Certo dia um filósofo afirmou, já perto do final do século XX, que “a primeira de todas as forças que governam o mundo é a mentira”.
Ao ler a sua frase recordei-me da máxima do Ministro Nazi da Propaganda, o qual defendia que, na propagação dos ideais, uma mentira dita mil vezes acabaria por tornar-se uma verdade.
Este pensamento veio-me à cabeça quando, recentemente, tive uma franca e educada troca de argumentos, num blog, com um benfiquista, que assumia abertamente estar contra o Presidente do seu clube, Luís Filipe Vieira, porque considerava que este estava a utilizar o mesmo método que Pinto da Costa nos inícios da década 80, quando este se tornou Presidente do FC Porto, e que foi, de acordo com a opinião desse benfiquista, um discurso incendiário e procurando “escolher um inimigo onde concentrar os ódios dos adeptos”.
Repliquei que ele estava enganado e que, fazendo uma análise objectiva e racional, nunca Pinto da Costa se afirmou no FC Porto e no panorama futebolístico nacional com discursos carregados de cólera e incitando ao ódio e intolerância contra outrem.
O argumento que esse benfiquista, descontente com o tom e o discurso de Luís Filipe Vieira, utilizava não corresponde à realidade dos factos e, portanto, para que essa falsa ideia – a da semelhança de tom e de conteúdo do discurso de Pinto da Costa nos inícios da sua presidência no FC Porto e do actual discurso de Luís Filipe Vieira – não se propague e se repita milhares de vezes tornando-se uma “verdade”, convém desmistificar, esclarecer e contextualizar os primeiros discursos de Pinto da Costa enquanto Presidente do FC Porto.
Quando Pinto da Costa iniciou a sua Presidência no FC Porto eu era ainda uma criança e só retenho vagas imagens na minha memória. Uma delas foi o facto de o meu Pai ter votado nele, pelo que só posteriormente examinei, através do que me relataram e de textos jornalísticos e biográficos que pude ler, os seus discursos, os quais de forma alguma podem ser classificados de “incendiários”, no sentido de apelar à violência. Mas, para os adversários do FC Porto, classificar de “incendiário” um mero discurso de afirmação e de apelo à vitória por parte Pinto da Costa e do FC Porto é uma velha táctica – usando uma retórica intimidativa – que serve para amedrontar, denegrir e impedir o crescimento de uma causa, nesta situação, de um clube.
Dizia-me esse benfiquista que não discutia a legitimidade dos discursos, quer o de Pinto da Costa, quer o de LF Vieira, apenas verifica que o método é o mesmo. Ora, eu considero que é necessário sempre analisar a legitimidade de uma causa, porque isso equivale a escolher entre o bem e o mal, e efectuarmos essa análise impede a prática de erros e o cometimento de juízos incorrectos. Aplicando este princípio ao assunto em questão, chegamos à conclusão que o discurso de Pinto da Costa de então – finais dos anos 70 e inícios dos anos 80 – estava contextualizado numa conjuntura política, social, cultural e desportiva acabada de sair do Estado Novo, na qual o SLB e o SCP eram protegidos porque eram clubes que mantinham relações privilegiadas com os poderes de decisão política, conjuntura que, dada a subsistência de um status quo na política desportiva, ainda se mantinha após o 25 de Abril, reflectindo-se na forma como as arbitragens beneficiavam o SLB e o SCP e prejudicavam o FC Porto, bem como, em certos “arranjos” de secretaria para impedir o crescimento do FC Porto.
Portanto, neste contexto, um discurso, vindo de Pinto da Costa e mesmo de José Maria Pedroto, que exigisse um sistema mais imparcial e transparente – em conformidade com o regime político recém estabelecido – no futebol em Portugal e denunciando “favores” e privilégios existentes, fazia sentido.
Para dar uma perspectiva mais ampla do contexto desportivo, social e cultural a que Pinto da Costa aludia nos seus discursos, realçando que o desfavorecimento e desprezo a que outras regiões do País, para além da capital, eram votadas era real e estrutural na política do Estado Novo, será importante mencionar aqui exemplos de outras personalidades que apontaram tal facto, como o General Humberto Delgado (natural de Torres Novas no Ribatejo) que, nas eleições para a Presidência da República em 1958, num comício realizado no Coliseu da cidade Invicta, alertou para a exclusão e abandono social, económico – e consequentemente desportivo acrescentaríamos nós – a que fora deixada a região Norte e concretamente a cidade do Porto. À saída do Coliseu diria ainda “esta gente do Porto, insubmissa à tirania (…) no Porto nasceu (…) o indomável espírito de luta que só terminará com o triunfo da liberdade em Portugal”.
A verdade é que, como o reconhecia um relatório do Governador Civil do Porto enviado ao Ministro do Interior em 1958, “o Porto aparece como o foco mais activo da Oposição em todo o País e nada indica que este estado de coisas se venha a modificar”.
Nestas circunstâncias entende-se que uma vitória de uma qualquer colectividade – social, cultural ou desportiva – da cidade Invicta fosse vista como inconveniente e perigosa pelo Estado Novo. Outro exemplo, que demonstra a desconfiança e temor que o Estado Novo passou a ter pelas iniciativas que provinham da cidade Invicta, é o caso do Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, que em 1958, posteriormente às eleições para a Presidência da República, criticou o regime político, entre outras coisas, pela ausência de liberdades, ambiente de opressão e condições de vida miseráveis da população. Já depois do 25 de Abril, outra personalidade pública, Francisco Sá Carneiro, em Novembro de 1974, num discurso político realizado na cidade Invicta afirmou “a ditadura significou o declínio do Porto e o desprezo do Norte…”.
Mencionei aqui estas personalidades, não por qualquer preferência ou militância partidária da minha parte, nem por mera petulância, mas para demonstrar que um discurso – o seu tom, o conteúdo – vindo de Pinto da Costa nos finais dos anos 70 e inícios dos anos 80, exigindo critérios isentos no futebol e apelando às virtudes portistas, se inseria num contexto mais vasto de afirmação e crescimento da cidade Invicta, que o Presidente do FC Porto não era um fundador de qualquer movimento de luta regionalista, e que já anteriormente outras personalidades exigiam um revigorar das forças vivas da cidade. Aliás, o próprio Pinto da Costa viria, numa entrevista dada em 2000 ou 2001, a reconhecer sentir-se impressionado, no início da sua vida como dirigente desportivo, pelas personalidades atrás mencionadas, pelo exemplo ético que deixaram para o fortalecer das ambições da cidade Invicta.
Com este esclarecimento, quero dizer que o argumento utilizado pelos benfiquistas de que o discurso, nos anos 80, de Pinto da Costa, era “incendiário” porque era dirigido contra outros – quando apenas apelava à consolidação e crescimento do clube – não tem qualquer sentido ou lógica e é desprovido de fundamento nos factos e na realidade, porque esse argumento benfiquista equivaleria a afirmar que não existia desfavorecimento da região nortenha no tempo do Estado Novo e que as denúncias – feitas quer pelo General Humberto Delgado, quer pelo Bispo do Porto, ambas em 1958 – do desprezo pela região Norte e da existência de vastas injustiças em Portugal, eram mentira e falsas, e os motivos que levaram essas duas personalidades a afrontar o regime político da altura não possuíam qualquer legitimidade nem se apoiavam numa realidade factual.
(continua)
Ao ler a sua frase recordei-me da máxima do Ministro Nazi da Propaganda, o qual defendia que, na propagação dos ideais, uma mentira dita mil vezes acabaria por tornar-se uma verdade.
Este pensamento veio-me à cabeça quando, recentemente, tive uma franca e educada troca de argumentos, num blog, com um benfiquista, que assumia abertamente estar contra o Presidente do seu clube, Luís Filipe Vieira, porque considerava que este estava a utilizar o mesmo método que Pinto da Costa nos inícios da década 80, quando este se tornou Presidente do FC Porto, e que foi, de acordo com a opinião desse benfiquista, um discurso incendiário e procurando “escolher um inimigo onde concentrar os ódios dos adeptos”.
Repliquei que ele estava enganado e que, fazendo uma análise objectiva e racional, nunca Pinto da Costa se afirmou no FC Porto e no panorama futebolístico nacional com discursos carregados de cólera e incitando ao ódio e intolerância contra outrem.
O argumento que esse benfiquista, descontente com o tom e o discurso de Luís Filipe Vieira, utilizava não corresponde à realidade dos factos e, portanto, para que essa falsa ideia – a da semelhança de tom e de conteúdo do discurso de Pinto da Costa nos inícios da sua presidência no FC Porto e do actual discurso de Luís Filipe Vieira – não se propague e se repita milhares de vezes tornando-se uma “verdade”, convém desmistificar, esclarecer e contextualizar os primeiros discursos de Pinto da Costa enquanto Presidente do FC Porto.
Quando Pinto da Costa iniciou a sua Presidência no FC Porto eu era ainda uma criança e só retenho vagas imagens na minha memória. Uma delas foi o facto de o meu Pai ter votado nele, pelo que só posteriormente examinei, através do que me relataram e de textos jornalísticos e biográficos que pude ler, os seus discursos, os quais de forma alguma podem ser classificados de “incendiários”, no sentido de apelar à violência. Mas, para os adversários do FC Porto, classificar de “incendiário” um mero discurso de afirmação e de apelo à vitória por parte Pinto da Costa e do FC Porto é uma velha táctica – usando uma retórica intimidativa – que serve para amedrontar, denegrir e impedir o crescimento de uma causa, nesta situação, de um clube.
Dizia-me esse benfiquista que não discutia a legitimidade dos discursos, quer o de Pinto da Costa, quer o de LF Vieira, apenas verifica que o método é o mesmo. Ora, eu considero que é necessário sempre analisar a legitimidade de uma causa, porque isso equivale a escolher entre o bem e o mal, e efectuarmos essa análise impede a prática de erros e o cometimento de juízos incorrectos. Aplicando este princípio ao assunto em questão, chegamos à conclusão que o discurso de Pinto da Costa de então – finais dos anos 70 e inícios dos anos 80 – estava contextualizado numa conjuntura política, social, cultural e desportiva acabada de sair do Estado Novo, na qual o SLB e o SCP eram protegidos porque eram clubes que mantinham relações privilegiadas com os poderes de decisão política, conjuntura que, dada a subsistência de um status quo na política desportiva, ainda se mantinha após o 25 de Abril, reflectindo-se na forma como as arbitragens beneficiavam o SLB e o SCP e prejudicavam o FC Porto, bem como, em certos “arranjos” de secretaria para impedir o crescimento do FC Porto.
Portanto, neste contexto, um discurso, vindo de Pinto da Costa e mesmo de José Maria Pedroto, que exigisse um sistema mais imparcial e transparente – em conformidade com o regime político recém estabelecido – no futebol em Portugal e denunciando “favores” e privilégios existentes, fazia sentido.
Para dar uma perspectiva mais ampla do contexto desportivo, social e cultural a que Pinto da Costa aludia nos seus discursos, realçando que o desfavorecimento e desprezo a que outras regiões do País, para além da capital, eram votadas era real e estrutural na política do Estado Novo, será importante mencionar aqui exemplos de outras personalidades que apontaram tal facto, como o General Humberto Delgado (natural de Torres Novas no Ribatejo) que, nas eleições para a Presidência da República em 1958, num comício realizado no Coliseu da cidade Invicta, alertou para a exclusão e abandono social, económico – e consequentemente desportivo acrescentaríamos nós – a que fora deixada a região Norte e concretamente a cidade do Porto. À saída do Coliseu diria ainda “esta gente do Porto, insubmissa à tirania (…) no Porto nasceu (…) o indomável espírito de luta que só terminará com o triunfo da liberdade em Portugal”.
A verdade é que, como o reconhecia um relatório do Governador Civil do Porto enviado ao Ministro do Interior em 1958, “o Porto aparece como o foco mais activo da Oposição em todo o País e nada indica que este estado de coisas se venha a modificar”.
Nestas circunstâncias entende-se que uma vitória de uma qualquer colectividade – social, cultural ou desportiva – da cidade Invicta fosse vista como inconveniente e perigosa pelo Estado Novo. Outro exemplo, que demonstra a desconfiança e temor que o Estado Novo passou a ter pelas iniciativas que provinham da cidade Invicta, é o caso do Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, que em 1958, posteriormente às eleições para a Presidência da República, criticou o regime político, entre outras coisas, pela ausência de liberdades, ambiente de opressão e condições de vida miseráveis da população. Já depois do 25 de Abril, outra personalidade pública, Francisco Sá Carneiro, em Novembro de 1974, num discurso político realizado na cidade Invicta afirmou “a ditadura significou o declínio do Porto e o desprezo do Norte…”.
Mencionei aqui estas personalidades, não por qualquer preferência ou militância partidária da minha parte, nem por mera petulância, mas para demonstrar que um discurso – o seu tom, o conteúdo – vindo de Pinto da Costa nos finais dos anos 70 e inícios dos anos 80, exigindo critérios isentos no futebol e apelando às virtudes portistas, se inseria num contexto mais vasto de afirmação e crescimento da cidade Invicta, que o Presidente do FC Porto não era um fundador de qualquer movimento de luta regionalista, e que já anteriormente outras personalidades exigiam um revigorar das forças vivas da cidade. Aliás, o próprio Pinto da Costa viria, numa entrevista dada em 2000 ou 2001, a reconhecer sentir-se impressionado, no início da sua vida como dirigente desportivo, pelas personalidades atrás mencionadas, pelo exemplo ético que deixaram para o fortalecer das ambições da cidade Invicta.
Com este esclarecimento, quero dizer que o argumento utilizado pelos benfiquistas de que o discurso, nos anos 80, de Pinto da Costa, era “incendiário” porque era dirigido contra outros – quando apenas apelava à consolidação e crescimento do clube – não tem qualquer sentido ou lógica e é desprovido de fundamento nos factos e na realidade, porque esse argumento benfiquista equivaleria a afirmar que não existia desfavorecimento da região nortenha no tempo do Estado Novo e que as denúncias – feitas quer pelo General Humberto Delgado, quer pelo Bispo do Porto, ambas em 1958 – do desprezo pela região Norte e da existência de vastas injustiças em Portugal, eram mentira e falsas, e os motivos que levaram essas duas personalidades a afrontar o regime político da altura não possuíam qualquer legitimidade nem se apoiavam numa realidade factual.
(continua)
(*) Pedro Miguel Pereira, natural de Paranhos, actualmente a residir na Maia. Começou a sentir a paixão pelo FC Porto quando, em pequeno, começou a acompanhar o Pai nos jogos nas Antas, no tempo do Hermann Stessl e depois com o regresso de Pedroto. Foi nestas circunstâncias que passou a vibrar com as vitórias do FC Porto.
Nota final: O 'Reflexão Portista' agradece ao Pedro Miguel Pereira a elaboração deste artigo (1ª parte).
Foto: Glórias do Passado
Grande artigo!
ResponderEliminarparabéns pela clareza de discurso e pela consistência lógica da argumentação que usa!
Muito boa reflexão, e necessária nos tempos de mentiras que correm;
ResponderEliminarquanto ao texto, só gostaria de acrescentar aos clubes que "eram o país", o Belenenses que como se sabe, era o clube do coração do então (e então, e então) presidente Américo Tomáz... (onde está agora o belenenses?...)
Quanto ao método ser o mesmo (e à parte da não menos-pesante capacidade intelectual do nosso presidente versus o deles) o engano já está na interpretação da aplicação do método e não só do contexto para a aplicação do método; ou seja, se os contextos, como diz, exigem respostas adequadas - e utilizações de métodos concretos - a verdade é que esses discursos de Pinto da Costa eram para assegurar o seu poder dentro do clube, não para criar uma envolvência populista de pressão para levar o clube a vitórias que de outra forma não conquistaria!... A diferença está, que paralelamente aos discursos, o clube trabalhou na sua organização interna e no seu profissionalismo. Nunca nos tempos próximos com muita ou pouca propaganda benfiquistas e sportinguistas serão o que quer que seja, porque nunca se deram ao trabalho de valorizar esta componente, que essa sim, ao contrário dos discursos, traz resultados. O método dos discursos inflamatórios se trouxe algum proveito ao clube foi o de iludir as cabeças de vento. O segredo, que afinal se calhar não é segredo nenhum, está no trabalho e no rigor. E, esse obriga a sacrifícios e disciplina. Todos os dias.
Ao contrário, Goebels, como sabemos, suicidou-se, levando junto todos os seus inocentes filhos, porque não queria ter de enfrentar a realidade... - e as suas mentiras, feitas verdade, duraram quanto tempo?
O "discurso" de Pinto da Costa deve ser seguido desde que tomou conta do Dep. Futebol em 1976, e não apenas desde que chegou a Presidente em 1982. Mais famoso e mais influente que o discurso de Pinto da Costa era, nessa altura, o de José Maria Pedroto.
ResponderEliminarEu sei que tinhamos razão para pegarmos em armas em termos verbais, mas tenho de conceder que fomos os primeiros a usar de alguma truculência verbal no futebol, e que desse modo muito contribuímos para o permanente clima de guerrilha desde então instalado no futebol português. Os nossos adevrsários, vestindo a pele da vítima, passaram a usar do mesmo método, mas com uma grande diferença: o que eles dizem tem muito mais eco e escapa à condenação da hipocrisia moralística dominante.
Alexandre Burmester disse:"tenho de conceder que fomos os primeiros a usar de alguma truculência verbal no futebol"
ResponderEliminarO âmago do assunto - que o artigo levanta - é concluir que essa truculência era necessária e portanto justificada para "agitar as consciências" relativamente à ausência de insenção e imparcialidade no futebol português, e despertar o espírito dos portistas para o crescimento e afirmação do FC Porto.
Tudo muito interessante.Mas convem lembrar que FCPorto, o Sporting e o Benfica tiveram muitos presidentes no tempo do Estado Novo que eram destacados membros do regime.Colocar o FC Porto e mesmo a cidade como um elo de resistencia democrática no antigo regime é um bocado complicado.
ResponderEliminarCom os melhores cumprimentos
Tiago disse: "FCPorto, o Sporting e o Benfica tiveram muitos presidentes no tempo do Estado Novo que eram destacados membros do regime.Colocar o FC Porto e mesmo a cidade como um elo de resistencia democrática no antigo regime é um bocado complicado."
ResponderEliminarSim, os Presidentes do clubes eram, algumas vezes, afectos ao regime político da altura, mas porque a própria natureza do regime assim o exigia, no dia em que alguém conotado com a Oposição ao Estado Novo decide-se candidatar-se a Presidente de um clube era logo "vetado" e tinha a PIDE "à porta de casa", portanto só pessoas afectas, directamente ou indirectamente, ao regime político podiam alcançar o cargo. Portanto o FC Porto pode não ter sido um elo de resistência ao regime, assim como nenhum outro clube o foi, porque a natureza das coisas implicava que as associações desportivas fosse "apolíticas", mas a cidade do Porto essa sempre teve uma oposição ao Estado Novo, basta lembrar o "banho de multidão" que o general Humberto Delgado teve na Invicta em contraste com a fraca recepção noutras partes do País.
Mesmo os portuenses ligados ao regime político sempre tiveram uma postura de crítica face ao Estado Novo, lembro - se não estou enganado - o caso do Presidente do FCP Césario Bonito que teve a ousadia numa ocasião de criticar os privilégios de um jogador dos rivais (SLB ou SCP) e que por esse facto não lhe permitiram a recandidatura à presidência do FC Porto, ora é esta diferença de atitude que o artigo procura salientar. Dando ainda outro exemplo da diferença de postura: 2 políticos Francisco Sá Carneiro e o Pinto Balsemão, ambos fizeram parte da Ala Marcelista do Estado Novo, mas o político portuense sempre manteve uma postura de crítica e indepêndencia de pensamento face ao regime enquanto Balsemão sempre foi politicamente amorfo e adoptando um tom "manso".