«Quando há 15 anos se iniciou o actual longo ciclo de poder liderado pelo PS, o Porto convivia com três importantes jornais quotidianos, os semanários e restantes títulos de expressão diária tinham a norte redacções alargadas e com peso próprio, a RTP apostava em expandir em Gaia uma importante produção descentralizada, era lançada a ideia de construção do Media Park, a RTP N - então com N de Norte - começava a desenhar-se como canal regional, a SIC e a TVI pareciam querer apostar numa real descentralização.
Volvida uma década e meia, o JN sobrevive forte mas cada vez mais só. O Comércio do Porto morreu, o Primeiro de Janeiro arrasta-se heróica mas sofridamente, as secções locais de semanários, revistas e restantes diários, são cada vez mais simbólicos quiosques de bairro, na RTP N o N passou de Norte a N de quase Nada e não são os bem-intencionados e projectos Porto Canal ou Grande Porto que contariam este trajecto.
Era esta caminhada inevitável? Com certeza. A indústria da comunicação é das que convive pior com projectos bem-intencionados mas economicamente inviáveis. Corre atrás de acontecimentos relevantes, persegue as actividades geradoras de mais-valias, precisa de estar ao lado dos centros de poder. Ora pouco disto passou a existir no Grande Porto e no Norte em geral. Ao longo da última vintena de anos partiram a economia, a vida cultural e social, os melhores quadros, muitos jovens talentosos. Se nos quisermos cingir ao importante mundo da comunicação social, é notável recordar de onde saíram progressivamente Joaquim Oliveira, Judite de Sousa, Rodrigo Guedes de Carvalho, José Alberto Carvalho, Paulo Baldaia, Carlos Daniel. Do Porto. A maioria de forma irreversível. Esta louca macrocefalia, cada dia mais forte que está a condenar o país ao subdesenvolvimento ainda pode e deve ser combatida, mas tal pressupõe compreender a sua génese e identificar os seus responsáveis.
O principal culpado é obviamente o Governo de Portugal, os sucessivos governos, autores de políticas pró activamente castrantes da energia das diferentes regiões de Portugal. Governos que aproveitaram o processo de privatizações para sediarem em exclusivo na capital todo o sistema financeiro e segurador, os poucos grandes grupos estratégicos (PT, Galp, EDP). Em paralelo concentraram o mais possível o funcionamento de todos os Institutos e Empresas Públicas e das poucas entidades supranacionais que se localizaram entre nós.
Não é pois exagero afirmar que 90% das decisões que condicionam o nosso presente e futuro são tomadas num quadrilátero com pouco mais de 200 Km/2, limitada a sul pelo Tejo, a norte pelo rio Trancão, a este pelo Parque das Nações e a oeste pela Serra de Sintra. Assim não é de estranhar que estejamos perante a única região do país com uma média de rendimento per capita próximo da média europeia. Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é pouco inteligente ou não tem arte.
Em tudo isto perde o país e perde o povo anónimo de Lisboa, que tem de conviver com uma cidade maravilhosa, mas que asfixia com o peso deste centralismo. Um peso que inferniza a sua vida e vai expulsando os seus verdadeiros cidadãos para as grandes cidades dormitório periféricas (Lisboa já tem pouco mais de 500 mil habitantes!).
Culpados são também os agentes políticos, económicos e sociais, que a norte não têm sabido unir-se, gerar ideias e projectos mobilizadores, defenderem a sua pertinência, fazerem deles casos de sucesso e imposição nacional.
Como defensor da regionalização político administrativa acho, contudo, que vale a pena alertar os que militam por essa causa para o logro de partir para ela sem prévias medidas cautelares. Medidas que aplanem o caminho de uma verdadeira descentralização.
Um próximo Governo, que tem de significar alternância, terá que dispersar pelo país institutos públicos, repartir pelas regiões competências e lideranças das soberanas empresas públicas, transferir mais competências para autarquias e outras comunidades locais, conceder qualificados poderes de decisão aos múltiplos órgãos descentralizados da administração, definir regras orçamentais que obriguem a uma justa e sistemática repartição dos escassos recurso da nossa comunidade. Quando isso acontecer a comunicação social regressará ao país real e será um factor decisivo de igualização de oportunidades.
Até lá ancoremos a esperança nas poucas instituições que por aqui vão sobrevivendo com êxito. Entre elas destacam-se poucas, numa primeira linha talvez só três, a Universidade do Porto, o Futebol Clube do Porto e o Jornal de Notícias. Que outras aprendam com o seu exemplo.»
Luís Filipe Menezes
JN, 29/08/2010
Neste seu artigo de opinião, Luís Filipe Menezes diz muitas verdades, mas a ideia que prespassa de que o centralismo começou há 15-20 anos atrás não é uma delas. Contudo, é inteiramente verdade que Portugal é um dos países mais centralistas da Europa e que este centralismo asfixiante se tem vindo a agravar nos últimos anos (há mesmo quem afirme que Sócrates é o governante mais centralista desde o Marquês de Pombal).
E, infelizmente, também não é verdade que em termos da comunicação social, o Jornal de Notícias se possa comparar à Universidade do Porto (a maior do país e a mais bem classificada nos rankings internacionais) e ao Futebol Clube do Porto, que é "só" o clube português de mais sucesso (a nível interno e externo) no pós-25 de Abril.
Nota: A inserção das imagens no texto e os destaques a negrito são da minha responsabilidade.
Imagens: JN, Fórum Trás-os-Montes
Reflexão particularmente pertinente. Não assino por baixo do pensamento de LF Menezes (nomeadamente a necessária alternância no governo,mas há q dar o desconto de q está a julgar em causa ppa), mas posso partilhar a minha percepção do problema da centralização.
ResponderEliminarA minha consciência política desenvolveu-se nos meados dos anos 90 - estavamos no meio/fim do Cavaquistão. Fui adepta da regionalização pq "há 10-15 anos atrás" eu via capacidade na Região Norte para fazer a descentralização político-administrativa com competência. Agora, sou franca, não vejo. A qualidade média do político - e sejamos francos, quem vai ocupar os novos lugares criados vão ser uma nova e quiçá pior raça de autárquicos - não me leva a acreditar que uma descentralização não implique o acumular de gente em lugares de compadrio. Um dos problemas crónicos da despesa do Estado é a dificuldade de delimitação de responsabilidades, a duplicidade de cargos e funções, tendencialmente auto-excluentes qd são chamados a intervir.
Em suma: teoricamente a favor; na prática, já não dou para este peditório. E a fazer fé nas palavras de LFM, julgo q, para o Norte, nada mais sobrará que não seja honrar a sua biografia histórica, económica e cultural: erguer-se, dando a carne e fazendo milhões com as tripas.
Quanto ao fcp...seremos talvez a empresa mais exportadora em volume de vendas. Gostava de ver o saldo dos 250M desde 2006/07 e comparar com a Galp, Amorim, Sogrape. Instituição privada de utilidade pública?
cumps
"Em Lisboa movimentam-se muitos milhões de euros. Eu tenho visto como é que, em Lisboa, se desperdiçam milhões de euros. (...)
ResponderEliminarVive-se em Lisboa de uma forma que não se vive no resto do país. Tenho assistido a coisas que não pensava existirem. Vive-se de milhões de euros, de jantaradas, de almoçaradas, de grandes festas e, sobretudo, de grandes negociatas. Vivemos num país demasiado centralista e demasiado centralizado. (...)
Mas as pessoas estão mesmo desoladas! Quem sair de Lisboa percebe que o país está mesmo desolado. E não é ser céptico, é ser realista. Já me apercebia disso e agora apercebo-me um pouco mais."
Júlio Magalhães, director de Informação da TVI
in DN, 02/09/2010
"O centralismo é doença crónica de sucessivos governos. O fenómeno não é de agora. Com o advento da democracia em 1974, os governos de Lisboa, tendo perdido os territórios ultramarinos, contentam-se agora com colonizar e espoliar o resto do continente. Mas esta atitude atingiu o absurdo e a sem vergonha nos últimos meses. Os exemplos são inúmeros. O Governo continua apostado em construir essa obra inútil e cara que é o TGV de Lisboa para Madrid, mas cancela a expansão do metro do Porto, que serve milhões de passageiros e é imprescindível para o desenvolvimento da sua Área Metropolitana. (...)
ResponderEliminarO agravamento desta fúria centralizadora é o corolário dum modelo de desenvolvimento de tipo sul-americano que teve algumas das suas expressões mais emblemáticas na Exposição Universal de 1998, em Lisboa, ou nesse dispendioso mausoléu do cavaquismo que é o Centro Cultural de Belém. Para já não falar da concentração da maioria das universidades públicas em Lisboa; intolerável, pois cerca de 60% dos alunos que concluem o secundário são da Região Norte."
Paulo Morais, economista, ex-vice de Rui Rio na CM Porto
JN, 09/06/2010
"E quem paga afinal a capital e todos os seus privilégios?Obviamente os contribuintes. Para um orçamento do Estado, para o qual cada um de nós contribui com 8100 euros, cerca de 15% dos gastos (12 mil milhões de euros, quase o valor do défice) são para manter a corte e beneficiar os amigos do poder com negócios e prebendas. Este tributo que pagamos à capital empobrece-nos e representa uma diminuição dos orçamentos familiares, em média, de cerca de cinco mil euros. O centralismo é a principal razão da nossa pobreza e maior causa da crise económica que actualmente sofremos."
ResponderEliminarPaulo Morais
JN, 09/06/2010
Oh José Correia,
ResponderEliminarincluir aqui as declarações/visões de Paulo Morais padecem de diversos problemas. Um deles é a desmontagem de todos os argumentos dele. Aqui vai 1 amostra.
a) Ensino Superior Público concentrado em Lisboa: MENTIRA. O Ensino Superior Público será, talvez, o sector económico do país mais descentralizado. A maior Universidade (em número de alunos, de Faculdades/Institutos/Unidades de I&D) estão a Norte e particularmente pulsantes em Braga e Aveiro;
b) A história do TGV em detrimento do alargamento do metro do porto é outra palhaçada política. Concordando ou não com a obra (e eu n concordo,seja de q forma/traçado for) o problema do Metro do Porto começa na sua INTERNA incapacidade de gerir fundos, já que deu MILHÕES de prejuízo à partida, com a incapacidade dos autarcas que estão na Junta se entenderem. Ou seja, não é o TGV em detrimento do Metro, os 2 assuntos nem sequer se cruzam.
c) Chamar de mausoléu cavaquista ao CCB é tradutora do pensamento típico do que é 1 autarca (os lisboetas poderiam dizer o mesmo de Serralves, não?)
Desculpem lá n falar de bola directamente, mas há coisas q n consigo deixar passar...a história das mentiras mtas vezes repetidas...
cumps
@Ana Martins
ResponderEliminarO Metro do Porto dá prejuízo, como dá o Metro de Lisboa, a Carris, STCP ou CP, ou qualquer meio de transporte público cujos preços dos bilhetes não reflictam o custo do serviço prestado.
Se bem percebi a opinião do Paulo Morais, o que está em causa na comparação que ele fez do TGV Lisboa-Madrid versus expansão do Metro da Área Metropolitana do Porto são duas decisões estratégicas do Governo. Para o TGV Lisboa-Madrid não haverá nunca passageiros que tornem a operação desta linha viável, mas há dinheiro. Pelo contrário, a prometida e prevista há muito tempo expansão do Metro do Porto (2ª fase) foi adiada para as calendas, apesar deste meio de transporte registar um crescimento assinalável de passageiros ano após ano.
E mais escandaloso ainda, há dinheiro para fazer uma nova linha no Metro de Lisboa, a qual irá ligar a rede actual a um aeroporto que, de acordo com os planos existentes, vai ser desactivado na próxima década.
Ana Martins disse...
ResponderEliminar"Chamar de mausoléu cavaquista ao CCB é tradutora do pensamento típico do que é 1 autarca (os lisboetas poderiam dizer o mesmo de Serralves, não?)"
Ana, a casa, jardins e quinta de Serralves não foram construídas pelo Estado. Já existiam.
A criação da Fundação de Serralves, através do Decreto-Lei 240-A/89, de 27 de Julho, assinalou o início de uma parceria inovadora entre o Estado e a sociedade civil, representada por cerca de 51 entidades, oriundas dos sectores público e privado. Actualmente o número de Fundadores ascende a 172, entre empresas e particulares.
Quer na sua génese, quer no seu modo de financiamento, os casos do CCB e da Fundação de Serralves não são comparáveis.
A centralização da comunicação social na capital parece-me um fenómeno normal, mesmo que lamentável. Com a evolução das tecnologias e das comunicações acho que isso era mais ou menos previsível. O problema não é esse, mas sim a mentalidade de quem dirige esses orgãos de comunicação social, muitas vezes, se calhar, nortenhos emigrados para a capital.
ResponderEliminarAgora, desculpem lá, vocês metem-se na política e um tipo não pode a ela fugir. Por isso vou repetir aqui a vossa citação desse grande vulto da intelectualidade portuguesa e verdadeiro símbolo do que nos traria a regionalização, o incomparável, "the one and only Daffy..." NÃO, Luís Filipe Menezes:
"Um próximo Governo, que tem de significar alternância, terá que dispersar pelo país institutos públicos, repartir pelas regiões competências e lideranças das soberanas empresas públicas,"
Ó Luizinho, acorda, pá! "um próximo governo" terá é de fechar muitos desses institutos públicos se quer de uma vez por todas reduzir o deficit pelo corte da despesa em vez de, como o governo actual, continuar a sobrecarregar de impostos os portugueses.
E por Portugal estar na bancarota, meus amigos, acho que este debate da regionalização não faz neste momento, e infelizmente, sentido. Iria criar-se mais um estrato de políticos e burocratas e respectivos custos. E, no aspecto prático, ao ver a qualidade da maioria dos autarcas do Norte (os potenciais ocupantes dos lugares criados pela regionalização), sejam de que partido forem, não posso deixar de pensar: mais vale deixar estar como está, e fazer-se uma descentralização administrativa e, principalmente, uma caça à burocracia e à corrupção que, essas sim, seja no Porto ou em Lisboa nos minam o ânimo e nos tornam mais pobres.
Ah, e quanto ao TGV Lisboa/Madrid, a inspiração disso em detrimento de outras coisas como o Metro do Porto nada tem a ver com o centralismo, mas sim com outra espécie pior da mesma praga e para a qual muitos ainda não acordaram: o iberismo. Aqueles que já nos subjugam a Lisboa querem agora subjugar-nos a Madrid. Haviam de passar dois meses no País Basco, para verem o que é o castelhanismo.
Abaixo a 3ª República! Aproveitemos o 5 de Outubro para a apearmos! : -)
Tudo isso é verdade, ouj próxima dela, ainda que LFM não seja um bom elemento para a denunciar, como qualquer político não merece credibilidade só pelo facto de puxar a brasa à sua sardinha que não é, nunca, necessariamente a que nos interessa a todos.
ResponderEliminarMas antes de tudo isto são os eleitores, os leitores e consumidores de Imprensa, os cidadãos os culpados, porque não compram jornais locais nem produtos locais. Se é o povo que tem de mudar isto é dele o paradigma para isto mudar de alguma maneira.
Esta lengalenga faz-me voltar ao tema de a Imprnsa desfavorecer o FC POrto, mas a Imprensa local não é favorecida sequer pelos adeptos do FC Porto.
Há muita gente que fala, nos blogs incluídos, que devia pensar primeiro no esforço que faz para mudar este estado de coisa.
A 1ª vez que ouvi a frase "Portugal é Lisboa, o resto é paisagem" foi na minha tenra infância nos 60's(penso que aos 4 ou 5 anos de idade), e imaginei Portugal um lugar com apenas uma cidade e o resto era zona rural, e tive pena, pois não conseguia imaginar como seria viver num lugar onde só havia uma cidade e não se podia viajar pois não havia outra cidade.
ResponderEliminarE como eu tinha certeza que haviam o Rio, que tinha praia e São Paulo, que tinha edifícios gigantescos, para além da minha cidade natal e cidades vizinhas, fiquei aliviado de não morar em Portugal.
A infância é linda por isto,á gente entende tudo ao pé da letra.
E desde junho de 1994 a viver cá na Invicta, continua a ser a mesma coisa.O que é de Lisboa tem destaque, o resto que se amanhe.
Penso que este centralismo, assim como a corrupção, a bandidagem, a impunidade e a insegurança no Brasil, só vão mudar no dia em que vampiro doar sangue...
Caríssimos
ResponderEliminar...(também acho que) é como o rbn diz:..."só vão mudar no dia em que vampiro doar sangue "...Aliás, já tivemos por cá,quem ,imorredouramente tenha falado(cantado) neles(nos vampiros).Infelizmente,por cá medraram (não é "merdaram",não),por cá os vemos passando, seja centralizados,seja regionalizados,e nem a "crise",nem o diabo,os retrai...
Regionalização?!Descentralização?!
Bah!... Mais caciques?Mais yes-man?Mais chorudas mordomias?...Mais...Mais...Mais...
João Carreira
Srs, são palavras atiradas, o que precisamos é de lideres, acreditem que quando os encontrarmos haverá muita gente a seguir as ideias que todos partilhamos, até lá vamos continuar com o crónico palavreado e a tentarmos individualmente aquilo que pensamos ser o melhor para o Norte/Portugal.
ResponderEliminarContem comigo para o futuro!
e chegada a hora do povo se pronunciar, que faz este, nomeadamente o que vive a norte?
ResponderEliminarManifestações como a que vi em Matosinhos, sábado passado. Assim, não admira que estes chicos espertos se perpetuem no poder...