sábado, 9 de junho de 2012

As “tribos” do futebol europeu

Ontem começou o EURO 2012 e hoje entra em campo a seleção das quinas. Parece-me uma boa altura para recordar alguns extratos de uma entrevista do engenheiro do Penta e atual selecionador da Grécia, feita numa esplanada de Atenas há cerca de um mês atrás.

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A entrada da Troika no país mudou a atitude das pessoas?

[Fernando Santos]: Na primeira fase as pessoas foram surpreendidas. De repente, as contas estavam mascaradas. Estou cá desde 2000 e, até 2006, a Grécia era um dos países com melhor crescimento e de repente dizem que foi tudo uma grande aldrabice. As pessoas pensaram: onde está o dinheiro? Foi a fase da indignação. Depois esperava-se que a Troika viesse pôr tudo em ordem, resolver o problema, mandar prender estes tipos todos e pôr aqui o dinheiro outra vez. Nada disso aconteceu, antes pelo contrário. Foi muito pior e passou-se então por uma fase muito conflituosa e nos últimos cinco meses entrámos numa fase de apatia geral. Antigamente, discutia-se continuar no euro ou sair. Agora parece que é igual. Faz lembrar o que se vivia em Portugal antes do 25 de Abril.

Pode descambar numa revolta social?

[Fernando Santos]: Alguma coisa vai ter de acontecer. Aqui nasceu a civilização e depois estiveram 500 anos dominados pelos turcos. O grego reage muito mal quando alguém o quer controlar. Por isso reagem muito mal aos alemães, sobretudo à senhora Merkel.

É só a Alemanha ou também a toda a Europa?

[Fernando Santos]: Em relação à Europa há uma desilusão. Face à Alemanha há uma crispação, para não dizer raiva. Em Fevereiro íamos fazer lá um jogo particular e a federação alemã não deixou. As pessoas na rua diziam-me: "quando jogares com os alemães, tens de os comer". Há muito ressentimento por causa da questão histórica. Não só pelas vidas que tiraram aos gregos [na II guerra mundial], aquilo que levaram do país, sobretudo da Acrópole para os museus deles, e depois o que tinham ficado de pagar [as compensações do pós-guerra] e não pagaram. Tudo isto está muito presente. E depois os casos mais recentes com os submarinos. Em Portugal foram só dois, aqui foram muito mais.

Isso vai-se sentir no Europeu de futebol?

[Fernando Santos]: Se a Grécia jogar com a Alemanha era bom sinal, porque significava que tinha passado a primeira fase do europeu. Para os gregos vai ser um jogo muito importante. Vai puxar ao sentimento.

No futebol também se sente a crise?

[Fernando Santos]: Pela paixão que se sente pelo país, sim. Aumentou a obsessão pela soberania. Os gregos preferem morrer do que abdicar de uma ilha que seja. Isso vê-se na relação com a Turquia, por isso é que o orçamento de defesa é o maior da Europa. Jogar pela seleção já é motivador, nesta fase basta dar aqui um cheirinho...

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Nota: A entrevista completa, feita pelo jornalista Luís Rego, foi publicada no Diário Económico (na edição de 4 de Maio) e pode ser lida aqui.


O futebol atual, que de desporto já tem muito pouco, está cada vez mais distante do espírito dos jogos olímpicos da antiga Grécia (interrompiam-se guerras para disputar os jogos!) e está a transformar-se num instrumento de “guerras” entre diferentes “tribos”.
Durante décadas, as principais “guerras” foram entre “tribos” da mesma cidade ou país, mas estas declarações de Fernando Santos que, acredito, traduzem o sentimento generalizado do povo grego, mostram que chegamos à era das “guerras” entre “tribos” de uma eurolândia esfrangalhada e a cair de podre.

Já agora, um árbitro grego estará em condições de arbitrar um jogo da seleção alemã?

8 comentários:

  1. O desporto sempre foi um instrumento de guerras, ou melhor, uma ritualização da violência entre comunidades rivais (dai a pausa nos conflitos durante os Jogos antigos). A rivalidade não desaparecia, mas "jogava-se" noutros moldes e noutro terreno.

    No caso do futebol, vários são os exemplos durante o séc. XX. A vitoria da URSS no euro de 60, du Steaua em 86, o campeonato do mundo em 78 ou ainda os de 34 e 38. A confusão politica-desporto é está sempre presente de forma mais ou menos manifesta.

    P.S.: uma vista de olhos na capa da Bola de hoje é mais um exemplo.

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  2. Mas boa entrevista onde o Fernando Santos mostra que se trata de alguêm inteligente e com consciência.

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  3. Alias os Gregos foram peritos na ritualização da violência já que inventaram a democracia que não é mais do que a ritualização pelo discurso dos conflitos.

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  4. O F Santos fala com um conhecimento superficial da Grécia, acertando numas coisas e falhando noutras. Tenho lá família e muitos amigos e falo grego, por isso não estou a falar à sorte.

    Não me vou alongar aqui nos assuntos q aborda, mas há uma barbaridade q disse q não posso deixar em claro: a Grécia, o maior orçamento de defesa da Europa?! LOL

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  5. O F Santos fala com um conhecimento superficial da Grécia, acertando numas coisas e falhando noutras. Tenho lá família e muitos amigos e falo grego, por isso não estou a falar à sorte.

    Não me vou alongar aqui nos assuntos q aborda, mas há uma barbaridade q disse q não posso deixar em claro: a Grécia, o maior orçamento de defesa da Europa?! LOL

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  6. Um dia, os portugueses também andam de perceber para onde vai o dinheiro enquanto vivem n miséria, perdão, acima das suas possibilidades com um ordenado médio de 800€ a descer a olhos vistos.
    Até lá, vamos andar a pagar obras para oferecer tudo ao 1% depois. Com alegria.

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  7. José Rodrigues disse...
    a Grécia, o maior orçamento de defesa da Europa?!

    O Fernando Santos devia querer dizer em percentagem do PIB.

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  8. Actualmente os gregos estão "enfurecidos" com os alemães e a posição da Alemhanha face aos problemas políticos/económicos da Grécia, mas que eles, gregos, não se esqueçam que foi um técnico alemão - Otto Renhagel - que os levou a uma vitória num Europeu de futebol, o único troféu da selecção grega.

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