O futebol vive da ilusão. A ilusão colectiva, individual e até mesmo óptica que tantas vezes levam uma bola que ia fora para dentro das redes só com a força do pensamento. Agarrados a essa ilusão, o colectivo que dá forma ao FC Porto, do qual todos fazemos parte, imaginou que essa bola, que rolava brilhantemente na Europe League com Villas-Boas, ia manter a trajectória certeira com o logótipo da Champions League. Uma ilusão que nem se ajusta à realidade do passado, que ajuda a explicar em grande parte o grande dilema do FC Porto desta temporada.
Em 2004-05 a direcção da SAD teve mãos um sério (e novo) problema para resolver. Depois de dois anos a vencer tudo, a esmagadora maioria dos jogadores lançados e consagrados por José Mourinho entendiam que o Dragão, por muito arejado que fosse, era pequeno demais para o seu talento (e ego). Um pulso que custou um ano (e talvez uma série histórica de títulos como se veria) e que devia ter servido de licção à SAD, aos adeptos e também aos jogadores. Ninguém tomou nota.
O clube gastou fortunas em jogadores consagrados (Luís Fabiano, Diego, Seitaridis), apostou num treinador incógnito para o lugar do homem que faz parte da santíssima trindade de qualquer adepto azul e branco (com Pedroto e Artur Jorge) e acabou com um problema grave entre as mãos. E, sobretudo, criou a ilusão que o efémero e surpreendente era reeditável. Não o era. Um clube em estado de sitio, com três treinadores numa só época, um dos quais despedido sem a bola rolar, realizou uma época deprimente e marcou um ponto final abrupto num biénio histórico. Sete anos depois a ilusão de por-se em bicos de pé voltou a poder mais com a brutal realidade em que nos acostumamos a viver.
O FC Porto de André Villas-Boas venceu quase tudo o que havia para ganhar (e deixamos o quase para essa “coisa” chamada Taça da Liga) com autoridade. Mas o que havia para ganhar? Uma Liga Sagres, competição que dominamos de forma absoluta nos últimos 30 anos, que é o objectivo mínimo de qualquer técnico do clube com maior orçamento, com melhor estrutura e com melhor plantel. Uma Taça de Portugal ganha diante de um rival demasiado débil e depois de uma meia-final onde a épica superou a lógica. E a Europe League. Essa grande competição internacional que a UEFA mantém porque é preciso algo para intercalar com o dinheiro – o verdadeiro dinheiro – que dá cor à Champions League.
Olhar para o palmarés da Taça UEFA (ou Europe League) desde que a Champions League arrancou é, sobretudo, ver equipas que se posicionam, correctamente, num segundo ou terceiro patamar do futebol europeu. Imaginam o Benfica e o Braga numa semi-final da Champions League? Ou o Fulham, Fiorentina, Glasgow Rangers ou Espanyol? Claro que não, e um clube com a experiência e o pedigree do FC Porto devia saber bem medir as distâncias do que é participar na Taça da Liga da UEFA do que é competir entre os adultos.
Criou-se nos adeptos a ilusão de que esta equipa podia reeditar o sucesso de Mourinho. É legitimo, o adepto existe porque sonha, porque pensa primeiro com o coração e depois com a cabeça. Porque vive para o clube e porque sofre com ele mais do que ninguém. Porque paga sem ter nada em troca a não ser essa ilusão.
O problema é quando essa ilusão passa da bancada para o palco presidencial e para o balneário. Aí é onde tem de estar a cabeça, a análise cerebral, e foi aí que este FC Porto começou a falhar. A direcção da SAD, capitaneada pelo senhor de sempre, entendeu que aplicar um orçamento de 100 milhões de euros – uma brutalidade para um clube português – fazia sentido nesse cenário de reconquista europeia. Comprou-se como nunca cromos repetidos quando havia números na caderneta por preencher. E os novos juntaram-se aos mesmos esfomeados que Villas-Boas domou para protagonizar uma época inesquecível esqueceram-se quem eram e de onde vinham. Sapunaru, Fucile, Alvaro, Fernando, Moutinho e Hulk reencarnaram nas figuras de Maniche, Derlei, Costinha e companhia e pensaram, honestamente, que os grandes da Europa iriam salivar por eles. Não salivaram, nem sequer por Falcao – só um clube como o Atletico de Madrid seria capaz de (não) pagar 40 milhões na conjuntura actual – e essa fome transformou-se em astio. O plantel ficou com overbooking de insatisfeitos, a SAD sem dinheiro para pagar o que deve e o futuro imediato em suspenso.
A situação relembra em tantas coisas 2004/05 que, para completar o (triste) cenário, só faltava mesmo essa imagem do treinador incompetente. Nesse ano foram três, figuras incapazes de controlar um balneário ilusionado com o seu reflexo no espelho. Figuras tacticamente medíocres, sem espírito de iniciativa e capacidade de reacção. E sobretudo, figuras menores tendo em conta as (grandes) ilusões de adeptos e directivos, que se viram superados pelo peso da responsabilidade.
Vítor Pereira, como tantos outros, será um grande portista e um competente número 2. Mas como António Morais foi incapaz de motivar os jogadores no balneário de Basileia, como recentemente confirmou Inácio na reportagem sobre a vida do Mestre Pedroto, também este tem o condão de empequenecer um clube e uma equipa que há meio ano eram vistos como a nata da Europa.
Se é verdade que Robson e Adriaanse foram campeões sem passar da fase de grupos, a verdade é que nenhum manifestou o claro problema de Vitor Pereira, um homem sem critério de jogo e, sobretudo, sem atitude. A culpa não lhe é exclusiva e o cenário podia até ser o mesmo com o pretérito treinador ao leme. Afinal, os outros dois vértices do triângulo continuam a ser parte da equação por muito que passem debaixo do radar de muitos adeptos que questionam pouco o negócio Danilo ou esses 7,5 milhões de euros gastos em comissões pela SAD. Mas ao contrário de Artur Jorge, depois da debacle frente ao Wrexham, está claro que este homem tem tudo menos um plano de futuro. E Pinto da Costa certamente também terá problemas em arranjar quem lhe pague esta clausula milionária agarrada a outra cadeira de sonho, de pura ilusão!
Em 2004-05 a direcção da SAD teve mãos um sério (e novo) problema para resolver. Depois de dois anos a vencer tudo, a esmagadora maioria dos jogadores lançados e consagrados por José Mourinho entendiam que o Dragão, por muito arejado que fosse, era pequeno demais para o seu talento (e ego). Um pulso que custou um ano (e talvez uma série histórica de títulos como se veria) e que devia ter servido de licção à SAD, aos adeptos e também aos jogadores. Ninguém tomou nota.
O clube gastou fortunas em jogadores consagrados (Luís Fabiano, Diego, Seitaridis), apostou num treinador incógnito para o lugar do homem que faz parte da santíssima trindade de qualquer adepto azul e branco (com Pedroto e Artur Jorge) e acabou com um problema grave entre as mãos. E, sobretudo, criou a ilusão que o efémero e surpreendente era reeditável. Não o era. Um clube em estado de sitio, com três treinadores numa só época, um dos quais despedido sem a bola rolar, realizou uma época deprimente e marcou um ponto final abrupto num biénio histórico. Sete anos depois a ilusão de por-se em bicos de pé voltou a poder mais com a brutal realidade em que nos acostumamos a viver.
O FC Porto de André Villas-Boas venceu quase tudo o que havia para ganhar (e deixamos o quase para essa “coisa” chamada Taça da Liga) com autoridade. Mas o que havia para ganhar? Uma Liga Sagres, competição que dominamos de forma absoluta nos últimos 30 anos, que é o objectivo mínimo de qualquer técnico do clube com maior orçamento, com melhor estrutura e com melhor plantel. Uma Taça de Portugal ganha diante de um rival demasiado débil e depois de uma meia-final onde a épica superou a lógica. E a Europe League. Essa grande competição internacional que a UEFA mantém porque é preciso algo para intercalar com o dinheiro – o verdadeiro dinheiro – que dá cor à Champions League.
Olhar para o palmarés da Taça UEFA (ou Europe League) desde que a Champions League arrancou é, sobretudo, ver equipas que se posicionam, correctamente, num segundo ou terceiro patamar do futebol europeu. Imaginam o Benfica e o Braga numa semi-final da Champions League? Ou o Fulham, Fiorentina, Glasgow Rangers ou Espanyol? Claro que não, e um clube com a experiência e o pedigree do FC Porto devia saber bem medir as distâncias do que é participar na Taça da Liga da UEFA do que é competir entre os adultos.
Criou-se nos adeptos a ilusão de que esta equipa podia reeditar o sucesso de Mourinho. É legitimo, o adepto existe porque sonha, porque pensa primeiro com o coração e depois com a cabeça. Porque vive para o clube e porque sofre com ele mais do que ninguém. Porque paga sem ter nada em troca a não ser essa ilusão.
O problema é quando essa ilusão passa da bancada para o palco presidencial e para o balneário. Aí é onde tem de estar a cabeça, a análise cerebral, e foi aí que este FC Porto começou a falhar. A direcção da SAD, capitaneada pelo senhor de sempre, entendeu que aplicar um orçamento de 100 milhões de euros – uma brutalidade para um clube português – fazia sentido nesse cenário de reconquista europeia. Comprou-se como nunca cromos repetidos quando havia números na caderneta por preencher. E os novos juntaram-se aos mesmos esfomeados que Villas-Boas domou para protagonizar uma época inesquecível esqueceram-se quem eram e de onde vinham. Sapunaru, Fucile, Alvaro, Fernando, Moutinho e Hulk reencarnaram nas figuras de Maniche, Derlei, Costinha e companhia e pensaram, honestamente, que os grandes da Europa iriam salivar por eles. Não salivaram, nem sequer por Falcao – só um clube como o Atletico de Madrid seria capaz de (não) pagar 40 milhões na conjuntura actual – e essa fome transformou-se em astio. O plantel ficou com overbooking de insatisfeitos, a SAD sem dinheiro para pagar o que deve e o futuro imediato em suspenso.
A situação relembra em tantas coisas 2004/05 que, para completar o (triste) cenário, só faltava mesmo essa imagem do treinador incompetente. Nesse ano foram três, figuras incapazes de controlar um balneário ilusionado com o seu reflexo no espelho. Figuras tacticamente medíocres, sem espírito de iniciativa e capacidade de reacção. E sobretudo, figuras menores tendo em conta as (grandes) ilusões de adeptos e directivos, que se viram superados pelo peso da responsabilidade.
Vítor Pereira, como tantos outros, será um grande portista e um competente número 2. Mas como António Morais foi incapaz de motivar os jogadores no balneário de Basileia, como recentemente confirmou Inácio na reportagem sobre a vida do Mestre Pedroto, também este tem o condão de empequenecer um clube e uma equipa que há meio ano eram vistos como a nata da Europa.
Se é verdade que Robson e Adriaanse foram campeões sem passar da fase de grupos, a verdade é que nenhum manifestou o claro problema de Vitor Pereira, um homem sem critério de jogo e, sobretudo, sem atitude. A culpa não lhe é exclusiva e o cenário podia até ser o mesmo com o pretérito treinador ao leme. Afinal, os outros dois vértices do triângulo continuam a ser parte da equação por muito que passem debaixo do radar de muitos adeptos que questionam pouco o negócio Danilo ou esses 7,5 milhões de euros gastos em comissões pela SAD. Mas ao contrário de Artur Jorge, depois da debacle frente ao Wrexham, está claro que este homem tem tudo menos um plano de futuro. E Pinto da Costa certamente também terá problemas em arranjar quem lhe pague esta clausula milionária agarrada a outra cadeira de sonho, de pura ilusão!
Nota final: O 'Reflexão Portista' agradece ao Miguel Lourenço Pereira a elaboração deste artigo.
Não considero, e falo por mim mas também li a opinião de portistas na net e os que conheço pessoalmente, que os adeptos exigissem que se ganhasse a Champions como em 2004, após Sevilha, mas o minímo aceitável era passar a fase de grupos em 1º lugar e posteriormente, aceitando que apanhavamos nos oitavos um 2º classificado de outro grupo, chegar aos quartos, aí sim apanhando um "tubarão" ninguém exigia o Paraíso.
ResponderEliminarEm 2003, após Sevilha, também chegaram ao Porto propostas por jogadores como Deco, Ricardo Carvalho, Derlei e mais alguém, mas foi possível mentalizar e motivar os jogadores para ficarem mais uma temporada, qual é a diferença para o tempo actual? Na altura a equipa técnica trabalhou bem o plantel e conseguiu mentalizar os jogadores, aí está a diferença.
E não é uma comparação justa a eliminatória contra o Wrexham e o tempo actual, a eliminatória contra os galeses foi um "azar dos diabos", enviamos 3/4 remates aos postes e nas Antas só um guarda-redes não rotinado e desarcetado com o resto da equipa (pois Zé Beto estava castigado) deitou tudo a perder, mas fomos sempre susperiores e havia fio de jogo na equipa, se tivessemos de jogar 10 jogos contra essa equipa do Wrexham ganhamos 9 jogos, a equipa actual, conforme esta a ser comandada por Vítor Pereira, em 10 jogos contra o Apoel ganhava 2 ou 3 com muita sorte.
Acho que é a melhor e mais lúcida analise que li até agora sobre a presente época do Porto. Parabens Miguel.
ResponderEliminarSão lamentáveis as afirmações ontem do empresário do Guarin, mas existe um fundo de verdade no que ele afirma: "Guarin não entende que papel lhe está reservado para quando entrar, se entrar..." ou seja, Vítor Pereira não consegue posicionar tacticamente a equipa em campo, estrategicamente é fraco já se tornou demasiado evidente, ponto final parágrafo. Como é que os jogadores se poderão sentir motivados e confiantes para desempenhar o seu papel se eles não sabem o que fazer e aonde o fazer. Se não existem rotinas de jogo, jogadas ensaidas?
ResponderEliminarPara trabalhar o plantel e a equipa que temos exigiasse que, na ausência de AVB, um treinador veterano experiente a lidar com um balneário recheado de valores e egos. Acreditei, quando foi anunciado como técnico, que Vítor Pereira conseguisse assegurar a continuidade, e até fazia sentido pois tinha estado na temporada anterior e já conhecia os jogadores, mas uma coisa é ser adjunto e outra coisa é ser o principal, são funções diferentes, VP não possui ainda um discurso motivador dentro do balneário, e esta mais que visto que quem tinha o ascendente psicológico sobre a equipa era o AVB.
ResponderEliminarDaniel,
ResponderEliminarNão acredito que ninguém imagine que seja possível ganhar hoje a CL se não se é dos clubes de Manchester, Munique ou do duo Barça-Madrid. Isso está claro. Mas muitos, o ano passado, defendiam que éramos a terceira ou quarta melhor equipa da Europa e que na CL deste ano sonhar com os Quartos e Meias era uma realidade. Mas não o é.
O que tento explicar é o grande hiato que existe entre a EL e a CL. O Shaktar, que ganhou a prova, ou o Zenith que até a Supertaça Europeia ganhou, não mostraram nunca ter pedalada. O Sevilla, Atletico e Valencia idem. Somos cabeças-de-série e muitos imaginavam um apuramento fácil mas nunca o foi. Com esta e outra equipa técnica esta CL ia ser muito, muito mais complicada. Acho que se perdeu um pouco a noção das coisas por não haver um tubarão no grupo.
Em relação à comparação entre 2003 e agora, é precisamente na qualidade humana da equipa técnica e na habilidade da direcção (que prometeu ao Deco sair no ano a seguir, por exemplo) que na altura gastou pouco e bem e que agora gastou muito e mal. Totalmente de acordo.
Quanto ao Wrexham, a comparação não é nem do jogo, nem das probabilidades de passar. É numa ideia de futuro. Contra o Wrexham havia uma estratégia e o clube agarrou-se a ela. Agora se alguém em conseguir explicar qual é a estratégia em agradeço, porque entre a gestão da SAD, a falta de pulso da equipa técnica e a apatia do plantel, o que vejo é um navio à deriva à espera de um grito de ordem.
Obrigado pelo feedback ;-)
Miguel,
Obrigado pelas tuas palavras, mas certamente haverá muito melhor por aí ;-)
um abraço
Outro pormenor: estamos a ter muita confiança no crescimento de jogadores como James, Alex Sandro, Iturbe, Danilo, mas para eles amadurecerem é preciso um pedagogo/educador na equipa técnica para os trabalharem (um papel que Jesualdo cumpriu muito bem, como ainda recentemente Falcão o reconheceu), e na minha opinião Vítor Pereira não vai saber lidar com esta matéria-prima por "polir", ou seja, vamos ter talento a ser desperdiçado com a actual equipa técnica.
ResponderEliminar"se alguém em conseguir explicar qual é a estratégia em agradeço, porque entre a gestão da SAD, a falta de pulso da equipa técnica e a apatia do plantel, o que vejo é um navio à deriva à espera de um grito de ordem"
ResponderEliminarAinda tenho dúvidas sobre a falta de pulso da equipa técnica, mas se acontece é por faltar o pulso e o grito noutras vertentes, Miguel.
Parece-me, tal como no tempo de Jesualdo, que quem ainda parece ter noção das coisas é a equipa técnica. Falta isso a adeptos, jogadores e SAD mais depressa.
Eu já vi muitos exemplos de gente de fora a falar muito mas incapaz de fazer melhor lá dentro, como Octávio e Rodolfo, por exemplo, apesar de considerá-los com estima pelo seu passado no clube.
Os jogadores estão mais ou menos, a sentirem que falta qualquer coisa mas incapazes de darem o seu bocadinho com o qual não têm contribuído. Os jogadores não são os melhores do mundo, mas são melhores o suficiente para mostrarem mais do que têm feito.
A pré-época foi complicada, com muitos atrasos e momentos diferentes para vários jogadores. Só com tempo isto vai ao sítio. Com tempo e com calma, porque a coisa pode não ser pior do que 2004-05.
A SAD agiu mal no momento da verdade no Verão, subitamente descobriu-se um poço de petróleo e viram jorrar transferências ao mesmo tempo que Pinto da Costa distribuía bacoradas pelas quais agora está a pagar. Uma delas, recorde-se, foi dizer que era VP quem dava os treinos... E só Hulk era insubstituível.
O desvario e a licenciosidade tiveram campo aberto a coberto dos êxitos da época anterior. Depois de 2004 foi igual, a aposta era conquistar a Champions outra vez.
Falta humildade a todos, VP é o menos culpado e mais fragilizado. Faz-me lembrar Jesualdo e o coro de ingratidão para com ele.
Tenho dito.
Zé,
ResponderEliminar"A SAD agiu mal no momento da verdade no Verão, subitamente descobriu-se um poço de petróleo e viram jorrar transferências ao mesmo tempo que Pinto da Costa distribuía bacoradas pelas quais agora está a pagar. Uma delas, recorde-se, foi dizer que era VP quem dava os treinos... E só Hulk era insubstituível."
Isso é uma grande verdade que está a ser escondida, habilmente, pela couraça de Vitor Pereira. Não dúvido que de todos ele seja o que tem menos culpa. Por isso o deixo para o final. A ele foi-lhe exigido repetir o sucesso prévio mas com condições muito distintas às que encontrou AVB. Não houve colaboração da SAD nem do plantel para aplicar o que ele podia pensar que seria correcto (que seja ou não, isso é outra coisa) e gastou-se fortunas em compras desnecessárias e vendeu-se a imagem de prima-donas indomáveis. No meio de tudo isto até grandes treinadores, com reputação, teriam sofrido.
O que contesto a VP, mais do que a falta de pulso que é um espelho da falta de apoio claro da direcção nos momentos chave, são os problemas técnico-tácticos que encontro na sua abordagem. Não questiono nem valor pessoal, nem portismo, mais faltava.
Mas também sou consciente que no mar, sem remos, não se vai muito longe.
um abraço
Miguel,
ResponderEliminarconsidero os seus artigos excelentes peças de análise e interpretação do futebol, e não é o facto de eu eventualmente vir a discordar de um ou outro pormenor que tira às suas análises o excelente valor.
Na temporada em que fomos eliminados pelo Wrexham ainda não possuiamos o estatuto futebolístico na Europa que actualmente possuímos, daí que hoje uma má prestação europeia tenha de ser avaliado de acordo com critérios diferentes do que 1985.
A temporada passada, quando ganhamos a Liga Europa e depois de eliminarmos o Spartak Moscovo e o Vilareal, vimos muita gente acreditada no mundo do futebol - por exemplo José Mourinho, Joham Cruyff, Van Gaal entre outros - a afirmar que a equipa do FC Porto era da Champions e não para competir na Liga Europa, e agora passado 4 jogos num grupo acessível, sem um gigante no grupo, da Champions já vejo muito portista a afirmar que afinal a Liga Europa é que a melhor desportivamente para nós. Mas então a equipa não é a mesma que toda a gente afirmava que era do nível competitivo da Champions?
Daniel,
ResponderEliminarEu sei, o debate parte da reflexão e mal de mim se não desfrutar da discordância ;-)
O FC Porto do ano passado era uma equipa de Champions da mesma forma que se dizia o mesmo do Lille (derrotado pelo Sporting), do Dortmund (este ano aos papeis, eliminados pelo Sevilla)ou do Man City, apenas para dar três exemplos comummente referidos. Não quer dizer que a equipa do ano passado não fosse capaz de emular o Shaktar, o Tottenham ou o Schalke 04 e causar uma surpresa. Mas com as circunstâncias especificas daquele momento. Como foi bem dito aqui, sofremos muito durante a Europe League para pensar que foi um passeio no parque e na CL teriamos sofrido mais.
Mas o problema acho que não é esse. O FC Porto é um clube de Champions e tem um plantel de Champions. Mas dentro da Champions há muitos patamares. E não acredito que sejamos muito superiores aos campeoes da Russia e Ucrania. Sim ao APOEL, mas aí está o valor de um projecto e da organização, algo que era muito nosso. Não somos inferiores que o Benfica, mas acho que mentalmente fez falta a esta directiva e este grupo um tubarão para despertar. Os portugueses são muito assim. Criou-se uma falsa sensação de superioridade que, a ser real, tinha funcionado também com todos os vencedores prévios de EL. O que tentei demonstrar foi que isso nunca sucedeu. Por algo é.
O nosso lugar é entre os grandes da Europa, por estrutura, por historial e por plantel, por muitas falhas (e graves) que tenhamos. Mas o nivel de exigência acho que superou um pouco a realidade e a SAD deixou-se levar por isso. Ir para um grupo da CL sem um avançado de garantias não o faz nem o APOEL, nem o Plitzen, nem o Dinamo nem ninguém.
Um abraço
Miguel, desculpe, mas não concordo com grande parte do que escreveu.
ResponderEliminarNinguém pedia a Champions este ano. O que se pedia era o campeonato e, como o Daniel referiu, a chegada aos quartos de final da liga milionária. Racionalmente era isto, apenas e só. Depois havia o sonho da final de Munique, mas que não passava de isto mesmo, de um sonho. Conjunturalmente, o estado das coisas era o mesmíssimo do de 2003. Só que o dito sonho esvaneceu-se para mim, e para a maior parte dos adeptos, com a partida de André Villas-Boas.
A SAD vai ser inevitavelmente atacada se as coisas caminharem esta temporada para o insucesso. Muito injustamente na minha opinião. A nossa direcção fez neste defeso aquilo com que qualquer adepto sonharia: manteve a equipa que havia encantado Portugal e a Europa no ano anterior, aguentando os jogadores até ao limite (só Falcao foi impossível de manter). Mais, não só não cedeu à tentação de vender as suas principais pedras, como reforçou o plantel. E reforçou-o não com Predigueres e Valeris, mas com jogadores de créditos firmados: Danilo, Alex Sandro (jogadores de selecção e referências de um Santos que se tornou num viveiro de craques e conquistou a Libertadores) Iturbe (jovem promessa em quem o mundo está de olhos postos), Mangala (sub-21 francês), Defour (médio de uma Bélgica rejuvenescida e de qualidade) e Kléber(jovem promessa, também já convocado para a canarinha). No meio disto tudo apenas pecou em duas coisas: ao não contratar um ponta de lança que substituísse Falcao (não, não tinha de dar tantas garantias como o colombiano, bastava que fosse melhor do que o Kléber, que ainda não tem condições para pegar de estaca) e ao persistir em Vítor Pereira. O segundo revelar-se-á, para mim, no maior dos erros porque se mantenho a ideia que escrevi no inicio do parágrafo de que a SAD fez um bom trabalho de preparação de época (não teve culpa desse grande imponderável chamado Villas-Boas), também considero que se está a pôr a jeito ao manter o actual treinador.
Há mais algumas ideias que exprime no post e que gostaria, se me permite, de ripostar.
ResponderEliminarNão posso concordar com a sua ideia de algum menosprezo relativamente às conquistas do ano passado, comparativamente com as de outros anos. Vencer um campeonato no Porto é normal, sim. Só que aquele era um campeonato especial, como ganhar aquela Supertaça, em Aveiro, foi especial pelas razões que lhe vou explicar em seguida. O Benfica vinha embalado e por todo o país se instalou a ideia de que vinha aí um novo ciclo no futebol português com o clube do regime como equipa dominante. Depois, ainda que ganhar uma Liga para o Porto nos dias de hoje possa roçar o trivial, fazê-lo com 21 pontos de distância para o segundo classificado é inédito.
Continuando, a Liga Europa pode não ser a Champions, mas ganhá-la é algo de verdadeiramente fantástico. Não o conseguimos com facilidade, como pensam alguns adeptos, mas com superioridade, que é algo bem diferente. Fizemo-lo com goleadas ao Spartak, no Dragão e na Rússia e com um banho de bola, coroado com 5 golos àquela que na época passada foi a 3ª melhor equipa de Espanha, o Villarreal. Ganhamos a final e, dias depois, estávamos a golear no Jamor uma equipa que havia passado a semana toda em preparação para esse mesmo jogo, isto depois de fazermos uma remontada perfeitamente extraordinária na Luz.
Não concordo também com o paralelismo de 2004/2005. Não me consta que haja casos de jogadores a sair à noite até às tantas da manhã para, de seguida, irem treinar. Não me parece que haja mau ambiente no balneário, nem faltas de respeito latentes ao treinador.
Concordo sim, quando afirma que na cabeça dos actuais jogadores estariam aqueles que outrora brilharam no clube a ponto de vencerem a Champions (Deco, Carvalho, Maniche, Derlei, etc). Só que mesmo esses só foram vendidos, não depois de vencerem a UEFA em 2003, mas sim a Champions em 2004, além de que nessa altura os "tubarões" estavam uns "mãos largas" e neste defeso foram poucos os que investiram. Seria nisso que Pinto da Costa pensou: manter a estutura, reforçando-a tendo em vista uma preparação do futuro mais a longo prazo. Villas-Boas trocou-lhe as voltas e, numa tentativa de que as coisas não sofressem uma mudança tão radical que hipotecasse o plano delineado até aí, Vítor Pereira foi o escolhido para treinador pelas razões aceitáveis e lógicas que conhecemos.
Respeitando perfeitamente tudo o que diz, a direcção do Porto sonhou, foi ambiciosa, arriscou. Jamais a criticarei por agir assim, porque é este modelo desportivo que defendo para o FCP. Criticarei sim, se voltarmos aos tempos, não tão longínquos assim, em que vendíamos as nossas jóias da coroa e para os seus lugares contratavamos jogadores que até eram baratuchos, mas perfeitamente desconhecidos e cuja produção desportiva esteve longe de satisfazer. Esses anos, de que o Miguel se lembrará tão bem quanto eu, em que o barato acabou por sair caro.
Podíamos ir em Janeiro buscar o PL do Apoel, um dos tais que dão garantias (de quê, não sei). Depois, sem treinador, com uma equipa à deriva, ele iria provavelmente ser pior que o Kléber e que o Walter, e chegaríamos definitivamente à conclusão de que o problema não é essencialmente o PL, é o treinador, que não tem pulso nem tem nada.
ResponderEliminarA historinha contada e recontada da desmotivação dos jogadores, no contexto da CL, é divertida. A CL é a montra das montras, os jogadores não são idiotas e sabem que é com grandes exibições na CL e não com más exibições que vão conseguir chegar às grandes equipas dos grandes campeonatos. Quanto mais não seja por si próprios, estão motivadíssimos.
O problema não é a motivação, é a não existência de equipa por inexistência de treinador, que leva a que os jogadores tentem vencer cada um por si, anárquicamente. Obviamente que estão fatalmente votados ao insucesso e o único resultado que obtêm é a falta de confiança crescente em si próprios.
PS O Porto já passou a fase de grupos da CL, num grupo mais forte do que o actual, com um PL fraquinho (Adriano) que não marcava golos na CL. Não marcava o PL, marcavam os outros avançados e os médios. Os actuais avançados e médios do Porto (Hulk, James, Varela, Guarin, Moutinho) já provaram que sabem marcar golos, portanto qual é o problema? O problema é que não temos equipa nem treinador, coisas que tínhamos nessa época em que passámos.
Subscrevo na íntegra, Luís. Permita-me, no entanto, que faça uma pequena alteração ao seu último parágrafo: não temos equipa porque não temos treinador.
ResponderEliminarMiguel,
ResponderEliminarÓptima análise, concordo inteiramente. Acho que se embandeirou em arco os resultados da época passada quando no fundo acabámos por nunca nos defrontar com nenhum adversário que seja teoricamente mais forte do que nós. Mesmo quando encontrámos adversários na Liga Europa do nosso nível sofremos e tivemos "estrelinha", com o Sevilha e mesmo com o Villareal apesar do resultado enganador. A nível interno o sporting penso que nem contava como "grande" e o benfas tinha uma equipa muitíssimo desequilibrada - como se viu pela brilhante participação na Champions...
Concordo também que o estado de euforia era desmedido e isso via-se bem quando por exemplo numa votação deste blog - que considero frequentado por sócios e simpatizantes muito moderados nas suas análises - a equipa do ano passado era considerada a melhor de sempre do FCP!!! Claro que sempre pensei que tem mais valor uns quartos de final de Champions do que uma vitória na Europa League mas se calhar sou caso raro...
Para finalizar, culpo mais a direcção em 2004/2005 do desastre que foi essa temporada do que aquilo que se passa nesta. Na altura tivemos tempo de sobra para repensar a equipa técnica, entradas e saídas no plantel (tendo sido um desastre a todos os níveis), sendo que este ano nem sequer nos foi dada a oportunidade de o fazer graças ao nosso mais recente Dragão de Ouro e expoente máximo do portismo. Para mim, esse sim, o grande responsável pela época que se avizinha. Ainda bem que já foi devidamente recompensado e aplaudido de pé...
Duarte,
ResponderEliminarOs quartos de final era quase sempre o que se esperava do Jesualdo, com equipas debilitadas todos os defesos, por isso acredito que a SAD, com o brutal investimento realizado pensava em algo mais. Isso é o que me preocupa porque, uma coisa é ganhar uma CL,outra é pensar que se pode ganhar. Nem em 2004, realisticamente, eramos favoritos até ver que nos Quartos defrontavamos o Lyon.
Para mim o último campeonato foi tão especial como o de 2005, dar importância ao titulo do Benfica não está no ADN deste projecto desportivo, diga o que diga a caverna mediática de Lisboa. Vencer uma liga sem perder é um jogo é um mérito FABULOSO, mas acaba por ser uma anedocta e vencer com tantos pontos de avanço diz sempre pior de quem persegue do que melhor de quem a ganha. O FC Porto em 20 anos perdeu 7 titulos, ganhar a liga portuguesa é um objectivo minimo. Quando á Europe League, é um objectivo normal para a equipa que, depois do Man Utd, leva mais anos de Champions desde os seus inicios. Nesse ano que clube realmente estava por cima do FCP? Desde Dezembro que todos os analistas internacionais consideravam o FCP favorito. Eu não posso dar o mesmo mérito a um torneio que tem o Braga, o Benfica e o Villareal nas meias-finais do que uma prova onde fico em quartos mas rodeado de Man Utd, Milan Chelsea, Madrid, Barça, etc...
O risco da direcção da SAD para mim é elogiável se tomado na direcção certa. Como se pode ter um orçamento como o nosso e gastar 0 centimos no ataque? Que investimento é que vai buscar o Djalma, o Bracalli e gasta fortunas em dois jogadores brasileiros que, já se sabe, vêm fazer a ponte aérea por um ano e meio?
Exceptuando Mangala e Defour, contratações tardias (e a pensar nas saidas de Rolando e Moutinho que não aconteceram) quem realmente o FC Porto incorporou de valor no mercado? Porque se pagam 8 milhões em comissões? Porque não há um extremo alternativo a Hulk e James que não seja Varela, morto fisicamente há quase um ano? Porque não há avançados? Era esse o investimento racional que esperava de uma SAD que em 2003/04 não vendeu estrelas e soube incorporar McCarthy para o ataque, Pedro Mendes, Raul Meireles e Bosingwa para o miolo e Carlos Alberto em Janeiro. Isso sim é um investimento com uma ideia de projecto na cabeça como se viu.
Um abraço
Luis,
ResponderEliminarO treinador não é a solução, isso parece-me evidente, e como o Zé Luis apontou, tal como o Jesualdo, faça o que fizer nunca cairá no goto do Tribunal. Mas reduzir todos os problemas á sua figura, sem esquecer a triste atitude do plantel - que me parece muito mais condenável - e os erros de gestão da SAD, é esquivar o problema.
E se, usando o seu paralelismo com Ailton, vier outro treinador e os jogadores continuarem a jogar mal e a direcção continuar a cometer erros, que fazemos? Foi isso que foi feito com Fernandez e Couceiro em 2004/05 e o resultado ficou á vista.
Nem sempre mudar um técnico é resolver uma equação no futebol por muito que a mitologia da chicotada psicológica esteja enraizada na mentalidade do adepto.
um abraço
Pedro,
ResponderEliminarOs erros de 2004/05 foram muito, mas muito mais graves do que este ano, até porque este Benfica não é uma má equipa e pode ganhar a liga por mérito próprio mas aquela equipa (e a do Sporting) só podiam ser campeões se amputassemos as duas pernas.
Quanto a AVB, foi esperto na sua concepção individual de carreira, não o critico nisso. Se os adeptos enchem a boca a falar do Nosso Grande Presidente como se o Porto fosse a Coreia do Norte, então agora que seja ele a prestar contas de uma opção tão pessoal como foi optar por Vitor Pereira para não dar a entender que a saida de Villas-Boas foi um murro no estomago inesperado.
A opção por Jesualdo foi em desespero depois da saida abrupta do Adriaanse. A de Vitor Pereira, mal pensada, para não dar a impressão de perda de influência na direcção de um projecto desportivo. Em ambos os casos foram escolhas dele, ele que dê a cara.
um abraço