quarta-feira, 6 de outubro de 2010

“Cruzadas” mediático-justiceiras anti-Porto (VI)

«Quando, há cerca de 18 meses, aceitei um desafio do Emídio Rangel para participar no painel de comentadores dos "Donos da Bola", fi-lo com convicção. (…)
Mas confesso que, ao longo das semanas, fui perdendo aquele "elan" inicial, e o prazer da comparência nos estúdios da SIC às sextas-feiras foi esmorecendo. As discordâncias com a linha editorial do programa foram cada vez mais nítidas e em algumas ocasiões ultrapassaram o recomendável. A hostilidade dos jornalistas do programa e de quem o dirige tornou-se insuportável por vezes. Até porque divergências e pontos de vista antagónicos não podem justificar ostracismo ou má educação. E sobretudo eu não o podia admitir, porque, pura e simplesmente, não lhes reconhecia esse direito. David Borges foi sempre a excepção. O seu grande profissionalismo e a sua educação e, porque não dizê-lo, a sua solidariedade amiga foi outra das razões do meu não abandono mais cedo. Percebo as razões comerciais que levam a SIC, a alto nível, a privilegiar o Benfica. Não acredito que Pinto Balsemão ou Emídio Rangel estimulassem o anti-sportinguismo e o anti-portismo de tão baixo nível que o programa traduzia. Não acredito que estivessem de acordo com afrontas pessoais e verdadeiras perseguições a que muitos agentes do futebol foram sujeitos.
Eu, confesso, estive para abandonar o programa em directo por três ou quatro vezes. E se soubesse a pouca vergonha a que chegou a linha editorial do programa e o baixo nível a que chegaram alguns deles, arrependo-me de não o ter feito. Quando, na quinta-feira, pela primeira página do jornal "A Bola", soube da substituição do painel, ainda me arrependi mais. Emídio Rangel teve a delicadeza de me garantir que fora traído pelos seus colaboradores, nesse gesto de indelicadeza e má educação de que fora obrigado a ser cúmplice. (…)
Um programa desportivo de grande audiência não pode maltratar injustamente dois dos grandes clubes nacionais. Não pode ter uma equipa de jornalistas que, para pretender mostrar serviço ao patrão, acaba por ser mais papista do que o Papa.»
Eduardo Barroso (comentador residente nos 'Donos da Bola' durante algum tempo)
in O Jogo, 16/03/1999


Escritas por um sportinguista fanático (como o próprio se classifica) e, ainda por cima, participante no programa em questão, estas afirmações têm outro valor.

Mas, 11 anos depois, o país desportivo (e não só) continua na mesma e frases como:
- razões comerciais levam a generalidade dos órgãos de comunicação social a privilegiar o Benfica;
- o anti-portismo de baixo nível que os programas traduzem;
- afrontas pessoais e verdadeiras perseguições a que agentes do futebol foram (são!) sujeitos;
continuam perfeitamente actuais.

3 comentários:

  1. está para o futebol como o Mark Twain para a vida: as declarações são perfeitamente actuais...

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  2. Nada mudou, infelizmente. E suspeito que não vai mudar tão cedo. Enquanto os ratos gostarem de lixo...é a CS que temos.

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  3. razões comerciais? devem ser como as que presidem aos programas da manhã, para os velhinhos, que como todos sabemos, constituem uma grande e poderoso grupo de consumidores...

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