sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Os Gloriosos Malucos das Máquinas Pedaladoras
"Eu não queria cá saber de bola! Mas de repente passei a portista sofredor, imagine só! Sabe como? Pois bem, um belo dia de Agosto de 1961 passou aqui de amarelo o Mário Silva! E o Mário Silva era do Porto. Eu era miúdo e a partir de aí passei a só ver Porto, fosse de bicicleta, fosse na bola, fosse no «hóque»!"
Pois é, este era um fenómeno muito vulgar. A Volta a Portugal, substituta do futebol nas paixões clubísticas no mês de Agosto, era o acontecimento desportivo que mais emplogava os adeptos dos grandes, à parte o Campeonato Nacional de Futebol. Um "clássico" tripartido jogava-se naqueles quinze dias, da canícula da planície alentejana, passando pelas veredas da Estrela e do Marão e pelos circuitos no velódromo de Sangalhos ou na pista das Antas, e terminando amiúde com um contra-relógio de Vila Franca de Xira ao Estádio de Alvalade.
Naquele ano de 1961 acima referido, o F.C. Porto conquistava individualmente pela terceira vez consecutiva a prova, e voltaria a fazê-lo no ano seguinte. O Mário Silva foi talvez a maior figura do clube na modalidade na década de sessenta. Com 20 ou 21 anos venceu a prova naquele ano; nunca mais a venceria de novo, mas bateu-se regularmente pela vitória ao longo da década. Terminaria a carreira numa equipa angolana, pela qual disputou a Volta de, creio, 1970, recebendo uma grande ovação à entrada de Alvalade no contra-relógio final. Os outros nomes sonantes que equiparam de azul e branco naquela década foram o Joaquim Leão e o José Pacheco, vencedores em 1965 e 1962, respectivamente, mas nenhum deles tinha a categoria do Mário Silva. Este tinha ainda outra característica que o fizera cair na graça dos adeptos: era de Águeda, conterrâneo do Hernâni, portanto.
Como o final da prova era sempre em Lisboa, a coisa propiciava-se para um reacender das batalhas clubísticas da época futebolística. Ficou célebre o desabafo do nosso corredor Dias Santos, no final de uma Volta em fins de quarenta ou princípios de cinquenta, que o nosso clube dominara amplamente: "Tirámos o sarampo à gajada de Lisboa!", exclamou ele, exuberante, aos microfones da Emissora Nacional.
Quando os grandes abandonaram o ciclismo, acabou uma era, e nem os recentes esforços do Benfica a fizeram voltar. Esse tempo passou. O ciclismo é há muito uma actividade de marcas patrocinadoras. Mas enquanto os três grandes estiveram em prova, foi o F.C. Porto quem mais vitórias individuais alcançou. O ciclismo, nos tempos anteriores à televisão, ou, mesmo depois dela, quando o futebol não tinha nela o relevo que hoje tem, foi uma enorme arma de promoção dos clubes por esse país fora.
Na foto: Mário Silva
longara.blogspot.com
Sinceramente, não sei até que ponto não seria conveniente acordos entre os três clubes para dinamizar certas modalidades...
ResponderEliminarSinceramente, acho que se o Porto e o Sporting tivessem regressado ao ciclismo quando o Benfica o fez, poderia reacender-se o interesse na modalidade...
Tirámos o sarampo ou Limpámos o cebo à gajada de Lisboa?
ResponderEliminarTinha na ideia, que era limpámos o cebo...Mas tanto faz, e tirámos o sarampo ainda é melhor!..
Muito corri eu até à estrada para ver passar as camisolas azuis e brancas! Nessa altura não ganhávamos nada no futebol, e ali na estrada, as camisolas eram lindas!
(passavam depressa, as camisolas, e iam-se sem voltar ainda mais depressa, e nem interessava saber a classificação; era o ponto alto, e as férias todas depois disso, eram feitas em sprint atrás de sprint...)
Pensando melhor, "reine margot", penso que a frase foi "limpámos o sarampo..". Mas que ficou na História, lá isso ficou!:-)
ResponderEliminarMais recentemente, nos anos 80, lembro-me de uma equipa de ciclismo do FC Porto que tinha, entre outros, nomes como o Venceslau Fernandes, Manuel Zeferino e Marco Chagas.
ResponderEliminarDepois apareceu uma empresa - a Mako Jeans - que aliciou os melhores ciclistas e destroçou essa equipa. Pouco tempo depois o FC Porto abandonou a modalidade.