como não sei se se distinguiu a cozinhar o “Melhor do Mundo” ou rabandas.
Os números que a Câmara do Porto divulgou sobre os apoios dados pela Turismo de Portugal em 2008 são, de facto fantásticos: 61% (43 milhões de euros) foi para o concelho de Lisboa. Concelho, repito, nem sequer é o distrito.
Dizem-me que é por causa das contrapartidas pagas pelo Casino de Lisboa e que isso explica tudo.
Para mim isso não explica nada. Ou então deixem-me fazer um casino no Porto. Melhor ainda: apliquem a essas contrapartidas, o princípio do “spill over” que permite gastar dinheiros europeus em regiões já com nível acima da média europeia, tal como tem acontecido com inúmeros benefícios para Lisboa, e assim as coisas já ficam mais justas.
Agora, quererem convencer-me de que o projecto “Ao domingo o Terreiro do Paço é das pessoas”, que teve direito a nada menos de 600 mil euros, ou esse piramidal projecto de animação dos coretos de Lisboa que mereceu 300 mil euros, são boas aplicações dos dinheiros do Turismo de Portugal, isso não conseguem. Se é a lei que está mal, ela já se devia ter mudado.
Curiosamente Luís Patrão, patrão da Turismo de Portugal, em declarações ao GP, justificou há dias o corte no apoio ao Concurso de Saltos Internacional de Matosinhos com o facto de o dinheiro não estar a servir para a internacionalização da prova, como era suposto. As “Redes pedonais e percursos cicláveis de Lisboa” tiveram direito a 1.1 milhões de euros e já agora, gostava de saber em que é que internacionalizam a nossa querida capital.
Mas por aqui percebe-se bem porque não há Regionalização. Como é que isto iria ser possível num quadro regionalizado? As Regiões teriam muito maior capacidade na barganha por estas verbas e não iria ser fácil ao Estado colocar o dinheiro todo no mesmo cesto. Esta gente, como a que manda no Turismo dito de Portugal, é precisamente a que tem poder e que não é escrutinada. Com a Regionalização seria, fatalmente.
Mas também, no meio disto tudo, gostaria de ter visto uma reunião da Junta Metropolitana do Porto que congregasse os seus municípios numa crítica clara ao que tem sido este regabofe do Turismo de Portugal, ao que foi a história da Red Bull e da sua viagem para Lisboa porque “havia limitações no Porto em Gaia”, como disse o responsável da Red Bull em frente aos autarcas António Costa e Isaltino Morais, sentados lado a lado.»
Manuel Queiroz
in 'Grande Porto', 24/12/2009
Ainda no Semanário Grande Porto, e a propósito das declarações que Bernd Loidl, CEO da Red Bull, fez em Lisboa sobre as "limitações naturais" do rio Douro, Luís Filipe Menezes afirmou: "São uns aldrabões e uns mentirosos. Sempre elogiaram, sempre disseram que no Douro tinham as melhores imagens dos aviões, os pilotos sempre disseram que gostavam imenso de voar aqui".
E sobre as explicações piedosas do presidente da CM Lisboa, Menezes reagiu da seguinte maneira: "Já o que diz o dr. António Costa é conversa fiada. Ainda tinha que lhe agradecer e fazer uma festa de homenagem".
"Limitações naturais"? Não tinha reparado que do dia 4 de Dezembro para agora as margens do Douro tinham ficado mais estreitas. De outro modo, como é que a corja que se juntou para levar a Red Bull Air Race do Porto para Lisboa, justifica que nesse dia (4 de Dezembro), numa reunião realizada com os presidentes das câmaras do Porto e de Lisboa, os responsáveis austríacos e portugueses da organização da prova tenham proposto aos autarcas do Norte a realização do evento alternadamente entre Lisboa e Porto?
Nota: A gravura que ilustra este artigo é da autoria de Diogo Oliveira.
Como já alguém disse, "Em Portugal, existem duas classes de políticos: os que são de Lisboa e os que gostavam de ser". Infelizmente, isso tem-se tornado cada vez mais verdadeiro.
ResponderEliminarEm Lisboa e arredores, elegem-se Zés-ninguém porque são paineleiros a defender o SLB; no Porto, têm de ser antí-portistas primários para serem considerados políticos "nacionais" e não uns míseros bairristas, parolos e pacóvios. Cada povo tem os governantes que merece.
Saudações Natalícias.
Outra vez esta história...
ResponderEliminarEu continuo a dizer, que o Porto só está preocupado com o seu umbigo, tal como Lisboa. São os dois iguais.
Motivos de queixa, tem as cidades do interior, e aí nunca vi o Porto solidário com o quer que fosse. Só pensa no seu umbigo.
E como diz MST , não era a regionalização que iria alterar isso. Pior, ainda ficaria mais acentuada, a diferença entre o Porto/Lisboa e para o resto do país.
Neste história toda, há muita politiquisse de meia tijela. O José Correia que coloque os números divulgados pelo Turismo de Portugal sobre quem recebeu mais apoios. Pode ter um choque.
E já agora, não sei depois de virem acusar certas empresas públicas de patrocinarem a corrida de avioezinhos, não sei qual é a desculpa agora depois dessa empresas publicamente terem anunciado que não o vão fazer.
O Rio e Menezes tem que arranjam outra desculpa.
Olhe que não, ó Pedro Azevedo! Isto tem mais a ver com a velha história de que "Portugal é Lisboa e o resto é paisagem". É só fazer as contas.
ResponderEliminarPedro Azevedo disse: "Motivos de queixa, tem as cidades do interior, e aí nunca vi o Porto solidário com o quer que fosse. Só pensa no seu umbigo."
ResponderEliminarO Porto não tem obrigação nenhuma de defender os interesses das cidades do interior. Elas que façam o mesmo. Já os governos e os organismos estatais têm a obrigação de pautarem a sua actuação pela equidade.
"Mas por aqui percebe-se bem porque não há Regionalização. Como é que isto iria ser possível num quadro regionalizado?"
ResponderEliminarAí está. Não era possível. Há 11 anos isso podia ter sido mudado. estupidas foram as pessoas que votaram "não" no referendo(peço desculpa se firo sensibilidades - sempre posso substituir "estúpidas" por "ignorantes").
Agora o resto do país continua a receber a colheita do resultado desse referendo. Parabéns Portugal.
Peço desculpa ao Pedro Azevedo, mas parece-me que a sua argumentação está ao nível da minha avózinha ( Deus a tenha ) quando dizia " os políticos são todos iguais ". Para mim, os políticos estão todos dois graus abaixo dos violadores de criancinhas, mas que os há "mais iguais que os outros" é verdade. A luta do Porto deve ser vista à luz daquilo que se chama "poder reivindicativo". É mais visível, mas é também catalizador de lutas de tudo aquilo que não é Lisboa. Veja o exemplo do metropolitano do Porto: quantos mais "metros" existem neste momento no país, à boleia do do Porto?
ResponderEliminar( Evidentemente não estou de acordo com aquilo que o Alexandre Burmester defende no seu post )
Pedro Azevedo, supra, disse:
ResponderEliminar"Motivos de queixa, tem as cidades do interior, e aí nunca vi o Porto solidário com o quer que fosse. Só pensa no seu umbigo".
Julgo que pretende que o Porto, não só se preocfupe com os seus interesses, como faça, ainda, de agente ou mandatário altruístico do resto do país!. Mas é claro que não caba ao Porto "berrar" e defender os ionteresses das outras regiões! a NÃO SER QUE SE ENTENDA QUE ESTAS NÃO TÊM CAPACIDADE, NEM MASSA CRÍTICA PARA ISSO! Mas, a ser assim, isso é mais uma constatação do deserto em que o actual modelo de desenvolvimento regional (ou melhor, falta dele!), absolutamenre centralizado, está a provocar!
PS - De resto - uma correcção - mesmo isso que diz o Pedro Azevedo, não é verdade! A luta pela Regionalização, levada a cabo por muita gente do Porto, é, desde logo, benéfica para o país e para a coesão social nacional!
Já agora:
ResponderEliminarhttp://blasfemias.net/2009/12/27/patrao-do-centralismo/
Agradecemos a simpática referência no Blasfémias, caro PMF. Já a tinha visto.
ResponderEliminarPedro Azevedo disse...
ResponderEliminar«Outra vez esta história...»
Sim, outra vez e continuarei a escrever sobre este assunto - centralismo, País, Porto e Norte - as vezes que me apetecer.
O Pedro Azevedo não gosta?
Tem bom remédio, passe à frente. Ninguém o obriga a vir ao 'Reflexão Portista' e a ler o que eu escrevo, pois não?
Os deputados sociais-democratas eleitos pelo Porto consideraram que o "Red Bull é mais uma acha na fogueira centralista que o Turismo de Portugal tem promovido ao longo dos últimos anos face a Lisboa contra o resto do país". (…) "Isto é mais um facto a somar a tantos outros demonstrativos da paixão centralista que o Turismo de Portugal tem por Lisboa", acrescentou Luís Menezes. Segundo o deputado, "dos 70 milhões de euros de incentivos próprios que o Turismo de Portugal atribui em 2008 ao país como um todo, 70% foram investidos no distrito de Lisboa, ou seja, 49 milhões de euros". "Desses 49 milhões de euros, 43 milhões de euros foram investidos só na cidade de Lisboa, o que quer dizer que Lisboa teve 64% de todos os incentivos próprios que o Turismo de Portugal atribui em 2008", explicou.
ResponderEliminarLuís Menezes denunciou ainda o facto de "em Lisboa as taxas de participação do Turismo de Portugal nos investimentos são de cerca de 50% enquanto que há distritos como o Porto ou Leiria em que as taxas de comparticipação são de 5%".
"É preciso ter descaramento para que, de forma reiterada, continuemos com este tipo de atitudes discriminatórias de Lisboa face ao resto do país", considerou o deputado, que acrescentou ainda que "o Turismo de Portugal deve explicações sérias sobre quais os critérios para a distribuição dos fundos".
Pedro Azevedo disse...
ResponderEliminar«O José Correia que coloque os números divulgados pelo Turismo de Portugal sobre quem recebeu mais apoios.»
Perante os números denunciados em primeira mão pelo JN e, posteriormente, utilizados pelos deputados do PSD eleitos pelo distrito do Porto na Assembleia da República, as explicações “sérias” do Turismo de Portugal foram as seguintes:
«O Turismo de Portugal sustenta que as comparações que têm vindo a ser feitas entre as verbas atribuídas ao Norte e à região de Lisboa e Vale do Tejo têm misturado financiamento público com aquele que é atribuído ao abrigo das regras do jogo e que tem com destinatários cidades que têm casinos, casos de Lisboa, Estoril, Figueira da Foz, Espinho e Póvoa do Varzim. Tirando este efeito, o Turismo de Portugal refere que, em 2008, atribuiu verbas de 5,3 milhões de euros ao Norte e de 4,3 milhões a Lisboa e Vale do Tejo.»
Mas que raio de explicação é esta?
Porque razão a cidade de Lisboa teve (tem) direito a ter um casino e o Porto não?
Aliás, se Lisboa já recebe anualmente dezenas de milhões de euros do Turismo pelo privilégio de ter um casino, então não deveria ter direito a nem mais um cêntimo de outras verbas do Turismo de Portugal.
E já agora, porque razão o Governo não altera as regras do jogo, de modo a que os muitos milhões gerados pelos casinos possam ser distribuídas por todo o país?
"Turismo de Portugal refuta críticas
ResponderEliminarO Turismo de Portugal desmentiu ontem o vereador portuense Vladimiro Feliz e garantiu que o Norte foi a região que recebeu mais apoios em 2008, sublinhando que nem a Câmara do Porto nem a de Gaia apresentaram qualquer candidatura a subsídios para o Red Bull Air Race. Segundo o presidente do Turismo de Portugal, o Norte recebeu 5,3 milhões do orçamento do organismo, em 2008, o que representa mais um milhão do que o apoio dado a Lisboa e Vale do Tejo."
in jornal Público, edição on-line
não recordei e guardei a noticia na edição de papel onde enumeravam as quantias exactas para onde eram distribuídas as quantias - e onde mais uma vez Lisboa não era o que escrevem por aqui.
Uma eventual regionalização só faria sentido com a distribuição dos recursos em conformidade, ou seja: manter na Administração Central o dinheiro necessário ao pagamento das funções de soberania, tipo Defesa, Negócios Estrangeiros e partes da Justiça (STJ, TC, etc). Tudo o resto seria distribuido de acordo com o rendimento dos impostos. Mesmo as empresas nacionais que pagam impostos em Lisboa mas cuja riqueza é gerada em todo o país (por exemplo a GALP) devem ser consideradas na distribuição da riqueza.
ResponderEliminarPara o Pedro Azevedo,
ResponderEliminarÉ só ler a resposta do Luis Filipe Menezes á declaração pública da RedBull e ao António Costa.
Não está só em causa o centralismo, estamos a falar de aldrabões que vieram ao Porto negociar (enquanto já tinham contactos com Lisboa) e que depois dizem que o Porto não tinha condições.
Ps: O Porto não tem de lutar pelas outras cidades. Quantas décadas fomos a voz do Norte e mesmo assim criticados por o ser pelos próprios nortenhos? O Porto vai lutar por sí, as outras cidades que saiam do conforto do silêncio e que lutem também.
E porque não começar a falar num estado federal? Não vejo outra solução decente que mantenha a unidade do país.
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