O meu primeiro mundial foi o de 1982, tenho uma memória muito vaga do Kempes em 78, mas o primeiro mundial é mesmo o de 82.
Mundial que tinha a melhor mascote de sempre: o Naranjito e o inevitável Brasil de 82 - garantidamente com o futebol mais atractivo de sempre.
Nessa altura o mundial tinha menos equipas, logo Portugal só se apurava quando o rei fazia anos ou se marcavam penalties fora da área. O futebol estrangeiro que se via por cá, limitava-se à final da taça de Inglaterra, às finais europeias e pouco mais - ainda não tinha chegado o transmissor pirata do Marquês nem a moda das parabólicas. Assim o mundial tinha outra magia, não havia nacionalismos bacocos e era a possibilidade de vermos jogar alguns nomes que só se conheciam dos cromos e das histórias dos bancos da escola - sempre na base de que quem conta um conto acrescenta um ponto.
Por isso era preciso ver com os nossos olhos se o Éder tinha mesmo um pontapé canhão, se os toques de calcanhar do Sócrates eram reais, se um tal argentino contratado pelo Barcelona era mesmo bom, quem era um tal de Boniek e por aí fora.
Vi e aprendi que nem sempre o melhor futebol ganha e que a Itália e a Alemanha existiam.
Mas acima de tudo deliciei-me com o futebol do Brasil e para mim qualquer jogador (excluindo os guarda-redes) daquela selecção estava lá no topo. E se é verdade que jogar bonito nem sempre é suficiente para ganhar, aquela selecção é a prova de que jogar bonito mesmo não ganhando pode ser marcante. Por isso é que 28 anos depois ainda se fala tanto daquela equipa.
Vi Madjer e Mlynarczyk, mas esses estavam reservados para outras glórias, deliciei-me com Zico mas sobretudo com Sócrates - durante meses nas peladinhas da rua golo de calcanhar valia por dois. Ainda hoje acredito que o Madjer também se deliciou e por causa dele (Sócrates) ganhámos uma taça dos campeões europeus.
Mas este texto, na vertente portista, é fundamentalmente para recordar a minha 1ª decepção com jogadores brasileiros. Nessa equipa do Brasil 82 existia um tal de Edevaldo (1º dos jogadores sentados), lateral direito suplente, mas se estava naquela selecção tinha de ser bom - afinal de contas tinha pertencido ao Brasil 82.
Quando em 85/86 o João Pinto se lesionou gravemente - como já foi por aqui recordado, o FC Porto foi, a meio da época, ao Brasil contratar o Edevaldo.
Expectativas lá no alto, íamos ter um jogador do Brasil 82.
Digamos que chegou, fez 3 jogos, foi campeão e voltou ao Brasil para jogar mais uns 12 anos, e pouca gente se recordará dele.
Uns anos depois quando o "sucessor" do Zico - o Edu - por cá andou em 89/90 ainda mais desconfiado fiquei. A partir daí comecei a torcer o nariz sempre que me dizem que o artista xpto é muito bom porque tem o selo de garantia da selecção brasileira.
- Tá bem, tá! Lembras-te do Edevaldo?
Pois eu, João, recordo desse Mundial especialmente o grande Paolo Rossi, o homem do hat-trick ao Brasil e melhor marcador da prova.
ResponderEliminarO Brasil de 82 era uma grande equipa se não considerarmos que saber defender faz parte do conceito de grande equipa!;-)
Lembro-me dessa passagem meteórica desse jogador.João Pinto padecia de um problema pulmonar que o tirou do México/86 e Artur Jorge decidiu substituí-lo rapidamente...Mas foi mesmo uma passagem breve, nem deu para perceber o que valia mesmo o Edvaldo.
ResponderEliminarNão me lembro do Edevaldo, a passagem dele deve mesmo ter sido fugaz. Lembro-me do Paulinho Cascável na temporada anterior 84/85, que tapado pelo Gomes e depois pelo Juary, rumou para Guimarães; lembro-me do Casagrande, do Elói, do Raudnei (87/88) e também me lembro do Edu (89/90), nessa epóca também veio o central Zé Carlos, e o Paulo Pereira.
ResponderEliminarRelativamente à conclusão do post, de que nem sempre a ida de um jogador brasileiro à sua selecção é sinónimo de qualidade concordo, enquanto em 1982 a qualidade era abundante, depois qualquer jogador era seleccionado para ver se valia alguma coisa ou para valorizar o passe do jogador. Lembro-me também de alguns que vieram para o Porto, com Carlos Alberto Silva veio o Paulinho César (avançado) e Alberto Carlos (se não me engano no nome), este último tinha qualidade, o primeiro era banal. Anos mais tarde o Argel, o Rúbens Junior, o Alecsandro, depois em 2000 o Pena, que veio para substituir o Jardel.
ResponderEliminarSelecção memorável essa do Brasil.
ResponderEliminaresse jogo contra a Itália foi extraordinário. Eu torcia pelo Brasil, lembro bem daquele golaço do Falcão. Mas foi insuficiente .. de facto o Paolo Rossi foi uma referência e tanto.
Esse Edevaldo, conhecido por "coice de mula" (ou coisa no género) deve ter sido o maior barrete que jogou no FCP nos últimos 25 anos! : -) É que não dava mesmo uma para a caixa...
ResponderEliminarAlexandre,
ResponderEliminaresse Edvaldo a que te referes penso ser outro, que andou por cá em 88/89 - contratado ao mesmo tempo que o Paulo Pereira e o Zé Carlos.
Um ano depois estava a jogar na 3ª divisão no Sport de Rio Tinto. Depois ainda andou pelo Felgueiras.
O "Coice de mula" acho que ainda era um terceiro jogador - Amarildo de seu nome - que veio no início da época de 88/89 mas acabou emprestado ao Leixões.
Este Edevaldo - o do Brasil 1982 - era conhecido lá na terrinha por Edevaldo Cavalo
ResponderEliminarJoão,
ResponderEliminarPosso ter-me enganado na alcunha mas lembro-me bem do Edevaldo que cá veio parar aquando da doença do João Pinto - este a que te referes no artigo - e o tipo era mesmo um manco!;-)
Para quem ainda não era nascido, não viu, ou já não se lembra, recomendo vivamente o seguinte vídeo. São 5:47 de verdadeira magia da equipa de 1982, seguramente uma das melhores selecções brasileiras de todos os tempos que, tal como Stirling Moss na F1, passou ao lado do destino e não foi campeã do Mundo.
ResponderEliminarJoão Saraiva:
ResponderEliminar«Mas acima de tudo deliciei-me com o futebol do Brasil e para mim qualquer jogador (excluindo os guarda-redes) daquela selecção estava lá no topo. E se é verdade que jogar bonito nem sempre é suficiente para ganhar, aquela selecção é a prova de que jogar bonito mesmo não ganhando pode ser marcante. Por isso é que 28 anos depois ainda se fala tanto daquela equipa.»
Assino por baixo apenas com um reparo: para além do guarda-redes, também o ponta-de-lança (Serginho?) era fracote.
Lembro-me que aquele que deveria ter sido o ponta-de-lança da Selecção nesse Mundial - Careca - se lesionou pouco tempo antes.
Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico formavam o meio-campo da Selecção brasileira e, em alguns momentos, transformavam o futebol numa espécie de magia. Absolutamente fabuloso!
esse serginho, não jogou no maritimo???
ResponderEliminarFoi também o meu primeiro Mundial, mas nem por isso guardo particulares memórias do Brasil.
ResponderEliminarLembro-me bastante do Naranjito e da selecção italiana de Paolo Rossi, Dino Zoff, Baresi, Altobelli, Tardelli, Conti e Scirea.
Por imagens disponíveis na net, qual Brasil é melhor, o de 70 ou o de 82?
@Guedesnet
ResponderEliminarFui pesquisar e é verdade. Este Serginho (Sérgio Bernardino, mais conhecido como Serginho Chulapa) teve uma passagem fugaz pelo Marítimo, em 1987.
Para além do visionamento do vídeo sobre a selecção brasileira de 1982, que recomendei num comentário anterior, é interessante também dar uma vista de olhos aos comentários ao mesmo de adeptos de todo o Mundo.
ResponderEliminarPor exemplo, este comentário:
Although Brazil of 82 did not win the world cup (great injustice) they won something more important, they won the love from people around the world regardless of race. Its because of this team that fans still support Brazil today. There defeat had far wider impact as football changed forever but it changed for the worse. Observe the boring, robotic style of football being played at the current w/c. This team played with skill, flair and a smile. R.I.P Tele Santana.
Ou este comentário:
ResponderEliminarIt is part of the game to lose. Brazil lost many times before, and many times after. But it is sad to lose when you play so beatifully. Those players are still remembered, but with a lot of sadness from everyone, not only from Brazil, but from the whole world. Brazil won two Cups ever since, but people still remembers this team more than the winning ones from 1994 and 2002.
@Alexandre
ResponderEliminarEste lembro-me mais pela desilusão das expectativas altas, do que propriamente pelo que (não) jogou.
Mas o outro Edvaldo (o de 88/89) é, para mim, seguramente o pior jogador que vi com a camisola do FC Porto. Tinha a esperança que mais alguém me acompanhasse nesta classificação :-D