sábado, 10 de julho de 2010

A Ficção do Eterno Favoritismo Brasileiro


Raro é o Campeonato do Mundo em que o Brasil não é apresentado à partida como o favorito número um. Isto decorre, a meu ver, de uma preguiça de análise. Sem desmerecer dos altos atributos do futebolista brasileiro, os números não sustentam este eterno favoritismo. Argumentam os defensores da primazia brasileira que lá estão cinco títulos mundiais para confirmar que o "escrete" (qual será a origem desta palavra, cujo significado em português ignoro totalmente?) é o melhor. Pois, mas isso é como dizer que o Benfica é melhor que os outros porque já ganhou 32 títulos nacionais, mais 8 que o F.C. Porto, o segundo clube português mais vezes campeão. De facto, assim como o Benfica ganhou dois terços dos seus campeonatos há mais de 30 anos, nos últimos 40 anos - 10 campeonatos do Mundo, incluindo o actual - o Brasil sagrou-se campeão mundial duas vezes (em 1994 e em 2002), tantas quantas a Alemanha, a Argentina e a Itália. E se o Benfica ganhou um número avultado de campeonatos nacionais na era Eusébio, também os primeiros três títulos brasileiros (1958, 1962 e 1970) tiveram lugar na era Pelé.

O Brasil dispõe de condições invejáveis, até porque, dos países em que o futebol é claramente o desporto número um, ele é de longe o de maior população. O talento natural dos seus futebolistas é inquestionável, mas a frieza dos números não justifica o seu estatuto de eterno favorito.

18 comentários:

  1. Concordo, em absoluto. As convicções apriorísticas dos adeptos são, muitas vezes, seguidas ou alimentadas pelos "fazedores de opinião" e, quando não são coincidentes com as conclusões das análises que fazem, vêm falar de surpresas.
    Importa, também, salientar que o futebol nunca foi uma ciência exacta mas a estatística não deve ser desprezada.

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  2. Posso fazer ma pequena correcção ao post do Alexandre: o Brasil não ganhou o Mundial de 1958, o tal que foi disputado em casa (ou seja, no Brasil país), a final do Maracanã, mas sim o Uruguai. Não tenha agora como consultar qualquer enciclopédia do futebol, mas se a memória não me engana em 1958 foi o Uruguai na final contra o Brasil.

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  3. @Daniel

    O Brasil perdeu a final do Mundial de 1950, em casa, contra o Uruguai, mas venceu o Mundial de 1958, disputado na Suécia.

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  4. José Correia, tem toda a razão, engano meu, depois do meu comentário estive a ver a Wikipedia, e confundi 1950 com 1958.

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  5. Excepto:

    1. Tem na selecção alguns dos melhores futebolistas da actualidade:

    - Julio César (Campeão Europeu)
    - Maicon (Campeão Europeu)
    - Lucio (Capeão Europeu)
    - Luis Fabiano ("Pichichi" em Espanha)
    - Káká, Robinho, Elano (dispensam apresentações)

    Para mim o Brasil era o favorito NESTE mundial.

    Para mim o problema esteve nos médios "volantes" ou "trincos": o Brasil jogou com Gilberto Silva e Filipe Melo - duas "bestas" que destoem muito mas constroem zero - e nunca foi capaz de praticar um futebol mandão como por exemplo a Espanha (Xavi+Iniesta) ou a Alemanha (Schweinsteiger).


    2. Ficaram em 1. lugar na qualificação.

    3. Ficaram num grupo relativamente acessivel - como se verificou.

    4.

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  6. A vitória do Brasil no Mundial de 1958 foi até hoje a única vitória brasileira num Mundial disputado na Europa. Este ano, pela primeira vez, uma selecção europeia será campeã num Mundial disputado fora da Europa.

    @ Daniel: o José Correia já fez a correcção, mas eu tenho estes dados na cabeça. Do Mundial de 1958 não tenho recordação, mas do de 1962, disputado no Chile, já me lembro. Apesar da fama e importância do Pelé, não podemos esquecer outro grande jogador do Brasil nesses tempos, o Garrincha, um extremo diabólico.

    Outro grande extremo brasileiro foi o Jairzinho, que brilhou no Mundial do México em 1970. Depois disso desapareceram os extremos brasileiros e a selecção do Brasil nunca mais foi a mesma coisa, pese embora a grande equipa de 1982.

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  7. Hugo,

    O Brasil tem sempre dos melhores futebolistas da actualidade, o que não tem nunca é dos melhores treinadores, antes pelo contrário, e isso faz toda a diferença.

    Alguns dos melhores futebolistas da actualidade também a Argentina, por exemplo, tem (Messi, Higuain, Milito, Aguero, Tevez) e foi o que se viu. Eu até diria que, com um treinador decente, a Argentina teria sido o favorito (o que não quer dizer que ganhasse).

    Por outro lado, da Espanha, com Iniesta, Xabi, Villa, Fabregas e Torres, também pode dizer-se que tem alguns dos melhores futebolistas da actualidade. E podíamos continuar, porque ninguém negará que Rooney, Gerrard, Lampard e Ashley Cole são dos melhores futebolistas da actualidade, o mesmo podendo dizer-se de Schweinsteiger, Klose, Lahmm, Ozil e Podolski.

    Desses jogadores brasileiros todos que citas, todos eles excelentes, apenas dois, na minha opinião, ombreiam com os grandes nomes do passado da "canarinha": Kaká e Robinho.

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  8. ainda bem - para os outros - que consideram o brasil como favorito! é que a pressão não é pequena! o que se fala agora muito no brasil é que o próximo treinador vai ter que ser um super-homem não como treinador, mas para aguentar a pressão de ter que ser favorito e ter de ganhar! ninguém quer sequer pensar noutro "macaranazzo"! assim, neste caso, que continuem a pensar errado! Este errado não nos faz mal, isenta-nos de pressão; mal faz-nos pensar que se enfim vamos ao campeonato, já somos campeões!

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  9. O próximo seleccionador brasileiro não chegará provavelmente a 2014, reine margot. Pelo menos assim costuma ser!;-)

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  10. Alexandre Burmester disse...
    «O próximo seleccionador brasileiro não chegará provavelmente a 2014»

    Por isso é que o timing do Scolari é 2012. Até lá, tenciona ir treinando o Palmeiras...

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  11. A ideia do "eterno favorito" é um mito que nem sempre condiz com a realidade, só nos Mundiais de futebol ou em campeonatos secundários como o português é que tal se aplica. Em campeonatos competitivos e com a actual realidade futebolística (transferências em larga escala) nem sempre existem "eternos favoritos", por exemplo em Inglaterra o Chelsea, hoje uma das equipas mais forte e candidata ao título, nos anos 80 e 90 do século passado andava pelo meio da tabela, e o Tottenham, nos últimos anos não luta pelo título, mas é historicamente o 3º ou 4º clube com mais títulos (já foi o 2º), e o Nottingham Forrest que foi bi-campeão europeu nos inícios dos anos 80 e dominava o campeonato inglês juntamente com o Liverpool, e hoje é insignificante. Outros exemplos: em Espanha o Atlético Bilbau durante meados dos anos 70 e 80 foi campeão 3 ou 4 vezes, lutava pelo título e hoje? Poderia dar mais exemplos. O que acontece é que, nesses países, existe uma avaliação/análise rigorosa do plantel e da estrutura técnica dos clubes para determinar o grau de favoritismo dos mesmos ao título de campeão, algo que não existe em Portugal, onde é a "história" a determinar o favoritismo.

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  12. Daniel: O Tottenham apenas foi campeão inglês por duas vezes, em 1951 e em 1961. Os clubes ingleses com mais títulos são:

    Manchester Utd. e Liverpool - 18
    Arsenal - 13
    Everton - 9
    Aston Villa - 7
    Sunderland - 6
    Chelsea, Newcastle e Sheff. Wed. -4

    No total, 23 clubes foram campeões ingleses-

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  13. Alexandre: sendo assim peço desculpa pelo meu erro, mas lembro-me de ter lido algures que o Tottenham era dos clubes mais vezes vencedores, talvez fosse da Taça de Inglaterra. Mas mantenho a ideia geral do meu comentário anterior: em campeonatos competitivos nem sempre existem "candidadatos crónicos", o Liverpool no ano passado, em que terminou em 6º ou 7º, era candidato ao título no início do campeonato? Lembro-me de ler comentários da imprensa britânica a referir que não, e para a próxima temporada será um candidato forte?
    Cumprimentos.

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  14. E logico que o Brasil é um eterno favorito,tal como é a Alemanha,ou o Benfica e Porto no nosso campeonato,agora nem sempre o favorito ganha..Não vamos ter ilusões e temos que admitir que nenhuma selecção do mundo tem o talento que o Brasil consistentemente tem,geralmente as selecções tem gerações boas e más,só o Brasil tem sempre gerações carregadas de talento..Estamos a falar de um país que não levou Ronaldinho,Ganso,Adriano,Hulk,David Luiz etc ao mundial,já para não falar jogadores como Deco,Pepe etc que nem oportunidade de ser seleccionados tiveram..Como alguem disse em em cima o grande problema da selecção do Brasil é a sua federação e equipa tecnica que não tem o nivel dos jogadores,alem de que o brasileiro percebe muito pouco do futebol..

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  15. Alexandre: quero apenas corrigir e clarificar o que eu escrevi ontem aqui, de facto o Tottenham é um dos clubes mais vencedores em Inglaterra, mas a nível da Taça e não do campeonato, venceu a Taça por 8 vezes, é o 3º clube com mais vitórias, o Manchester é o recordista com 11 vitórias, estava atrás do Tottenham, mas nos últimos 20 anos vencendo por várias vezes passou a ser clube com mais vitórias. Estive agora a confirmar na Wikipedia.

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  16. Obrigado, Daniel. Eu sigo o futebol inglês há mais de 40 anos e conheço bem a sua história.

    O Tottenham é um dos maiores clubes ingleses em termos de número de adeptos, juntamente com Manchester Utd., Liverpool, Everton, Arsenal, Aston Villa e Newcastle.

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  17. Claro que o Brasil é sempre um dos favoritos e eu não contesto isso. O que contesto é que se faça dele constantemente o favorito número 1, pois os números das últimas décadas não justificam isso.

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  18. Alexandre,

    Tens toda a razão. Criou-se uma "hype" à volta do Brasil principalmente depois de vencer 3 em 4 Mundiais durante o periodo 58-70. A partir daí foi, inevitavelmente, considerado sempre o favorito à priori, independentemente da qualidade das equipas apresentadas.

    Em 74 os "restos" dos campeoes de 70 não tinham ritmo. Em 78 foram "eliminados" pelo Videla e Co. Em 82 todos sabemos o que se passou mas a mesma equipa em 86 passou sem brilho. A de 90 de Lazzaroni era um hino ao pobre futebol e mesmo as fracas versoes de 94, 98 e 2002 foram à final, com 2 titulos pelo meio.

    Ao Brasil nos Mundiais passa-lhe o mesmo que ao Real Madrid na CL. Depois de tantas vitórias nao há ediçao que arranquem sem serem considerados favoritos. Depois a realidade coloca cada um no seu lugar.

    um abraço

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