Um Adeus Inesperado

Reinam a esta hora a estupefacção e a incredulidade nos meios portistas (em alguns casos extremos e quase patológicos o estado de espírito é ainda pior). É um facto que, praticamente todos os anos, o FCP vende um ou mais dos seus principais jogadores, por necessidade e porque a maior parte deles quer "dar o salto". Daí que, todos os Verões, os adeptos do clube se mentalizem para a saída de A ou B, sabendo que esse é o preço da viabilidade da SAD e da visibilidade que a equipa ano após ano consegue na Liga dos Campeões. E, por isso mesmo, este Verão estava toda a gente mentalizada para a saída de Lisandro López e Bruno Alves, na crença, até, que esses negócios ajudariam a manter no clube a jóia da coroa, o cérebro e motor da equipa, Lucho González. Aliás, a continuidade deste último era dada praticamente como adquirida na comunidade portista, habituada a ler os "sinais" destas coisas. Inclusivamente, a 3 de Junho o jornal O Jogo noticiava que "El Comandante" havia adquirido casa na Invicta, sintoma evidente de que não tencionava mudar-se. E, há poucos dias, salvo erro a propósito da venda falhada de Ali Cissoko, o próprio presidente afirmava que o clube não precisava de vender nenhum jogador, o que muitos terão levado demasiado à letra.

Dado este contexto todo as notícias, agora confirmadas, da venda de Lucho González, foram para muitos um balde de água fria. De hoje em dia, percorrendo a internet e a blogosfera, fica-se com uma ideia muito concreta do que pensa o "povo" portista destas e de outras coisas. E neste caso, se alguns devotos incondicionais da gestão da SAD se limitam a disfarçar o seu incómodo, e outros defendem a transferência como mais um assizado acto de gestão desportivo/financeira digno de aplauso, muitos protestam, exclamam, expressam a sua frustração dos mais variados modos. Nada que não se tenha já visto, é claro, e estou até a lembrar-me da transferência de Anderson para o Manchester United há dois anos. Mas na época anterior de 2005/06 a SAD apresentara um prejuízo de € 30 M, e Anderson nem tempo tivera de se tornar tão importante para a equipa como o é há quatro anos Lucho González. Acresce que, olhando para o Relatório & Contas, e mesmo levando em conta que neste ano civil a SAD tinha de fazer face a qualquer coisa como € 50 M de obrigações relativas à dívida, não se compreende como se não limitou a vender Lisandro e Alves (que poucos duvidam que não sejam também transferidos). Alguns argumentam com o fim do ano fiscal, precisamente ontem, mas nenhuma sociedade é obrigada a apresentar lucro, e a nossa SAD até disso é exemplo, como se atesta no atrás referido caso de 2005/06. Claro que qualquer conselho de administração de qualquer empresa tem, pelo menos, um certo brio em apresentar lucros, mas este também não é argumento que faça esmorecer o desânimo e a discordância que por aí campeiam.

De facto, e tentando ler o que vai na alma portista, esta transferência aparece aos olhos do portista médio inconformado com ela e, por causa dela, mais inflamado, como um puro acto de cinismo financeiro. Para essa corrente, esta venda não é fruto da mera necessidade (a não ser que Alves ou López por cá permaneçam) e é portanto incompreensível. Esse portista médio está, como no início referi, mentalizado para a saída anual de um ou mais esteios da equipa, mas não estava de modo algum "programado" para a saída de Lucho González. Ou seja, aquilo que, noutras transferências ao longo dos anos, ele tem visto como a notável capacidade do F.C.P. de desenvolver talentos e os rentabilizar mais tarde, numa política da qual poderá aqui e ali discordar-se, mas cuja racionalidade e resultados desportivos são indesmentíveis, aparece agora como algo incompreensível e inexplicável, do ponto de vista financeiro e do ponto de vista desportivo.

Mas isto, claro, são reacções a quente, e estas linhas estão a ser escritas sem a vantagem de se saber qual vai ser a actividade do F.C.P. no mercado de transferências até 31 de Agosto. No F.C.P. tudo costuma ser bem programado, pelo que é de crer que brevemente surja uma contratação importante para as funções agora deixadas por Lucho González. Ou para outras, pois nada nos diz que Jesualdo Ferreira, perante esta nova realidade, não altere o modo de jogar da equipa. Mas que desta venda poucos estavam à espera, lá isso é verdade.