Se se pedir ao adepto médio do F.C. Porto que nomeie um famoso jogador do clube natural do Montijo certamente a maioria responderá “Paulo Futre”. Mas bem antes dele, e cobrindo quase toda a década de sessenta, outro montijense vestiu com distinção a camisola azul-branca. Falo de Custódio Pinto, ali nascido em 1942 e há poucos anos falecido na zona do Porto.
Custódio Pinto representou o clube durante dez épocas –de 1961/62 a 1970/71 – tendo actuado num total de 242 jogos do campeonato e marcado 80 golos, o que decerto faz dele um dos principais marcadores da história do nosso clube. Na maior parte da sua carreira jogou como médio de ataque – aquilo que à época se chamava um interior – mas José Maria Pedroto, atento às suas qualidades de rematador com os dois pés e, principalmente, com a cabeça, faria dele um profícuo ponta-de-lança em 1968/69. Se tivesse jogado mais anos nessa posição decerto teria ultrapassado a centena de golos ao serviço do clube.
Pinto, como era mais comummente conhecido, foi capitão de equipa durante várias épocas e foi ele que ergueu no Jamor o único troféu ganho pelo F.C. Porto na década de sessenta – a Taça de Portugal de 1968.
Lembro-me bem de o ver jogar e lembro-me de vários golos dele: um contra o Benfica, em Dezembro de 1968 nas Antas, numa vitória por 1-0, acorrendo rápido a uma defesa incompleta de José Henrique a remate de Nobrega e empurrando a bola para a baliza, outro, de cabeça, na mesma época, contra o Sporting nas Antas, a poucos minutos do fim quando perdíamos por 1-0, e outro ainda, talvez o mais espectacular golo dele de que me recordo, contra o Boavista nas Antas na época seguinte, desembaraçando-se de vários adversários em corrida, num incrível “slalom”. Estávamos a perder esse jogo por 1-0 mas o Pinto marcou dois golos nos últimos dez minutos. Tinha um excelente drible em corrida e, como já referi, era um excelente rematador, para além de ser um dos melhores cabeceadores do futebol português da sua geração.
Custódio Pinto foi um dos “Magriços” de 1966 em Inglaterra, e foi um dos sete jogadores nunca utilizados nesse Mundial pela selecção portuguesa. Na altura não havia ainda substituições, é preciso notar, mas também não é de estranhar a má-vontade contra os jogadores que provinham da Invicta. Uma longa história. Representou Portugal 13 vezes entre 1964 e 1969, tendo marcado o golo português num empate contra a Suécia em Estocolmo em 1967.
Algo prematuramente foi dispensado pelo clube no final da época de 1970/71 e rumou a Guimarães, onde, num total de quatro épocas, marcaria mais 28 golos, sendo por duas vezes o melhor marcador do Vitória de Guimarães. Um desses golos foi marcado nas Antas, numa vitória dos vimaranenses por 2-1, e Custódio Pinto, depois de ter marcado, levou curiosa e sintomaticamente as mãos à cabeça. Muitas recordações lhe terão passado na memória naquele instante.
Já retirado, Pinto serviria ainda o clube como treinador nas camadas jovens. Foi um daqueles “sulistas” que, cá chegados, assentaram arraiais. Estou a lembrar-me do também já desaparecido Alfredo Murça, que por cá ficou mesmo depois do fim da sua carreira.
Custódio Pinto, “o Cabecinha de Ouro”, um herói da minha adolescência, tem sem dúvida direito a figurar numa galeria dos maiores nomes do clube.
Alexandre (e demais admins deste blog), seria possível acrescentar uma galeria de notáveis ao blog, tipo memória viva, partindo destes magnificos contributos do Alexandre e de outros?
ResponderEliminarSeria excelente.
Obrigado
quando digo notáveis, refiro-me obviamente a figuras notáveis da história do FC Porto.
ResponderEliminarComparem esta noticia:
ResponderEliminarhttp://www.maisfutebol.iol.pt/alemanha/guerrero-hamburgo-alemanha-garrafa-castigo/1153212-1484.html
com as noticias da nossa Liga e a sua Comissão Disciplinar. Pode-se ler a noticia toda ou só mesmo o primeiro paragrafo, para se perceber da qualidade de desempenho das pessoas que temos à frente do futebol português.
Sem o afirmar cabalmente... quando Custódio Pinto fazia uns treinos à experiência nas Antas... e ainda existiam algumas dúvidas se seria para ficar ou não... foi PC... que nada tinha ainda que ver com o futebol mas que por ali andava nas Antas quem deu a dica para que ele realmente fosse contratado...
ResponderEliminarUma abraço
Desconhecia esse episódio, caro Rogério Paulo Almeida, mas é bem possível que tenha acontecido. Desde muito novo que PC era um verdadeiro carola do FCP, e poucos anos depois integrou a direcção presidida por Afonso Pinto de Magalhães. Um amigo meu conhece-o bem desses tempos e fez com ele a viagem à famosa jornada de Torres Vedras em 1959 (figura numa fotografia de grupo incluída no livro "Longos Dias têm Cem Anos".
ResponderEliminarA contratação de Custódio Pinto pode ser considerada uma espécie de milagre à luz daqueles tempos, pois descobrimos um grande talento debaixo das barbas de Sporting e Benfica, geograficamente bem melhor colocados que nós para o terem desencantado.
Obrigado pela sugestão, caro Hugo, o problema poderá ser o espaço. Vamos a ver o que dizem os "engenheiros" cá do blogue!;-)
ResponderEliminarAbraço
Excelente recordação de um grande jogador que actuou pelo FC Porto, na fase mais difícil da nossa história desportiva.
ResponderEliminarObrigado por esta recordação
Caro Alexandre Burmester... bem... a história não terá sido tal qual eu afirmei... pois acabo de ler e recordar, no livro que citou: "Largos Dias Têm 100 Anos", na página 28, como terá sido realmente o episódio, contado pelo próprio PC. O Presidente da altura era Nascimento Cordeiro.
ResponderEliminarNão é nem de perto nem de longe do "meu" tempo, não vivi essa época... mas, pelo que sei, foi, tal como diz, realmente um achado do nosso Clube... pois para além dos nossos rivais estarem geograficamente bem melhor colocados, não eram apenas essas as suas vantagens em relação a nós...
Um abraço
Uma autêntica pérola este artigo. A historia do clube é isto. Qualquer jogador que assina pelo Porto deveria fazer um curso sobre a historia do clube e dos jogadores que estao no Hall of Fame antes de vestir a camisola pela primeira vez. Muito bom. Parabéns.
ResponderEliminarPS - o museu do clube deveria ter uma galeria de notáveis
Muito interessante o artigo. Não é do meu tempo, e por isso mesmo é bom aprender estas histórias com quem as viveu no terreno.
ResponderEliminarÓ Alexandre desculpe a coscuvilhice, mas que idade tinha em '68?
ResponderEliminar(não, não é pergunta do tipo: -onde estava no 25 de abril? onde estava na primavera de '68?, é só mesmo coscuvilhice...)
Sem dúvida um dos grandes capitães da história do clube, habilmente aproveitado pelo Zé do Boné.
ResponderEliminarInfelizmente foi ao Mundial e não jogou pelo que bem dizes, a impossibilidade de efectuar substituições já que teria sido um interior muito útil no eixo ofensivo. Mas mesmo que o terceiro jogo não tivesse sido contra o Brasil e tivesse contornos decisivos seria dificil que jogasse. Estava lá pelo talento mas também para garantir a "quota" de jogadores do Norte.
Uma mesquinhez que o impediu de ir mais longe a nivel internacional mas que não o travou nas longas tardes das Antas.
reine margot: tinha mais de 10 anos, mas menos de 20!;-)
ResponderEliminarMagnifica recordação de um grande e exemplar jogador e ... capitão que muito vi jogar.
ResponderEliminarObrigado
Também queria prestar a minha homenagem ao Custódio Pinto, já o fiz noutros locais, foi um dos jogadores que mais gostei de ver actuar...Pertencia ao lote dos perfeccionistas e técnicos, Artur Jorge, Custódio Pinto, Nóbrega...Recordo sempre um golo dele de cabeça, não sei contra quem, mas um excelente voo e um golo muito bonito...No topo Sul! Sei que foi no topo Sul pelo facto da luz estar toda ali concentrada e a bancada cobrir essa mesma luz...
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