sábado, 30 de julho de 2011

Um canal contra a espiritualidade centralista

«A distância da capital e do poder mediático, juntamente com a incapacidade de influir na orientação editorial quotidiana dos órgãos de comunicação social, impõe ao FC Porto: vencer mais vezes do que os rivais e desenvolver um modelo de comunicação externa muito diferente dos clubes mais poderosos de Lisboa. (...)

Portugal ainda não se libertou da asserção queiroziana de que o país é Lisboa e o resto é paisagem. Pelo contrário, salvo alguns - poucos - anos depois do 25 de Abril, o país passou a viver mais em Lisboa e em função de Lisboa (...)
O mesmo sucede em relação ao desporto. Não importa que o FC Porto vença habitualmente, e muitas vezes, em diversas modalidades; não interessa que clubes nortenhos dominem em diferentes actividades desportivas; não importa que fora de Lisboa se evidenciem talentos nas mais distintas áreas; (...) A espiritualidade lisboeta e centralista é redutora, pretende que tudo aconteça perto de si e, o mais possível, à medida dos seus interesses. (...)
Porque essa espiritualidade tende a dominar, Belmiro de Azevedo mudou a sede do Público do Porto para Lisboa e a Invicta ficou reduzida a um jornal de índole nacional, o Jornal de Notícias (...)

Mas vai subsistindo a espiritualidade lisboeta e centralista, razão por que o FC Porto decidiu inovar (mais uma vez) na sua comunicação, optando por tomar uma posição accionista maioritária no Porto Canal, o que nos interroga sobre o futuro do canal com pronúncia do Norte e orientação regionalista. Mas, antecipando argumentos e objectivos, parece-me que o emblema do dragão não desejará ganhar poder e influência comunicacional apenas para si. Esse seria um comportamento redutor, que pouco ou nada adiantaria relativamente a um canal clubista.
Os responsáveis portistas sentirão que, independentemente do cultivo das vitórias, o futuro terá de ser feito com agregação de interesses, iniciativas, realizações e objectivos de outras instituições locais e regionais aos mais diversos níveis. Uma visão minimalista, de interesse individual, não consolidaria a espiritualidade do dragão nem contribuiria para um maior reconhecimento da vitalidade da sua organização e dos seus êxitos.
O desempenho mediático do FC Porto no Porto Canal não se afastará, por isso, de um pensamento integrador, inclusivo e expressivo do que de mais importante acontecer na região, promovendo e desenvolvendo as diferentes culturas que nela existem e se evidenciam. Pelo menos na informação generalista.

No desporto, a marca FC Porto será dominante. Porque ela é a raiz da força, do poder e da influência. Como contraponto à espiritualidade lisboeta e centralista.»
Alfredo Barbosa, semanário Grande Porto, 15/07/2011

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É já a partir da próxima segunda-feira, dia 1 de Agosto, que o FC Porto vai tomar conta dos destinos do Porto Canal.

O director de Programas Desportivos será Rui Cerqueira, que irá acumular essa função com a de director de Comunicação do FC Porto.

Quanto ao director de Informação e Programas Não Desportivos a escolha recaiu em Domingos Andrade, até agora director-adjunto de Informação da Lusa, onde estava desde 2009.

Domingos Andrade tem 41 anos, é doutorando em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho, com uma Pós-Graduação em Sociologia das Organizações e licenciado em Comunicação Social. Entre 2003 e 2008 foi chefe de redacção do Jornal de Notícias. Desde 2005 que é docente da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica.

Tal como já tinha referido aqui, a primeira grelha de programação da responsabilidade da nova direcção do Porto Canal só estará disponível no início do próximo ano mas, segundo foi anunciado, já em Agosto serão alterados os conteúdos de cariz desportivo, de forma a projectar a marca e as actividades do FC Porto.


Nota: Os destaques no texto a negrito são da minha responsabilidade.

11 comentários:

  1. Espero que o PortoCanal não caia na tentação de radicalizar uma posição de absoluto Portismo que retiraria toda a capacidade atractiva do Canal a novos públicos.No entanto neste momento o PortoCanal é um Canal com muito pouca audiência e qualidade esta alteração por si só vai-lhe garantir uma maior adesão de público mas seia bem que os níveis de exigência dos conteúdos se elevassem um pouco mais...A grande atracção do PortoCanal passará a ser -para mim - os conteúdos Desportivos agora que passaremos a estar omnipresentes no Canal e as rubricas de debate político -em que me gela a necessidade de distância relativamente ao Porto de alguns dos comentadores- e as resenhas históricas neste momento a cargo de Joel Cleto mas que poderiam e quanto a mim deveriam passar também pelos conhecidíssimos Hélder Pacheco e Germano Silva...Mas porque não chamar outros nomes como Manuel Pina, Rui Moreira, Miguel Guedes, Manoel de Oliveira, Sisa Vieira, Júlio Resende, Agustina, etc, etc...Pessoas que nunca viraram a cara ao Porto e ao Norte de Portugal e que nunca sentiram vergonha de serem daqui.

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  2. "Espero que o PortoCanal não caia na tentação de radicalizar uma posição de absoluto Portismo que retiraria toda a capacidade atractiva do Canal a novos públicos."

    Meireles, não me leve a mal, mas é isso mesmo que eu espero. O Porto comprou um canal para quê? Meus caros, o FC Porto é um clube sediado na cidade do Porto (de onde eu próprio sou natural), mas é um clube universal. Espero que, no máximo até janeiro de 2012, os conteúdos do Porto Canal estejam ligados exclusivamente ao FCP. De outro modo, para mim, não faz o menor sentido termos investido num projecto televisivo. Sendo nós, como disse, um clube de expressão internacional, não me cabe na cabeça que se faça a apologia de outra coisa que não seja o FCP.

    Assim, espero vivamente que não se extrapole os conteúdos para outros assuntos que não os que tenham a ver com o clube, nomeadamente questões ligadas à área regional a que o FCP pertence fisicamente. Isso faria com que muitos dos nossos adeptos se desinteressassem pelo canal. Se eu fosse um portista do sul, do centro, das ilhas, ou dos PALOP, não me interessaria muito por uma publicidade a coisas do âmbito de uma região onde não habito.

    Em suma, espero que o nosso canal se torne naquilo que são os canais desportivos de tantos outros clubes espalhados pelo mundo. Outro caminho que não seja esse, fará com que fiquemos novamente para trás ao nível do marketing e comunicação, comparativamente a outros clubes europeus e até nacionais. Sim, o clube do regime tem um canal com espaços execráveis e repugnantes, mas esse mesmo canal também tem aspectos muito positivos e fundamentais para a divulgação da marca da instituição.

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  3. Pinto da Costa no primeiro dia do Porto Canal
    00h33m
    DINA MARGATO
    Dois novos programas televisivos assinalam o início da gestão do F.C. Porto no Porto Canal, e num deles poderá contar-se, no arranque, na próxima segunda-feira, dia 1 de Agosto, com um convidado de peso, o presidente do F.C.Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa.

    "Somos Porto", no ar a partir das 22 horas, conta com uma presença diferente a cada edição - na estreia, a cadeira é ocupada pelo presidente do F.C. Porto - além dos comentadores fixos, Rita Moreira, empresária, e Pedro Madeira Froufe, professor universitário. Durante uma hora, analisa-se e discute-se a actividade do clube.

    expqo

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  4. Duarte@:
    Mas então seria preferível investir num Canal totalmente novo num Canal temático FCdoPorto...Eu creio que o interessante é permitir que este Canal que era em princípio um Canal de carácter Regional mas generalista, mantenha essas características e as enriqueça ao mesmo tempo que lhe injecta no aspecto desportivo o sangue vivo e potente do FCdoPorto!
    Isto é, funcionará como veículo informativo a nível desportivo das actividades do FCPorto, com isso até garantirá certamente um acréscimo de audiências, mas manterá e se for possível reforçará, a sua apetência pela divulgação do que é o Porto e do que é Norte Cultural...Para isso poderá contar com inúmeras figuras já salientes no panorama cultural, científico, artístico do Porto e do norte Português...Até acho que assim será um projecto inovador e que poderá ter consequências futuras muito importantes para a Região Norte.
    -Não creio que isso possa desmobilizar as pessoas adeptas do Porto que vivam e sejam naturais de outras regiões, bem pelo contrário, poderá fazer crescer a apetência de muita gente de outras paragens pelas idiossincrasias Nortenhas.Nós somos Nortenhos, nós somos do Porto e abrimos os braços a todos os que gostem de estar connosco e queiram fazer parte deste grande projecto.

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  5. Eu acho muito bem que o canal aposte forte em duas coisas:

    1) o FCP
    2) notícias e programas sobre o Norte

    Isto num rácio de 45/45 (sobrando 10% para outros assuntos)

    Quem for portista e não tiver interesse por assuntos relevantes para os nortenhos, está perfeitamente à vontade para só assistir aos programas desportivos...

    Não gostam (da parte não desportiva), não vêem. Remédio santo. E certamente não é por não gostarem de um programa com por ex um Hélder Pacheco que iam deixar de querer ver programas sobre o FCP...

    Para o canal tb não há-de ser problema se não virem, porque não deixaria de ter perto de uns 5 milhões de pessoas como público-alvo (mais de 3 milhões de nortenhos, a q se acrescenta 1 a 2 milhões de portistas fora do Norte).

    Esses dois vectores devem ser a grande aposta do canal, por serem nichos (mas com muita gente que corresponde ao público-alvo) que mais nenhum canal pode (ou quer) "atacar".

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  6. "Mas então seria preferível investir num Canal totalmente novo num Canal temático FCdoPorto..."

    Meireles, não necessariamente. O Porto Canal em si tem vantagens que uma estação totalmente nova não teria. Ao adquirir o canal, o FCP poupou gastos em meios técnicos e nalguns recursos humanos, porque muitas das pessoas que já trabalhavam no Porto Canal podem perfeitamente fazer parte de um projecto ligado ao clube. No caso de criarmos uma estação de raiz, teríamos de despender uma verba provavelmente mais considerável em pessoal, material e num espaço físico suficientemente grande (assim mantem-se aquele que o Porto Canal já possui e, segundo li, será criado outro no Estádio do Dragão como suporte).

    Percebo o seu ponto de vista e o do José Rodrigues em dividir os conteúdos programáticos: uma parte só para o FC Porto, outra para temas de cariz regional. Caso se consiga fazer uma destrinça clara entre os dois de modo a que não se confundam posições, menos mal. Eu é que não estou a ver como é que isso será possível.

    De qualquer modo, e mesmo que a gestão temática do canal consiga estabelecer um paralelo claro entre a tipologia de conteúdos, continuo a não concordar com o projecto. Por muito que sejam separadas as águas, tudo o que for emitido - directa ou indirectamente - terá o selo FC Porto. Rever-se-á nesta ideia um sócio portista de Faro, de Coimbra, ou de Luanda, sabendo ao mesmo tempo que o dinheiro das suas quotas ou dos produtos azuis e brancos que consome é gasto em questões extra-desportivas que a ele nada dizem e com que, nalguns casos, nem concorda? Não me parece, por muito que também eu seja nortenho, portuense e partilhe dos ideais de Pinto da Costa, enquanto presidente e cidadão.

    Não me interpretem mal, não sou um Portocéptico, mas neste caso não estou otimista. O tempo dirá se tenho ou não razão nestas minhas reservas. Por agora, procuro por-me na pele de determinados adeptos, não esquecendo que - por muito que possa partilhar das opiniões do nosso presidente -, o FC Porto é, antes de mais nada, uma instituição desportiva, por sinal, bem grande. A melhor deste país.

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  7. Vamos esperar por aquilo que vai suceder e depois comentamos com mais rigor...No fundo, o que queria ou quero pouco contará no que vai ser executado, apenas espero que o que vá acontecer me agrade e encaixe nas minhas expectativas...E apenas faço questão de pôr aqui por escrito aquilo que me parecem ser caminhos ideais, se vão ser parecidos com os escolhidos já pouco poderei influir...Por exemplo hoje, esperei sempre que o Porto conseguisse a vitória, pelo que vi merecia-o, mas não aconteceu...

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  8. Duarte disse...
    Percebo o seu ponto de vista e o do José Rodrigues em dividir os conteúdos programáticos: uma parte só para o FC Porto, outra para temas de cariz regional. Caso se consiga fazer uma destrinça clara entre os dois de modo a que não se confundam posições, menos mal. Eu é que não estou a ver como é que isso será possível.

    Conforme é dito no artigo, não deve ser por acaso que o director de Programas Desportivos será o Rui Cerqueira (que irá acumular essa função com a de director de Comunicação do FC Porto), enquanto que o director de Informação e Programas Não Desportivos será o Domingos Andrade.

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  9. Duarte disse...
    Rever-se-á nesta ideia um sócio portista de Faro, de Coimbra, ou de Luanda

    Eu nasci no Porto, estudei no Porto, trabalho no Porto e sempre vivi no Porto. Contudo, sou grande apreciador de outras zonas do país. Do Minho ao Algarve, passando por Trás-os-Montes, Beiras e Alentejo, já passei férias (e adorei) em todas estas diferentes regiões de Portugal.

    Nos últimos dois dias aproveitei um pequeno período de férias para visitar e conhecer melhor o Douro, particularmente alguns locais dos concelhos do Peso da Régua e de Alijó, onde há maravilhas (históricas, culturais e gastronómicas) que todos os portugueses deveriam conhecer.

    De alguma maneira, espero que o Porto Canal contribua para isso e não caia no erro de ser porto-centrico.

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  10. José Rodrigues disse...
    Eu acho muito bem que o canal aposte forte em duas coisas:
    1) o FCP
    2) notícias e programas sobre o Norte
    Isto num rácio de 45/45 (sobrando 10% para outros assuntos)


    Não sei se haverá assunto para ocupar 45% da emissão com programas sobre o FC Porto.

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  11. Também acho que o FCPorto em muitos dias não ocupará mais que 25% da programação...Ao fim de semana as coisas poderão diferir, há muita competição, várias modalidades, haverá com certeza muita informação para debitar, mas no resto da semana as coisas mudam muito e sobra espaço para muita outra matéria.Espero que os espaços Noticiosos sejam melhorados, em muitos dos programas há uma nítida imagem de amadorismo...Façam debates, tratem a História, divulguem a Arte, ensinem Filosofia, Arquitectura, Ciência...

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