sexta-feira, 28 de junho de 2013

Porto: cada vez mais Futebol Clube

Por André Machado

A vencer desde 1893. É este o “benchmarking” de tantos portistas como eu, que no alto das suas cadeiras de sonho, profissionalmente falando, aplicam esta filosofia, sem pestanejar, no seu dia-a-dia. A transposição é permanente. Nunca esquecida. Vencer desde a sua nascença. Vencer desde a sua existência. Vencer. Ganhar. Conquistar. Crescemos a sentir o Porto e a pagar cara cada vitória. Nas Antas torcíamos mais do que os outros, acreditávamos mais do que os outros, ficamos conscientes e convictos que, para sermos melhores, teríamos forçosamente que fazer mais, e acima de tudo fazer mais do que os “outros”. Assim o fizemos. Assim trouxemos esta bagagem para a nossa vida profissional, pessoal. O Porto foi e é uma escola de homens. O Ensinamento. O Exemplo.


Mas nós, e quando me refiro a nós, falo na globalidade da essência do que é ser “portista”, não fomos os únicos a abraçar o crescimento e a maturidade. O Porto, também ele, cresceu. Mudou de casa. Triplicou o número de colaboradores. Quadruplicou o valor das suas equipas. Até diversificou a sua actividade e fundou novas empresas. Sempre a vencer, pelo menos dentro do campo. Nas quatro linhas. Na sua máxima preocupação, o Futebol. No “core” da sua existência, o Desporto Rei. Mas fora dele, parece esfumar-se no tempo, como um dia de neblina pela manhã, esta vontade de ser mais. Esta vontade de ser Porto.

Hoje o Porto não é só emoção, não representa apenas uma causa, uma região. Hoje o Porto é razão. É negócio, é activo e passivo. Hoje o Porto é lucro, organização, rentabilidade. Hoje o Porto somos todos nós, mas não só. Hoje o Porto é “mais” SAD. Mas é “menos” Comercial, menos Estádio, menos Multimédia, menos Seguros, menos Viagens, e claramente, é hoje menos Modalidades. Podia ser mais, mas não é. Hoje o Porto é muito, podia ser bem maior, mas parece teimar em não querer ser.


Classifico, desportivamente, como irrepreensível o trabalho da estrutura da SAD e respectivos elementos. Classifico como únicos os feitos e as conquistas alcançadas. Reconheço uma validade e um valor extremo e ímpar. E este reconhecimento abrange as mãos de quem detém o destino do meu Clube. Porém, desconheço a estratégica, o posicionamento e a abordagem comercial. O fio condutor das outras estruturas que perfazem o Grupo. Desconheço a penetração comercial internacional pretendida. Desconheço a capitalização do “Brand Equity”, desagregado do activo “Futebol”. Desconheço a captação de investimento internacional na sponsorização do clube e no investimento na rubrica “Hospitality”, entre outras. Desconheço talvez porque ando desatento, talvez porque a Razão baralhe a Emoção, de quando em vez. Desconheço talvez porque haja menos comunicação mediática sobre estas rúbricas, desconheço porque talvez seja de menor escala a política expansionista do grupo. Desconheço, talvez porque não perceba de política alguma, para além da política desportiva, que é de fácil compreensão. Simplesmente desconheço. Prefiro assim.

Mesmo quando se fala em expansão, fala-se pouco em penetração global. Conhecem-se entradas específicas em Mercados Emergentes, nomeadamente na aquisição de novos activos, leia-se jovens jogadores. Mas referencia-se pouco a comercialização activa de merchandising personalizado, por exemplo, nestes Países. Quantas multinacionais, que se encontram em fase de penetração no Mercado nacional, terão sido abordadas? Quantas feiras desportivas de renome mundial contaram com a presença do FC Porto, enquanto expositor? Quantos Produtos foram Licenciados e activados fora do território nacional? Quantas vezes foi o Porto o veículo que aproxima as organizações internacionais do Mercado Nacional, capitalizando assim o investimento que as mesmas fazem no clube e elevando a mais-valia que significa a elaboração de uma parceria comercial com a organização? Quantos eventos captados internacionalmente, fora do âmbito desportivo foram captados e inseridos no contexto Estádio do Dragão / Dragão Caixa? Quantos modelos de sucesso foram analisados, estudados e seguidos, nas diferentes áreas de negócio? Desconheço. Sou um leigo. Uma vez mais, um cego. Se no capítulo desportivo não há discussão que resista pois a invencibilidade estratégica impera há mais de três décadas, o mesmo não se pode afirmar no que à capitalização e rentabilização de outras potencialidades do Clube, das Empresas e da Marca, diz respeito.

Pegando num exemplo bem próximo e actual, as novas plataformas digitais e os designados “Social Media” que vieram para ficar, a página oficial do clube, no Facebook, possui um elevado número de colombianos como fãs e seguidores das actualizações diárias e da realidade presente do clube, estando já no topo da tabela, fruto das estrelas que o Porto conseguiu captar, neste País. De que forma é que rentabilizamos comercialmente esta aproximação intercontinental? Quantos dos nossos patrocinadores oficiais (independentemente da sua classificação, “Gold or Silver”) ou parceiros, que possuem especial interesse nesta região do Globo, utilizaram este canal como meio e veículo de comunicação direccionada? São muitas as questões que possuo. Desconheço todas as suas respostas. Talvez por ser um leigo. Serei certamente um leigo nesta matéria.

A vencer desde 1893 continua a ser o “benchmarking” e o legado de tantos portistas como eu, que no alto das suas cadeiras de sonho, profissionalmente falando, aplicam esta filosofia, sem pestanejar. Já o fizeram no passado. Vencer desde a sua nascença. Vencer desde a sua existência. Vencer. Ganhar. Conquistar. O Porto foi e é uma escola de homens. O Ensinamento. O Exemplo. Porque no Porto sempre torcemos mais do que os outros, sempre acreditamos mais do que os outros, sempre fomos conscientes que para sermos melhores, teremos forçosamente que fazer mais, acima de tudo fazer mais do que os outros.

E, neste capítulo, no extra futebol, ainda não somos suficientemente “mais”. Ainda não somos “mais” do que os outros…

Nota: o Reflexão Portista agradece a André Machado a elaboração deste artigo.
   

3 comentários:

HULK 11M disse...

Parabéns pela excelente "reflexão portista"!
Fazendo-se passar por "leigo", o autor mostra ser um expert de muito valor na área que aborda.
Acredito que exista também gente de muito valor na estrutura do FCP-Clube. Mas, como diz o André Machado, não se percebe. E devia-se conseguir perceber.
Mas percebe-se que existem coisas que não deviam acontecer, como por exemplo, a ausência de representantes do Clube no recente encontro de bloggs portistas. O benchmarking e o merchandising passam também por aqui..

José Rodrigues disse...

Eu ate' acho q o A. Machado e' um bocadinho injusto em alguns pontos, havendo algum trabalho interessante feito.

Mas concordo que da' um bocado impressao de ser casos isolados e oportunistas sem q haja exactamente uma estrategia. Pode estar errado, mas e' a impressao q da'.

De qualquer forma para mim ha' um ponto de partida extremamente basico de que ninguem se deve esquecer:

Todas as actividades (no universo SAD) q nao estao directamente relacionadas com o aspecto desportivo do futebol servem basicamente para dar lucro e serem uma cash cow para "injectar" fundos no futebol (passes e salarios de jogadores).

Para mim e' tao basico como isso. Nao me interessa ter uma Porto Comercial, Porto Seguros, Porto Multimedia, organizacao de eventos etc se nao for para ter um lucro consideravel.

Ora se estas actividades secundarias sao uma autentica cashcow em clubes de outros paises, no nosso caso nem sequer lucro têm (a acreditar no R&C da SAD), o q indica q alguma coisa nao estará bem (penso q mais do lado dos custos do q das receitas, mesmo q haja aí potencial por explorar).

Já agora, uma ideia solta na área da multimedia: porque é q nao existem Apps com jogos FCP?

Esse tipo de aplicacoes pode ser uma autentica cashcow, com varios tipos de encaixar dinheiro (Apps pagas; Apps de borla com extras pagos, etc). Jogos de futebol, quizzes, etc.

Andre Machado disse...

Há um trabalho extremamente interessante feito pela estrutura. Trabalho extremamente interessante, repito. Pena é que os holofotes internos se concentrem em apenas uma "realidade", enquanto outras "realidades" perdem força...