sexta-feira, 14 de março de 2008

Justiça colorida (I)


«O modo como foi conduzida a campanha que levou o Procurador Almeida Pereira a recusar a aceitação do cargo de Director da Polícia Judiciária no Porto é o mais recente exemplo da falta de decoro.
Ser adepto de futebol, frequentar o Estádio do Dragão – apesar de benfiquista – e ter estado em Sevilha na final da Taça UEFA a convite do FC Porto, foram factos que serviram para uma autêntica tentativa de assassinato de carácter do Procurador. Fizeram-lhe um cerco tão asfixiante que Almeida Pereira não esteve para aturar mais vilipêndios e fez marcha-atrás na aceitação - no que acabou por também prestar um favor involuntário aos "guerrilheiros".

A pedido do próprio, os esclarecimentos da PGR ontem conhecidos são eloquentes sobre como foi intoxicada a campanha – liderada ou canalizada pelo "Correio da Manhã" – contra Almeida Pereira. Além da inexistência de "qualquer elemento que aponte para corrupção ou comportamento processual de favor relativamente ao FC Porto, seus dirigentes ou quaisquer outras pessoas", não se apurou "qualquer comportamento processual de favor" por Almeida Pereira ter sido convidado pelo presidente do FC Porto a assistir em Sevilha à final da Taça UEFA e "não há nos autos elementos que apontem para a prática de qualquer ilícito criminal, nomeadamente de corrupção". Elucidativo.

O que a PGR esclareceu ontem baliza duas certezas. Por um lado que é lamentável colocarem-se rótulos às pessoas; por outro, que morar-se no Norte e respirarem-se os ares do Estádio do Dragão e do FC Porto não é sinal obrigatório de corrupção - e por muito que queiram passar o contrário. Nalguma Comunicação Social e, até, em sectores específicos da Justiça.»
Fernando Santos, O JOGO, 07/03/2008


«Afinal, Almeida Pereira, o magistrado que aceitou liderar a PJ do Porto e a seguir foi empurrado borda fora com o jeitinho do costume pelos suspeitos do costume, não é culpado de "corrupção ou comportamento processual de favor relativo ao F.C. Porto, seus dirigentes ou quaisquer outras pessoas".
Que o facto seja divulgado poucos dias depois de ter sido nomeado um novo director da PJ do Porto do agrado do procurador da República; que o facto seja conhecido depois de o procurador ter assistido, impávido e sereno, a uma espécie de assassinato de carácter de Almeida Pereira sem soltar um "ai" - eis o que, em poucas palavras, mostra como os jogos típicos da mais cruel "mercearia" tomaram conta dos bastidores da Justiça.»
Paulo Ferreira, Chefe de Redacção do JN, 08/03/2008


Já passou uma semana e, tirando estes dois editoriais de jornais, que não estão ao serviço de uma determinada “Justiça colorida”, não ouvi, nem li, qualquer reacção institucional ao “assassinato de carácter” de que foi vitima um magistrado, por ter cometido o “crime” de, há cinco anos atrás, ter aceite um convite do FC Porto para ir a Sevilha assistir à final da Taça UEFA.

Quer o Procurador-geral da República Pinto Monteiro, quer o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público do mediático António Cluny, assistiriam a este “linchamento popular” de camarote, sem levantarem um dedo para defender Almeida Pereira.

Uma determinada “Justiça colorida” e os seus acólitos na comunicação social, fizeram de Almeida Pereira um exemplo. A partir de agora toda a gente ficou a saber que aceitar convites do FC Porto, ou frequentar os camarotes do estádio do Dragão, equivale a ter “lepra” e, naturalmente, isso será impeditivo da pessoa em causa ser suficientemente credível, ou isenta, para aceitar lugares de chefia.

Assim vai a “Justiça colorida” à portuguesa...

P.S. Coitado de Almeida Pereira, nem o facto de ser um ferrenho benfiquista lhe valeu.

2 comentários:

  1. Em Novembro de 2002, Souto Moura, PGR de então, deu a sua primeira entrevista e o tema mais badalado (e abordado com minúcia) foram os processos em investigação no futebol, que a Dra. Maria José Morgado tinha denunciado em declarações prestadas à Comunicação Social, e as revelações que Valentim Loureiro fez a esse propósito, depois da reunião que teve com o PGR.
    O Dr. Souto Moura foi muito evasivo, e disse “nim”. Não esclareceu a polémica, mas não evitou falar dela, sem se comprometer.
    O Dr. Souto Mouro era discreto, e nunca foi tido em boa conta junto da CS. Bastante culpa lhe coube, pois comunicava mal e falhou no acompanhamento dos diversos processos judiciais e na direcção da Procuradoria Geral da República.
    Entretanto, a Dr. MJM que tinha saído em ruptura com a Direcção da Polícia Judiciária, aparentemente por motivações partidárias, soube tirar o máximo proveito possível dessa “demissão”. Saiu como vitima, que provavelmente foi. Aproveitou, essa oportunidade, para se firmar como uma incorruptível contra o crime, que o poder, de então, parecia temer. Tem presença, é boa comunicadora e tem a CS a seus pés.
    A vitória do PS nas eleições, a escolha de Pinto Monteiro para PGR que, ao contrário de Souto Moura, tinha como estratégia seguir uma agenda afim com os desígnios da CS, só podia ter escolhido, como motor do aprofundamento e consolidação dessa aproximação, a corrupção no futebol e o processo AD, todo centrado a Norte e como principais arguidos Pinto da Costa, Valentim Loureiro e Pinto de Sousa.
    A cereja em cima do bolo, foi a inteligente escolha de MJM para centralizar a investigação do processo AD e a reabertura dos processos contra PdC que tinham sido arquivados.
    A táctica foi acertada : hoje o homem (a dupla) está acima de qualquer controvérsia e parece agradar a todos os quadrantes, o que é inédito neste país. A sua ambição (da dupla) passa por “roubar” a PJ ao Ministério da Justiça, e ficar com os mais amplos poderes em Portugal.
    O resto é história conhecida e soberbamente contada pelo José Correia.

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  2. Numa entrevista ao Rádio Clube Português, em 25/03/2008, Pinto da Costa comentou o facto de Almeida Pereira ter recusado o convite para dirigir a PJ no Porto, depois de notícias que o diziam próximo do Dragão. “A culpa é de alguma comunicação social mentirosa. Ele é benfiquista assumido, e nunca falei com ele mais do que 30 segundos. Nunca me deu informações: as únicas informações confidenciais que recebo antes do papelinho do Ministério Público são do 'Correio da Manhã'.”

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