terça-feira, 15 de outubro de 2013

Contas: um copo meio cheio

Enquanto não sai o Relatório, deixo de seguida um primeiro olhar, superficial, sobre as contas de 2012/13 da FC Porto SAD, baseado no Comunicado do dia 11 de Outubro de 2013.

O Resultado Líquido do exercício 2012/13 foi de 20,356 milhões de euros, o que, na conjuntura actual, é muito bom e cerca do dobro do que tinha sido orçamentado (11,503 milhões de euros) pela Administração da FC Porto SAD.

O EBITDA – resultados obtidos antes de juros, impostos, depreciações e amortizações – foi de 58,285 milhões de euros, o que também é bom.


Os Proveitos Operacionais, excluindo proveitos com transacções de passes de jogadores, foram de 78,441 milhões de euros, mas os Custos Operacionais, também excluindo custos com transacções de passes de jogadores, atingiram os 96,585 milhões de euros.
Isto significa que o Resultado Operacional, excluindo resultados com passes, é um valor negativo de 18,144 milhões de euros, o que não é bom.

Se juntarmos a estas contas as amortizações e perdas de imparidade com passes e o resultado das transações de passes, o Resultado Operacional já passa a ser bastante positivo (31,775 milhões de euros).

As mais-valias obtidas com transações de passes atingiram um valor incrível – 76,445 milhões de euros – mas, se atendermos a que as vendas dos passes de Alvaro Pereira (Inter), Hulk (Zenit) e James + Moutinho (AS Monaco) envolveram um valor total (valor pago por quem comprou) de aproximadamente 130 milhões de euros, quase que sabe a pouco.

Olhando para o Resultado Financeiro, onde se inclui o que a sociedade paga em juros (empréstimos bancários e empréstimos obrigacionistas), verificamos que este montante continua a aumentar. Em 2011/12 o Resultado Financeiro foi de -7,857 milhões de euros e em 2012/13 piorou para -9,122 milhões de euros! É mau.


O Passivo global baixou apenas cerca de 3 milhões de euros (de 223,385 para 220,225 milhões de euros), sendo que o Passivo Financeiro (dependência em relação aos bancos e empréstimos obrigacionistas) baixou de 97,993 para 95,373 milhões de euros.
A boa notícia é que o Passivo Corrente baixou cerca de 16 milhões de euros (de 170,317 para 153,927 milhões de euros), o que deve dar um pouco mais de folga na Tesouraria.

Finalmente, queria chamar à atenção para o seguinte gráfico publicado no jornal O JOGO do dia 12 de Outubro.

Evolução dos Resultados da FCP SAD entre 2003/04 e 2012/13 (fonte: O JOGO)

Conforme se pode constatar, nos últimos 10 anos a FC Porto SAD obteve resultados positivos em sete dos exercícios, o que é bom.
Mas, se somarmos os resultados destes mesmos 10 exercícios, o resultado global é negativo em 8 milhões de euros, o que não é bom.

Pesando tudo, o meu sentimento em relação às contas 2012/13 é a do copo meio cheio ou meio vazio…

13 comentários:

  1. Pensei exatamente o mesmo, parece bom mas não assim tão bom como os 20 milhões de lucro fariam supor. E somados os últimos 10 anos continua no negativo...

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  2. O R&C ainda nao foi publicado. Quando isso acontecer hei-de escrever aqui um artigo com uma analise detalhada.

    Entretanto sabe-se as toplines, o q ja' e' alguma coisa e o Ze' ja' disse quase tudo q se pode dizer com esses dados. As minhas primeiras impressoes complementares:

    1) o resultado do exercicio e' um pouco pior do q eu estava 'a espera.

    2) o FCP cada vez compra mais caro, como clube rico (alias estamos no top15 europeu dos clubes q mais gastaram na compra do plantel actual). Sendo assim nao admira muito q de 130M brutos de vendas 55M tenham "ido 'a vida" em amortizacoes a fazer ainda do q tinhamos pago por esses jogadores, comissoes e % de passe q nao detinhamos.

    3) A constatacao de q se nao tivessemos vendido ninguem tinhamos feito um prejuizo de 56M demonstra obviamente q a situacao esta' fragil. Alias, esta' basicamente na mesma comparado com um ano antes, quando o Angelino tinha anunciado q ia apertar o cinto: o valor equivalente em 11/12 foi de 65M, mas a melhoria deve-se apenas e so' 'a melhor campanha europeia, ou seja, estruturalmente estamos na mesma (e este "buraco" nas 2 ultimas epocas e' significativamente maior do q em qualquer um dos 10 anos anteriores).

    4) Tendo em conta as dificuldades (e custo em juros) em arranjar credito, e' um pouco preocupante q o passivo tenha baixado apenas 3M.

    Resumindo e concluindo: a filosofia de se gastar tudo o q se tem e nao tem continua de "boa saude", mas a comprar carradas de jogadores aos 8M, 10M e mais milhoes (e certamente com salarios a condizer) cada vez e' mais dificil fazer mais-valias muito significativas q tapem o buraco corrente.

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  3. Boa dia:

    As contas não me deixaram particularmente satisfeito quando percebi que vendemos 5 jogadores num montante de 130 milhões e ainda assim somente conseguimos um lucro de 20 milhões.

    Na sequência das contas deixo aqui as seguintes perguntas para reflexão e que gostaria que alguém com maiores conhecimentos na área da gestão/economia/finanças fosse capaz de responder.

    Até que ponto é que este modelo de negócio da SAD estará a aproximar-se do fim? Por quanto mais tempo será ela sustentável num país em crise e em que as receitas "ordinárias" dos clubes decrescem anualmente? Será possível continuar a fazer esta vida quando a UEFA define critérios de fair-play financeiro e nós estamos à "pele" num deles (rácio custos com pessoal/proveitos operacionais)?
    Como é possível que os custos com pessoal continuem a aumentar numa conjuntura destas?

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    1. Até que ponto é que este modelo de negócio da SAD estará a aproximar-se do fim?

      Conforme referi no artigo, nas últimas 10 épocas a SAD acumulou um prejuízo de 8 milhões de euros.
      Não sendo bom, também não é trágico (corresponde a um prejuízo médio de 0,8 milhões de euros por época).

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    2. Relativamente aos Ativos Correntes, em 30.06.2012 o valor era de 56,5 milhões de euros e um ano depois, em 30.06.2013, era de 105,8 milhões de euros.

      Outras pessoas poderão explicar isto melhor, mas parece-me uma evolução muito positiva.

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    3. «Outras pessoas poderão explicar isto melhor, mas parece-me uma evolução muito positiva»

      Bem, mais ou menos... a mim parece-me mais neutro q outra coisa, ainda q tendencialmente positivo: além disso não pode ser avaliado isoladamente, mas tendo tambem em conta a evoluçao das nossas dividas a outrém.

      Com q entao devem-nos mais dinheiro do q antes, principalmente nos jogadores q vendemos recentemente. Porreiro. Mas por outro lado ficamos ainda mais dependentes do q antes do bom cumprimento do prazo de pagamento dessas dividas, o q já nos causou dissabores recentemente (A Madrid). Eu se fosse à SAD tinha já preparado um plano B e C de contigencia para o caso de haver algum atraso ou incumprimento, o q é bem provável q aconteça pontualmente tendo em conta o elevado montante dos creditos e numero de credores (e o ambiente economico desfavoravel).

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    4. Esqueci-me de mencionar: espero bem q esse aumento dos activos correntes seja devido apenas a novos creditos (vendas de Hulk, Moutinho e James) e nao a atrasos no pagamento à SAD de dividas q já vinham de trás.

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    5. «Até que ponto é que este modelo de negócio da SAD estará a aproximar-se do fim?»

      «Conforme referi no artigo, nas últimas 10 épocas a SAD acumulou um prejuízo de 8 milhões de euros.
      Não sendo bom, também não é trágico (corresponde a um prejuízo médio de 0,8 milhões de euros por época)»

      Acho q a pergunta do leitor nao foi respondida com esse comentario. Isto porque o passado é o passado, e não é por termos tido um pequeno prejuizo acumulado nos ultimos 10 anos q podemos extrapolar minimamente q vai ser igual (ou melhor) na px decada.

      O passado q mais interessa para esta discussao é o passado recente, naturalmente (sendo o ponto de partida para o presente e futuro proximo).

      Ora o q eu vejo é o seguinte:

      1) estamos hoje muito mais dependentes de mais-valias para nao fazer prejuizo do q há uns anos atrás. Até há 5 anos atrás precisávamos em média de uns 30M de mais-valias para ficar no zero, e hoje - e apesar das receitas terem subido - precisamos do dobro (uns 60M). Estamos portanto muito mais vulneraveis a uma hipotética má época em termos de vendas de jogadores, e por bem q a SAD se mexa nesses meandros, nao depende naturalmente apenas de si própria. Alem disso desportivamente estamos tb muito mais vulneraveis a «tiros furados» nas contratacoes, há menos espaco de manobra para errar nas contratacoes.

      2) Para além disso é mais dificil fazer mais-valias quando gastámos à partida muito mais nos passes dos jogadores

      3) o passivo (e em particular o financeiro) é muito mais alto do q há uns anos atrás fruto do «modelo» de gestao escolhido, e por consequencia andamos a pagar o dobro em juros (10M/ano é muito dinheiro para um FCP). Nao me parece q nos px anos a taxa de juro baixe muito ou q o credito se torne mais facil, sendo portanto um «fardo» muito maior q temos q carregar.

      Sendo assim...

      É impossível adivinhar se este modelo está perto do fim ou não: quem sabe, pode ser q a SAD consiga sistematicamente continuar a encaixar aos 100M por ano em vendas de jogadores enquanto arranja substitutos à altura (desportivamente) e com potencial de valorizacao... mas tb pode ser q nao.

      O q eu sei é q com este modelo de gestao a «parada» aumentou e a margem de manobra diminuiu em relacao ao passado. Está-se a arriscar cada vez mais.

      Pessoalmente nao concordo com este modelo de gastar como um clube rico (como já disse, estamos no top15 mundial em gastos com passes) na esperanca de q se venda jogadores por valores cada vez mais altos. Acho q era mais desejavel ter um bocado de contencao nos gastos (ainda q nao drasticamente) e baixar o passivo financeiro para metade, de forma a estarmos menos sujeitos às vicissitudes do mercado.

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    6. José Rodrigues:

      Era precisamente aí que eu queria chegar com o meu comentário. Sinto-me esclarecido mas não mais tranquilo.

      Obrigado e Cumprimentos

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  4. Amigos
    Concordando com os comentadores que me antecederam, permitam-me salientar dois factos.
    A inversão dos resultados negativos no Capital Próprio que já duravam há vários anos, passando (finalmente) para resultados positivos, e o aumento do Cash-Flow que nos permitirá respirar um pouco.
    Abraço

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  5. Nos custos operacionais os 'fornecimentos e serviços externos' continuam a ser muito elevados. O que está incluído neste item? comissões, prémios de assinatura, etc?

    Por outro lado não gosto de ver os custos com pessoal a aumentar ainda mais.

    Nos proveitos operacionais, a segunda maior fatia é dada pela 'Corporate hospitality' representando nada mais nada menos que €15M. Eu gostava de saber o que o FC Porto tem feito para receber este dinheiro todo?

    No que toca a ativos, o valor do plantel baixou bastante o que compreendo porque vendemos alguns dos melhores jogadores, se não os melhores, neste periodo mas 'outros ativos nao correntes' também baixaram. O que acho estranho é o facto dos ativos correntes terem aumentado tanto. O que o FC Porto fez para o ativo 'clientes' ter subido tanto?

    Quanto ao passivo acho que é sempre bom haver uma redução, ainda mais quando o passivo corrente diminuiu bastante.

    Espero, se não conseguir já respostas, que estas dúvidas sejam dissipadas quando o José fizer a análise detalhada ao R&C.

    Cumprimentos

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    1. No que toca a ativos, o valor do plantel baixou bastante

      O facto de nos Ativos Não Correntes o Plantel estar avaliado em apenas 76,1 milhões de euros parece-me positivo porque, em condições normais, o plantel atual valerá muito mais (basta pensarmos no que valerá o seguinte quarteto: Mangala, Alex Sandro, Quintero e Jackson).

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  6. @ Bibiano Baldé Cá Jr., Deco

    Relativamente ao aumento de cerca de 4,5 milhões de euros na rubrica 'Custos com Pessoal', por aquilo que li nos jornais (explicações de Angelino Ferreira), tal deve-se, essencialmente, a custos com a equipa B.

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