quarta-feira, 30 de março de 2011
O Estádio de Braga e o Prémio Pritzker
Conforme a comunicação social deu amplo relevo, Eduardo Souto Moura foi o vencedor da edição de 2011 do prémio Pritzker, o maior galardão da arquitectura mundial, considerado o “Nobel da arquitectura”.
Nos seus comunicados, quer o júri, quer o anúncio oficial do prémio destacaram a obra do Estádio Municipal Braga, construído numa antiga pedreira:
«His stadium in Braga, Portugal was the site of European soccer championships when it was completed in 2004, and gained high praise. Nearly a million and a half cubic yards of granite were blasted from the site and crushed to make concrete for the stadium. Precise explosions of a mountain side created a hundred foot high granite face that terminates one end of the stadium. Souto de Moura describes this coexistence of the natural with the man made construction as good architecture. In his own words, “It was a drama to break down the mountain and make concrete from the stone.” The jury citation calls this work, “...muscular, monumental and very much at home within its powerful landscape.”»
Segundo o próprio Souto Moura, se tivesse que eleger uma das suas obras elegeria o Estádio de Braga. “É uma obra que tive a oportunidade de fazer no sítio e no momento certo. Fazer uma obra que vai desde uma intervenção de paisagem – mudei a geografia daquele sítio – até ter conseguido desenhar os puxadores das portas. É uma obra... em que os defeitos são meus. Não tive nenhuma pressão, agora tenho, há problemas financeiros, mas na altura isso não aconteceu.”
Quem sou eu para pôr em causa, ou sequer discutir, a opinião de especialistas mundiais acerca da monumental obra do Estádio de Braga?
Nunca o iria fazer. No entanto, atrevo-me a colocar uma questão: Para que serve um estádio de futebol?
Embora já o tenha visitado por fora, nunca entrei no Estádio AXA, mas já ouvi diversas pessoas, incluindo adeptos do Braga, a queixarem-se das condições de conforto deste estádio. Os aspectos mais criticados são os acessos às bancadas, o número de degraus que é preciso subir até chegar ao lugar, a inclinação excessiva das bancadas e a humidade/frio que se sente naquele local.
Apesar do Estádio do Dragão já ter sido galardoado com o prémio da “European Convention for Construction Steelwork” e também ter sido o primeiro estádio europeu a conseguir a “GreenLight”, uma certificação da Comissão Europeia através da Agência para a Energia, que premeia o esforço realizado em termos da utilização racional de energia e na qualidade da iluminação, é provável que nunca venha a ser considerado um monumento. No entanto, conhecendo as características do terreno onde foi construído, dificilmente poderia ser melhor em termos funcionais. E até o facto de ser aberto nos topos (aspecto criticado inicialmente), veio a revelar-se fundamental para que este estádio tenha o melhor relvado do país.
Sou suspeito ao dizer que considero o Estádio do Dragão o mais bonito de Portugal e aquele que proporciona as melhores transmissões televisivas, mas penso que não estarei a exagerar se disser que em termos de acessos (para carros, transportes públicos e a pé), conforto dos adeptos, rapidez de escoamento, qualidade das instalações e eficiência energética é praticamente imbatível. E a tudo isto acresce o facto do Estádio do Dragão ter sido pensado e projectado para incluir diversas unidades de negócio, de modo a tornar-se uma fonte de receitas. Assim, para além de um parque de estacionamento aberto ao público nos dias em que não há jogos, inclui uma megastore (Rádio Popular), um health club (Solinca), uma clínica privada, uma agência bancária, um café/restaurante e lojas de parceiros do clube.
Mas independentemente das opiniões sobre os estádios portugueses, o portuense Eduardo Souto Moura está de parabéns, não só pelo espectacular estádio de Braga, mas pela globalidade das suas obras.
Para que serve o AXA? Concertos, concentrações auto, mega eventos na área de informática, futebol, etc.
ResponderEliminarÉ um estádio frio e com degraus até dizer chega? É sim senhor mas quem é que nunca se queixou do frio e dos degraus no Dragão? Sobretudo nos sectores D e E?
Estamos a falar num prémio de arquitectura e não de funcionalidade extrema.
Tive oportunidade de assistir a um jogo no estádio do Braga e confirmo que os acessos às bancadas são TERRIVEIS. Costumo fazer a analogia com o Dragão, em que a cota da rua é sensivelmente a meio da altura do estádio, depois as pessoas ou descem para a bancada inferior ou têm que subir no máximo 1/2 estádio para aceder aos seus lugares. No AXA isso não acontece, o relvado fica à cota da rua, para aceder aos lugares superiores do estádio é o mesmo que subir a pé, 10, 12, 14 andares de escadas!!! É bonito ? É. é Funcional ? NADA. mas é assim que são os arquitectos.
ResponderEliminarSe não me engano, Portugal tem 3 estàdios classificados pela UEFA com 5 estrelas (Luz, Dragão e Alvalade), classificação que tem em consideração os diversos aspectos que o José Correia referiu. Por exemplo, a França apenas tem um estadio com 5 estrelas (o Stade de France) e duvido que a Espanha tenha mais estadios com 5 estrelas que Portugal.
ResponderEliminarOs melhores estàdios portugueses são sem duvida o da Luz e o do Dragão. Não apenas devido aos aspectos funcionais que o José Correia referiu, mas igualmente pela sua estética. Estes dois factores fizeram que por exemplo o Emirates Stadium do Arsenal fosse inspirado no estadio da Luz.
Contudo, o do Braga é pura e simplesmente espectacular! Trata-se daquele tipo de obras que se aproxima, ou melhor, que é obra de arte (e a arquitectura também faz parte das artes). Certo, trata-se de um estadio de futebol e nesse sentido alguns aspectos não são suficientementes desenvolvidos para respeitar essa função.
Contudo é uma obra ORIGINAL onde, finalmente, se joga o combate entre a técnica do ser humano e a natureza. Não é apenas um estàdio de futebol, é algo mais. Para mim, o Estadio do Braga é o melhor dos que foram construidos para o EURO precisamente por esta razão e, apesar da existência de criticas, deve ser um motivo de orgulho para os adeptos do Braga.
pensem assim: ao menos no AXA ninguém leva com os remates prá bancada do Cardozo ou do Postiga lool
ResponderEliminarparabéns ao Souto Moura :)
ResponderEliminarnão me pronuncio sobre arquitectura por absoluta ignorância mas acho o AXA uma obra belíssima.
só me parece que não funciona em termos de transmissões televisivas, não dá muita pica ver os tipos chutar contra o morro, gosto de ver pessoal atrás da baliza.
David Duarte, altere lá a ordem dos "melhores estádios portugueses", olhe que não é arbitrária :)
e também suponho que haverá por aqui alguém que lhe poderá explicar que não, que os Emirates não foram inspirados na Luz.
correcção: "o Emirates", obviamente :)
ResponderEliminarnobigdeal disse...
ResponderEliminar"e também suponho que haverá por aqui alguém que lhe poderá explicar que não, que os Emirates não foram inspirados na Luz."
Tenho precisamente essa ideia. O estádio da luz foi concebido a partir de um projecto de "catalogo", ou seja, o construtor apresentou uma serie de opções pre concebidas e o clube terá escolhido aquele. Daí se depreende que será o mesmo construtor que concebeu o Emirates...
Posso estar enganado, mas tenho a certeza que foi isto que se falou na altura.
http://en.wikipedia.org/wiki/Populous_(architects)
ResponderEliminarneste link pode-se confirmar o que escrevi no comentario anterior, o construtor dos estadios da luz e do Emirates é o mesmo.
David Duarte disse...
"Os melhores estàdios portugueses são sem duvida o da Luz e o do Dragão. Não apenas devido aos aspectos funcionais que o José Correia referiu, mas igualmente pela sua estética."
Comparar estéticamente o estadio da luz ao Dragão é no minimo uma questão de muito mau gosto, principalmente se estamos a falar da parte exterior dos estádios.
Já tive oportunidade de ir ao estádio da luz e é confrangedor o aspecto exterior, pois parece que ainda está em construção, pela quantidade de betão e degraus á vista desarmada, pelas colunas vermelhas que dão tambem o aspecto de "obra em construção" e pior ainda a zona circundante ao estádio, que sem exagero, tem menos de 1/4 do espaço que há no Dragão, com a agravante de ter capacidade para mais 15 mil pessoas, o que me levou a demorar cerca de 45 minutos (!!) desde que sai do lugar na bancada até chegar á rua...
Tendo visitado o AXA em 2 ocasiões a ideia que tenho é clara. A inclinação das bancadas é absurda. Tive a infeliz experiência de ver um jogo no "anel" inferior e outro no superior.
ResponderEliminarDigamos que no superior é indigno pagar dinheiro. Parece que estamos muito mais afastados do que na realidade estamos com uma inclinação estranhissima e pouco natural.
É um caso tipico de design que ganhou de goleada à funcionalidade. Não há comparação possivel com o Dragão que mistura bem os 2 elementos.
Mas estes prémios de arquitectura são conhecidos por este aspecto. Não querem saber da funcionalidade mas sim do desenho e da dificuldade de execução e construção. Uma mistura de snobismo e elitismo.
Mesmo assim Souto Moura e Braga estão de parabens.
Conheço razoalvemente bem os 4 estádios que já aqui foram citados: Axa, Dragão, Luz e Emirates, mais Alvalade.
ResponderEliminarJá entrei neles todos.
De facto, o Axa é uma bela peça arquitectónica que serve para tudo...menos para estádio de futebol.
O principal problema deste estádio advém do facto de um dos topos estar enconstada à pedreira o que impede a circulação dos adeptos à volta do mesmo, como acontece numa configuração mais tradicional.
Reparem que uma das bancadas tem o acesso por BAIXO do relvado ou, em alternativa, obriga a subir uma ladeira íngreme para entrar POR CIMA da bancada!!
No caso de má informação por parte dos stewards sobre qual o lugar, o adepto arrisca-se a ter que fazer "montanhismo" até encontrar a entrada.
A configuração do estádio é de facto estranha e pode originar problemas.
A questão dos degraus, com excepção do Dragão que, devido à sua peculiar configuração "semi-enterrada", permite que o adepto tenho que subir, no máximo, meio estádio coloca-se em todos.
O Dragão é, DE LONGE, aquele que proporciona melhor conforto ao adepto no aspecto de subida aos lugares mais altos(Wembley e Emirates resolveram esta questão, em parte, com escadas rolantes).
Quanto ao aspecto de cada estádio, gostos não se discutem, e por isso cada um terá a sua opinião.
Mas sinceramente, David Duarte, comparar a Luz, com o seu aspecto de barraco semi-acabado dum bairro de lata, com o Emirates, em que o exterior deste está revestido com vidro e paineis que lhe conferem um aspecto incomparavelmente melhor, é duma profunda cegueira.
Ambos foram concebidos por uma empresa australiana (que também desenhou o estádio olímpico de Sidnei), e são projectos "pré-feitos" em que o cliente escolhe projectos semi-terminados (arquitectura "pronto-a-vestir"), daí as semelhanças notórias entre os dois.
A Luz não foi inspiração para nada, pela simples razão de que o projecto já estava feito.
Em contrapartida, Dragão, esse sim, já serviu de inspiração para pelo menos dois estádios, um na Alemanha e outro na Irlanda.
PS: Quanto a Alvalade, é melhor nem falar, tão grande é o mau-gosto e ostentação daquele monte de azulejos.
A obra de Souto Moura e proventura, Ricardo Salgado, irá sobreviver o teste do tempo.
Tentem dizer a mesma coisa das "Taveiradas" que poluem visualmente o nosso país.
E pronto. O próximo prémio Pritzker será entregue ao arquitecto que projecta o estádio "que proporciona as melhores transmissões televisivas".
ResponderEliminarPS: o prémio é uma recompensa pela carreira e pelo percurso do arquitecto e não apenas por uma obra.
Estive uma vez (mas não num jogo), em 2006, no Estádio AXA, e um meu colega bracarense confirmou os "inconvenientes" para os adeptos, sobretudo para a bancada oposta à bancada vip: os adeptos necessitam de subir bastantes degraus para ir para lugares mais altos, o que afastava os de maior idade; o constante vento e aragens, reflectindo-se no frio, naquela bancada afastava adeptos; o ângulo de visão, na parte mais elevada e lateral dessa bancada, para o campo de jogo não era o ideal.
ResponderEliminarEm contraste os lugares - "divisões" - vip possuem mais conforto, e existe elevador próprio.
Estive presente no primeiio SC Braga-FC Porto do estádio municipal de Braga ainda do tempo de Mourinho.
ResponderEliminarVencemos por 3-0 com golos de Maniche, Maciel e McCarty.
Lembro-me de ter subido o equivalente a uns 10 ou 12 andares...Uma amiga com vertigens não conseguiu estar na bancada superior e teve que ir embora.
Estiveram mais de 20 mil adeptos do nosso clube.
Foi uma risada quando da parte da bancada onde estava se assistiu a Jankauskas e o imberbe Carlos Alberto a mijarem contra uma das paredes do estádio.
Foi a estreia de Carlos Alberto que nos brindou com uma "cueca" a um adversário na primeira vez que tocou na bola...O resto é História!!!
De todos os estádios do Euro2004 o unico que me falta entrar é o WC de Alvalade...
Já estive nos 2 estádios de Madrid, em Vigo e La Coruña, em Manchester, Roma, Londres-Stamford Bridge, Rio de Janeiro-Maracanã, Buenos Aires-La Bombonera, Sevilha e Gelsenkirchen. Não vi nehum estádio melhor que o nosso...
deep blue:
ResponderEliminaro arquitecto do estadio do dragão é o manuel salgado e não ricardo salgado (ceo do bes).
parabens ao souto moura pelo pritzker.
gostava da opinião do alexandre sobre este tema.
Eh pá, Alex, tens razão.
ResponderEliminarTinha acabado de ver uma entrevista do dito CEO do BES a um canal norte-americano, e não fiz o "mind-shift" a tempo.
Obrigado pela correcção.
O Sr. de Moura é o mesmo que constroe um edifício mais alto que os circundantes e coloca os estores frágeis do lado de fora no norte do país.
ResponderEliminarÉ gente de outro nível...
Amigos.
ResponderEliminaro que interessa aqui é a obra de arte.
e que aquilo é uma obra de arte,é.
o resto...
Biba o Porto
2005 - Medalha de Ouro para o Estádio Municipal de Braga – IAKS – International Association for Sports and Leisure Facilities, Colónia, Alemanha
ResponderEliminar2006 - Galardão para o Estádio Municipal de Braga com o Prémio Internacional de Arquitectura atribuído pelo Chicago Athenaeum Museum, U.S.A.
ResponderEliminarPrémio Secil em 2004 (Categoria Arquitectura), e em 2005 (Categoria Engenharia Civil)
ResponderEliminarForam só alguns do prémios recebidos, nas mais várias categorias.
ResponderEliminarArquitetura
Engenharia
...e como recinto desportivo!
E eu vou ver o Braga já a ganhar aos espanhois e cimentar o 3º lugar.