terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Uma história de regressos

Ricardo Quaresma está de volta. Bem vindo seja.

O mustang já é parte oficial do plantel e só não defrontou o Atlético porque o certificado internacional não chegou a tempo. Pouco importava a falta de treino, de rotação com os colegas. O importante era exibir a nova contratação e dar-lhe os primeiros minutos do ano. Fica para a próxima. Não faltarão os minutos. Ao contrário de Liedson, imagino que Quaresma vá jogar e muito. Primeiro porque, ao contrário do brasileiro, segundo deixou antever Pinto da Costa, o número 7 é escolha pessoal do treinador. Lógico é que o coloque a jogar num posto onde Licá nunca deslumbrou (apesar de ter feito dois primeiros meses de época bons) e onde Kelvin e Ricardo nunca tiveram opções. Curioso, depois de meio ano a insistir num falso extremo (Josué e Quintero andaram por lá também e Licá é o que é, um avançado mais móvel) o treinador agora queira ao lado de Varela e Jackson o mais extremo dos extremos que passaram pelo FC Porto nos últimos dez anos.

Quaresma regressa a onde já foi feliz. E nós fomos feliz com ele.
Aterrou no Dragão no negócio Deco, um negócio onde eu continuo a achar que ficamos a perder mas que entendo. Afinal, Pinto da Costa e Mourinho convenceram o "Mágico" a ficar um ano mais em troca de uma saída já apalavrada. No fatidico 2004/05 viu-se pouco do "Harry Potter" que tinha deslumbrado no Sporting e que se apagara em Camp Nou. Mas a partir da época de Adriaanse e, sobretudo, com Jesualdo, a importância de Quaresma tornou-se evidente. Era o melhor jogador individual da liga, aquele que nos resolvia jogos, puzzles e quebra-cabeças. Chegou a jogar de falso avançado, as suas trivelas fenomenais desbloquearam muitos jogos complicados e não se apagou nos encontros mais importantes. Depois veio o canto da sereia de Mourinho no Inter e a decadência, confirmada por uma passagem para esquecer pelo Chelsea. E o exílio. Quaresma teve oportunidades para voltar mas não quis. Preferiu engordar a conta bancária, primeiro na Turquia, depois nos países árabes. Estava no seu direito ainda que o Mundo estivesse a perder um jogador irregular, imaturo mas com uma técnica espantosa.

Não sabemos como vai ser este regresso.
Um jogador conhecido pela velocidade, Quaresma não é um líder. Não é um motivador no balneário. É, no sentido mais futebolístico do termo, um egoísta dos relvados, para o bem e para o mal. Vive no seu mundo, tem dificuldades em manter um rendimento elevado durante muito tempo seguido e precisa de espaço e velocidade para jogar o seu jogo. Nos últimos quatro anos e meio não teve minutos nas pernas que justifiquem que pensemos que será o mesmo jogador que saiu de aqui. O mesmo desequilibrador, o mesmo homem-chave. Seguramente trará mais à equipa do que trouxe Liedson (ou Ismailov, o russo desaparecido a quem se continua a pagar o salário...porque sim), duas apostas desastrosas, sem sentido e sem contribuição palpável para a equipa (dois segundos e meio para que voltem a citar o maravilhoso passe para o momento K). Mas mais em jogos contra equipas pequenas e encerradas do que em cenários como a Luz, Alvalade ou Nápoles, para por exemplos de estádios onde teremos (provavelmente) de ir jogar em 2014.

O seu regresso é mais um na velha lista de nomes que, com Pinto da Costa, foram e voltaram.
Uma saga que começou com Fernando Gomes, um ponto de honra do presidente que resgatou do Gijón o genial avançado. E que bem que lhe saiu a jogada. Gomes foi fundamental nos títulos de Artur Jorge e na corrida a uma Viena onde, malgrais, não pôde estar, desforrando-se em Tóquio antes de tornar-se finito. Também Sousa e Jaime Pacheco saíram e voltaram, para continuar a ser peças fundamentais da equipa. Nos anos noventa repetiu-se o cenário, mas os resultados foram diferentes. Rui Barros voltou no ocaso da carreira - depois de uma brilhante carreira internacional - para ajudar e foi um actor secundário relevante no final da era Oliveira. Secretário passou apenas um ano em Madrid. Domingos esteve mais tempo no Tenerife mas nunca mais foi o mesmo e quando voltou foi para sentar-se mais tempo no banco do que para calçar. Baía foi um caso à parte, como Pinto da Costa explica no seu novo livro. E claro, o caso de Conceição, talvez o mais parecido ao de Quaresma. A explosão do extremo foi brilhante, rapidamente partiu para Itália e quando voltou, em 2004, era um jogador física e mentalmente diferente. E durou pouco tempo o regresso porque o que Conceição fazia antes já não conseguia fazer.



Para fechar esta lista de outros regressos, obrigatório falar de Hélder Postiga e Lucho Gonzalez. A cara e a cruz. O primeiro foi um jogador que explodiu cedo mas não evoluiu como se esperava e que Mourinho não se importou de trocar por McCarthy. Num dos negócios mais difíceis de explicar dos últimos anos, Postiga voltou (por troca com Pedro Mendes, um excelente jogador, e bastante dinheiro) e durante três anos provou aos adeptos que a opção de Mourinho tinha feito todo o sentido e que o seu faro de golo não era o melhor. Apesar disso - e depois de uma passagem fantasma pelo Sporting, é hoje o titular da selecção ainda que as chegadas de Lisandro, Falcao e Jackson deixem claro a diferença de um grande e um médio ponta-de-lança. Já Lucho representa o outro lado da moeda. Saiu no zénite da sua carreira para França e voltou num momento critico. Tornou-se no líder do balneário, ganhou o respeito de todos e ajudou a resolver um sério problema interno. Desde então o FC Porto não parou de ganhar. Claramente já ultrapassou a sua melhor etapa, fisicamente é um jogador mais limitado mas a sua influência é evidente. Talvez porque tenha o carácter e o espírito que jogadores como Quaresma (ou Postiga, Conceição, Domingos) nunca tiveram.

O que pode suceder então com Ricardo Quaresma?
Pessoalmente espero pouco a médio prazo, até porque sou consciente do difícil que é para um extremo recuperar a velocidade e "explosão" depois de cinco anos desactivado. Dificilmente voltaremos a ver o mesmo Quaresma. Mas em campos complicados ou em jogos no Dragão, onde se espera um ataque constante e incisivo, a sua capacidade técnica e a sua trivela mágica ainda podem fazer estragos. Algumas assistências e golos podemos esperar, uma grande influência no jogo colectivo ou uma presença de inspiração e liderança parece-me mais difícil. Resgatar o melhor Quaresma seria um grande triunfo mas, precisamente, parece-me que temos o pior treinador possível para essa missão. E claro, se até agora Kelvin, Ricardo e até Quintero já jogavam pouco, parece-me evidente que vão ser figuras cada vez mais residuais até ao final do ano. Efeitos colaterais de mais um capítulo na nossa história de regressos...

16 comentários:

  1. "Cinco anos desactivado"??

    Years Team Apps† (Gls)†
    2000–2003 Sporting CP B 15 (0)
    2001–2003 Sporting CP 59 (8)
    2003–2004 Barcelona 22 (1)
    2004–2008 Porto 114 (24)
    2008–2010 Internazionale 24 (1)
    2009 → Chelsea (loan) 4 (0)
    2010–2012 Beşiktaş 46 (8)
    2013 Al Ahli Dubai 10 (2)
    2014– Porto 0 (0)

    Não vou estar com formatações do texto, mas no Besiktas jogou e deslumbrou, tenho amigos turcos que só dizem maravilhas dele. Somente no último ano é que jogou realmente pouco, sobretudo por não se ter adaptado no Al Ahli. De resto, treinou várias vezes ao meu "lado" nos últimos meses, conheço perfeitamente o preparador físico que esteve a trabalhar com ele e se alguma coisa lhe faltar será somente ritmo competitivo. Parece-me que a qualidade ainda está lá toda.

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    1. GM,

      Da qualidade não duvido em absoluto. Do Bessiktas vi meia dúzia de jogos, não mais, e nunca vi chispa do Quaresma que conheci. Aliás passa com muitos jogadores na liga turca. O problema é que Quaresma não é Sneijder ou Drogba, que precisam muito menos da velocidade e da máxima condição fisica para brilhar quando saem desse circuito quase deprimente que é esse campeonato.

      Para mim desde que saiu do FCP nunca mais se viu quem era Quaresma. Nem no Inter, nem no Chelsea nem no Bessiktas. Sei que perdeu muitos quilos nos últimos meses, que está em boas mãos mas a velocidade/arranque são dos aspectos físicos mais dificeis de recuperar quando se está tantos anos fora da elite!

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  2. Oxalá venha resolver um dos maiores problemas da equipe, oxalá!!
    Não quero azarar...mas sempre que voltei a antigas paixões ( ex-namoradas, diga-se), não fui lá muito feliz... Oxalá !

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  3. "Talvez porque tenha o carácter e o espírito que jogadores como Quaresma (ou Postiga, Conceição, Domingos) nunca tiveram."

    Acho q nao e' so' isso: o regresso com sucesso de Lucho deve-se tambem, a meu ver, por jogar numa zona do terreno onde a experiencia e maturidade sao mais importantes - pelo menos muito mais importantes do q para um extremo ou avancado.

    Ora essas virtudes (e para mais Lucho e' um jogador inteligente) ajudam muito a compensar um eventual declinio fisico natural e gradual de um box-to-box.

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    1. Também é importante a sua posição no terreno de jogo, ainda que o Postiga e o Domingos - mais o Postiga, pela idade, estavam numa zona do campo onde também conta a experiência, a maturidade e a matreirice. Já o Conceição e o Quaresma dependem muito mais de outras variantes.

      No sul da Europa temos a cultura de achar que um jogador aos 30 está velho para o futebol de elite mas no centro e norte de Europa a situação é bem diferente. Mas também o é porque a condição física desses jogadores é cuidada ao minimo detalhe e mesmo os que viviam da velocidade sabem transformar-se progressivamente. Duvido que o Quaresma saiba ser um jogador diferente do que foi e que em jogos europeus de máxima exigência tenha pulmão, corpo e cabeça para estar ao mais alto nível.

      Também espero, está claro, estar enganado!

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    2. "No Sul da Europa"??

      Olha q nao me parece q em Itália (e em particular em Milão) concordem lá muito contigo...

      Alias, a equipa mais velha da Europa toda a ter sucesso na ultima década foi a do Milan... Vários jogadores (e a jogar bem) na equipa titular bem acima dos 30 anos, alguns perto dos 40.

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    3. Em Milão consideram-se centro europeus. A um lombardo de pura alma chama-lhe italiano e mediterrânico e vê o que ele te diz. Sempre foi uma zona mais próxima da cultura centro-europeia do que do resto da Itália. E nesse apartado são exemplares!

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    4. Sem querer expandir a discussao q dava pano para mangas, assinalo apenas q geograficamente nao deixam de fazer parte do sul da Europa... (q não do sul da Itália).

      Mas já agora tb não resisto a desmentir q q não se considerem italianos, na maioria (alias, a Italia como entidade politica comecou no norte do pais). O q os irrita sim é confundi-los com italianos do sul, isso sim (a quem ate´ chamam por vezes de «africanos»).

      Mas e dai qualquer dia vejo catalaes ou gajos de Salónica a dizer q tb nao sao do sul da Europa, ja' nao digo nada.

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  4. "(ou Ismailov, o russo desaparecido a quem se continua a pagar o salário...porque sim)"

    Não é verdade essa parte! O Futebol Clube Do Porto não está a pagar um cêntimo, desde a saída do Izma!
    Quanto ao Ricardo Quaresma, é só uma questão de vontade própria, para voltar a ser decisivo.

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    1. Quero ver um comunicado oficial do FC Porto que o confirme!

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    2. O comportamento do nosso clube perante a situação que vive o HOMEM chamado Marat Ismailov, é inatacável!
      Esqueçam o jogador, salve-se o Ser Humano.
      Reafirmo que o Futebol Clube do Porto não está a pagar um cêntimo ao jogador.
      P.S.Força Ismailov

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    3. Rui,

      E eu reafirmo, como sócio do FCP (e subsequente accionista indirecto da SAD) quero ver um comunicado oficial que diga que o Izmailov está há quatro meses sem receber um cêntimo do FCP já que não tem nenhum impedimento físico que o impeça de cumprir com a sua profissão.

      Que eu saiba o FCP ainda não é a ordem dos Franciscanos para salvar almas!

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  5. Pode ser que o Quaresma mesmo sem grande fulgor físico, ainda consiga desequilibrar e desenhar as jogadas à semelhança do que o Gheorghe Hagi fazia em final de carreira. Haja alguém que corra e ele mete lá a bola.

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  6. Talvez se devesse vender o Defour nesta temporada de transferencias e tentava-se o emprestimo do Anderson.

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  7. No essencial estou de acordo com o post, diria apenas que, na minha opinião, os dois regressos mais bem sucedidos, Gomes e Vitor Baía, de algum modo explicam-se, antes de mais pela qualidade intrinseca dos jogadores, mas sobretudo pelo facto de não se terem conseguido impor no estrangeiro, ao contrário de Rui Barros, por exemplo. Lucho, outro retorno bem sucedido, para mim, é um caso à parte. Não falhou em França, o seu regresso deveu-se à falência da equipa do Marselha. Evidentemente que ele poderia, sem qualquer dificuldade, ir jogar para outro lado, mas por razões pessoais e afetivas resolveu voltar. De resto, Lucho é um desportista especial.

    Também não estou à espera de ver o mesmo Quaresma de há 5, 6 anos, é impossivel, tampouco um Quaresma para jogar 90 minutos ou fazer muitos jogos seguidos, mas acredito que poderá ser útil para ajudar a desencravar algumas partidas, sobretudo contra equipas fechadas à frente da sua baliza.

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    1. Acho que é precisamente o que vamos ter o que já não seria mau de certa forma mas o FC Porto precisa de algo mais!

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