Depois de comentar os proveitos da SAD, passemos então aos custos.
Comecemos pelos custos ditos «Operacionais» (que excluem acima de tudo a amortização dos passes de jogadores e juros nos empréstimos). À primeira vista, estes custos aumentaram cerca de 5M€ (ou 6%) em 12/13; na realidade, aumentaram cerca de 0.5M€ (ou menos de 1%), já que a contabilização para Corporate Hospitality mudou.
Por outro lado há uma diminuição de cerca de 3M€ que, embora seja uma diminuição concreta para a SAD, não o é para o FCP no seu cômputo geral, já que foram encaminhados de forma pouco compreensível para o clube (nomeadamente em FSE e no que diz respeito a receitas de publicidade para as amadoras, de que já falei aqui).
Apesar do aumento destes custos ter sido muitíssimo mais suave em 12/13, continuamos na linha da trajectória ascendente da última meia dúzia de anos (estes custos duplicaram neste período, ou seja aumentaram quase 50M€/ano em relação a 07/08, o que é um pouco preocupante).
A rubrica mais importante nestes custos operacionais é os chamados «custos com o pessoal» (o que exclui a amortização dos passes dos jogadores). Esta rubrica subiu 4.5M€ (ou 9%) em relação ao ano anterior (e cerca de 60% em relação à época de 06/07), para 54M€; apesar do orçamento inicial até ter previsto um corte considerável. Segundo a explicação dada no R&C, isto terá sido devido à criação da equipa B e a um «investimento» [em salários, subentende-se] no plantel A. No que diz respeito à equipa B, isso explica também o aumento do número jogadores remunerados pela SAD de 39 para 52.
No entanto isso só explica uma pequena parte desse aumento, já que pelos dados publicados dá para ver que apenas 1.8M€ do aumento teve lugar na remuneração de atletas/técnicos/médicos (para um total de 40.7M€ em 12/13). Já os restantes custos com o pessoal aumentaram 25% (!) para um total de 13.4M€: +0.7M€ na remuneração dos 4 administradores executivos, +1M€ (quase 20%) nos restantes funcionários da SAD e +0.5M€ (para 5.2M€) em seguros de acidente e outros encargos.
No que diz respeito aos administradores executivos (que receberam em média 640mil euros cada um), de assinalar que 100% dos seus rendimentos foram fixos, o que não me agrada. Penso que um salário base de 1/3 desse valor seria mais do que adequado (o que ainda daria uns jeitosos 15,000€/mês nem que ficássemos em 3o lugar no campeonato, o que já é óptimo para quem estiver lá por amor ao clube) com uma forte componente variável e generosa (que poderia ultrapassar de longe o salário base) em função dos resultados desportivos da equipa e da sustentabilidade financeira da SAD.
No que diz respeito aos restantes funcionários (administrativos e vendedores das lojas), não compreendo um aumento de 20% nos custos quando o seu número aumentou 4% (mais 3 vendedores de lojas e 1 administrativo do que um ano antes, num total de 153 pessoas). De assinalar que isto já exclui os encargos com os salários (por ex segurança social), contabilizados noutra rubrica. Pelos vistos o «aperto» que a maioria dos portugueses vivem não chegou à máquina da SAD, longe disso.
Passemos à 2ª rubrica mais importante em custos operacionais, os FSE (Fornecimentos e Serviços Externos): contabilisticamente estes subiram 7% para um total de 37.5M€ (mais do que as receitas de TV, UEFA e Dragon Seat combinadas...), mas na realidade desceram cerca de 1M€ ou 2.5% (fruto da tal mudança de tratamento contabilístico de Corporate Hospitality de que falei anteriormente).
Os FSE teriam continuado a subir tal como nos 4 anos anteriores – há 4 anos eram cerca de metade do que são hoje, ou seja subiram quase 20M€, dos quais só uma pequena parte se explica devido a mudanças no tratamento contabilístico... – não fosse terem deixado de passar ao clube cerca de 3M€ de receitas relacionadas com suportes publicitários para as modalidades, como já mencionei anteriormente. Pela positiva parecem ao menos ter estabilizado um pouco, mas a um valor muito elevado – é pena que também aqui (tal como nos custos com pessoal) as intenções públicas de contenção não tenham tido qualquer tradução na prática.
Já agora, para já não vejo qualquer efeito prático positivo da criação da «FCP Serviços Partilhados», que era suposto gerar sinergias consideráveis no grupo.
Já agora, para já não vejo qualquer efeito prático positivo da criação da «FCP Serviços Partilhados», que era suposto gerar sinergias consideráveis no grupo.
Para além dos custos operacionais, há ainda duas grandes rubricas de custos: antes de mais as «amortizações e perdas de imparidades com passes de jogadores».
Relembro que o que pagamos em passes não entra de uma só vez na demonstração de resultados, sendo sim amortizados ao longo do número de anos de contrato com o jogador, tendo portanto um efeito ao retardador considerável. Em 12/13 este valor desceu consideravelmente de 36.3M€ para 26.5M€ - nem tanto porque a SAD tenha gasto menos em passes em 12/13 como explica no R&C (afinal de contas gastámos 46.5M€ em passes em 12/13, um dos valores mais elevados da história da SAD...), mas também em boa parte porque nos «livrámos» de enormes amortizações dos passes de Hulk, A. Pereira e em muito menor medida James e Moutinho ao vendê-los (daí também que as mais-valias nessas vendas não tenham ultrapassado 65% do valor bruto). A evolução não deixa de ser positiva, muito embora estes custos continuem consideravelmente acima dos 20M€ de há 5 anos atrás, fruto do enorme investimento em passes nos últimos 4 anos (em que a média tem andado superior a 40M€/ano, o suficiente para nos incluir no top15 europeu).
Finalmente, temos os custos financeiros, nomeadamente o que pagamos em juros no serviço da dívida. Esta rubrica – um pesado fardo que «suga» recursos da SAD - ultrapassou pela primeira vez os 10M€ em 12/13, fruto do aumento da taxa de juro média (anda em 8.5%, contra 7.6% um ano antes) mas também do considerável aumento do recurso aos empréstimos nos últimos anos (103M€ em Julho quando era de 81M€ há 5 anos).
Análise
Se - como disse no artigo anterior - penso que a SAD tem feito bom trabalho nas receitas, já do lado dos custos penso que há ainda muito por onde melhorar, e em várias rubricas. Para já os números indicam que se o país em geral tem apertado o cinto nos últimos anos, não se vislumbra esforço idêntico da parte da SAD, apesar de algumas declarações de intenções inócuas: gastamos hoje muito mais do que antes da crise eclodir.
Para começar penso que deveria ser estabelecido o objectivo de reduzir o passivo financeiro (empréstimos) para metade nos próximos 3 anos (não de uma assentada, o que penso ser contraproducente), de forma a passarmos a poupar uns 5M€/ano em juros (e não me parece nada provável que a taxa de juro baixe consideravelmente nos próximos tempos, até porque a banca começa a restringir os empréstimos ao mundo do futebol). Para tal será preciso cortar um pouco em outros custos e reinvestir um pouco menos em passes o dinheiro encaixado nas vendas, encaminhando assim uns 15M€/ano para o abate de empréstimos.
Passando a custos com pessoal (excl. jogadores) e FSE, parece-me que deveria ser possível reduzir estas rubricas em 10% ou perto disso (o que se iria traduzir também numa poupança de cerca de 5M€/ano) sem ser necessário cortar no «músculo».
Falando finalmente de jogadores (passes e massa salarial), penso que a SAD devia contratar em menos quantidade (em média contratamos uma dúzia de jogadores por ano) apostando mais na prata da casa ou jogadores baratos saídos do campeonato português e gastando muitos milhões apenas nas posições menos bem preenchidas, tal como num plantel 2 ou 3 jogadores mais curto (recorrendo a um ou outro jogador da equipa B para preencher as convocatórias, se necessário).
Sabe-se à partida que todos os anos há apenas uns 15 jogadores utilizados com alguma regularidade, daí parecer-me exagerado ver dezenas de milhões de euros em passes e salários «empatados» no banco e na bancada como temos tido nos anos mais recentes (e muito ao contrário do que acontecia antes); para dar apenas um exemplo, penso que o 4º central poderia perfeitamente ser um jogador da equipa B (ou pelo menos ex-equipa B). Para ser claro, não defendo um corte drástico ou uma inversão drástica na gestão da SAD - penso que com um corte relativamente suave no investimento em jogadores (digamos, uns 10 a 20%) e tendo uns 4 jogadores «prata da casa» no plantel seria possível controlar as contas sem comprometer a competitividade desportiva da equipa, havendo ainda muito espaço para investir nos Jacksons ou Quinteros deste mundo.
Haveria no entanto algum risco nesse ajustamento de gestão? Haveria sempre sim senhor, muito embora se for feito com inteligência (e afinal de conta temos gestores com muito «know how» desportivo) será muito pequeno. Mas, meus caros... sem tal ajustamento há risco na mesma, nomeadamente de fazer a SAD «sangrar» constantemente em juros de dívida e também – acima de tudo - de eventualmente dar um «estouro» financeiro *e* desportivo em anos que corram mal desportivamente e/ou em vendas de jogadores (o que não depende só de nós, longe disso). E parece-me que esse risco é mais elevado.
PS – deixo para um último artigo da série alguns dados curiosos soltos do R&C.
Ora bem, vou mandar o meu currículo para a SAD do Porto. Pelos vistos é a única empresa em Portugal que está a dar aumentos e logo na ordem dos 20%.
ResponderEliminarPelos vistos estamos a viver à grande, assim vale a pena.
Enfim, são muito preocupantes essas verbas com FSE e custos com pessoal, sabendo-se ainda por cima que 50% dos funcionários do grupo FC Porto estão em funções que dão lucros irrisórios ou até prejuízos (já que temos valores de merchandising, entre outros baixíssimos).
Precisamos de aumentar o pessoal este ano para quê exactamente?
A ideia que me fica, por muito errada que possa ser, é que sabendo-se do agravamento do estado de saúde de PdC, há gente na SAD a querer aproveitar muito bem os seus últimos tempos. Este ano se ficarmos em 3º eles recebem o mesmo que no ano passado sendo campeões. Ridículo!
Há uma observação que me esqueci de fazer no artigo.
ResponderEliminarEu mencionei q a criação da «FCP Serviços Partilhados» (q está fora do perímetro de consolidação das contas da SAD) não parece para já ter criado as sinergias desejadas, já que não vejo um decréscimo nos custos de FSE.
Mas há outro ponto: o # de funcionários administrativos da SAD aumentou em uma pessoa, e sem ter acesso a dados da «Serviços Partilhados» (uma espécie de caixa negra para mim) estou certo q tem funcionários, e q em princípio alguns desses funcionários teriam transitado para lá da SAD - o q leva a perguntar porque diabo é q o # de funcionários da SAD não diminuiu.
Apesar de acompanhar DIARIAMENTE este fantastico blog, nunca comentei, mas hoje, devido a um misto de preocupaçao (com algumas coisas que li) e admiraçao (pelo brilhantismo da analise e clareza da apresentaçao - sempre util para "leigos" como eu), aqui estou a dar os parabéns e a agradecer o trabalho prestado a todos os que amam este clube. Continuem nesta linha!
ResponderEliminarParabéns pelo artigo muito esclarecedor e que deveria levar a um debate mais abrangente por parte de todos os portistas. Porém, a julgar pela quantidade de comentários este tema deve interessar pouco.
ResponderEliminarCumprimentos
Muitos parabéns e muito obrigado pelos artigos! É, de facto, uma grande ajuda para pessoas como eu, que não estão muito à vontade com estas análises económicas/financeiras. Mais uma vez muito obrigado e um abraço para todos!
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