Tenho saudades do futebol

1) A receita de bilheteira ainda é a que mais contribui para o bolo das receitas ordinárias. Os sócios sempre foram o alvo (primário) do negócio e sempre responderam “bem” às políticas da SAD. Aceitam as suas obrigações e continuam a cumprir com o esforço que lhes é remetido, apesar da crise que afecta o país, muito particularmente na zona do Grande Porto.

2) Aceito de bom grado ser uma pequeníssima parte do grupo alvo: pela minha parte é com imensa satisfação que "cumpro o meu dever", comprando os mais diversos produtos. Acabei de prolongar, por mais uma época, o lugar que tenho cativado para ver os legítimos donos da bola, apesar de não estar garantida a presença na CL.

3) Diz-se que os sócios eram a alma do clube, e eu acho que ainda são. O que falta a meu ver, é algum reconhecimento dos dirigentes a essa dedicação dos sócios. E a maior parte dos sócios têm que contentar-se com os dois gestos simbólicos da praxe: as rosetas de prata e ouro que recebem em cerimónias rotineiras, com pouco calor e sem nenhum charme.

4) Ser parte do grupo alvo não é uma “desonra”, mas ser portista e ser tomado nessa condição, reclama uma política de proximidade ao sócio (e de afectividade) que sinto que falta. O negócio é que comanda e só as forças vivas merecem atenção, a maior parte das vezes num convívio oportunista e hipócrita. Parece não haver lugar para programas simples direccionados para gente simples .

5) Resta ao sócio que não tem “estatuto” continuar a viver intensamente o clube (e fá-lo com extrema devoção), o que é particularmente relevante (quase comovente) em momentos tão difíceis como temos vivido ultimamente.

6) Mas, este não é um mal do FCP, mas era óptimo que fôssemos diferentes, mas não somos!

7) O futebol é negócio. E negócio é uma espécie de capa que tudo encobre, na sacrossanta obediência ao chamamento do mercado . Esperemos que prevaleça o bom senso e que a lógica do negócio, que veio para ficar e se vai aprofundar, não subestime a influência do colectivo em que os sócios são parceiros (e autores) inestimáveis.

8) A presente época que arrancou a 1 de Julho, sem que estejam resolvidos questões tão importantes como o acesso à CL, fazem-me quase ignorar as peripécias própria da silly season em que se transformou o defeso, muito particularmente em função da postura megalómana do SLB no mercado e da ridícula cobertura que a Comunicação Social lhe dedica.

9) O FCP virou-se em definitivo para o mercado sul-americano, com especial preferência pela Argentina. São saídas e entradas, são os que ficam, os que querem sair e os querem ficar. Não contesto a estratégia, porque não a conheço nem domino os segredos do mercado. Mas, que me faz confusão, faz. Sei que o FCP tem um novo paradigma: a formação. Nada contra. Faço votos que seja um tremendo êxito e que a equipa passe, progressivamente, a ser constituída maioritariamente por portugueses.


10) A época que vai começar ainda está envolta em mistério: no campo desportivo e no jurídico. Aumentou o plantel dos notáveis no futebol. Agora, tão importante como os profissionais da bola são os advogados, os delegados do MP, a PGR, os conselheiros de todos os conselhos de justiça do país e arredores, os juízes e os tribunais. Sem desprimor para a sabedoria de personalidades tão proeminentes, confesso que gostaria que se tornassem bastante menos visíveis no plano desportivo (confesso que estou cheio deles) e que fosse a bola quem mais ordena no futebol. Já estou com saudades de futebol, muito particularmente dos jogos no Dragão. Venha o Futebol.