sexta-feira, 29 de junho de 2012

O ovo e a galinha

O que apareceu primeiro: o ovo ou a galinha?
Esta eterna questão vem-me à cabeça a propósito de um lugar-comum sobre a qualidade da seleção nacional de países com um elevado número de jogadores estrangeiros, e em particular a Inglaterra. Diz-se nomeadamente que a seleção inglesa é medíocre porque há muitos estrangeiros a jogar na Premier League.

Ora parece-me que em grande medida se está a ver a coisa ao contrário... se não há mais ingleses na Premier League é porque não serão grande coisa e acima de tudo porque o poderio financeiro dos clubes ingleses é imenso, podendo escolher jogadores com qualidade pelo mundo fora.

Para a valia da seleção nacional só interessa o valor dos, digamos, 20 melhores jogadores nacionais; ora apesar do elevado número de estrangeiros ainda há, apesar de tudo, pelo menos 200 jogadores ingleses inscritos na Premier League. 

Ou seja: quem sofre com o poderio financeiro dos clubes da Premier League são os jogadores ingleses que são fracos ou medíocres (que se vêem assim relegados em muitos casos para escalões inferiores), não os bons que terão sempre a sua oportunidade. Mais: para esses, treinando e jogando ao lado de (e contra) excelentes jogadores estrangeiros têm a oportunidade de evoluir mais do que em outros campeonatos em que os estrangeiros são em grande parte de 2a ou 3a categoria.

Para a qualidade da matéria prima nacional interessa acima de tudo o número de praticantes (não é por acaso que os países populosos e com muitos praticantes costumam açambarcar a maior parte dos lugares nas meias-finais de Euros e Mundiais, mesmo havendo raras excepções) e a qualidade da formação (seguidos da qualidade das equipas e campeonato onde os jogadores jogam, seja no próprio país seja no estrangeiro). Os jogadores promissores saídos da formação terão sempre a sua oportunidade de evoluir e se afirmar nos seniores (e ainda mais em Inglaterra do que por exemplo em Portugal, onde os dirigentes muitas vezes gostam de ir passear principalmente para o Brasil a pretexto de contratações).

Falando da nossa própria seleção, termino com uma questão para ilustrar o meu ponto: nos últimos 20 anos o número de estrangeiros no campeonato português é muitíssimo mais elevado do que anos 70 ou 80; será a nossa seleção mais fraca (comparando com a concorrência) no século XXI do que era nessas décadas? Não, bem pelo contrário.

2 comentários:

  1. Não só a seleção é mais forte, como os jogadores e os clubes.
    Aqueles que querem andar com limites ao número de estrangeiros, além de xenófobos querem destruir tudo o que foi alcançado.

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  2. Concordando com a generalidade do artigo, apenas acho que no nosso caso não seria mau se a FPF cria-se mecanismos que permitissem a transição e integração dos jovens para as camadas seniores. Falo nomeadamente da proibição de utilização de estrangeiros nos campeonatos não profissionais, ou seja, da 2ª B para baixo.

    Além de não fazer sentido nenhum existirem legiões de estrangeiros a actuar em divisões inferiores, esse espaço poderia ser aproveitado para abrir vagas aos que ascendem das camadas jovens. Isto num contexto particularmente importante, como são os clubes locais, responsáveis em grosso modo pela formação nosso país.

    Deste modo nem seriam afectados os campeonatos profissionais (1º Liga e Liga de Honra) com medidas restritivas sobre estrangeiros e conseguia-se, ao mesmo, dar espaço para os jovens poderem integra-se paulatinamente ao ambiente senior das competições.

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