Falar do presente num contexto histórico é sempre um problema. Perde-se a visão estrutural necessária e a subjectividade da conjuntura do momento engana. Se um conceito como “melhor” ou “pior” já de si é profundamente particular, comparar então o incomparável torna-se tarefa ingrata. Talvez impossível. César ou Napoleão? Da Vinci ou Picasso? Beethoven ou The Beatles? Todos? Nenhuns? Cada um sabe de sua justiça. O futebol não é tão antigo como a arte da guerra, a pintura ou a música mas tem as suas idades, as suas etapas, os seus pretéritos. Olhar para a história do FC Porto é olhar para eras distintas, estruturas diferentes e momentos chave. Os heróis de 1978? A geração de Viena? Os homens de Sevilha e Gelsenkirchen ou a armada de Villas-Boas? Pode realmente haver uma equipa melhor que outra? E acham realmente que é esta?
A mitologia do FC Porto é feita, na era moderna, de três grandes equipas que marcaram um antes e um depois na história do clube. A estas junta-se agora, de forma quase unânime, uma quarta, a de Villas-Boas. Num só ano o jovem técnico portuese desafiou a história e ganhou junto dos adeptos e analistas um direito especial a ombrear com os grandes. Os três nomes que definiram a evolução desportiva do clube da Invicta.
No entanto, dizer que este é o melhor FC Porto de sempre é um risco. Um sério risco. Primeiro porque ainda nem o primeiro ano acabou (e faltam ainda dois troféus por ganhar) e já se fala em comparar projectos consolidados e analisados com calma com algo que ainda está a descer, qual bola de neve, pela montanha abaixo. Os ciclos de sucesso das grandes equipas do FCP habitualmente duram entre duas a três épocas e este conjunto – que é tão parecido ao do final da era Jesualdo, por muito que se tente esquecer desse detalhe – ainda vai nos seus inicios. É preciso dar tempo ao tempo.
De certa forma é, igualmente, necessário entender o papel na história de cada uma dessas equipas. E se aqui nem parece haver espaço para os onzes do Penta (os da era Robson, ou os da era Oliveira, do qual Fernando Santos foi a continuação), da era Carlos Alberto, ou dos dias do polémico Yustrich, incluir uma equipa tão recente é quase um pecado cometido por adeptos orgulhosos de um renascimento inesperado. Não que as vitórias fossem impossíveis, porque nas últimas décadas vitórias não nos têm faltado. Mas pela atitude e estilo com que se lograram os triunfos. Se o onze de Villas-Boas merece estar na elite do futebol azul e branco – e até o próprio Pinto da Costa já confessou que este está ao nivel do onze de Viena, que sempre reconheceu com o seu preferido – é pela atitude. Pela reviravolta na meia-final da Taça. Pelos 5-0 ao eterno rival. Pela série de jogos sem perder para a Liga (a dois de um êxito histórico) e pela atitude demonstrada nas provas europeias. Os titulos – e só o Nacional se confirmou – são a consequência dessa atitude, porque o clube já teve também titulos que muitos adeptos esqueceram porque não tiveram uma referência emocional a que se agarrar.
Tudo isso está, naturalmente, muito bem. E desfrutar com Falcao, Hulk, Moutinho, Helton, Varela e companhia é um luxo que ficará nos livros de história. Mas aqui vivemos o problema do mediatismo que pauta a sociedade contemporânea do agora. Os mesmos que não têm problemas em catalogar o Barcelona e Messi como os melhores de sempre, os que defendem Mourinho como o maior da história, são aqueles que se deixam, muitas vezes, levar apenas e só pela realidade conjuntural. Ás vezes por convicção, outras por desconhecimento. Mas já havia futebol, e do bom, antes do agora. E na história do FC Porto, em concreto, houve futebol de primeira classe mundial nos últimos trinta anos em várias ocasiões. Em momentos chave da história do clube. Equipas que definiram a razão de ser deste clube. E por isso dizer que esta equipa, que herdou uma estrutura e uma cultura ganha com suor e sangue no passado, é a melhor de todas elas é, talvez, ignorar o árduo trabalho de outros dias. Porque essas equipas não viveram com o maior orçamento desportivo de sempre, não beneficiariam de uma politica activa de entradas no mercado. Porque essas equipas não herdaram a estrutura mais sólida do futebol português nem sequer disputaram uma liga cada vez mais desiquilibrada e anémica. Essas equipas fizeram história ultrapassando adversidades que este magnifico plantel nunca encontrou, por muito que o imprensa tente vender a excelência do rival.
(continua)
A mitologia do FC Porto é feita, na era moderna, de três grandes equipas que marcaram um antes e um depois na história do clube. A estas junta-se agora, de forma quase unânime, uma quarta, a de Villas-Boas. Num só ano o jovem técnico portuese desafiou a história e ganhou junto dos adeptos e analistas um direito especial a ombrear com os grandes. Os três nomes que definiram a evolução desportiva do clube da Invicta.
No entanto, dizer que este é o melhor FC Porto de sempre é um risco. Um sério risco. Primeiro porque ainda nem o primeiro ano acabou (e faltam ainda dois troféus por ganhar) e já se fala em comparar projectos consolidados e analisados com calma com algo que ainda está a descer, qual bola de neve, pela montanha abaixo. Os ciclos de sucesso das grandes equipas do FCP habitualmente duram entre duas a três épocas e este conjunto – que é tão parecido ao do final da era Jesualdo, por muito que se tente esquecer desse detalhe – ainda vai nos seus inicios. É preciso dar tempo ao tempo.
De certa forma é, igualmente, necessário entender o papel na história de cada uma dessas equipas. E se aqui nem parece haver espaço para os onzes do Penta (os da era Robson, ou os da era Oliveira, do qual Fernando Santos foi a continuação), da era Carlos Alberto, ou dos dias do polémico Yustrich, incluir uma equipa tão recente é quase um pecado cometido por adeptos orgulhosos de um renascimento inesperado. Não que as vitórias fossem impossíveis, porque nas últimas décadas vitórias não nos têm faltado. Mas pela atitude e estilo com que se lograram os triunfos. Se o onze de Villas-Boas merece estar na elite do futebol azul e branco – e até o próprio Pinto da Costa já confessou que este está ao nivel do onze de Viena, que sempre reconheceu com o seu preferido – é pela atitude. Pela reviravolta na meia-final da Taça. Pelos 5-0 ao eterno rival. Pela série de jogos sem perder para a Liga (a dois de um êxito histórico) e pela atitude demonstrada nas provas europeias. Os titulos – e só o Nacional se confirmou – são a consequência dessa atitude, porque o clube já teve também titulos que muitos adeptos esqueceram porque não tiveram uma referência emocional a que se agarrar.
Tudo isso está, naturalmente, muito bem. E desfrutar com Falcao, Hulk, Moutinho, Helton, Varela e companhia é um luxo que ficará nos livros de história. Mas aqui vivemos o problema do mediatismo que pauta a sociedade contemporânea do agora. Os mesmos que não têm problemas em catalogar o Barcelona e Messi como os melhores de sempre, os que defendem Mourinho como o maior da história, são aqueles que se deixam, muitas vezes, levar apenas e só pela realidade conjuntural. Ás vezes por convicção, outras por desconhecimento. Mas já havia futebol, e do bom, antes do agora. E na história do FC Porto, em concreto, houve futebol de primeira classe mundial nos últimos trinta anos em várias ocasiões. Em momentos chave da história do clube. Equipas que definiram a razão de ser deste clube. E por isso dizer que esta equipa, que herdou uma estrutura e uma cultura ganha com suor e sangue no passado, é a melhor de todas elas é, talvez, ignorar o árduo trabalho de outros dias. Porque essas equipas não viveram com o maior orçamento desportivo de sempre, não beneficiariam de uma politica activa de entradas no mercado. Porque essas equipas não herdaram a estrutura mais sólida do futebol português nem sequer disputaram uma liga cada vez mais desiquilibrada e anémica. Essas equipas fizeram história ultrapassando adversidades que este magnifico plantel nunca encontrou, por muito que o imprensa tente vender a excelência do rival.
(continua)
Nota final: O 'Reflexão Portista' agradece ao Miguel Lourenço Pereira a elaboração deste artigo (1ª parte).
Foto 2: José Sena Goulão
Boa contratação. Esse Miguel joga bem de cabeça!
ResponderEliminarEu não gosto de comparações nem as faço...
ResponderEliminarCada equipa, na sua época, vale por si.
Não há uma melhor que a outra ... São todas fantásticas...
Fazer isso é perigoso e injusto para quem fica de fora...
Para mim não há perigo nenhum. É só um comentário pessoal.
ResponderEliminarEsta equipa do Porto é a que mais me tem impressionado, será a melhor de sempre? Talvez não mas ficará para sempre na minha memória como uma das melhores.
Para mim o melhor FC Porto da história é e continuará a ser a equipa de José Mourinho das épocas 2002-03 e 2003-04. Não tenho grandes dúvidas em relação a isso. Foi a equipa mais forte, aquela que antes dos jogos me transmitia maior confiança na vitória, capaz de vencer a todos os adversários que lhe aparecessem.
ResponderEliminarLogicamente que este FC Porto de Villas-Boas está a fazer uma campanha soberba e não fica muito atrás. Mas a equipa de Mourinho continua a ser, do meu ponto de vista, inigualável.
Obrigado aos quatro pelo feedback,
ResponderEliminarNa minha opinião particular esta equipa forçosamente já é parte da história do clube e poderá sê-lo ainda mais se vencer as duas provas que faltam conseguindo o seu triplo da nossa história. Mas como desenvolvo na segunda parte há aspectos que fazem com que este projecto tenha especificidades muito próprias que não estiveram presentes nas outras, quase aceites de forma comum por todos nós, grandes equipas do FCP.
Um abraço