O futebol como fenómeno de massas acaba, invariavelmente, por influir e ver-se directamente influenciado pelos valores que predominam na sociedade. É um jogo social e acompanha o dinamismo de tal forma que poucos se relembram da sua origem como desporto de elites estudantis ou da sua evolução como distração do proletariado. Hoje o futebol é mais burguês que nunca, com os direitos televisivos, os estádios-centro comerciais, os lugares anuais e ordenados milionários. Com tudo isso chegaram também os valores. Do espirito gentleman e desportivo dos primórdios passou-se ao cinismo do vale tudo para ganhar. E a evolução da mentalidade dos adeptos acompanhou também essa dinâmica. O nosso FC Porto e os seus seguidores não são excepção.
Marcados pelo pensamento colectivista herdeiro da herança cultural judaico-cristã, mesclada com o pensamento da igualdade proletária do século XIX, há muito que o conceito individualista deixou de ser tolerado e entendido pela anónima massa. Ninguém pode destacar-se sobre os demais, ninguém pode ser um por cima de muitos mas sempre um elevado pelos restantes. A imagem dos heróis clássicos da mitologia hoje é inaceitável. A humildade é hoje o santo e senha e fiel de balança à hora de avaliar homens, performanes, profissionais.
No futebol isso vive-se cada vez com mais intensidade e marca profundamente a relação entre o adepto e o técnico do seu clube (com os jogadores em menor medida já que eles são, forçosamente, parte de um colectivo). Ainda hoje existem muitos adeptos nas bancadas do Dragão que não suportam a imagem de José Mourinho. O homem que devolveu o FC Porto à glória europeia raramente é criticado pelo seu talento, mas especialmente pela sua falta de humildade e o excesso de individualismo que o levou a auto-catalogar-se de “Special One”.
Sinais dos tempos que contrastam bem com a admiração que o velho estádio das Antas teve por outro rei europeu, um tal Artur. Esse filho da Invicta e da Constituição sempre caiu no goto dos adeptos, e até o seu jeito intelectual e honesto sobreviveu às duras criticas do “tribunal” por ser uma pessoa com quem os adeptos conseguiram empatizar desde o princípio, perdoando-lhe mesmo os seus dias de goleador na Luz. Dois técnicos campeões europeus (os únicos portugueses), duas formas distintas de abordar o jogo (a mais institiva de Artur Jorge, mais tarde rei de Paris, também ele a abrir caminho para o sucesso fora de portas do setubalense, mais científico) e de relacionar-se com a massa adepta. Os mesmos que elogiaram o “seremos campeões em situações normais e anormais” são hoje os que criticam a evolução do herói de Sevilla e Gelsenkirchen lembrando, muitas vezes o estilo dialogante do grande Artur Jorge (apesar das polémicas com Madjer e Gomes no seu segundo mandato) como exemplo a seguir.
Mas se esses são os dois grandes icones dos últimos 25 anos dos bancos azuis e brancos, que dizer da relação dos adeptos com os restantes mentores dos bancos e as suas diferentes personalidades?
(continua)
Marcados pelo pensamento colectivista herdeiro da herança cultural judaico-cristã, mesclada com o pensamento da igualdade proletária do século XIX, há muito que o conceito individualista deixou de ser tolerado e entendido pela anónima massa. Ninguém pode destacar-se sobre os demais, ninguém pode ser um por cima de muitos mas sempre um elevado pelos restantes. A imagem dos heróis clássicos da mitologia hoje é inaceitável. A humildade é hoje o santo e senha e fiel de balança à hora de avaliar homens, performanes, profissionais.
No futebol isso vive-se cada vez com mais intensidade e marca profundamente a relação entre o adepto e o técnico do seu clube (com os jogadores em menor medida já que eles são, forçosamente, parte de um colectivo). Ainda hoje existem muitos adeptos nas bancadas do Dragão que não suportam a imagem de José Mourinho. O homem que devolveu o FC Porto à glória europeia raramente é criticado pelo seu talento, mas especialmente pela sua falta de humildade e o excesso de individualismo que o levou a auto-catalogar-se de “Special One”.
Sinais dos tempos que contrastam bem com a admiração que o velho estádio das Antas teve por outro rei europeu, um tal Artur. Esse filho da Invicta e da Constituição sempre caiu no goto dos adeptos, e até o seu jeito intelectual e honesto sobreviveu às duras criticas do “tribunal” por ser uma pessoa com quem os adeptos conseguiram empatizar desde o princípio, perdoando-lhe mesmo os seus dias de goleador na Luz. Dois técnicos campeões europeus (os únicos portugueses), duas formas distintas de abordar o jogo (a mais institiva de Artur Jorge, mais tarde rei de Paris, também ele a abrir caminho para o sucesso fora de portas do setubalense, mais científico) e de relacionar-se com a massa adepta. Os mesmos que elogiaram o “seremos campeões em situações normais e anormais” são hoje os que criticam a evolução do herói de Sevilla e Gelsenkirchen lembrando, muitas vezes o estilo dialogante do grande Artur Jorge (apesar das polémicas com Madjer e Gomes no seu segundo mandato) como exemplo a seguir.
Mas se esses são os dois grandes icones dos últimos 25 anos dos bancos azuis e brancos, que dizer da relação dos adeptos com os restantes mentores dos bancos e as suas diferentes personalidades?
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"Marcados pelo pensamento colectivista herdeiro da herança cultural judaico-cristã".
ResponderEliminarDiscordo francamente, caro Miguel. A herança cultural judaico-cristã, pelo contrário, enaltece o valor do indivíduo, não é nenhuma ideologia colectivista e massificadora.
Quanto à atitude de adeptos do F.C.P. para com o Mourinho, que pareces considerar uma vítima, já escrevi sobre isso na 2ª parte deste teu interessante artigo.