quarta-feira, 31 de maio de 2017

O complexo de inferioridade do novo "velho" Dragão

Há quem pense que o pior dos últimos quatro anos tenha sido a ausência de títulos para o Futebol Clube do Porto. Não é. O pior é a constatação da incompetência recorrente e da cobardia de quem dirige os destinos da instituição perante várias situações transversais que têm condicionado os resultados apresentados pelo clube. O FC Porto perde títulos por muitos motivos mas um dos mais importantes é, sem dúvida, que passou a ser gerido como o clube pequeno, de mentalidade pequena, com gestores pequenos e de ambições e objectivos pequenos como era antes de 1976. Não foi por casualidade que o clube viveu um longo deserto de títulos entre Guttman e Pedroto. É muito fácil e prático culpar o "Regime" desses anos negros mas o certo é que durante o "Regime" o FC Porto venceu vários troféus incluindo todos os títulos nacionais que ostentava. Não, a ausência, em muitos casos, desses títulos devia-se muitas vezes à gestão pequena e complexada dos seus dirigentes, capazes de despedir um treinador e irradia-lo do clube quando este está a forjar uma equipa ganhadora ou de dar sucessivos tiros nos pés na escolha de jogadores ou técnicos. O mesmo cenário do presente com o simbolismo tão doloroso para qualquer portista que alguns dos homens que acabaram com esse ciclo nefasto presidam agora a uma repetição da História.

O caso do baile de nomes de treinadores é só mais um exemplo. Nuno nunca esteve implicado no Porto, como se disse tantas vezes, porque era um homem que sabia que à mínima ia sair do clube amparado pelo seu agente e amigo que tão bem o colocou num emblema do seu império. Que o treinador com quem o Porto quis ser campeão acabe na segunda divisão inglesa, um lugar de acordo com a sua valia, diz muito da narrativa do último ano. O Porto hoje é rejeitado pelos Marco Silvas da vida, técnicos que não são ninguém no mundo do futebol mas que já perceberam que a gestão negativa do Porto não vai ajudar em nada as suas carreiras. Alguns comentadores a soldo querem atirar areia para os olhos dos adeptos dizendo que há filas e filas de nomes conceituados a pedir de joelhos para treinar no Dragão, algo coerente com a colecção de fracassos pos-Vitor Pereira e que será devidamente explicado - ou não - quando Sérgio Conceição, amigo intimo do filho do Presidente e um treinador de terceiro nível, apareça com o seu discurso do "Somos Porto versão Até os Comemos Carago que eu Parto isto Tudo". Comer a relva em campo e querer comer a relva desde o banco nunca funciona como sabem bem aqueles que conheceram os treinadores de maior êxito na história do clube, futebolistas finos como Pedroto, Artur Jorge, Bobby Robson ou mentes analíticas como José Mourinho e André Villas Boas. Sim Sérgio, és o exemplo desta mentalidade desencontrada por muito respeito te tenhamos todos!



O que mais indigna neste circo em que se tornou o quotidiano do FC Porto é a cobardia da sua gestão.
O silêncio confrangedor em momentos em que o clube é expoliado por quem antes levantava as pedras da calçada, a entrevista da praxe ao menor sinal de coisas boas para colocar medalhas no peito, continua tudo lá. Mas o que preocupa verdadeiramente e o que dá sinais de desnorte ou de absoluta e nefasta mediocridade é quando o FC Porto decidiu deixar de se preocupar consigo mesmo e passou a querer ser uma réplica anedótica dos clubes do sul, com o vitimismo sagrado do Sporting e o complexo de perseguição do Benfica. Para atirar areia aos olhos dos sócios e adeptos, como esses clubes tantas vezes fizeram, a autocritica desapareceu do FC Porto para dar lugar a uma bipolaridade confrangedora que, ainda para mais, se beneficia do silêncio oficial do clube, amparando-se assim na desculpa de que os adeptos é que são a voz desse descontentamento. Nesse cenário de atirar as culpas para os outros há desde a tentativa de criar um novo modelo de cartilha azul e branco - o Porto sempre teve os seus jornalistas e comentadores encartilhados, como qualquer outro clube - á anedótica criação de uma página de supostos "portistas" que se quer transformar num espaço de defesa do clube, na ausência da disposição deste. Essa página, criada há semanas no Facebook, quer aparecer como um acto espontâneo de revolta quando transpira a encomenda por todos os poros e surge no seguimento de uma mudança na política de comunicação que faz de um programa televisivo semanal o novo livro de queixinhas do "portismo". Em ambos casos o silêncio de Pinto da Costa é substituído pelas criticas dos seus novos lacaios, oficiais ou não, que em nenhum momento parecem estar interessados em discutir o que está mal com o clube - algo evidente aos olhos de todos - para desviar atenções ao que outros clubes fazem. Ninguém vai questionar a estas alturas o tamanho gigantesco do "Polvo" - aliás, o silêncio do clube até agora quando espaços como este o denunciavam sim é confrangedor - nem a influência que o Benfica tem em todos os membros do organismo desportivo, judicial, financeiro e político em Portugal. Não é necessária uma página de bitaites para isso. Se o FC Porto quer realmente fazer-se ouvir deve-o fazer onde pode e tem de exercer toda a sua influência, nos tribunais desportivos e nas assembleias gerais da Liga e da Federação, espaços onde a sua presença tem sido exigua e a lista de aliados encolhida de ano para ano. Institucionalmente o Porto continua a mexer-se ao ritmo de uma lesma, talvez de acordo com a idade de quem o dirige, num ritmo similar ao do Partido Comunista soviético dos anos oitenta pre-Gorbachov, tanto na defesa do clube frente aos inimigos externos - a alguma claque do clube sim se podem tratar ao velho estilo soviético ou "salazarista", como preferirem, banindo-as do campo ao menor sinal de discordância - como na preparação de um plano de futuro sustentável e positivo a nível interno. 

O triste, tal como sucedeu nos anos sessenta e setenta, é que esse plano não existe e enquanto não surgir outro José Maria Pedroto e outro Jorge Nuno Pinto da Costa, ainda que o contexto seja radicalmente distinto, não há esperanças de que algo quebre o ciclo. O que sim ameaça ridicularizar ainda mais o clube é a importância que se tem dado a este tipo de "portismo" mesquinho, aziado e sem argumentos que se tem dedicado a levantar podres alheio - em alguns casos de uma forma falaciosa e confrangedora que dá vergonha a qualquer portista minimamente informado e sem palas nos olhos - e como esse posicionamento sufragado desde o clube pelo tempo de antena que se lhe dá em oposição a outros espaços mais críticos - basta recordar o que disse dos blogues "anónimos" o recém re-eleito presidente há poucos meses - para entender que essa mensagem é para o consumo interno, ou seja, para doutrinar ainda mais os portistas a uma submissão intelectual a partir de um complexo de inferioridade e de perseguição que não tem qualquer motivo para existir. O FC Porto fez-se grande, precisamente, quando deixou de se vitimar, de se queixar e de se comportar como "bons rapazes", actuando onde tinha de actuar para equilibrar a balança do poder. O regresso a esse vitimismo que faz rir qualquer rival e dá vergonha a qualquer portista só augura um cenário negro para o futuro imediato. Em 1977 Pinto da Costa percebeu onde estavam os grandes cancros do clube que iam desde detalhes tão insignificantes como a presença dos sócios nos treinos até à logística das deslocações do clube. Quarenta anos depois, num triste e previsível fecho de ciclo, reabriu essas portas a sócios escolhidos a dedo para vociferarem idiotices em seu nome e do clube e abriu os corredores do Dragão a todos, fazendo com que decisões que antes eram tratadas no segredo dos deuses hoje sejam conhecidas na praça pública de imediato. Contra isso, problemas reais e graves do Dragão, os comentadores a soldo nos programas semanais e as páginas serviçais e de mente pequena, nada têm a dizer. O discurso oficial é outro, disparar para o ar para que os adeptos e sócios se entretenham a olhar para as nuvens enquanto o chão se continua a abrir debaixo dos pés.

terça-feira, 30 de maio de 2017

Quando a cabeça não tem juízo, o Clube é que paga

"(Por não-cumprimento do fair play financeiro da UEFA) (...) a FC Porto SAD não perspetiva que tais penalizações venham a ser superiores a um milhão de euros no ano corrente e, caso venham a existir relativamente a anos subsequentes, a FC Porto SAD não perspetiva que tais penalizações venham a ser superiores a um milhão de euros por ano nesses anos (até 2020) - (ver mais)

Numa sociedade a sério, considerando o passado recente e o que se perspectiva para o futuro próximo, cabeças já teriam certamente rolado. Enquanto esperamos (sentados), algum dos intocáveis administradores da SAD se disponibiliza para avançar com o milhãozito de euros - coisa pouca - do seu próprio bolso?



domingo, 28 de maio de 2017

Ao sabor das negas



Por José Maria Montenegro

Isto de um treinador não querer treinar o Porto e preferir o Watford, por muitos desmentidos que se publiquem, é embaraçoso e merece reflexão.

O Porto pode já não ser suficientemente sedutor desportiva e financeiramente. Pode-se dizer que fica exposta, com uma eloquência penosa, a fragilidade da estrutura, tal como a vêem de fora. E sobretudo poder-se-á alegar que é indisfarçável a desorientação de uma administração que, em gritante contraste com um passado recente, já não convence quem convida.

Mas - tenham lá paciência - também não fica bem aos treinadores desta vida que se prestam à nega a um clube como o Porto. Com todo o respeito pelos Watfords, pelas Premier Leagues, e pelo dinheiro, nunca é um marco (não forcei a palavra) na carreira de um treinador de 40 anos ter dito não ao Porto. Um "não" para poder estar à frente de uma equipa que luta por não descer de divisão e que augura celebrar um "campeonato tranquilo". Seja essa equipa de que país for. É que para mais - convém lembrá-lo - nesses campeonatos tão sedutores e com tão generosas remunerações há muito poucos clubes com presenças assíduas na Champions League, com apuramentos mais ou menos regulares para os oitavos de final da Champions, que conquistam ou que lutam todos os anos pelo título de campeão. E já não falo do currículo europeu (nesses campeonatos dourados não são mais que 2, e às vezes nem isso, os clubes que tem semelhante folha de glória). Cada uma dessas negas ao Porto é no fundo expressão de impotência, de medo ou de parca ambição.

A mim interessa-me o Porto. É com o Porto que me preocupo. Tenho a certeza que regressaremos. Não saberei quando. Mas talvez seja mais cedo do que a razão sugere. Afinal foi contra todas as probabilidades, contra essa mesma razão, que conquistámos e nos fizemos maiores que esses ricos e sedutores. E é com cada uma dessas negas que o nosso regresso será mais saboroso.

Nota: o Reflexão Portista agradece ao José Maria Montenegro a elaboração deste artigo.
     

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Não celebrem Viena, não celebrem Gelsenkirchen, celebremos o depois de amanhã

Amo o Futebol Clube do Porto. Com todas as minhas forças cresci celebrando cada triunfo, engolindo em seco cada tropeção, enraivecido com cada roubo em contra e com cada derrota. Não sei ser outra coisa que não portista. E cresci com uma cultura de vitórias. Sou muito novo para me lembrar de Viena com claridade mas tenho flashes na minha cabeça. Sei que vi o jogo em casa dos meus tios, com o meu pai e tio colados ao sofá e eu por ali, sem saber muito bem o que se passava. Sei que ouvi os gritos de golo e quando o Juary marcou o dele o meu tio não aguentou mais dos nervos e fechou-se no quarto de banho, não queria ver, não queria saber, enquanto o meu pai ia gritando o que se passava. Choraram. Eramos campeões europeus. Foi um 27 de Maio de 1987. No 26 de Maio de 2004 não só era consciente de tudo, era participe de tudo. Sócio cativo há mais de uma década, incapaz de perder um só jogo nas Antas - e desde há poucos meses no Dragão - mais algumas deslocações históricas, aquela era a minha geração. A minha gente, os meus jogadores, a minha equipa. Sofri mais com Sevilha, confesso, muito mais. Em Gelsenkirchen sempre soube que só um milagre nos ia custar uma Champions inesperada mas totalmente merecida. Festejamos até ás tantas nos Aliados, eu e os meus irmãos, e fomos receber a equipa como nos mereciamos todos. Já não tinha só memórias e flahses na cabeça, tinha o triunfo tatuado na pele. Os dragões eram reis da Europa outra vez. Vinte e quatro horas menos e dezassete anos depois.

Hoje e amanhã deviam ser dias de celebração.
No Reflexão Portista pensamos inclusive em fazer um especial de artigos e textos sobre os trinta anos de Viena - para quem queira, há um maravilhoso livro coordenado pelo João Nuno Coelho sobre os 25 anos dessa data histórica - para celebrar esse dia maravilhoso. Mas o clube não está agora mesmo para este tipo de celebrações nem de regressos ao passado nostálgicos. Nunca devemos esquecer quem somos, de onde viemos e o que conquistamos. Há clubes a celebrar um Tetra, convém recordar que disso temos dois, temos um Penta e não necessitamos setenta anos de história para os conseguir. Há clubes a celebrar duas Taças dos Campeões Europeus, a última conquistada em 1962, convém recordar sempre que disso temos duas, bem mais recentes, mas também duas Taça UEFA/Liga Europa e uma Supertaça Europeia e duas Intercontinentais, já agora, para que fique claro quem é o maior clube português em títulos internacionais. Taça Latina incluída. Isso nunca se esquece, isso está dentro de nós e recordar é viver. Mas ao ritmo que levamos corremos o sério risco de cair no poço em que outros viveram durante anos com o velho chavão do "antes é que era", do "naquela época é que eramos os maiores" e o "os meus títulos são melhores que os teus". Passar estes dois dias a celebrar Viena e Gelsenkirchen é uma tentação bonita porque são dois troféus maravilhosos e dois dias inesqueciveis. Mas fazê-lo, tal como estamos, é trair-nos a nós mesmos e à nossa memória. Sobretudo, é trair o que nos levou precisamente a ganhar esses dois troféus: viver o presente.



O FC Porto deixou de ser um clube gerido a pensar no presente e isso é um dos principais motivos pelo que estamos nesta etapa negra. Pelo menos no presente do clube. Os projecto não têm direcção, caem ao primeiro abanão, mudam de forma radical de ano para ano sempre a pensar em algo que tente recuperar o passado sem que ninguém se dê conta que o futebol mudou. Se algo sustentou o êxito dos anos 80 e 90 foi a capacidade do Porto se adaptar melhor que ninguém ao mundo que viviamos e ao futebol do seu tempo a distintos niveis. Essa realidade perdeu-se e cada vez mais nos entragamos à nostalgia, ao "jogador à Porto", ao "treinador à Porto", ao "Somos Porto", ao "no tempo de" e esquecemo-nos que cada semana há um jogo novo num mundo novo e que é aí onde nos temos de concentrar. O mercado não é o dos noventa, a formação não é a dos oitenta, os treinadores não são os dos 2000 e, sobretudo, a direcção há muito que não é a desse periodo em actitude, trabalho e entrega, já para não falar em idade. E não saimos desse circulo fechado e entregar-nos a esse ritual de celebração num ano triste onde perdemos tudo, outra vez, parece-me ser um erro e uma falta de respeito para com o que fomos e que deviamos ser.

O lodo onde estamos tem muitas explicações. O lodo onde estamos pode prolongar-se muito ou pouco tempo, depende de aquilo que quem gere o clube  tem preparado para o futuro. O que sim é fácil de entender é que não é celebrando o passado que vamos estar mais preparados para o depois de amanhã. Se queremos voltar a ser grandes é precisamente isso que devemos fazer. Pensar no hoje, no amanhã e no depois, pensar no presente e no futuro, em como vamos reorganizar o clube, as contas, a parcela desportiva. Não pensemos no que já foi e já não volta. O que talvez nem sequer se volte a repetir porque o mundo mudou. Sonhar com outro título europeu é bonito mas cada vez mais redutor, pensemos em como conquistamos nós o nosso Penta antes que o celebrem outros. Primeiro ganhamos um título...depois pensamos em ganhar o Bi...depois pensamos em ganhar o Tri...e ganhamos. Depois demos o salto ao Tetra e foi nosso. Depois preparamos tudo para assaltar o Penta, e celebramos como loucos. Hoje temos de pensar como vamos ser campeões em Maio do próximo ano. Em nada mais. Nem títulos passados nem em equipas de outras eras. Pensem no hoje. Pensem no amanhã. Pensem em Maio. E passo a passo pensem em voltar a ser grandes como o escudo do Dragão merece.


quarta-feira, 24 de maio de 2017

Vai um tango?

Para quem ainda não tinha reparado, os tempos mudaram. Marco Silva foi escolhido... mas ainda não há "fumo branco" - porque já nenhum treinador que se preze assina de cruz. O que só atesta da inteligência do homem. Com o fairplay financeiro - já não se pode estourar balúrdios em pernetas em paz! - a obrigar a aperto de cinto, será preciso um bom jogo de cintura para apresentar argumentos suficientes e válidos para convencer o homem a assinar. O Marco Silva certamente quererá garantias de que terá ao seu dispor jogadores com qualidade e quantidade suficiente para atingir os objectivos que lhe serão propostos - sim, já temos o Depoitre, mas julgo que o Marco não está satisfeito.


Para apimentar a dança, temos a proveniência do Marco Silva. Depois de ter provado o gosto de ser manager em Inglaterra - provavelmente não terá tido oportunidade para usar de todos os seus poderes mas certamente ficou ciente de quais eram - é como passar de cavalo para burro, ao juntar-se a um clube onde (com raras excepções) o treinador não passa de "responsável de caserna", que vê sem piar jogadores chegar e sair sem o seu aval.

Aguardemos. Se esta primeira escolha não resultar, certamente haverão outras... primeiras escolhas.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Despedir-se do campeonato com uma derrota "útil"

Um título já decicido e emoção na luta pela despromoção até ao fim. Podia ser um guião de um qualquer final de temporada de uma liga aleatória mas não, foi um filme de terror com o FC Porto como triste e, quem sabem, voluntário protagonista. O FC Porto despediu-se do campeonato fiel ao seu treinador, perdendo, entregando ao Benfica os últimos argumentos a que se agarrava (melhor defesa e melhor ataque) e ainda para mais, perdendo também de certa forma noutro tabuleiro, o jogo das sombras.

A entrada do VAR para muitos promete mudanças radicais. A prática será diferente. Os clubes sabem o que aí vem e estão a preparar-se para atalhos. Sobretudo, estão a contar espingardas. Nos últimos anos tem sido evidente a criação por parte de LFV de uma legião de clubes que são fieis ao Benfica. Negocios, relações intimas, campos de treino emprestados, colocação de treinadores e jogadores são as ferramentas da teia. Não é estranho olhar para a rotação de treinadores em determinados clubes nem o empréstimo de jogadores. Que alguns desses jogadores sejam também, nada surpreendentemente, os que de vez em quando lá se enganam e marcam auto-golos ou dão assistências sempre contra o seu antigo clube isso já é pura coincidência. Nos anos 2000, antes do contra-ataque do Polvo, o FC Porto sabia mover-se nesse meio e tinha também uma série de amigos bem colocados, não só na estrutura da AFP mas um pouco por todo o país, na primeira e segunda liga. No pos-Apito Dourado essa influência foi minguando e hoje o Porto tem tão poucos aliados (tem-se visto em distintos aspectos de gestão) que até acha que tem de se colar a um morto-vivo chamado Bruno de Carvalho para sentir-se importante. Enquanto o Benfica este ano voltou a ampliar o leque de clubes amigos - o Leixões, por exemplo - o Porto viu como cada vez mais clubes da sua esfera ou iam caindo na arvore da competição ou o abandonavam. Não é coincidência que tenham sido despromovidos precisamente os clubes geridos pela família Pinho e por Rui Alves e que outros, menos bem preparados mas muito melhor protegidos, se tenham salvo. A subida do Portimonense - Teodoro anda a emprestar dinheiro ao clube e vai ser um player nestas contas no próximo ano ao mesmo tempo que está a preparar repetir a jogada no Penafiel - pode paliar a situação mas a realidade é que ao Porto interessava muito pouco que clubes como o Nacional, o Arouca e o Moreirense fossem despromovidos. E muito que um dos enviados à Segunda Liga fosse o Tondela. E o que aconteceu? O Tondela salvou-se.

Se a despromoção do Arouca se deve a si mesmo - achavam-se salvados depois do jogo com o Feirense e não saber render a Vidigal foi um erro de principiante - já o Moreirense foi alvo de uma campanha orquestrada depois de se ter atrevido a estragar a festa do Benfica na Taça da Liga. O Tondela, que por essas alturas estava com pé e meio na segunda, recebeu o reforço encarnado de peso para o banco, Pepa, e começou, misteriosamente, a trepar e trepar. Até que chegamos à ùltima ronda. Uma derrota do Tondela e uma vitória do Moreirense garantiam a sua despromoção. O fiel Salvador garantiu em Braga que o Tondela, mesmo quando despromovido, nunca deixaria de estar a salvo. A teia é larga e alguém ainda se há-de lembrar de quando Salvador soava como herdeiro de PdC. Portanto havia, desde há alguns dias, um runrun que falava da necessidade de um milagre do Moreirense e uma derrota que ao Porto não custava nada em pontos e permitia salvar, pelo menos, um clube amigo. Casillas não jogou, Otávio esteve fora de posição, o Porto jogou mal e, milgre, o Moreirense lá meteu três golos ao Porto para conseguir o bilhete ainda que o Arouca não tenha cumprido o seu papel. O Porto, um clube que devia ser enorme e cada vez mais se comporta como pequeno, olhou e assobiou para o ar. Em condições normais jamais perderia este jogo. Em condições anormais perdeu-o e só eles saberão porquê mas houve festa entre muitos portistas porque a "missão" foi parcialmente cumprida. Jogava-se para outro campeonato, o dos interesses e sombras, e milagrosamente os dois peões dos grandes salvaram-se in extremis. Foi um tropeção misterioso e útil, como se veja. E para o ano haverá mais. Os jogos de bastidores vão ocupando o seu espaço e até aí o Benfica mostra a sua força. Quem está com eles não desce. E o número dos tentáculos numa lista de 18 lá vão aumentando.

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Sócio, estás convocado!

Moncho López e alguns dos adeptos do sector S4 (Junho de 2011)

Vencemos na nossa casa, com os nossos adeptos, que foram incansáveis no apoio. (...) Nos jogos em casa, há muito que me arrepio com os adeptos, que merecem muito o título. Nem é a questão do número, mas sim da paixão. O grupo que está atrás do nosso banco é fantástico, incansável.”
Moncho López, 03-06-2011


Contra todas as previsões, o FC Porto foi campeão nacional de basquetebol na época passada (2015/2016), interrompendo um ciclo de vitórias do SLB, equipa que tinha (e continua a ter) um orçamento muito superior ao nosso.
Provavelmente, muitos portistas nem saberão.

No início desta época, o FC Porto conquistou a Supertaça de Basquetebol, voltando a derrotar (por 84-70) os encarnados de Lisboa.
Provavelmente, muitos portistas nem saberão.

Após a disputa dos primeiros 22 jogos (todos contra todos) da fase regular da Liga Portuguesa de Basquetebol, o FC Porto ocupava a 1ª posição.
Provavelmente, muitos portistas nem saberão.

Após a disputa da totalidade dos jogos da fase regular (32 = 22+10), o FC Porto terminou em 1º, o que lhe garante a vantagem (teórica) do fator casa nas eliminatórias dos Play-offs.
Provavelmente, muitos portistas nem saberão.

O FC Porto iniciou os Play-offs (1/4 finais) no passado dia 5 de Maio, tendo como adversário a Ovarense. Todas as eliminatórias dos Play-offs são disputadas à melhor de cinco jogos, mas os dragões precisaram apenas de disputar três jogos, dois no Dragão Caixa e um no Arena Dolce Vita, para eliminar a equipa de Ovar com um parcial de 3-0 (95-72; 92-63; 97-68) e seguir em frente.
Provavelmente, muitos portistas nem saberão.

Eu digo que nem saberão, porque a esmagadora maioria dos adeptos portistas (e dos dirigentes, e dos adeptos-comentadores) parecem estar apenas focados na equipa de futebol e cada vez mais alheados dos atletas, treinadores e equipas das restantes modalidades do FC Porto, algo que já era visível em anos anteriores, mas foi ainda mais notório ao longo desta época.

Qual será a percentagem dos adeptos (e dirigentes!) do FC Porto, que conhecem os atletas da equipa de basquetebol e, por exemplo, sabem o respetivo nome e em que posição jogam?

De facto, na mesma época em que a equipa de futebol jogou na “fortaleza do Dragão” e, nos jogos fora, foi acompanhada por uma maré de adeptos azuis-e-brancos, a equipa de basquetebol disputou a maior parte dos jogos em casa num pavilhão cheio de… cadeiras vazias.

E pior, no dia 23 de Abril, no último jogo em casa da fase regular, em que foram precisos dois prolongamentos para derrotar uma muito competente equipa do Vitória de Guimarães (por 101-96), chegados ao final do 4º período, assisti atónito à debandada de muitos dos poucos adeptos presentes.
No momento mais crítico do jogo, ver dezenas de adeptos portistas a abandonarem a sua equipa de basquetebol, para não perderem um minuto do jogo FC Porto x Feirense, que ia começar no estádio ao lado, é algo que não consigo compreender.

Há excepções?
Claro que há e nestes tenho de referir o grupo de adeptos que Moncho destacou em Junho de 2011 (e que seis anos depois são praticamente os mesmos).

Adeptos no jogo FC Porto x Juventus Utena (em 27-09-2016)

Para quem não sabe, eu recordo que esta Equipa é a única equipa sénior coletiva do FC Porto que, esta época, pôde ostentar o escudo de campeões nacionais na gloriosa camisola azul-e-branca.

Pendão de campeão nacional de basquetebol pendurado no Dragão Caixa (foto: José Lacerda)

Mas, independentemente de serem os atuais campeões nacionais, este treinador, estes jogadores, este grupo de trabalho, esta EQUIPA são campeões na entrega, na garra, na atitude com que defendem as nossas cores.

E nós, adeptos do FC Porto, como é que retribuímos?
Vamos continuar a “apoiar” esta Equipa à distância, em casa, a ver os jogos pela televisão?
Então a nossa equipa, a Equipa de basquetebol do FC Porto, lutou arduamente para ser a melhor da fase regular do campeonato, de modo a poder beneficiar do fator casa nos Play-offs, e depois essa vantagem traduz-se num pavilhão semi-vazio?
Portistas, isto faz algum sentido?

Porque o FC Porto não é só futebol, faço daqui um apelo aos Portistas, a todos os Portistas (*) – aos sócios em primeiro lugar, mas também aos adeptos não-sócios, aos membros das claques e aos dirigentes do Clube: no próximo fim-de-semana, sábado e domingo, vamos encher o Dragão Caixa (não é difícil, são apenas cerca de 2000 lugares) nos dois primeiros jogos das meias-finais do Play-off.

Vamos trocar o sofá por uma cadeira de sonho no Dragão Caixa. Vamos ser o sexto jogador e ajudar a nossa Equipa de basquetebol neste caminho para a Final do Play-off.

Equipa técnica e plantel (**) da época 2016/2017 (foto: FC Porto)

Portistas, se ajudarmos os atletas do FC Porto a ganhar, estaremos a ajudar-nos a nós próprios, porque eles trazem o nosso emblema ao peito, eles representam as nossas cores, eles são a nossa extensão dentro do campo.

POOOOOOOOOOOOORTO!


Nota: Só logo à noite, após o jogo Vitória SC x Galitos Barreiro, será conhecido o adversário do FC Porto nas meias-finais do Play-off. No entanto, o 1º jogo das meias-finais já está agendado para as 15h00 do próximo sábado.

(*) Este apelo é dirigido a todos os Portistas mas, naturalmente, será mais fácil de ser correspondido por quem mora no Porto ou nos concelhos limitrofes.

(**) Na foto do plantel faltam dois jogadores - José Silva e Miguel Queirós - porque quando a mesma foi tirada estavam ao serviço da seleção nacional.

terça-feira, 16 de maio de 2017

A tratar do futuro...



“Parabéns ao campeão”. Foi assim, como um murro no estômago, que NES colocou em causa páginas e mais páginas de jornais e da internet, palavras e mais palavras de muitos e muitos portistas que, ao longo de todo este ano, tudo fizeram para colocar a nu o facto de, em Portugal, em demasiados jogos do FCP e slb as regras do futebol não estarem a ser cumpridas.

Foi, aliás, muito assim todo este consulado de Nuno: austero com os fracos (como com Layun, apenas para citar um caso recente) e, pelo menos durante grande parte da época, afável para com os poderosos, nomeadamente para com os árbitros e demais “Sistema”. Após o jogo em Setúbal, por exemplo, um dos nossos jogos-chave, nem uma crítica ligeira que fosse, se lhe ouviu. E foi, precisamente, a partir desse ponto que o vendaval de penalties não marcados a nosso favor levantou voo.
Apenas na parte final da temporada, e já com algum desespero de causa à mistura, foi quando NES começou, e sempre cheio de cuidados, a colocar em causa os senhores de preto.
Entende-se, porém, o porquê de tal declaração de congratulação ao nosso rival: NES não quer fechar nenhuma porta para quando abandonar o Dragão. O “Sistema” não lhe perdoaria caso afirmasse o contrário. Ficar-lhe-ia difícil arranjar trabalho em Portugal, pelo menos ao nível do que ele se julga com direito. Restar-lhe-ia apenas o mercado externo, como parece ser o caso, por exemplo, de Vítor Pereira.
Contudo, e tendo em conta os seus resultados mais recentes, até mesmo para um Jorge Mendes ficaria difícil desencantar novos Valências com frequência.
Compreende-se, pois, que NES coloque o seu interesse pessoal acima dos do nosso clube mas, assim sendo, o seu desgastado “Somos Porto”, que já pouca ou nenhuma substância tinha na sua origem, perde agora o seu sentido quase por completo.
Que no futuro nos poupe a tal, por favor. É o mínimo que se lhe pede.

E esta é a interpretação mais leve deste assunto, pois a outra hipótese que, em teoria, se poderia também colocar em cima da mesa - a de que ele acredita, sinceramente, que o slb é um justo campeão - é ainda pior para NES. Significaria que ele não entendeu nada do que se passou nesta temporada e, então aí, é que não poderia ficar nem mais um minuto à frente da nossa equipa, por total e completa incapacidade de leitura dos acontecimentos.

P.S.: Por que razão, por exemplo, não aproveitou o FCP o segundo penalty do passado Domingo - que nada acrescentou e que serve, no fundo, apenas para sermos ainda um pouco mais gozados pelo "Sistema" - para, em vez de rematar à baliza, fazer antes um passe na direcção do árbitro? Seria uma imagem forte e que correria mundo e poderíamos, depois, explicar o sentido do acto: em Portugal, mais que os jogadores, os árbitros são os grandes protagonistas.

domingo, 14 de maio de 2017

NES deu os parabéns ao treta campeão


Os jornais desportivos não perderam tempo e, poucos minutos após as declarações de Nuno Espírito Santo (NES), destacaram nos seus sites os parabéns que o treinador do FC Porto deu ao treta campeão.


Eu nunca tive ilusões acerca do modelo de jogo que o NES ia trazer para o FC Porto (vi vários jogos do Valencia CF treinado pelo NES...)

E, logo no início da época, escrevi por que razão o NES não era um treinador à Porto.

Mas o que se passou hoje é demais.

Anda o FC Porto (departamento de Comunicação, comentadores, adeptos), e bem, a denunciar o “polvo” e todos os seus “tentáculos” (árbitros, comissão de arbitragem, observadores, APAF, delegados da Liga, conselho de disciplina, “cartilheiros”, etc.);

Anda o FC Porto, e bem, a denominar este campeonato fraudulento de Liga Salazar;

E o treinador da equipa principal do FC Porto, um dos principais rostos do Clube/SAD, o líder da equipa que, dentro das quatro linhas, sofreu na pele todo o tipo prejuízos causados por esse “polvo”, chega ao penúltimo jogo e dá os parabéns à equipa adversária que ganhou esta liga viciada?

Eu não sou jurista e não sei se as declarações de hoje do NES dão direito a despedimento com justa causa.

Mas, independentemente de haver ou não motivo para despedimento com justa causa, se o meu Porto ainda fosse Porto, depois de hoje, em que o NES deu duas vezes (DUAS VEZES!) os parabéns ao SLB (uma na flash interview e outra na conferência de imprensa), é óbvio que o NES já não iria a Moreira de Cónegos, (des)orientar a equipa no último jogo do campeonato.

E mais, as razões do despedimento e do NES já não ser o treinador no último jogo do campeonato, deveriam ser comunicadas publicamente pela Administração do FC Porto, para que toda a gente perceba, a começar pelo próximo que for contratado, que o treinador do FC Porto é um empregado do Clube/SAD e, enquanto o for, tem de ter um discurso alinhado com o discurso oficial da entidade patronal que lhe paga.

Somos Porto?

Tem a palavra o Presidente do FC Porto.

sábado, 13 de maio de 2017

Aliança contra um inimigo comum

Winston Churchill e Joseph Stalin no Kremlin, Moscovo, em 1942

Havia um mundo de diferenças entre o primeiro-ministro britânico, o conservador Winston Churchill, e o secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, o ditador Joseph Stalin. Contudo, durante a II Guerra Mundial, estes dois homens souberam dialogar e estabelecer uma aliança contra um inimigo comum: Adolf Hitler.

E, a propósito desta aliança, há uma frase de Winston Churchill que ficou célebre:


Seguramente, quer Churchill, quer Estaline, sabiam que a aliança estabelecida para combater Hitler era um acordo conjuntural. Mas também sabiam que, isoladamente, seria muito mais difícil derrotar a Alemanha Nazi que, por essa altura, ocupava ou controlava (através dos seus aliados) a quase totalidade da Europa.

A Europa em 1942

Tudo isto vem a propósito da “Cimeira anti-Benfica”, conforme foi classificado, por jornalistas do “Estado Lampiónico”, o encontro entre os responsáveis pela comunicação do FC Porto e Sporting CP. Encontro que ocorreu na passada quarta-feira e do qual resultou um comunicado conjunto, onde é salientada a convergência de posições dos dois clubes em vários assuntos.

Muitos portistas consideram que esta aliança FCP-SCP é antinatural e mesmo despropositada.
Eu discordo.
E discordo, não porque confie nas boas intenções de Bruno de Carvalho, ou me tenha esquecido daquilo que ele e outros notáveis sportinguistas disseram do FC Porto, mas porque, no momento atual do futebol português, o combate ao “Estado Lampiónico” sobrepõe-se a tudo o resto.

No dia em que o “polvo encarnado” for desmantelado, então sim, esta aliança (conjuntural) entre velhos rivais deixará de fazer sentido, porque deixa de ser necessária.

Filme 'O Leão da Estrela' (1947)

Mas, não tenhamos ilusões, não é de um dia para o outro que este poder tentacular, que domina o futebol português e asfixia os rivais do SLB, será destruído. Há um longo caminho a percorrer.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Do baú...

Danilo Pereira está de volta às opções do Nuno Espírito Santo, depois de ter estado ausente nos últimos dois jogos por "lesão" - foi suturado com 9(!) pontos num joelho, resultado do "contacto" com um tal de Babanco, jogador do Feirense, punido com cartão amarelo - caso para dizer "o crime compensa".


Nem todos se recordarão, mas há uns bons anos atrás, em 1998, o jogador do FC Porto, Paulinho Santos, no auge de uma já longa e truculenta inimizade com João Vieira Pinto, do Clube do Regime, acabou suspenso por tempo indeterminado (e justamente, diga-se), depois de ter fracturado o maxilar do "menino d'ouro" em mais um episódio de batalha campal entre os dois. Para que fique claro: o jogador A lesionou o jogador B, e enquanto o jogador B estivesse impossibilitado de jogar, o jogador A também ficaria no "estaleiro".


Fica aqui o desafio para que relatem outro caso, em que semelhante castigo tenha alguma vez voltado a ser aplicado - para que não se possa dizer que só se fazem esse tipo de coisas ao Porto! Acrescento ainda outro desafio, que é explicarem essa justiça salomónica, numa altura em que o Pinto da Costa e FCP "mandavam no futebol".

quinta-feira, 11 de maio de 2017

O homem que inventou o "Somos Porto" é tudo menos "Porto"

Parecia uma tatuagem de máfia, uma daquelas frases que acompanham ao largo da vida como uma epitome e uma declaração de principios para a vida, um "de aqui não passo". Inventar o "Somos Porto" elevou Nuno Espirito Santo a uma condição especial de jogador-adepto algo de que anos mais tarde se quis aproveitar o treinador-adepto que foi apresentado dizendo que o matriz histórico do Porto era o 4-3-3 e que ele era Porto e que todos deviamos ser Porto e que o Dragão seria uma fortaleza onde todos os que Somos Porto iriamos trucidar todos os que Não São Porto rumo a uma nova era de triunfos. Nuno - ou NES - ou melhor, NãoESnada - ainda quis ir mais longe e pegou nessa frase que metaforicamente levava entre tatuagem e sangue nas veias, com a que encheu torrencialmente de portismo todo o balneário a ponto de que desapareceu o vermelho que até incomodava Pedroto das meias dos empregados, tal era o grau de "Somos Porto" que se vivia - esse Nuno decidiu explicar aos jornalistas, esses néscios que não entendem nada e muito menos a ele, que o "Somos Porto" não era só um estado de ânimo, era um jogador de três pernas e muitas ideias de jogo. Ninguém o entendeu - como era óbvio - salvo todos os homens de três pernas que são Porto em algum lugar do mundo.O irónico, o verdadeiramente irónico, é que esse homem que inventa motos, defende histórias de dragões e fortalezas, e impregna a todos os homens de um sentido de enorme presença - porque Jonas, esse finguelas, não pode agredir uma torre humana que além do mais "é Porto" - resume perfeitamente tudo aquilo que, para a esmagadora maioria dos que foram, são e continuarão a ser Porto ao longo da sua vida (e de tantos que já não estão mas que o são, onde quer que estejam) é tudo menos "Ser Porto". NES é tão "Porto" - esse Porto, o Porto de Pedroto, do não calar e comer, do engasgar-se com tanta relva, de canelas moidas a golpes e de dentes fechados, de gritos até ficar sem voz e de procissões nos Aliados....esse Porto - como é "Rio Ave"...como é "Valência"...como é "Clube onde o meu melhor amigo e agente me vai colocar sem que ninguém se queixe do mau treinador que sou".

Tacticamente NES não podia ser Porto B se quisesse quanto mais ser Porto. Nunca Ser Porto seria o pontapé para a frente, o correr pelo correr, o passar pelo passar, o pressionar pelo pressionar. Nunca ser Porto seria a ausência de uma ideia - com uma boa ideia é suficiente - e muito menos a ausência de coragem para aplicar uma ideia. Ser Porto não é pedir desculpa a cada tropeção...é não voltar a tropeçar. Ser Porto não é matar jogadores porque não se sabe o que fazer com eles nesse marasmo desértico de ideias. Ser Porto não é deixar os futebolistas sós, expostos à raiva do adepto triste, sem lhes dar uma rede de conceitos de jogo a que se agarrar. Ser Porto não é viver com o medo de perder e por isso não tentar ganhar. Ser Porto também não é tentar ganhar sem saber como. Ser Porto não é fazer do empate a nova moda nem sequer fazer do discurso uma cassete tediosa resumida em quatro frases. Ser Porto não é esgotar os jogadores porque não há rotações para que cheguem aos jogos decisivos mortos fisicamente e sem um plano B táctico que os proteja e potencie. Ser Porto não é entrar suave e manso nas conferências de imprensa para não ofender os amigos do melhor amigo ou os que no futuro podem passar o cheque que cai na conta. Ser Porto é tantas coisas NES, tantissimas coisas, mas não há em nada do que tenhas feito uma gota do Ser Porto.



Claro que isso não se sabe de hoje como o José Correia já apontava em Outubro e qualquer um com dois dedos de cabeça a ver um jogo completo do FC Porto ao largo da temporada. Não se trata apenas e só de julgar o treinador pelos fracos resultados obtidos - a equipa acabará o campeonato seguramente com o Benfica mais longe do que tem o Sporting o que diz muito de uma liderança desde o banco que chegou à Luz sem vontade de ultrapassar o rival e que desde então se dedicou a dar-lhe mais oxigénio do que merecia - mas sim de deixar claro que mesmo na vitória, NES nunca foi Porto nem poderia ser. Já houve muitos treinadores campeões no Porto que não foram Porto e alguns (menos) treinadores que, sendo Porto não foram campeões. O que se trata aqui não é o de entender que NES pode ser no futuro campeão mas sim de que não pode, desde logo, é ser um representante do que o Porto - e aqui falamos do Porto pos-Pedroto e não dos anos cinzentos de quase amadorismo prévios - quer, foi e deve voltar a ser. Naturalmente NES é treinador do Porto porque há muita gente acima dele que não é Porto e outra que se esqueceu do que era ser Porto, alicerces que sustentam a sua presença ilógica. Não é nem o maior problema do clube nem o mais grave, desde logo, mas é um reflexo, um sintoma dessa situação.



NES é as olheiras de uma noite sem dormir, é as calças rotas e os sapatos com buracos de uma carteira vazia, é a côdea do pão do almoço que não dá para sopa e bife. Não tem culpa de ser NES, não tem culpa de não ser Porto e muito menos não tem culpa de estar no Porto. Mas como as orelhas, os remendos, os buracos e as côdeas, é o que temos e é o mais visivel que temos para exemplificar toda uma sequência de dramas mais intangiveis. Ser Porto, antes de que a tatuagem fosse criada e cozida até em camisolas como se tivesse existido décadas de angustiosa ausência dessa frase, sempre foi mais que retórica e assobios. Ser Porto sabe a relva. Ser Porto sabe a suor. Ser Porto sabe a feridas por sarar. Ser Porto sabe a "carago", sabe a "foda-se", sabe a "até os comemos". Ser Porto sabe a chuva. Sabe a granito. Sabe a caneleiras e chuteiras pretas. Ser Porto sabe a homens rijos com duas e não três pernas. Ser Porto sabe a reagir e não a pedir desculpas. Ser Porto é um paladar de mil sabores mas nenhum desses sabores sabe a Nuno Espirito Santo.

terça-feira, 9 de maio de 2017

Todos contentes

Não se enganem. Ninguém na SAD acreditava em Agosto no título. Ninguém na SAD acreditava em Janeiro no título. Ninguém na SAD acreditava em Abril no título. E por isso, toda a gente na SAD está contente em Maio. O FC Porto já assegurou quase matematicamente o segundo lugar - o que garante entrada directa na Champions, 12 milhões e uns trocos fixos em receitas - e viu o Benfica ser campeão de novo com um novo hashtag (passamos do #Colinho para o #LigaSalazar) que permite continuar a atirar areia aos olhos dos adeptos. Todo em paz, tudo satisfeito.

Faltam semanas para acabar uma época que já não vai dar nada de si. O Porto tem o segundo lugar a noventa minutos e um tropeção do Sporting de distância e o primeiro a uma quimera e vinte mil hashtags de diferença. Não se joga nada, não se joga a nada - algo que é o que tem sucedido desde há meses - e o soporifero debate sobre se há mudança de treinador, quem vai sair para tapar o buraco das contas só será superado pela moda da Liga Salazar. Tudo discussões que tapam o grave e realmente importante, tudo uma agenda que serve os mesmos interesses de sempre, os que nunca são julgados pelos fracassos e que sempre aparecem na fotografia dos êxitos.

O FC Porto vai para o quarto ano sem troféus. Quatro.
Um
Dois
Três
QUATRO.

Nesse período de tempo ainda ninguém com poder para isso explicou porque se passou do modelo Paulo Fonseca e vamos investir nos jogadores do mercado local ao modelo NES e vamos investir na formação sem vender as pérolas passando pelo modelo Lopetegui e vamos ter gajos emprestados espanhóis que isso é que está a dar...todos os modelos sem êxitos, todos os modelos diametralmente opostos do que seria ter UMA ideia de gestão desportiva.
Um treinador pode ser mais ou menos competente a nível táctico e de gestão de recursos. Um jogador pode ser mais ou menos talentoso, trabalhador ou profissional. Mas de um director, de um presidente, espera-se que tenham uma visão alargada - sobretudo quando são já 35 anos no cargo - e uma ideia de gestão clara. Desde a saída de um treinador bicampeão que colocou o ponto final a um tricampeonato histórico e do desenvestimento do clube - basta ver a qualidade do plantel de 2011 e o de qualquer ano pos 2014 - para entender que o grande problema nunca foram os nomes, dentro e fora de campo, nem sequer a existência do Polvo - real, inequivoca e cada vez maior - e sim a absoluta ausência de uma ideia de gestão desportiva que mantenha o Porto na luta. Depois de uma década em piloto automático, durante a qual não houve sequer concorrência significativa, e de um ano que provocou um importante abanão que teve uma óptima reacção - o marasmo apoderou-se dos escritórios do Dragão e ainda lá continua...um, dois, três...quatro anos depois.



Nenhum clube pode ganhar sempre. Nenhum clube pode ambicionar ganhar sempre e sentir que falha se não ganha de vez em quando. Mas nenhum clube que tenha um orçamento como o nosso se pode permitir não querer ganhar sempre e ter um plano para isso. NES é como Peseiro, Lopetegui e Fonseca o espelho da falta de ideias da direcção da mesma forma que muitos dos jogadores que têm passado reflectem a falta de critério desportivo que existe no clube. O Benfica foi campeão neste ciclo sempre com inequivocas ajudas externas que são cada vez maiores e transparentes - e são transparentes porque já nem sequer há medo de que alguém as denuncie a sério porque o silêncio impera no Dragão salvo alguns hashtags de moda - mas isso não justifica que em cada um desses anos o Porto tenha cometido erros impróprios da máquina que foi e pode voltar a ser. E no entanto a sensação colectiva é que esta seca, este mini deserto, incomoda menos do que deveria. Não gera acção nem sequer reacção. Os destinos do mercado estão entregues a amigos tal como a colocação de treinadores. O jogo da cadeira do poder alimenta facções e o poder crescente de uma determinada facção dos SD dentro da própria estrutura ajuda a explicar a ausência de contestação vivida noutras etapas muito menos graves do que esta. O trabalho mediático também deixa muito a desejar e embora o Universo Porto seja um oásis no deserto e o trabalho de Francisco J. Marques altamente elogiável, o certo é que justificar campeonatos perdidos APENAS com hashtags não ajuda em nada o clube.
Sim, o Benfica tem sido escandalosamente beneficiado. Sim, o Polvo existe e não vai desaparecer tão cedo. Sim, nos últimos vinte anos em democracia o Polvo fez-se maior do que foi durante o regime salazarista. Sim, os jogadores do Benfica - e treinadores - vivem na impunidade. Tudo isso é certo mas o Porto já ganhou ao Polvo quando soube entender que tinha de trabalhar o dobro, falhar a metade das vezes e procurar ser uma voz que ninguém calava nos momentos mais dificeis. Isso, os hashtags de Colinho e Liga Salazar, não são a forma de reagir se não forem acompanhados de outro tipo de acções - desportivas, de gestão, de presença nas intituições de forma activa - e tudo isso não existe e só poderá existir quando algumas cadeiras se derem conta de que estão a actuar como os caducos dirigentes soviéticos dos anos oitenta, a ver o tempo passar e a pensar em glórias passadas.

De nada vale o esforço dos Francisco J. Marques e afins, de nada vale que bloguers - esses demónios segundo alguns dirigentes do clube - ou adeptos de rua a apontar o dedo ao que está mal se os únicos com o poder de emendar a mão não o façam e decidam, por oposição, a mostrar contentamento com segundos lugares, apuramentos europeus e pouco mais.  A Pinto da Costa honra-lhe apoiar os homens que escolhe para dirigir o clube em momentos dificeis mas mais lhe honraria apoiar os adeptos e sócios que há trinta e cinco anos o apoiam e decidir se tem capacidade de desenhar do zero - porque será do zero face ao panorama actual - um novo plano estratégico de êxito em multiplas dimensões ou se está apenas preocupado em não cair de uma cadeira à vista de todos enquanto aqueles que o rodeiam lhe continuam a dizer que tudo está bem e a culpa da derrota é apenas e só dos polvos e nada mais...



PS: Já agora, a modo de remate, estaremos seguramente todos curiosos para saber se há prémios de participação a distribuir pela SAD pelo segundo lugar como já sucedeu pelo objectivo cumprido de disputar a Champions. Quatro anos sem títulos e com um investimento brutal e as contas nas lonas seria mais uma cuspidela na cara dos sócios e adeptos do FC Porto. Mas nada que nos estranhe vindo de quem vem realmente.

domingo, 7 de maio de 2017

Notas escritas no aeroporto Cristiano Ronaldo

O texto seguinte foi escrito por um amigo (Miguel Magalhães), um Portista com P grande, com uma paixão imensa e desinteressada pelo FC Porto, um dos muitos que fez parte da maré azul que encheu estádios por esse país fora, que nunca regatearam o apoio à nossa equipa e que, mais do que desiludidos, terminam este campeonato cansados. Cansados de um combate desigual, no qual, quem deveria liderar o exército Portista não correspondeu, falhou e alheou-se ou fugiu às suas responsabilidades.

--------------

Notas de um crente que acordou ontem [sábado] às 5:00 da manhã para ir à Madeira apoiar a equipa e já está no aeroporto à espera de embarcar para regressar ao Porto.

Nuno Espírito Santo e Pinto da Costa (Junho de 2016)

1. Não temos presidente há vários anos. E podia terminar aqui que estava tudo dito. Mas não me apetece pois continuo com um mau feitio insuportável desde ontem [sábado] à noite.

2. O treinador é um nabo. 16 empates numa época, alguns deles em jogos decisivos, não é ter azar ou ser roubado. É mesmo falta de categoria. É ser cagão. É não ter tomates para assumir o jogo durante 90 minutos.

Nuno Espírito Santo a dar uma "aula"-explicação aos jornalistas (Outubro de 2016)

3. Os jogadores ainda correm, mas ninguém lhes explica para onde nem porquê. Veja-se o Soares, um absoluto desastre durante o jogo de ontem [sábado] e a imagem da impotência da equipa. O rapaz chegou cheio de gás em Janeiro, fartou-se de marcar golos, parecia melhor do que aquilo que na realidade é. Adaptou-se à equipa, ao modelo de jogo, deixou de marcar tantos golos, parece um jogador bem pior do que aquilo que é.

4. Os adeptos são uns crentes mas, infelizmente, não são eles que jogam nem marcam golos. Os adeptos foram incansáveis ontem [sábado], como foram durante a época toda e mereciam claramente mais, muito mais. Pena é que muitos adeptos só se foquem nos pontos 2 e 3, pois parte do problema também está aí.

Adeptos Portistas no Marítimo x FC Porto (foto: Fotos da Curva)

5. O polvo existe, está bem vivo e nenhum dos pontos acima apaga a existência do polvo. Os outros não jogam nada e se não fosse pelo polvo também não eram campeões. Não é o nosso claro demérito, que lhes dá sequer uma pinga de mérito na conquista do campeonato. Esta será sempre a Liga Salazar, o campeonato do polvo e tudo indica que terá um campeão da treta, um tretacampeao. Nunca me ouvirão dizer outra coisa.

6. Terminando onde começa a próxima época, porque até as mais fortes crenças têm limites e a minha já chegou ao limite, e citando aquilo que disse um grande portista ao ex-presidente Pinto da Costa na última assembleia geral: "se é para ter um orçamento destes, não pode estar 4 épocas sem ganhar um único título; se é para não ganhar um único título, então não pode ter um orçamento destes". Por mim, podem apostar num plantel com muitos putos da formação e arranjar um treinador que os ponha a comer relva durante a época toda.


Nota final: O 'Reflexão Portista' agradece ao Miguel Magalhães a autorização para publicar o seu texto-desabafo, escrito na viagem de regresso ao Porto. As fotos escolhidas para ilustrar o texto são da minha responsabilidade.

sábado, 6 de maio de 2017

Parece gozo...


O "Dragões Diário" falava há dias, e com muita razão, que as arbitragens prejudicam de tal maneira o FCP (hoje também, embora de forma mais sofisticada) que até "parecia gozo".
Ora, o mesmo se pode dizer da maneira como o nosso clube aborda, sistematicamente, partidas como a desta noite contra o Marítimo.

NES teima na sua ideia de que se conseguem ganhar jogos destes com apenas uns 3 ou 4 lances de verdadeiro perigo na área adversária e, por isso, um rei das assistências como Layún, tem mesmo é que ficar a assistir a estas partidas, pela televisão, na sua casa.
Layún, recorde-se, esteve envolvido em 33% dos golos do FCP na última época e, soube-se esta semana pel'OJogo, mesmo em 2016/17, consegue assistir e/ou marcar golos em menos tempo que o próprio Telles. Isto numa época em que, supostamente, o brasileiro esteve bem e que, apenas por isso e não por um qualquer eventual problema pessoal de NES com Layún, este tirou, por completo, o lugar ao mexicano.
Agora, ainda de acordo com NES, nem mesmo sem Maxi, Layún é necessário para o que quer que seja.
Layún dá golos e dá assistências. Coisas que o FCP precisa como do pão para a boca. Parece gozo, certo?

Também nesta última semana, Deco, que sabe uma coisa ou duas sobre o assunto, veio dizer que Otávio tem grande futuro como "10". Deco, ingénuo, ainda julga que os treinadores actuais deixam alguém jogar em tal posição fulcral. Errado. NES vê Otávio é como extremo. Ali, amarradinho ao lado direito, com menos visão global, é que ele está bem. Parece gozo ou não?

Mas falemos de coisas menos negativas.
Hoje, apesar de continuar sem criar grande perigo, não se pode dizer que o FCP tenha entrado a dormir na partida. Houve mais empenho, sem duvida. A má notícia é que esse nosso habitual sono passou para a segunda parte.
No golo do nosso adversário, 2-jogadores-2 do FCP ficaram, no chão, a ver a bola ser cabeceada para o fundo das redes. Verifiquem quem eles são.
Sabendo-se que hoje era ganhar ou ganhar (se é que ainda queríamos mesmo roubar o tetra ao slb), uma atitude destas dos nosso atletas é ou não gozo?

Recordam-se, por outro lado, daquele Soares-matador, cheio de raça e que não perdoava uma oportunidade nos seus primeiros jogos de dragão ao peito? Agora, e sem qualquer gozo, não ganha sequer os lances de ombro-a-ombro, quanto mais o resto.

Ah, e lembram-se daquele Marítimo mansinho, sonso e docinho da partida na Luz, há escassas semanas? Já não existe. Agora temos uma equipa que defende na perfeição e cheia de garra e que até só precisou de simular lesões, para queimar tempo, uma ou duas vezes. `
Se calhar, clubes destes, nem do "Jogo da Mala" precisam.
Estarão eles a gozar connosco ou nós é que somos uns grandes totós?

"Brahimi sempre a meter-se no barulho", repetiu vezes sem conta o bom do Luís Freitas Lobo durante a transmissão.
Bons bons parecem ser aqueles que não se metem no "barulho" e ficam à espera, sentados, que os golos (e os campeonatos) caiam do céu...

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Epítetos - os tripeiros e os andrades

Como portuense fico não só irritado mas até mesmo estupefacto com a forma como nas últimas duas décadas o uso de «tripeiro» como sinónimo de «portista» se propagou como uma praga (mesmo entre portistas!). Mas mais irritados devem certamente ficar os portuenses que são adeptos de outros clubes (acima de tudo os que são «lampiões»)...

«Tripeiro» diz respeito às pessoas oriundas da cidade do Porto. Ponto. Faz tanto sentido usá-lo para os portistas em geral (cuja esmagadora maioria não é portuense) como «alfacinhas» para adeptos do slb, ou seja: nenhum. Um portuense adepto do slb é tripeiro, da mesma forma que um portista de Lisboa (ou até mesmo de Gaia!) não é tripeiro.

Mas para além disso acho também piada à forma como o epíteto é suposto ser um insulto. Pelo contrário, é grande fonte de orgulho: como muita gente sabe, a origem do epíteto (seja a história verídica ou fictícia, tanto faz) está na expedição a Ceuta há uns bons 600 anos, em que as gentes do Porto terão dado toda a melhor carne que tinham aos marinheiros e soldados que no Porto embarcaram, e ficaram apenas com as tripas para si. Ou seja: «tripeiro» é sinónimo de generosidade, altruísmo e espírito de sacrifício em prol da nação. No que me diz respeito, digo «obrigado» quando me chamam assim.

Há também outro epíteto usado frequentemente para os portistas de forma depreciativa que muito pouca gente percebe de onde vem: os «andrades». Aliás, o próprio PdC disse (a propósito da evolução do FCP no pós-25 de Abril) que «deixámos de ser andrades e passámos a ser dragões». Mas que é isso dos «andrades», ao certo?

Campo da Constituição
A história remonta aos anos 30 do século passado. Pelo que me foi dito por diversos portuenses (quase todos já falecidos, infelizmente) e pelo que vi mais tarde corroborado em outras fontes, o que se passou foi que o FCP queria alugar para os jogos grandes o campo do Amial, que era na altura dos melhores e maiores campos de futebol em Portugal - se não mesmo o melhor - já que o campo da Constituição começava a ser demasiado exíguo. Ora o campo do Amial (junto à actual Rua do Amial) era propriedade privada de uma família chamada Andrade, que o alugava ao Sport Progresso (clube portuense centenário e que há décadas se arrasta pelos Distritais - já agora joguei lá muitos anos, mas no andebol). 

Campo do Ameal
Houve uma grande celeuma entre os dois clubes e segundo consta o campo terá sido praticamente destruído a mando do próprio dono do terreno, que seria portista (eventualmente em conluio com gente afecta ao clube, aí as versões divergem um pouco) - isto enquanto simultaneamente terá havido um incêndio suspeito no campo da Constituição (suspeitando-se ter sido da autoria de gente afecta ao Sport Progresso). 

Estádio do Lima
O FCP acabou por ir relutantemente jogar para o Estádio do Lima (onde jogava também o Académico), e digo «relutantemente» porque o aluguer era muito mais caro. Quanto ao Progresso, ficou relegado a jogar numa espécie de batatal de dimensões exíguas, com os seus adeptos a criarem a alcunha depreciativa de «andrades» para os portistas por o sr Andrade lhes ter feito a vida negra - alcunha que «pegou» entre os portuenses adeptos de outros clubes (Boavista, Salgueiros, slb, ...) e a pouco e pouco se expandiu bem para além dos limites da cidade.

Há quem diga que entre portistas a alcunha era vista de forma positiva e foi deturpada para o sentido contrário; não é de todo a minha experiência, e conheço (conheci) muitos portistas portuenses nascidos antes de 1930. Não faz aliás grande sentido que fosse visto de forma positiva, a fazer fé na parte consensual da tal história. De qualquer forma convenhamos que há vandalismos - para não dizer crimes - bem piores do que destruir a sua própria propriedade por amor ao clube (basicamente a acusação ao sr Andrade). Alguém arranja um epíteto simples que fique no ouvido para «assassinos-de-adeptos-adversários-usando-very-lights-e-automóveis» ?

terça-feira, 2 de maio de 2017

La Piovra | A lei da rolha

Numa entrevista publicada no jornal Record, no dia 1 de Maio, a diretora-executiva da Liga, Sónia Carneiro, falando sobre propostas de alteração ao Regulamento Disciplinar, deixou o aviso:
No futuro (já na próxima época), as críticas aos árbitros podem custar aos clubes 3 pontos.

Capa do Record de 01-05-2017

Por que razão é que a Liga, agora, quer penalizar (com subtração de pontos!!) as críticas aos árbitros?

Porque, segundo parece, o SLB está muito incomodado com as críticas que são feitas ao “trabalho exemplar” do atual lote de árbitros.

Capa de A BOLA de 01-05-2017

Ou seja, o clube do colinho, o clube dos vouchers, o clube que mais beneficiado tem sido, quer implementar uma medida para calar os clubes que são roubados… perdão, prejudicados por "arbitragens infelizes" dos senhores associados da APAF, semana sim, semana sim.


Longe vão os tempos em que o SLB, mesmo sem razão, dizia isto (e a FPF/Liga metia o rabinho entre as pernas):

Jorge Jesus e os árbitros


João Gabriel e os árbitros

No ano em que o departamento de comunicação do FC Porto começou a chamar os bois pelos nomes, querem calá-lo (calar-nos).

Como é óbvio, espero que a Direção do FC Porto reaja e reaja de forma dura a esta ameaça, a esta tentativa canhestra de nos imporem a lei da rolha. Uma tentativa típica de ditaduras acossadas (viva a Liga Salazar!), de quem já não tem outros argumentos (contra factos...) para contrariar as verdades que são ditas.

Era mesmo só o que faltava. Continuarmos a ser gamados todas as semanas e nem sequer poder abrir a boca para criticar suas excelências, os árbitros-vouchers e esta nova geração de internacionais proveta.

segunda-feira, 1 de maio de 2017

La Piovra | Penalties, expulsões e critérios



«Otávio – o primeiro a ver o cartão amarelo, aos 30 minutos, por uma falta menos grave do que algumas que sofrera antes e em que Carlos Xistra fora sempre benevolente (…)
No lance anterior ao golo, lá se viu o penálti da praxe sonegado aos azuis e brancos, com Bressan (deveria ter-lhe sido exibido o segundo cartão amarelo) a empurrar Otávio nas costas. (…)
Otávio, autor de uma bela exibição no regresso à titularidade e que se fartou de levar pancada: oito (!) faltas sofridas, mas ainda assim foi o primeiro a ver o cartão amarelo, como referimos.»
in ‘Dragão mandou para lá do Marão’, crónica do GD Chaves x FC Porto no site oficial do FC Porto



«A nossa equipa continua a três pontos da liderança da Liga Salazar e desta vez teve a felicidade de só ter sido prejudicada numa grande penalidade clara, por derrube de Otávio, imediatamente antes do primeiro golo. Dado o panorama das últimas jornadas, quase que podemos classificar a arbitragem de excelente - afinal, foi só um penálti, quando o habitual tem sido entre os dois e os três.
Quanto à expulsão de Maxi, o uruguaio teve uma entrada ao estilo das que tinha quando vestia outra camisola, sendo que deixou de beneficiar da proteção de então.
Por ser verdade, a arbitragem de Carlos Xistra foi muito, mas mesmo muito, melhor da que o FC Porto teve na última vez em que tinha jogado em Chaves, quando foi eliminado por João Capela da Taça de Portugal.
Há 15 dias, em Braga, por exemplo, houve três grandes penalidades a favor do FC Porto, que o árbitro Hugo Miguel não assinalou, ele que pelo meio assinalou - e bem - uma contra o FC Porto. Hugo Miguel esteve ontem na Luz e assinalou - e bem - um penálti a favor do Benfica. Por explicar continua a diferença de critério que faz com que a favor do FC Porto não se assinalem grandes penalidades.
Engraçado também um fora de jogo assinalado mal ao ataque do Estoril com o jogo em branco e que os "especialistas" ontem à noite na TV saltaram à frente. Viva o vídeo árbitro à la carte.»
Francisco J. Marques, em ‘Dragões Diário’ de 30-04-2017


No twitter, no site oficial, na newsletter ‘Dragões Diário’, o departamento de comunicação do FC Porto e, particularmente, Francisco J. Marques, reagiram rapidamente e bem, ao que se passou no jogo entre o GD Chaves e o FC Porto.

Além das críticas ao critério disciplinar adoptado por Carlos Xistra e ao penalti (mais um!) que ficou por assinalar a favor do FC Porto, foram feitas comparações com outros lances (noutros jogos), bem como, às diferentes decisões do mesmo árbitro (Hugo Miguel), consoante as cores das camisolas são azuis e brancas ou encarnadas.

Muito bem!
Isto chega?
Não. Aliás, o próprio texto de Francisco J. Marques, ao dizer que a nossa equipa “desta vez teve a felicidade de só ter sido prejudicada numa grande penalidade clara”, é revelador daquilo que se tem passado ao longo desta “Liga Salazar” e da impotência que os portistas sentem.

A generalidade dos portistas (pelo menos aqueles com quem eu falo), entende que o departamento de comunicação do FC Porto tem estado bem, adoptando (esta época!) uma política de comunicação forte, incisiva e agressiva q.b. Mas, já se viu, a atuação do departamento de comunicação é insuficiente para acabar com a roubalheira desta Liga Salazar.

O “polvo encarnado” tem de ser combatido nas suas entranhas. Isto é, ao nível dos diferentes órgãos da FPF – Comissão de Arbitragem e Conselho de Disciplina – e das pessoas (ex-árbitros, árbitros, observadores, delegados, etc.) que, ao longo de vários anos, foram sendo estrategicamente colocadas, para desempenhar uma “missão divina”.

Não tenhamos ilusões. O Estado Lampiónico não será derrubado apenas com comunicados. É necessário que a Direção e o Presidente do FC Porto assumam esta “guerra” publicamente, vão para o terreno e liderem o combate a outros níveis e noutros tabuleiros.