sábado, 14 de janeiro de 2012

... E depois do SCP vem o Rio Ave


O jogo com o SCP não feriu as minhas expectativas. As equipas encaixaram-se e trataram tacticamente de reduzir os avanços pelas alas e de travar os jogadores com maior potencial desequilibrador. As jogadas de perigo nas duas áreas resultaram basicamente do aproveitamento de bolas paradas e de transições ocorridas por perda de bola, de ambas as equipas, em zonas e situações favoráveis ao contra-golpe. Foram raros esses momentos, mas ocorreram. O resultado assenta bem pelo que fizeram ou não foram capazes de fazer.

Relativamente ao FCP, faltou criatividade e um pouco de ousadia. Reconheço, porém, que a manta perdeu largura e comprimento, e quando se tapa de um lado, destapa-se do outro. Concordo com o VP que foi um jogo intenso, entretido, porque foi um encontro suado e disputado rijamente, mas longe de ser bem jogado. O nosso treinador queixou-se que a equipa teve pouca posse, falhando nos princípios fundamentais de jogo da equipa.

Estou de acordo, mas posse de bola é um processo que exige uma série de qualidades técnicas dos jogadores para o praticar e de rotinas bem oleadas para a operacionalizar. Os atletas têm de ser fortes no passe e na movimentação para haver homens libertos e linhas descongestionadas para fazer correr a bola até ao jogador em melhor posição. Para o conseguir com sucesso, temos de ser (mais) certeiros no passe, (mais) fortes na desmarcação, (mais) rápidos a pensar e a executar. Não o temos sido e há jogares sem perfil para o fazer competentemente.


A equipa escalada para jogar com o SCP não me pareceu a mais indicada para jogar em posse. Com um meio campo em que Moutinho jogou um pouco mais recuado e mais longe da última fase de construção, caberia predominantemente a Beluschi essa função de criação e de maior proximidade ao ponta de lança, o que raramente aconteceu porque está em quebra e muito longe do que apresentou no início da época passada. Com Djalma e CR nas alas, se demos mais consistência ao equilíbrio defensivo, perdemos alguma capacidade de criação de lances perigosos junto da área adversária. Com Hulk a ponta de lança, não é um tradicional número nove, não “vale a pena” estender o jogo porque na área raramente fomos (e somos) capazes de meter gente que cheque para rematar, ganhar segundas bolas, provocar ressaltos e a desordem na defesa adversária. Por azar, quando o fizemos no jogo passado, Otamendi, que teve a ligeireza de aparecer na grande área adversária, acabou por servir, mesmo, de defesa do SCP.

Resumindo: não fiquei desiludido com o jogo, pois foi disputado, os jogadores bateram-se bravamente e o resultado foi justo e útil, face ao momento actual do FCP. Estamos longe dos melhores momentos da época passada, estivemos muito perto do que fizemos com o SCP em Alvalade, na época anterior. Apesar disso, parece-me pouco convincente a afirmação de que a equipa do FCP quisesse jogar em posse e projectasse, por essa via, controlar o jogo e ser uma equipa (mais) arrojada.


A seguir vem o Rio Ave. O FCP continua manco na ala direita, com Danilo em banho Maria por razões burocráticas, e Djalma em trabalhos de selecção. Kléber que avaliei como um jogador de grande potencial, tem vindo a perder espaço, fruto das suas exibições menos conseguidas, ultimamente.

VP vai ter um novo exame e vê o espaço de tolerância cada vez mais reduzido, por parte duma parte dos sócios e adeptos. O FCP tem de ganhar e jogar bem, para nosso descanso e melhorar os índices de confiança da equipa.

Se achava que não bastava a Jesualdo fazer das transições o caminho único para o resultado e uma boa exibição, acho que a posse, só por si, não é uma árvore das patacas que basta acenar para aparecerem os golos. Se me aproveitar da equipa Barcelona que é um exemplo quase perfeito na implementação desse modelo de jogo, teríamos que defender alto, procurar e ocupar bem os espaços, movimentação permanente, proximidade entre os sectores, muita ligeireza em jogar sobre a última linha defensiva adversária, boa leitura de jogo, boa execução de passes de ruptura e grande pressão sobre o adversário quando a equipa perde ou está sem a bola. Esta última fase é fundamental: qualquer perda de bola pode ser a morte do artista, nomeadamente se o sector defensivo não for servido de homens (especialmente) rápidos.

O FCP não tem essa escola – embora me agradasse ter ouvido Capucho dizer que a sua equipa privilegia a posse e o desenvolvimento de um futebol atraente – e aos jogadores falta-lhes essa educação de base, qualidade e mais treino dessas rotinas. CR e Djalma são jogadores úteis e esforçados, defendem e pressionam, e o segundo com condições para crescer, mas não me parecem com perfil técnico para um desempenho adequado no quadro desse modelo. No entanto, gostei de ver actuar Djalma quando recuou para defesa direito no jogo com o Marítimo, e reconheço que esse é um trunfo táctico a melhorar e explorar no futuro.


Prefiro de qualquer forma o modelo actual e sei que apenas podemos aspirar a ser um “little Barcelona”, como alguns nos apelidaram na época passada.

Melhorar a circulação da bola e dos jogadores, mais qualidade no passe, mais pressão e rapidez, são essenciais. O resto vem por acréscimo pela capacidade de inventar dos mais criativos.

A equipa pouco deve mudar se CR não estiver a fazer as malas. Não conto com Fucile e Sapu, mas posso ser surpreendido. James deve ocupar uma das alas se não estiver fisicamente inferiorizado e Hulk deve manter a posição de ponta de lança. Também me agrada uma certa rotação na ocupação das faixas e do eixo central pelos três atacantes, como já foi ensaiado. O único inconveniente deste trio atacante é a falta de agressividade para ganhar a bola, especialmente James e Hulk. Com Kléber ainda é pior. Diga-se, por ser verdade, que raramente o Hulk não é castigado quando usa o físico para se bater pela posse da bola. Derlei era um portento na primeira zona de pressão e Lisandro andava lá perto.

Defour substituirá Moutinho, e no meio campo não prevejo mais alterações. A defesa não deverá ter mudanças. Conto com um jogo difícil, e com um adversário com a receita habitual: defesa muito baixa, com tarefas defensivas distribuídas por todos os jogadores (salvo João Tomás), boa ocupação dos espaços com os sectores muito próximos, marcação à zona e cerrada a Hulk, jogando com o tempo, provocando a ansiedade e as faltas na sua zona ofensiva para exploração das bolas paradas, e explorando os seus homens mais rápidos para as transições ofensivas. Aguardo ansiosamente por uma boa exibição e um resultado condizente para que a viragem para a segunda volta se faça com redobrado ânimo. Depois do desastre de Coimbra, a equipa melhorou e há um empenhamento sério dos jogadores. Porém, a equipa ainda não entusiasmou. Deve-nos isso. Os sócios devem o apoio.

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