Nicolas Otamendi está a ponto de converter-se num dos centrais mais caros da história do futebol, trocando o Valencia pelo Manchester City por valores que rondam os 40 milhões de euros (mais, de forma paralela, o empréstimo de um ano de Mangala ao clube espanhol com metade do salário pago pelo City). À falta de alguns detalhes, o negócio parece estar fechado.
É um negócio e pêras...um negócio, diria, à Porto!
E no entanto, Otamendi, que foi um dos esteios defensivos mais relevantes do FC Porto do pós-Ricardo Carvalho - fundamental no célebre ano AVB - saiu do FCP para a equipa espanhola por valores muito inferiores, um total de 12 milhões de euros sendo que, já na altura, se levantou uma polémica relevante e até hoje por explicar de 10% do passe de que o FC Porto abdicou sem dizer nem a quem, nem por quanto, semanas antes da venda oficializada do futebolista.
Naturalmente, tendo em conta as cifras desta operação, muitos adeptos começaram a levantar as mãos à cabeça com frases do estilo "Se tivesse ficado, eramos nós a receber os 40 milhões" ou um "Otamendi foi mal vendido" ou algo do estilo "Perdemos uma grande oportunidade de fazer um grande negócio". Ora bem, não estou de acordo. E para entender essa realidade é preciso entender igualmente a natureza deste próprio negócio. Porque nem Otamendi vale - nem valeu nunca 40 milhões - nem este negócio é expontâneo ou surge do nada por puro mérito do jogador. Este é um negócio Mendes, com todas as caracteristicas de um negócio Mendes e onde o clube vendedor é apenas um peão. Neste caso tocou ao Valencia - detido pelo amigo de Mendes, Lim - da mesma forma que no passado nos tocou a nós. Basta ver o exemplo de Mangala.
Otamendi é um bom central, um jogador capaz de exibir-se a um nivel muito mais elevado do que, diriamos, um David Luiz (sim, comparar os dois roça o delito, eu sei) mas nenhum outro empresário sacaria nem metade pelo seu passe nem outro clube, sem a ajuda desse empresário, seria capaz de o fazer. E isso inclui a SAD do FC Porto.
Quando Otamendi saiu, para o Valencia, a nossa situação financeira distava muito de ser a melhor. E por isso mesmo foi preciso fazer ajustes. Otamendi estava insatisfeito, queria dar o salto a uma liga mais mediática e era uma potencial fonte de problemas (olá Rolando) pelo que vendê-lo parecia tanto algo lógico como necessário. Conseguir um negócio na ordem dos 12 milhões de euros foi um excelente negócio tendo em conta essa realidade. Cinco meses depois podia valer mais? Sim, podia. E também podia valer menos. Ninguém sabia como se ia adaptar ao futebol espanhol (tanto é que teve de passar os seis meses seguintes no Brasil por problemas com o numero de estrangeiros do Valencia) ou que seria um dos protagonistas da "Albiceleste" no Mundial do Brasil. Havia muitos factores ponderáveis e vender por esse valor era o melhor negócio possível na altura. Foi portanto uma decisão acertada.
Hoje Otamendi não é melhor jogador que era então mas vale quase o triplo. Porquê?
Porque o seu empresário assim o quis. Ao enviar Otamendi para Valencia (quando o clube ainda não era detido por Lim), Mendes fez o mesmo que depois conseguiu com outros jogadores, sobretudo do Benfica, colocando-os em equipas (como o Monaco ou o Atlético de Madrid) onde as entradas e saídas é ele que controla directa ou indirectamente. A partir de aí, com a faca e o queijo na mão, Otamendi foi esperando o próximo salto porque todos sabemos que, salvo casos excepcionais, os jogadores de Mendes duram muito pouco nos seus clubes. A comissão dos 10% tem de se actualizar a pouco e pouco. O Valencia teve ofertas do Man United e do AC Milan por Otamendi. Mas a primeira não chegava sequer a estes valores - nunca passou os 30 milhões - e a segunda esbarrou com a aposta em Romagnoli, jovem promessa italiana. O City, carta fora do baralho até à pouco tempo, pelo contrário, tem excelentes relações com Mendes e cashflow suficiente para não só por na mesa o valor pedido pelo agente como ajudar a potencializar outro dos seus activos num clube amigo, o nosso velho conhecido Mangala. Um negócio destes ronda o surreal mas é a base do mundo actual.
O FC Porto tem-se beneficiado e muito dessa relação. Há largos, larguissimos anos que o FC Porto não vende, por valores astronómicos, um só jogador que não seja de Mendes ou que este esteja envolvido no negócio (ás vezes, via comprador). Mais, a maior parte dos clubes que compram ao FCP (russos, turcos, ingleses, espanhois, franceses) trabalham directamente com ele. É graças a essa teia que conseguimos sacar muitos dos milhões de que nos gabamos em negócios improváveis como o de James, Mangala, Fernando e companhia. Otamendi podia ter saído por outro valor se não fosse um activo Mendes, mas o preço ajustado à realidade do mercado foi talvez a contrapartida para um negócio bombástico meses depois. Não há almoços grátis.
A Otamendi está claro que todos gostariamos de ter visto seguir para Manchester via Porto com um cheque daqueles no bolso e não por valores aceitáveis mas pouco entusiasmantes para Valencia onde serviu de ponte para o grande negócio mas nem sempre podemos ser os protagonistas deste mundo. Por cada Mangala tem de haver um Otamendi, por cada grande e inesquecivel venda haverá sempre alguém que escape e não é por isso que se actuou erradamente na altura. Otamendi desportivamente tinha lugar em todos os onzes do FC Porto desde que saiu mas ter um jogador a contra-gosto é o primeiro passo para ter problemas. Otamendi rendeu 12 milhões de euros (menos os tais 10% fantasmas) e um problema a menos no balneário. Abriu espaço para a afirmação de um Mangala que rendeu muito mais financeiramente (ainda que seja pior desportivamente). Podemos ficar satisfeitos com o deve e o haver desta operação e com a gestão do clube. Porque agora mesmo, para sufragar a sua politica - e estar de acordo ou não é tema para outra conversa - só com a bendição de Mendes e da sua teia de negócios é que o FC Porto sobrevive. E quando o empresário passar a cobrar os seus serviços, reduzindo preços de passes em vendas para os "seus" clubes, haverá sempre pouca margem de manobra para recusar. Foi esse o pacto do Diabo e os pactos cumprem-se até ao fim!
Quando foi vendido por 12M€, foram 12M€ a mais do que valia. Não me recordo de um central fazer uma meia época tão miserável no Porto. Um péssimo profissional. Que, aliás, parece querer repetir a gracinha agora em Valência.
ResponderEliminarO negócio Otamendi foi uma bela treta graças ao senhor Paulo Fonseca. O resto nem quero saber. Desperdiçou o nosso melhor central desde Carvalho para chamar o Abdoulaye.
ResponderEliminarO erro histórico da gestão PdC.
DC,
EliminarO Otamendi quis forçar a saida já nesse mesmo Verão. O PdC aguentou-o no plantel contra claramente a vontade do jogador e pressões do seu agente. Ficou apalavrada a sua saída no final da temporada mas a coisa "azedou" a tal ponto que se antecipou a saída. Talvez se tivesse ficado no FCP - tal como estavamos - nem tivesse ido ao Mundial.
Quis forçar a saída porque se desentendeu com o Paulo Fonseca. Isto eu sei que aconteceu. Não teve nada a ver com transferência, teve a ver, tal como com o Lucho, com o facto de perceberem que estavam a ser treinados por um idiota.
EliminarNegócios que surgem do nada deixam-me tão intrigado como aqueles que surgem não se sabe como, nem de onde!
ResponderEliminarOs 12milhões foram na altura um bom negócio, independentemente da curta memória de alguns. E também, provavelmente, foi uma avaliação mais próxima do valor real do jogador do que os 40M + Mangala (por 1ano) que agora foram negociados. Mas se pagam o que pagam pelo David Luiz (leia-se Sérgio Ramos, etc) o que se vai fazer?.....
ResponderEliminarSe foi barato ou caro, não sei. Vejo muitos negócios ridículos.
ResponderEliminarO que sei é o Otamendi foi claramente o nosso melhor central desde o Carvalho. É craque total e há muito poucos no mundo inteiro melhores. Não sei se o número chegará a 5. Se o Mangala vale os 50M por que saiu, o Otamendi vale 100M fácil...
Posso estar enganado mas acho que no momento da venda ao Valencia, o Porto ficou com uma percentagem de uma venda futura (da mais valia).
ResponderEliminarTambém não tenho as melhores impressões de Otamendi. Áparte o primeiro ano nunca o achei profissional á altura, tal como ficou provado no último jogo que fez por nós (contra o corrupto vermelho) . Não deixou saudades. Quanto ao Mendes, pouco me interessa as comissões ganhas desde que o meu Clube também ganhe....
ResponderEliminarPara alem de um factor "Jorge Mendes" acho q falta falar noutro factor importante: o campeonato onde o jogador joga.
ResponderEliminarCeteris paribus (ie tudo o resto sendo igual, por ex empresário), um jogador saído do campeonato espanhol vai ter ofertas mais altas do q saído do campeonato português, mesmo q faça exactamente as mesmas exibições (tanto no campeonato como até mesmo na LC). Seja justo ou nao, é o chamado factor premiam do campeonato (da mesma forma q se o Otamendi fizesse as mesmas exibições no campeonato grego iria ter uma oferta mais baixa).