Uma enorme parte dos custos da FCP SAD reside na rubrica menos compreendida pelos adeptos, nomeadamente os FSE (Fornecimentos e Serviços Externos).
No entanto é importante entender isto porque hoje em dia gastamos basicamente tanto em FSE (36 milhões/ano, resultados consolidados) como em custos com jogadores & treinadores (salários e bónus de todos os jogadores e treinadores sob contrato, num total de 38 milhões em 11/12), o que me parece um franco exagero.
Em geral não me parece de todo que a «máquina» do FCP seja hoje muitíssimo mais profissional do que era há 10 anos atrás, quando estes custos eram 3x mais baixos (11M em 02/03), e já descontando os custos de Corporate Hospitality (explico mais adiante porquê). Mas antes de mais nada, explicações do que se fala ao certo...
Basicamente e de uma forma simples, esta rubrica consiste em despesas correntes da «máquina administrativa» pagas a outrém (i.e. a empresas, pessoas e entidades fora da SAD). Inclui no entanto custos extremamente variados (de viagens a serviços de consultadoria, passando por rendas ao FCP clube) , muito deles com pouca ou nenhuma informação pública, sendo em alguns pontos específicos uma espécie de «caixa negra».
Uma clarificação à partida é que as comissões na compra e venda de passes não entram em FSE, mas sim em «operações com passes». Por exemplo, se se pagar 10 de comissão na compra do jogador X, esse valor vai ser incluído na amortização do seu passe (rubrica totalmente distinta de FSE). No entanto, outro tipo de comissões já entram em FSE, incluindo por exemplo eventuais comissões relacionadas com «serviços de prospeção de mercado» (e com um bocadinho de imaginação pode-se decidir colocar algumas comissões aqui ou nos passes, sendo a fronteira bastante fluida).
Os FSE têm vindo a subir imenso ao longo dos anos, como se vê no pequeno quadro ao lado. De assinalar no entanto que grande parte dessa subida explica-se por mudanças na contabilização de algumas despesas; mas outra parte considerável... nem por isso.
Só a partir da época 08/09 é que a SAD passou a apresentar um breakdown dos FSE, sendo por isso quase impossível fazer comparações com épocas anteriores (quando os FSE eram apenas 1/3 do que são hoje). Apresento de seguida uma tabela comparativa entre 11/12 e 08/09, com o disclaimer que é impossível que seja 100% apples-to-apples porque mesmo nos últimos 3 anos houve alguns tratamentos diferentes para algumas despesas; fiz algumas adaptações de forma a poder comparar melhor, mas mesmo assim é imperfeito.
Mas antes disso, algumas clarificações importantes:
1) «Corporate Hospitality»: custos relacionados com a exploração comercial do estádio para empresas (camarotes e outros lugares).
<2 .="." b="b">Trabalhos especializados2>
3) «Subcontratos»: consiste principalmente em pagamentos ao FCP clube pela utilização do centro de treinos, mas também outros custos não explicitados.
4) «Outros fornecimentos e serviços»: a SAD não diz adianta nenhuma descrição do que está aqui incluído.
A maior diferença temporal no tratamento reside nos custos de Corporate Hospitality. Anteriormente a SAD registava nas contas apenas o lucro liquído da operação, nos proveitos; agora registra tanto os custos como os proveitos (os proveitos de 10M nesta rubrica são portanto a outra face da moeda dos 8M de custos). Por isso mesmo incluo na tabela um subtotal para FSE excluindo estes custos, de forma a fazer uma comparação justa.
Para além disso, «rendas e alugures» subiram imenso aparentemente devido a uma mudança contablística/operativa (anteriormente era a Porto Estádio que cobrava as rendas internas, agora é o FCP clube). Porque se mudou isso, não faço ideia.
Passo agora às minhas considerações pessoais:
1) No que diz respeito a Corporate Hospitality, nunca entendi nem entendo porque é que é preciso gastar muitos milhões (8M). À partida (e é possível que seja apenas uma questão de desconhecimento) eu esperava que esta rubrica fosse uma autêntica «cash cow» com custos muito baixos associados à gestão dos camarotes e outros espaços para as empresas (champanhe, uns canapés & tal J), estando o espaço disponível. Será que as senhoras que servem as bebidas e canapés são modelos topo de gama com um cachet a la Giselle Bundchen J?
2) Verifico com agrado que se conseguiu em 3 anos diminuir um pouco custos associados com honorários, conservação e renovação, vigilância e segurança, e material desportivo. No entanto essa diminuição não passa de «amendoins» no cômputo geral, em que as subidas foram muito mais consideráveis.
3) Custa-me um pouco entender que se gaste imensos milhões em honorários e serviços vários de consultadoria (espalhados por várias rubricas), quando 1) esta área era quase inexistente há uma década atrás e 2) quando a actividade da SAD é relativamente simples para uma empresa desta dimensão. Aliás, seria de esperar por exemplo que após os anos «Apito Dourado» as despesas com advogados tivessem descido bastante.
4) Apesar de ser uma rubrica relativamente pequena, admira-me que os nossos directores e funcionários precisem de gastar 640mil anos em despesas de representação (e quando as despesas com deslocações junto da equipa já estão naturalmente contabilizadas em outra rubrica). Para colocar em perspectiva: este valor é por exemplo equivalente a umas 500 viagens de avião em classe executiva dentro da Europa. Já agora, como curiosidade o slb gastou 360mil nesta rubrica em 10/11.
5) Custa-me também entender que faça sentido para o FCP gastar quase 5M em publicidade e propaganda, correspondendo a uma % muito significativa das receitas de bilheteira e merchandising. Isto quando a procura da parte dos adeptos é relativamente inelástica (será que a venda de camisolas ou bilhetes aumentou uns 40 ou 50% só por causa da publicidade, de forma a compensar os tais 5M?), e quando hoje em dia há maneiras bem eficazes e baratas de comunicar com o público-alvo (nomeadamente email, Facebook e outros meios por internet).
6) Constato como curiosidade que a SAD do Braga na época passada gastou 5M em FSE. É 100% verdade que o Braga é um clube de outra dimensão (e há diferenças contabilísticas, como Corporate Hospitality) e portanto difícil ou injusto como base de comparação, mas há várias áreas de FSE em que os custos não deviam ser tão diferentes como isso entre eles e nós (como deslocações e estadias, despesas de representação, alguns serviços de consultadoria e auditoria, electricidade, material desportivo, etc); custa-me portanto a crer que se justifique que os nossos FSE sejam 7x mais elevados do que os deles. Quanto ao slb, ainda não vi o R&C deles para 11/12; no ano anterior os seus FSE tinham sido de 22M.
Para concluir: a informação dada pela SAD sobre FSE é muito escassa (embora melhor do que no passado, o que é de louvar), continuando esta a ser em boa medida uma espécie de «caixa negra» (embora não tanto como muitos adeptos pensam, e espero que este artigo tenha servido para os esclarecer um pouco). Por consequência é difícil fazer análises detalhadas e ha' mais duvidas do que certezas.
Uma coisa é certa: a haver «sacos azuis» nas SADs, é principalmente aqui, nos FSE, que eles estarão camuflados (seja num FCP seja num slb ou noutra SAD).
Uma coisa é certa: a haver «sacos azuis» nas SADs, é principalmente aqui, nos FSE, que eles estarão camuflados (seja num FCP seja num slb ou noutra SAD).
Bom artigo.
ResponderEliminaro que me custa mais a entender são mesmo os 5.3M em publicidade.
Concordo com o facto de a procura ser relativamente inelástica e além disso acho que o Porto não joga um futebol suficientemente atractivo nem se preocupa suficientemente com a hospitalidade (criar boas experiencias a quem decide ir) para investir tanto a tentar chamar novos publicos.
Será que estes 5.3M não davam para ir buscar um treinador decente??
PORTISTA ATENTO
EliminarDecente não sei; mas melhor que do que o V.Pereira, até 1€ já chega.
Não sou, nem nunca fui, um grande fã do Vítor Pereira mas, se ele fosse assim tão mau, teria ganho o campeonato da época passada?
EliminarE, este ano, sem poder contar com o "abono de família" das últimas épocas (Hulk), estaria em 1º no campeonato e quase apurado para os oitavos da LC?
A maior diferença temporal no tratamento reside nos custos de Corporate Hospitality. Anteriormente a SAD registava nas contas apenas o lucro liquído da operação, nos proveitos; agora registra tanto os custos como os proveitos (os proveitos de 10M nesta rubrica são portanto a outra face da moeda dos 8M de custos).
ResponderEliminarEsta mudança contabilística permite inflacionar os Proveitos Operacionais em cerca de 8 milhões de euros, correcto?
E contribui para que a Administração da SAD afirme o seguinte:
«A Sociedade continua dentro do valor recomendado pela UEFA (70%) para o rácio Salários vs. Proveitos Operacionais, excluindo resultados com passes de jogadores»
Sim, bem visto.
EliminarDe uma penada com a mudanca de contabilidade de Corporate Hospitality, o racio "salarios / proveitos operacionais" desceu uma % consideravel, porque o denominador aumentou artificialmente.
E' bem possivel q tenha sido precisamente essa a razao para a mudanca na contabilidade desta rubrica. A SAD nao anda a dormir, isso e' inegavel :-)
Pois... não anda a dormir mas habilidades destas acabam sempre por dar maus resultados.
EliminarA seguir, que mais virá?
Incorporar o "Dragão" no activo?
E a seguir?
Bem visto... mas foi por causa de "habilidosos" e "habilidades" deste tipo que a Troika entrou em Portugal.
EliminarNo que diz respeito a Corporate Hospitality, nunca entendi nem entendo porque é que é preciso gastar muitos milhões (8M)
ResponderEliminarPara além do champanhe, canapés, leitão, etc., penso que também estarão incluídos os custos com outras mordomias a que os detentores de camarotes têm direito. Por exemplo, bilhetes e viagens de avião nas deslocações ao estrangeiro.
Mas estou de acordo que, mesmo assim, me parece um valor exagerado.
Para mim este e' o maior misterio, de longe. Por mais que puxe pela cabeca nao compreendo como se possa gastar 8M nisto.
EliminarPelos bilhetes e viagens ao estrangeiro aos detentores dos camarotes nao sera' de certeza (basta constatar que 1M ja' chegava por ex para umas 1000 viagens de aviao em classe executiva).
Bem vou deixar aqui uma pergunta; quanto custará uma viagem ida e volta para duas pessoas até ás ilhas Caimão?
EliminarCusta-me também entender que faça sentido para o FCP gastar quase 5M em publicidade e propaganda
ResponderEliminarEm que sub-rubrica é que surgem as despesas da SAD com o Departamento de Comunicação (Porto Canal, revista Dragões, etc.)?
Porto Canal e Dragoes: presumo que nas contas do FCP clube, e nao da SAD.
EliminarNo entanto as despesas de comunicacao especificas 'a SAD aparecem na rubrica com esse titulo "comunicacao" (520mil euros), que na tabela inclui' junto com "publicidade e propaganda" porque muitas vezes e' dificil descortinar onde acaba a comunicacao e comeca a propaganda ou publicidade ;-)
Porto Canal e Dragoes: presumo que nas contas do FCP clube, e nao da SAD
EliminarAquando da contratação do Júlio Magalhães, tenho ideia de ter lido duas coisas:
1º) Que o contrato do Júlio Magalhães era com a SAD e não com o Porto Canal;
2º) Que a participação do FC Porto no Porto Canal era feita através da SAD e não do clube.
Contudo, saliento que não tenho a certeza em relação a esta informação.
Os FSE estão completamente fora de controlo. Não é admissível um crescimento desta ordem, ainda para mais tendo em conta que não houve um crescimento equivalente do lado dos Proveitos Operacionais, donde se pode concluir que metade desses FSE não criaram valor.
ResponderEliminarÉ preciso cortar em pelo menos 50% os custos com a rubrica Publicidade, Comunicação e propaganda.
Bem, algo nao bate certo quando os FSE da FCP SAD sozinhos sao por si so' equivalentes a 2x o orcamento TOTAL de um Braga.
EliminarClaro que só podem estar fora de controlo. Pois só assim se consegue sacar algum sem saber para quem e para quê. Infelizmente
Eliminarsó assim se consegue sacar algum sem saber para quem e para quê
EliminarÉ fácil escrever coisas destas sob anonimato.
É mais difícil dizer algo de concreto, sustentado em factos, ou em informações minimamente credíveis, e assinar com o próprio nome.
E ontem ficou a saber-se que, a acrescentar aos prejuízos da SAD temos mais 10 milhões do Club.
ResponderEliminarMas como as contas foram aprovadas por unanimidade, eu devo estar louco e não há motivo para preocupações.
Cá para mim, cada vez estou mais convencido que alguém estará a pensar que "quem vier depois de mim que feche as portas e apague a luz"...
só se for no estádio da luz ha ha ha... agora mais a sério... também eu estou totalmente convencido que é isso que vai acontecer.
EliminarBoa tarde,
ResponderEliminarOs relatórios e contas se não especificarem os itens têm esse problema.
As empresas cotadas (no PSI20) a sua maioria possui um departamento de auditoria interna que analisa as boas práticas contabilísticas, reportando diretamente à administração e obrigatoriamente o ROC valida (ou não) esse relatórios emitindo pareceres sobre o mesmo.
Num grupo normalmente existe o relatório consolidado o qual transmite uma melhor fotografia do balanço (veja-se a confusão que vai no clube dos chifrudos).
Relativamente aos serviços transversais ao grupo (neste caso ao FCP) essas rubricas normalmente são extrapoladas pelas empresas do grupo (exemplo ou custos ou investimentos)
Assim sendo a publicidade/promoção deve ser repartida pela SAD e pelo clube.
Uma das práticas mais comuns nas empresas portuguesas para remunerarem os dirigentes (para se fugir ao IRS) atribuem cartões de créditos, viaturas (normalmente em leasing), telemóveis… e tudo isso normalmente entra nos FSE (despesas de representação e afins).
Por isso é que nas empresas societárias o Rel e contas têm que ser aprovado nas assembleias gerais pelos seus acionistas (pelo vistos os chifrudos são uma exceção).
SEMPRE PORTO
De qualquer forma é muito dinheiro sem que veja justificação para tal! ou não é assim?
Eliminar5 Milhões em publicidade para termos o estádio num jogo da liga dos campeões a metade da lotação. Podiam gastar zero e por os bilhetes mais baratos tinham o estádio cheio e ainda ficavam a ganhar.
ResponderEliminarEstas contas revelam aquilo que para maior parte sempre foi claro apesar de se tornarem SAD os clubes de futebol não tem qualquer vontade se tornarem empresas viáveis e assim caminham todos para o abismo que chegara um dia, mais cedo para uns como o Sporting mas para mim parece inevitável, os parasitas que rondam os clubes lá ficaram com os seus milhões e caberá aos sócios reconstruirem os clubes do descalabro.
Completamente de acordo. Por isso é que as vitórias são tão importantes, pois só desta forma é que os sócios deixam que aqueles que se aproveitam dos clubes por lá continuem. Quando começam as derrotas é que começa o problema, começam a ser postos em causa e arriscam-se a ter que dar lugar a outro e normalmente o outro que vem a seguir quer ver as contas auditadas e ai pode ser o principio do fim.
EliminarSou um curioso dos números e um aluno atento.
ResponderEliminarConstatei que os FSE (34.870m€) que constam do artigo são reportadas do RC consolidado.
Nas contas da SAD do FCP esse valor é apenas de 16.084m€, e é esse que suponho ser sujeito a votos dos accionistas.
Assim, se houve alguma "transferência", foi certamente de custos da SAD para outras empresas do universo do FCP.
Se foi esse o engenho para cumprir as metas do fair play financeiro, até percebo, embora reconheça que as mudanças têm de ser estruturais e, já sabemos, por experiência, que teremos de mexer nos custos (contratações e remunerações). O que deixa, outra questão: será que o mercado vai deixar de seduzir (ainda que na mera condição de entreposto) face a esses inevitáveis constrangimentos e ao aumento dos impostos?
Deixava ainda outra pergunta: em que rubrica cabe "o serviço da dívida pela construção do estádio"?
O "serviço da dívida" deverá ser encontrado nas contas da "Porto Estádio", assim como o investimento na "Porto Canal" deverá constar das contas da "Porto Multimédia".
EliminarSerá possível obter os "R&C" destas empresas e colocá-los aqui?
Algum comentário à antecipação de receitas das transmissões televisivas?
ResponderEliminar"Por seu
turno, o saldo registado na rubrica “Outros passivos correntes e não correntes” em 30 de
Junho de 2012 corresponde, essencialmente, ao adiantamento recebido pela Sociedade da
referida entidade relativamente aos direitos acima referidos aplicáveis à época 2012/13 e
2013/14, assim como a facturação antecipada à mesma entidade relativa a direitos de
transmissões televisivas para as épocas 2014/15 a 2017/18 (Nota 21)"