segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O grande negócio das transmissões televisivas


A questão relacionada com as receitas decorrentes dos direitos de transmissão dos jogos de futebol em Portugal já foi abordada várias vezes no Reflexão Portista:





Em Julho de 2008 o FC Porto renovou o contrato para a venda dos direitos de transmissão televisiva dos seus jogos em casa, por um período de 5 anos, recebendo cerca de 10,5 milhões de euros por ano (contra os 8 mulhões/ano anteriores). Quanto aos 2 outros grandes clubes diz-se que o slb recebe algo mais e o Sporting deverá receber o mesmo que o FC Porto.

Há muitas vozes que defendem uma negociação colectiva entre os clubes da I Liga ou entre todos os clubes das Ligas profissionais (I e II Ligas), sendo o principal argumento o de fortalecer a posição negocial dos clubes e permitir uma distribuição mais equitativa das receitas. É o que acontece, por exemplo, na Premier League em Inglaterra. Parece-me que em Portugal tal modelo não será viável, pelo menos enquanto um dos principais clubes, o slb, for liderado pelo elenco de trogloditas actual que se acha capaz, per si, de manipular as suas e as receitas de todos os outros clubes da I Liga como, aliás, recentemente se viu no apelo dos seus órgãos sociais dirigido aos adeptos para o boicote aos jogos fora como forma de chantagem para melhor acomodar os seus interesses (quaisquer que sejam).

É pública a relação de confiança há longos anos entre o patrão da Olivedesportos (empresa que controla a 100% o negócio em Portugal) Joaquim Oliveira e o actual Presidente da Liga de Clubes Dr. Fernando Gomes. Logo à partida temos um conflito de interesses que não é casual - a candidatura de Fernando Gomes à presidência da Liga foi cuidadosamente preparada. A "campanha eleitoral" incluiu um périplo por todos os clubes das Ligas profissionais tendo o agora presidente prometido mais receitas provenientes dos direitos televisivos. Enquanto este desequilíbrio de forças se mantiver não será possível a nenhum dos clubes alavancar as suas receitas e colocá-las na justa medida da sua capacidade para as gerar.

No que toca ao FC Porto resta-nos negociar a sós os direitos televisivos sendo que isso não proporcionará melhorias significativas. Uma alternativa que lanço para reflexão seria o FC Porto reunir em torno de si os interesses de um conjunto mais alargado de clubes que tenham forte presença no campeonato nacional e nas suas receitas de bilheteira e formarem um grupo de elite para negociar as transmissões em conjunto. Por exemplo FC Porto, Braga, Guimarães, Paços de Ferreira, Académica e eventualmente um ou dois clubes insulares formariam um primeiro grupo de elite seguido de outro onde poderiam entrar outros clube da I ou II Ligas como Rio Ave, Beira-Mar, Gil Vicente e Leixões. Isto permitiria que a parceria garantisse à partida cerca de 30 jogos por época onde jogassem clubes grandes e outros tantos onde entrassem clubes "quasi-grandes".


As contas da Olivedesportos não são reveladas publicamente, provavelmente por a isso não estar obrigada a sociedade. Desconheço os montantes de Activo, Passivo e Capital Próprio presentes ou passados da Olivedesportos. No entanto não pude deixar de notar que no passado exercício, segundo a Revista Exame, a Olivedesportos foi 3ª classificada a nível nacional no que respeita à Rentabilidade dos Capitais Próprios. A empresa de Joaquim Oliveira obteve uma percentagem de 517,48% (este rácio mede a relação entre o Resultado Líquido e os Capitais Próprios), o que significa que o "lucro" do último ano foi 5 vezes superior aos Capitais investidos. Sem outro tipo de informação não é possível tirar grandes conclusões a partir destes dados mas pode, contudo, inferir-se que é um negócio altamente lucrativo para a Olivedesportos e para Joaquim Oliveira.

Os clubes têm de acordar para esta situação, mais cedo que tarde, ou no futuro irão ver a Olivedesportos a aumentar o seu poder e reforçar o desvio de valor dos clubes para si.

7 comentários:

  1. Conforme já aqui escrevi, há um enorme espaço de renegociação dos direitos televisivos em Portugal. Se fosse feita uma negociação global, por exemplo através da Liga, estou convencido que seria possível aumentar significativamente o que é pago pela PPTV.
    Por exemplo, um “bolo” global de 120 milhões de euros (2/3 da receita dos assinantes da SportTv), permitiria uma distribuição do seguinte género:
    - 60 milhões para os três grandes (20 milhões para cada)
    - 52 milhões para as restantes 13 equipas da I Liga (4 milhões para cada)
    - 8 milhões para as 16 equipas da II Liga (500 mil euros para cada)

    Estes valores são muito superiores ao que estes clubes/SADs recebem actualmente.

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  2. Por que razão não se avança em Portugal para uma negociação global dos direitos televisivos?
    Para além de Joaquim Oliveira, a quem interessa que o negócio seja gerido clube a clube, com os clubes a partirem de posições frágeis perante uma entidade – PPTV – dominante e quase monopolista?

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  3. Caro José Correia,

    Antes de mais, esclarecer que sou sportinguista. A convite de um adepto portista que faz do vosso blog leitura diária, passei por cá para ler sobre um tema que muito me interessa. O que me leva a "invadir o vosso espaço" e deixar o meu comentário. Pelo que atempadamente, apresento as minhas desculpas pelo inconveniente que possa causar.

    O tema dos direitos televisivos é muito importante. Tão importante, que devia ser considerado um crime continuar a trata-lo de forma tão leviana e obscura como até agora tem sido.

    Segundo um artigo do jornal record, feito por um jornalista da dita casa, todos os clubes em Portugal estariam interessados em fazer a negociação colectiva. Todos... com as devidas excepções de porto, sporting, benfica e braga... Na peça em questão, foram entrevistados vários clubes, alguns deles, apregoando os direitos colectivos como a salvação do clube em particular e do futebol português em geral.

    Mas estes quatro clubes, dos quais Joaquim Oliveira, de uma maneira ou de outra é accionista, continuam a bater-se pela negociação individual, rejeitando dinheiro e transparência no negócio.

    O problema, infelizmente, vai muito além do autismo acéfalo dos lampiões. Vai mais longe... começa nos interesses individuais de pessoas como Joaquim Oliveira e termina nos interesses dos bancos, que agarrados os clubes pelos "tomates" não os querem ver ganhar autonomia financeira (é o mal das sad's), passando, como não podia deixar de ser, pela habitual cultura mesquinha de bom português de não querer dotar os mais pequenos de melhores condições para serem mais fáceis de ganhar e mais receptivos a receber os empréstimos (por vezes contaminados) dos grandes.

    Como vê... dada a complexidade da "coisa", é mais certo o mar começar a dar batatas que os direitos passarem a ser vendidos em conjunto.

    Relativamente ao negócio em si: Em Inglaterra também havia problemas... tantos que resolveram abolir a liga e criar a Premier League de raiz. Uma das premissas, foi logo a obrigatoriedade de ceder os direitos televisivos à Liga de modo a poder inscrever a equipa no campeonato. O Manchester United, que era o benfiquinha lá da zona, teve de comer e calar... com os resultados que se conhecem.

    Quanto à distribuição dos direitos: Após venda em leilão internacional - onde a Skysports dá cartas - os direitos são distribuidos da seguinte forma (Premier League e Bundesliga) - 40% mediante classificação desportiva, 30% mediante share e os restantes 30% divididos irmamente por todos os clubes.

    A titulo de curiosidade, posso adiantar-lhe os seguintes dados:

    - A Super Liga Turca, vendeu na época passada os direitos de forma colectiva pela primeira vez, e pasme-se, todos os clubes receberam uma média de 70% mais. Por isso, não é de estranhar as contratações de Quaresma, Simão Sabrosa (?), Guti e outros por parte do Besiktas...

    - O ultimo classificado da Premier League, recebeu no ultimo ano 30 milhões de euros em direitos... ou seja, um Wigam Athletics recebe sozinho, o mesmo que os três maiores equipas nacionais. Ridículo... é o que me apraz dizer...

    Muito mais havia para dizer, como por exemplo o aumento de receitas em publicidade por vermos o nosso campeonato atravessar as fronteiras e entrar por exemplo nos PALOP'S... mas fica para a próxima...

    Um abraço e saudações desportivas

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  4. Nelson Vicente disse…
    O problema (…) começa nos interesses individuais de pessoas como Joaquim Oliveira e termina nos interesses dos bancos

    Do meu ponto de vista, há demasiadas amizades e promiscuidades que impedem que o interesse global da generalidade dos clubes profissionais (incluindo os três grandes) se sobreponha aos interesses particulares de alguns indivíduos.

    A Sportinveste Multimédia foi criada em 2001 e gere (desde 2002) os sites oficiais do FC Porto, Benfica e Sporting.
    Segundo julgo saber, a Sportinveste é (era?) accionista de referência das SAD’s de FC Porto, Sporting e slb.
    Segundo julgo saber, Joaquim Oliveira é demasiado “amigo” dos presidentes dos três grandes, bem como, do actual presidente da Liga.
    Joaquim Oliveira faz parte do núcleo de accionistas portugueses da PT, o qual é liderado pelo BES.
    É ou não verdade que foi o BES quem financiou a compra da Lusomundo, do Grupo PT, por parte de Joaquim Oliveira?
    É ou não verdade que o BES é um parceiro de referência (ou deverei dizer credor de referência?) dos três grandes, particularmente de slb e Sporting?

    Parece-me óbvio que há aqui uma teia de interesses e que a discussão acerca dos direitos televisivos extravasa em muito a transmissão dos jogos.

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  5. Faltou-me perguntar: de onde veio o actual presidente do Sporting?

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  6. Veio do Santander... mas já tem lugar garantido no BES. Ou não fosse Ricciardi, vice-presidente da Sad do SCP, Presidente do BES Investment.

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  7. Real Madrid e FC Barcelona concordam diminuir as receitas TV
    http://www.futebolfinance.com/real-madrid-e-fc-barcelona-concordam-diminuir-as-receitas-tv

    Das 42 equipas que fazem parte da Liga BBVA (primeira liga espanhola) e Liga Adelante (segunda liga espanhola), 30 chegaram a um acordo que prevê uma forma mais equitativa para a partilha das receitas provenientes dos direitos de transmissão televisiva da liga, reduzindo o fosso que separa as grandes das pequenas equipas.

    Em 2009/2010 a venda dos direitos de transmissão televisiva dos 42 clubes da primeira e segunda ligas espanhola, cifrou-se em cerca de 625 milhões de Euros. Deste valor, Real Madrid e FC Barcelona arrecadaram cerca de 22,5% cada, enquanto por exemplo os clubes mais pequenos da primeira liga arrecadaram pouco mais que 1,5%.

    Embora o acordo não seja unânime, Real Madrid e FC Barcelona concordaram em reduzir as suas percentagem nas receitas televisivas de 22,5% para 17%, significando que em vez de arrecadaram em conjunto 280 milhões de Euros, passam a ganhar 212,5 milhões de Euros anuais, levando em conta o valor das receitas TV de 09/10.

    Este acordo prevê também a redução nas receitas TV conjuntas de Atlético Madrid e Valencia de 13% para 11%, enquanto as 22 equipas da segunda liga, terão direito a 9% da receita, mais do dobro da receita actual. No entanto alguns clubes consideram insuficiente este acordo, nomeadamente; Sevilha, At. Bilbao, Villarreal, Espanhol, Zaragoza e Real Sociedad.

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