terça-feira, 22 de junho de 2010
enfants de la Patrie
1982
«Há imagens que nunca se esquecem. 21 de Junho de 1982. No Estádio Nuevo Zorilla, em Valladolid, um homem de turbante e túnica branca, a chamada dechdacha, indignado com o árbitro por este ter validado um golo que considerava ilegal, ordena, na tribuna, para que a sua equipa abandonasse o campo. Perante a confusão instalada e a hesitação dos jogadores, decide descer ao relvado, acompanhado pelo seu séquito, e falar com o árbitro. Solicito, este dirigi-se á linha lateral e, por minutos, ambos conferenciam perante uma batalhão de repórteres e a estupefacção dos jogadores franceses e seu treinador, Michel Hidalgo. Finda a conversa, o golo é anulado e o Sheikh regressa á tribuna para continuar a assistir á partida. Estávamos, pasmem-se!, no palco de um campeonato do mundo e disputava-se o França-Kuwait (os franceses ganhavam por 3-1...) válido para a primeira fase. Esse homem era tão só o Sheikh Fahd-Al-Ahmad-Al Sabah, um excêntrico príncipe árabe com uma grande paixão na vida: o futebol e a sua selecção kuwaitiana que, nesse momento, pela primeira e única vez na história, disputava um Mundial.»
in 'Planeta do Futebol'
1986
«Saltillo aparece como um lugar obscuro, boémio e nada condizente com as exigências que deveriam estar presentes na preparação de uma selecção para o Mundial. Faltou autoridade, faltaram regras. A cidade mexicana, para além de oferecer aos jogadores tudo aquilo que não poderiam ter enquanto profissionais, não se encontrava preparada para servir de fortaleza, de quartel-general, para a armada lusitana. Os campos não eram adequados, foram realizados jogos de preparação frente a equipas locais, tudo foi levado à base do improviso. Portugal deixou-se ir na onda. O clima no balneário da selecção, antes tranquilo, ganhou hostilidade. Os jogadores revoltaram-se, reclamaram um aumento dos seus prémios, Silva Resende, o presidente da Federação, foi passando entre os pingos de chuva. Não mudou uma vírgula. A selecção era uma bomba pronta a explodir. Foi em 25 de Maio: greve dos jogadores!»
in futebolportugal.com
O que se passou em 1982 e 1986 é uma brincadeira comparado com o espectáculo que jogadores, treinador, preparador físico e dirigentes da Federação Francesa deram na África do Sul.
Foto: Saltillo, Mundial de 1986, com Bento a ler o comunicado dos jogadores
Zé Correia,
ResponderEliminarao contrário do que diz o poeta, o golo contou mesmo e a França ganhou por 4-1, aquele foi o golo do 3-1. O golo não foi ilegal, apenas tinha havido um apito da bancada que fez parar a defesa árabe, creio que foi Didier Six que se isolou e marcou. O que o sheik contestou foi o falso apito e queria explicações do árbitro. O jogo acabou normalmente e só faço este reparo por justiça histórica, que a sapiência de uns certos marmelos não a aturo a não ser, como por aqui ou ali, de forma indirecta.
Quanto aos franceses, sim, aquilo pareceu Saltillo, só não teve dinheiro pelo meio, os galos pegam-se por ficarem no poleiro, por vaidade pura. Dinheiro eles têm, os tugas é que choram sempre que lhes falta...
Abraço
Caro Zé Luís, confesso que já não me lembrava se o golo tinha sido ou não anulado, mas a imagem do Sheikh a ordenar aos jogadores para abandonar o campo é inesquecível.
ResponderEliminarAbraço
@Zé Luis
ResponderEliminarO golo foi mesmo anulado - ver aqui.
Aquilo que aconteceu com a França neste Mundial não é desejável que aconteça a nenhuma equipa de futebol: antes do Mundial o treinador Domenech já sabia que estava de malas feitas após os jogos, logo foi desautorizado perante os jogadores que lhe desobedeciam abertamente como se viu com o Anelka; os jogadores entraram em conflito no balneário; um jogador quase anda à pancada com o Preparador Físico/Adjunto nos treinos em frente às câmaras e aos adeptos. Os dirigentes da Federação francesa permitiram todo este clima de tensão, de facto, Saltillo comparado com isto foi uma pequena birra dos portugueses.
ResponderEliminarEu não acho que Saltillo ao pé "disto" tenha sido uma pequena birra. Foi tão ou mais grave. Situações perfeitamente comparáveis.
ResponderEliminarJS, obrigado, já verifiquei os dados, Six marcou o 3-1 de facto, aquela jogada era do 4-1 (de Giresse, vejo na magem), o jogo acabou mesmo 4-1. É o que faz citar de memória...
ResponderEliminarAlexandre, considero que terá mais conhecimento sobre o caso de Saltillo que eu, porque, na altura, eu era um miúdo e aquilo que eu sei sobre o caso deve-se a relatos e à informação jornalística. Mas existem elementos que me levam a avaliar diferentemente as duas situações: no México o seleccionador nacional não foi desmotivado ou desautorizado pela FPF, não houve casos de insultos ao treinador por parte dos jogadores; não houve "punhaladas" pelas costas entre jogadores no balneário, como no caso francês, em que um jogador veio para os media acusar de traidores os colegas, pelo menos no caso português houve união entre os jogadores, mesmo que fosse para o mal.
ResponderEliminarHouve elementos semelhantes como a desmotivação dos jogadores portugueses no jogo com Marrocos e hoje dos franceses com a África do Sul, mas, na minha opinão, considero as duas situações diferentes nos obejectivos e nos princípios.
Sim, são diferentes, mas a ter que escolher, preferia ficar com a francesa: onde a nossa foi folhetinesca, a francesa foi dramática-operática; onde a nossa foi mesquinha e pífia (uma questão pecuniária!) a francesa foi truculenta e passional.
ResponderEliminarQuanto à união do grupo de jogadores, tenho as minhas dúvidas: parece-me mais que foi uma rebelião de cabecilhas (Bento, Carlos Manuel,...) e que muitos não terão tido a força de carácter para se assumirem como "fura greves bétinhos".
Plenamente de acordo com o seu segundo parágrafo, "Barba azul". Houve ali muita gente que se calhar não quis fazer "fraca figura" e não teve outro remédio senão ir na onda.
ResponderEliminarO seleccionador José Torres, que sempre escapou às críticas a propósito de Saltillo, é que me parece que teve um papel de nem carne nem peixe que acabou por ser bastante prejudicial
E de facto os motivos dos nossos "heróis" de Saltillo foram bem mesquinhos. E ver aquele façanhudo daquele Bento a ler o comunicado causa-me cá uma urticária!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarAlexandre, as situações são comparáveis mas, conforme disse o Daniel, houve aspectos do comportamento dos franceses que excederam, claramente, o que se passou em Saltillo.
ResponderEliminarSituações como o capitão de equipa e o preparador físico quase chegarem a vias de facto num treino aberto ao público, ou um jogador insultar o seleccionador nacional e ser recambiado, não se passaram em Saltillo.
Já para não falar no comportamento do Domenech perante o cumprimento de Parreira, que foi a cereja em cima do bolo.
«A última veio veiculada no Nouvel Observateur e revela um desentendimento (mais um) entre a velha e nova França. De acordo com o diário francês, Evra, Abidal e Ribéry ordenaram que o treino de domingo não se realizasse como forma de protesto contra a exclusão de Nicolas Anelka, algo que os jovens (com Gourcuff e Lloris à cabeça) recusaram. Resultado? O capitão e companhia ameaçaram agredir fisicamente os antigreve, que não tiveram outro remédio senão acatar as ordens superiores.»
ResponderEliminarin PUBLICO.PT