Após três anos a disputar os campeonatos secundários, sob a marca Dragon Force, a equipa sénior de basquetebol do FC Porto (detentora de 11 campeonatos, 13 Taças de Portugal, seis Taças da Liga e cinco Supertaças) regressou ontem à LPB (liga principal do basquetebol português).
E regressou precisamente no Pavilhão Municipal de Ponte de Sor onde, em 23 de Maio passado, tinha terminado o percurso vitorioso da equipa Dragon Force Basquetebol.
Eléctrico x FC Porto, Proliga 2014/2015 |
O FC Porto venceu, naturalmente, o Eléctrico (61 - 78), mas o encontro começou 20 minutos mais tarde e esteve mesmo em risco de não se realizar.
E porquê?
Devido ao diferendo entre os árbitros, oficiais da mesa e a Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB). Só a associação de árbitros reclama uma dívida de 137 mil euros (!), referente à época transacta.
Em Ponte de Sor houve as condições mínimas para disputar o jogo, mas o Ovarense x Maia Basket e o SL Benfica x V. Guimarães foram adiados. E também não se realizaram três dos quatro jogos agendados para a Proliga.
“Isto prejudica, pois preparámos e treinámos para um jogo que não se realizou. Houve desgaste na viagem e gastos, de um clube com um orçamento reduzido”
Paulo Cunha, jogador do V. Guimarães
“O Vitória terá de fazer outra viagem a Lisboa para poder jogar contra o Benfica. E quem é que paga mais uma deslocação e as refeições?”
Domingos Almeida Lima, vice-presidente responsável pelas modalidades do SL Benfica
Há vários anos que o basquetebol português passa por muitas dificuldades (essencialmente económicas) e não será exagero afirmar que está a atravessar o pior período dos últimos 50 anos.
De facto, após o fim da modalidade em alguns clubes vencedores de títulos nacionais (em seniores masculinos) – Sporting, CA Queluz, Estrelas da Avenida, Portugal Telecom –, nos últimos anos acentuaram-se os casos de clubes/SADs que desapareceram, ou que extinguiram a sua equipa principal.
2007: Aveiro Basket (a SAD, que incluía a CM Aveiro, Galitos, Esgueira e Beira-Mar, foi dissolvida, deixando atrás de si um rasto de dívidas e prejuízos).
2008: CF Belenenses (extinção da equipa sénior).
2012: FC Porto (extinção da SAD do Basquetebol), FC Barreirense (extinção da equipa sénior).
2013: Académica (extinção da equipa sénior, com uma dívida global na ordem dos 300 mil euros e ações de penhora devido a dívidas antigas a treinadores e jogadores).
A estes casos acrescem os do CAB Madeira ou Lusitânia, os quais também já admitiram publicamente essa possibilidade, devido às dificuldades económicas que atravessam.
Perante estes factos, não surpreende a queda da qualidade competitiva da LPB, composta, na sua esmagadora maioria, por equipas com plantéis modestos em quantidade/qualidade.
E também não surpreende o péssimo desempenho que a seleção nacional de seniores masculinos tem tido nos últimos anos (veja-se, por exemplo, as 10 derrotas em 10 jogos na fase de qualificação para o Eurobasket 2013).
É num cenário destes, que os próprios agentes da modalidade – dirigentes federativos, árbitros, oficiais de mesa – não se entendem, põem os (legítimos) interesses pessoais à frente dos da modalidade e espetaram mais um prego no caixão do basquetebol português.
Tudo isto é triste, até porque o basquetebol é uma modalidade espectacular, para "gigantes" e para pessoas com uma altura normal, para super atletas (em termos físicos) e para jogadores que privilegiam a estratégia/inteligência de jogo, onde raramente existem polémicas com as arbitragens.
Mais. Ao contrário do Andebol (que, ao alto nível, é jogado essencialmente na Europa) e do Hóquei em Patins (que apenas tem expressão em Portugal e em algumas regiões de Espanha, Itália e Argentina), o Basquetebol é um desporto de massas, com ídolos planetários inspiradores, como não existem noutras modalidades (futebol à parte), jogado ao mais alto nível em todos os continentes, incluindo PALOP com fortes ligações a Portugal.
Ou seja, o Basquetebol tinha tudo para ser a 2ª modalidade mais popular em Portugal (a seguir ao futebol), despertando um muito maior interesse das televisões e patrocinadores.
Por que razão isso não acontece?
Ontem, após o adiamento do SL Benfica x Ovarense, o vice-presidente dos encarnados responsável pelas modalidades (o clube que, de longe, mais gasta com a sua equipa sénior), sugeriu a suspensão da Liga de basquetebol “até que a federação se entenda com os árbitros”...
É caso para dizer: Quo vadis basquetebol português?
P.S. O basquetebol é a minha modalidade favorita (a seguir ao futebol) e, daqui a pouco, tenciono deslocar-me ao Dragão Caixa para assistir ao FC Porto x Ovarense, marcado para as 18:30.
Haverá árbitros?
Haverá oficiais de mesa?
Haverá jogo?
Haverá público? Até quando?...
Falar do basquet em Portugal e colocares uma imagem de MJ é batota ;)
ResponderEliminarTens razão... ;-)
EliminarAgora a sério.
A foto do Michael Jordan surge no contexto/sequência da seguinte afirmação:
"...o Basquetebol é um desporto de massas, com ídolos planetários inspiradores, como não existem noutras modalidades (futebol à parte)..."
Acho que a explicação é mais ou menos simples (bem, nunca é, mas façamos de conta que sim). Eu próprio fui atleta federado de basquetebol nas camadas jovens (ao serviço do FC Gaia) e acompanhei de perto a evolução e depois destruição de uma modalidade que muito me diz.
ResponderEliminarTudo começou quando, em finais dos anos 90, quando o basquetebol atingiu o seu apogeu de popularidade em Portugal (o que mais se via eram novos ringues a aparecer nas cidades, e na escola era depois do futebol a modalidade que se jogava nos intervalos). A competição ganhou notoriedade, muito também pela grande rivalidade que havia entre o Benfica de Carlos Lisboa e o FC Porto de Rui Santos. Começou então a aparecer o que levou muitos ao descalabro: os estrangeiros, e em particular, os americanos. Clube que queria ser clube tinha que ter nos seus quadros uma manápula de americanos. Chegou a haver épocas, no início do século XXI, em que eu olhava para os plantéis à cata dos muito poucos portugueses que ainda se aguentavam. E assim se perdeu uma geração. A geração dos putos que cresceram com uma Spalding nas mãos e que quando chegaram a séniores viram-se barrados por uma trupe de gajos muito mais altos e espadaúdos que eles.
Acontece que os americanos não vem para Portugal porque isto é muito giro. Vem para ganhar dinheiro. Em quase todos os clubes, dinheiro que eles não tinham. Mas como 3 ou 4 clubes até conseguiam pagar, para os restantes clubes a opção era contratar também ou ir rapidamente para os escalões inferiores.
O princípio do fim foi quando acabou o dinheiro. Os americanos foram-se embora e foi preciso reconstruir uma modalidade com os poucos portugueses que se mantiveram. Grande parte dos clubes viu-se obrigado até a encerrar a secção, por incapacidade financeira. E depois é como uma bola de neve a rebolar por uma montanha...
Em termos de popularidade, o andebol (que sempre foi um desporto clássico em Portugal) levou a melhor, e entretanto "explodiu" o fenómeno futsal, que em termos televisivos é agora a modalidade que mais "vende". O basquetebol ficou lá para o fim das prioridades...
Dito isto, não sei qual será a solução. Recomeçar do zero, com uma visão a longo prazo, parece-me ser a única via.
Nota extra: a última grande "facada" que levei em termos de basquetebol foi o fim da NBA TV no operador NOS (onde eu podia ver basquetebol 24h/dia), para agora o exclusivo de imagens NBA passar para a Sport TV (que vai transmitir, segundo percebi, apenas 2 jogos por semana). Também aqui a FPB poderia ter tido uma palavra a dizer.
"Tudo começou quando, em finais dos anos 90, quando o basquetebol atingiu o seu apogeu de popularidade em Portugal"
EliminarAtenção que nos anos 80 lembro-me de jogos de basquetebol com o pavilhão Américo de Sá cheio ou quase cheio.
E o pavilhão Américo de Sá, bem cheio, levava umas 5000 pessoas.
«...a última grande "facada" que levei em termos de basquetebol foi o fim da NBA TV no operador NOS (onde eu podia ver basquetebol 24h/dia), para agora o exclusivo de imagens NBA passar para a Sport TV...»
EliminarComo produto televisivo, o basquetebol é, atualmente, muito mal vendido em Portugal.