sexta-feira, 19 de julho de 2013

O Futuro, hoje

Por André Machado

Segundo Peter Drucker, a melhor forma de prever o Futuro será criá-lo. E, no seguimento do meu anterior artigo, faço hoje uma análise mais directa e exaustiva, e sobretudo menos “romântica”, sobre este tema.
Será importante reforçar e reafirmar que o F.C. Porto tem, em cada estrutura individual (em cada empresa detida, nas diversas áreas), os meios humanos necessários para crescer e evoluir. Tem massa crítica nos seus quadros, fundamental para avançar nas conquistas, comercialmente falando. Os melhores profissionais do sector desportivo no panorama nacional. Precisa apenas de maior atenção, maior liberdade, internamente, para que individualmente as empresas do Grupo possam crescer e evoluir como o Departamento de Futebol tem feito, e bem.

Posto isto, será importante, antes de mais, desmistificar os proveitos operacionais e a sua proveniência, onde para alguns, será uma surpresa que os proveitos advindos das transferências sejam, em média, apenas de 30% do total dos proveitos da sociedade, inseridos no gráfico abaixo em “Vendas Jogadores” (que representa as mais-valias obtidas com a transferência de jogadores):


Torna-se claro que não existe uma dependência exagerada, embora relevante, das transferências de passes de jogadores. Torna-se igualmente claro que os Proveitos Operacionais têm crescido, fruto de um bom trabalho no mercado interno que a estrutura tem desenvolvido e num panorama de crise económica. Contudo, e pensando igualmente no condicionalismo económico nacional que muito afecta as pessoas e as empresas, sem perspectiva de inversão, exige-se uma nova abordagem e uma nova reflexão sobre a estratégia a seguir.

O Futuro de alguns é já o Presente de outros tantos. O que poderá ser o Futuro do F.C. Porto é já o Presente de clubes como o Bayern de Munique, considerada a marca mais valiosa em 2013, pela Brand Finance, ultrapassando os hegemónicos Manchester United, Barcelona e Real Madrid. Com receitas comerciais isoladas, superiores a 200 M€, o clube assegura 40 M€ pela Deutsch Telekom (main sponsor da camisola) e 34 M€ pela Adidas (marca dos equipamentos desportivos), estando a marca avaliada globalmente em 860 M€. De salientar que, e em jeito de curiosidade, dois dos actuais parceiros do clube são igualmente accionistas. Simplesmente curioso para não dizer… meramente oportuno.

A base deste sucesso poderá, per si, chamar-se Alemanha. Um País com cerca de 80 Milhões de habitantes e com uma das economias mais fortes do Mundo. A Alemanha é a maior economia da Europa, a terceira maior quando considerado o PIB nominal e a quinta maior quando é considerada a Paridade do Poder de Compra. Mas não só. Um dos sucessos prende-se com remunerações comerciais com ligação directa à performance desportiva, onde os êxitos e as conquistas representam um encaixe adicional, pago pelas marcas, mediante o sucesso desportivo interno e externo da equipa. Outro dos factores prende-se com o facto das transmissões televisivas serem em canal aberto, onde a exposição das marcas se torna mais apetecível, e com maior penetração global. E mesmo sendo uma sociedade forte, economicamente falando, o season ticket mais barato custa apenas 123€, em linha com os valores mais baixos praticados pelonosso clube.

Em suma, o segredo está na captação de uma audiência global, desfocando em parte os esforços no mercado interno – tendo sido este o apontamento estratégico previsto pelo Bayern de Munique – na captação de receitas extra-desportivas para o futuro. A ida de Pepe Guardiola para ocampeonato alemão é um claro “piscar de olhos” aos investidores comerciais dofutebol espanhol e mundial.


Outra questão que se coloca prende-se com a venda de camisolas, que num fenómeno mais do que natural, assume valores multidimensionais aquando das vitórias europeias, como o caso do Borussia deDortmund esta época. O clube alemão, que não se encontra entre a elite natural (ver imagem descrita acima) foi uma agradável surpresa para a marca desportiva PUMA, que com vendas que ultrapassaram as 300 mil unidades, viu os êxitos desportivos do clube remunerar indirectamente a insígnia, colocando-a a rivalizar com a Adidas e a Nike, os principais players da actualidade. Estas, com o domínio global do mercado, fazem com que outras empresas interessadas neste negócio façam incisivas investidas, para penetrar no mercado, remunerandoem alta os clubes, e dispostas a quase tudo:


Resumindo, o segredo concentra-se precisamente aqui: Shirt Main Sponsor & Kit Supplier.

Estes patrocínios, correlacionados com os êxitos desportivos projectam as marcas além-fronteiras com uma visibilidade difícil de igualar, captando-as e atraindo-as por isto mesmo. O futebol, hoje, é também isto.

O F.C. Porto, com um número estimado de 1,3 M de adeptos em Portugal (dados 2010), não possui uma realidade envolvente muito diferente, ajustada à nossa escala. Na Alemanha não há um fã de futebol que fique indiferente ao Bayern de Munique. A equipa bávara desperta amor ou ódio por todo o país. O sucesso é uma das explicações para essa rivalidade. O mesmo acontece em Portugal, o mesmo acontece com o F.C. Porto.

“O Bayern diferencia-se dos seus adversários alemães por pensar nacional e internacionalmente, enquanto os outros grandes clubes alemães mantêm-se ainda fortemente voltados para a sua região”, segundo o consultor Peter Rohlmann, um dos maiores investigadores europeus nesta área.

Será precisamente esta a diferenciação fundamental para o F.C. Porto, num Futuro que poderá ter começado… quem sabe… hoje.

Nota: O Reflexão Portista agradece a André Machado a elaboração deste artigo.
   

25 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns pelo post.

O F. C. Porto é um clube de raízes regionais, com cada vez maior implantação, abertura e visão internacional.

Não é à toa que hoje em dia temos através do facebook mais seguidores internacionais do que qualquer um dos nossos rivais internos.

Eis os números:

FCP: 1.094.129 (505.039 Nacionais; 589.090 Internacionais)

SLB: 1.344.854 (837.811 Nacionais; 507.043 Internacionais)

SCP: 595.819 (413.769 Nacionais; 182.050 Internacionais.)

O facebook é o melhor aferidor (na óptica comparativa entre clubes) do número, implantação e proveniência de adeptos de cada clube.

Como curiosidade (constantemente branqueada e abafada pela CS) os encornados são tão "grandes" que o mito dos 6 milhões equivale a 837 mil seguidores nacionais e o agora novo mito dos mais de 3 milhões de chorões verdes equivale a 413 mil seguidores nacionais. Por onde anda essa gente? Enquanto isso, o clube "sem adeptos", o nosso, tem 505.039 seguidores nacionais.

Este talvez seja o melhor exemplo de como uma máquina de propaganda e de mentiras repetidas à exaustão ao serviço do regime encornado (e verde) funciona tão bem. A tal constante ilusão de grandeza com que a "parolada" gosta tanto de ser enganada.

Uma vez mais, parabéns pelo post.




Joaquim Lima disse...

Não é que seja relevante para o tópico, mas como consegue ver discriminado quantos seguidores nacionais e internacinais têm cada clube na página do facebook??

André Sousa Machado disse...

Estimado Joaquim Lima,

Permita-me que me antecipe ao "Anónimo" e lhe responda:

> http://www.socialbakers.com/facebook-pages/82713049484-futebol-clube-do-porto

Obrigado.

Joao Goncalves disse...

Muito Bom Artigo

Agora precisamos era de ganhar algo novamente a nível Internacional (Liga dos Campeões) para ver se conseguíamos potenciar a marca internacionalmente, mas hoje com estes novos ricos no futebol, isso é uma impossibilidade

Joaquim Lima disse...

Obrigado. Desconhecia tal ferramenta!

André Sousa Machado disse...

João Gonçalves: Uma equipa recheada de estrelas não é sinal obrigatório de conquistas asseguradas. Que o diga o Real Madrid, ou mesmo o PSG que na época passada sucumbiu aos pés do Dragão...

Pyrokokus disse...

vai ser este ano no estádio da lampionagem... :D

Joao Goncalves disse...

E nós secumbidos aos pés do PSG em Paris, depois de terem a máquina mais oleada.

Uma equipa recheada de estrelas não é sinónimo de nada mas várias equipas recheadas de estrelas é sinónimo que estatisticamente fica muito dificil chegar a uma Final da Champions, pois as estrelas fazem a diferença e se conseguirmos passar, digamos um Man City nos oitavos de final e apanharmos um Bayern Munique a seguir, era preciso mesmo muita sorte para nos safarmos.

E depois ainda teríamos que apanhar um Real Madrid ou Barcelona ou Manchester United e por aí adiante.

Resumindo, se tivéssemos a sorte do sorteio e não apanhassemos colossos nas eliminatórias ou pelo menos mais que 1 colosso, uma final é uma final, o problema é que temos muitos colossos para apanhar até lá

André Sousa Machado disse...

Perdoem-me a imodéstia mas o F.C. Porto é igualmente um colosso, desportivamente falando. Mesmo com orçamento inferior aos designados "grandes", o F.C. Porto já demonstrou que as estatísticas valem o que valem e que, durante os 90 minutos, dentro de campo, tudo muda. Portanto, especulações à parte, acredito SEMPRE numa boa prestação nas provas da UEFA.

Miguel Lourenço Pereira disse...

André,

Pode acreditar no que quiser, como é natural, mas seguramente que os adeptos do Málaga ou do Schalke 04, esses "colossos, não se arrependem muito de terem jogado contra o FCP nos jogos a doer da Champions!

André Sousa Machado disse...

Miguel,

Pode acreditar no que quiser, como é natural, mas seguramente que os adeptos do(a):

>> S.S. Lázio (2003);
>> Manchester United (2004);
>> Olympique Lyonnais (2004);
>> Inter (2005);
>> Marseille (2007);
>> Atlético de Madrid (2009);
>> Villarreal C.F. (2011);

>> Entre outros...

E estes "colossos" arrependem-se de terem jogado contra o F.C.Porto, a doer, nas provas oficiais da UEFA!

Pedro Albuquerque disse...

Comparar Lazio, Lyon, Marselha, Atl Madrid ou Villareal (que no ano a seguir a ter perdido com o FC Porto desceu de divisão) com um PSG, Man City é no mínimo ridículo.

Joao Goncalves disse...

Eu não sei se o André é só teimoso ou está a gozar connosco...

Diga lá se em vez de Herrera, Lucho, Varela, Quintero, Danilo, etc...

Não era melhor ter Javotic, Robben, Hulk, Hazard, Lichsteigner, Iniesta, Gotze, Schweinsteiger, Kun Aguero, Javier Pastore, Tiago Motta, Cavani e por aí adiante? E já sem falar de James, Moutinho e Falcao...

Isto são grandes jogadores para formar uma grande equipa para lutar por uma champions...

Nós estamos a formar grandes jogadores para lhes vendermos e irem disputarem a tal Champions.

Anónimo disse...

Julgo que o que o André Sousa Machado quis dizer foi que esses clubes não devem ter gostado muito que lhes tivesse calhado o FCPorto independentemente de serem colossos ou não.

João Silva

André Sousa Machado disse...

Pedro Albuquerque, ridículo será comparar o Málaga ou o Schalke 04 às equipas citadas anteriormente. Até porque o Málaga, está privado da participação nas provas europeias, esta época (2013-2014), devido ao incumprimento das imposições financeiras da UEFA.
Ridículo será igualmente citar o Mónaco, como colosso, clube que ainda na época passada disputava a segundo escalão do futebol francês.
E para terminar, relembro os títulos internacionais dos clubes citados:

>> Marselha: 1 Taça dos Campeões Europeus; 1 Taça Intertoto.
>> Lazio: 1 Taça das Taças; 1 Supertaça Europeia.
>> Atlético de Madrid: 1 Taça Intercontinental; 2 Taça UEFA; 2 Supertaça Europeia; 1 Taça Intertoto.
>> Villarreal: 1 Taça Intertoto;


>> PSG: 1 Taça Intertoto;
>> Manchester City: 1 Taça das Taças;

A grandeza dos clubes está nos títulos que conquistam, não nos investimentos que realizam...

João disse...

Javotic é craque.

Pedro Matias disse...

além de preferir alguns jogadores nossos a esses da lista tb é preciso considerar que há aspectos importantes em que uma equipa com menos pergaminhos pode ser superior.

Muito dinheiro habitualmente acarreta alguns vicios que prejudicam o desempenho da equipa.

André Sousa Machado disse...

Estimado João Silva, obrigado pela compreensão. São inúmeros os favoritos à partida, e a atenção recai, como é óbvio, principalmente nos Clubes com maiores orçamentos. Mas apenas isso. Os 90 minutos mudam muita coisa. E a beleza do Futebol reside igualmente na incerteza do resultado. O F.C. Porto deixou de ser aquela equipa que beliscava de quando em vez os calcanhares aos ditos grandes. É hoje um adversário difícil. E não é à toa que o Estádio do Dragão está entre os três estádios mais difíceis do Mundo... porque o F.C. Porto é hoje uma equipa verdadeiramente difícil.

Miguel Lourenço Pereira disse...

André,

O "fanatismo" num leva a nenhum lado.
É bonito acreditar que o FCP é um grande da Europa. Eu penso o mesmo. Mas o que eu penso raramente se traduz em resultados. Salvo o ano da Liga Europa - que vale o que vale, muito pouco realmente - desde 2004 que as nossas performances europeias são penosas, roçando o rídiculo (duas eliminações na fase de grupos) e derrotas com equipas que estavam perfeitamente ao alcance. Desde 2004 o FC Porto foi uma vez aos quartos da Champions, eliminado o Atlético de Madrid. Uma vez.

Querer colar o termo "colosso" a quem vai uma vez aos quartos da Champions numa década, não é uma potência financeira (que PSG, Monaco, Chelsea, Zenit, Shaktar hoje são) e não actua numa liga de topo, com a repercursão que isso traz naturalmente, é puro fanatismo.

Somos grandes? Somos sim senhor.
Somos underachievers na Europa? Eu acho que sim.
Temos potencial para ir mais longe? Temos.
Somos um colosso? Não

Pedro Albuquerque disse...

Agora disseste tudo!

Falaste no Manchester United não foi?
Quantas Champions League tem desde 2004?


Pois....

Manuel Guedes disse...

O artigo é muito interessante.

Dada a diferença de poder de compra, não consigo entender o motivo das camisolas do Bayern ou do Dortmund serem mais baratas para os adeptos do que as do Porto.

Pedro Jesus disse...

Bayern e D. Kiev de 87 que eram à data colossos iguais ou melhores que os de agora.Comparar Villareal que sim senhor,desceu a seguir de divisão com PSG ou City é irrealista,como será comparar com MU de 2004.É como comparar um atropelo de 5 aos nossos amigos de Lisboa e ser eliminado por um Torreense.Prefiro ver o Malaga como um Torreense nestas coisas da Champions.

Anónimo disse...

Não concordo que o FB seja uma correcta medição de adeptos. Eu por exemplo não estou no FB nem vou estar. E como eu há milhões em Portugal



João disse...

Vivo fora de Portugal faz alguns anos, e grande parte dos meus amigos não acha muita piada jogar com o Porto. Especialmente no Dragão. Uma curiosidade, eles achavam que nós iamos passar com o Málaga sem dificuldades. Aliás fui alvo de chacota deles quando o Porto apresentou a equipa que apresentou, e perdeu da maneira que perdeu.

Mentalidades pequenas estão condenadas ao insucesso, sentem-se inferiores, e no fim a probabilidade de se sair derrotado é maior. No entanto tem de se ter a cabeça na terra e trabalhar para estar sempre um passo à frente dos outros. Nunca dormir no sucesso, e pensar que só quando o apito do fim do jogo soar é que está ganho. Até lá, come-se relva se for preciso. Temos de ser arrogantes o suficiente para mostrár-mos que somos bons, temos que o provar. Não se vive de quases.

O porto tem todas as condições para se apresentar como um tubarão, pode não ter nomes sonantes, mas tem de ter uma marca sonante e jogadores com mentalidade competitiva suficiente para olharem nos olhos os pastores e os ibrahimovics dos clubes dos arabes. E isso é possivel de fazer, temos de ter um treinador competente e uma equipa que acredite nela. Assim poderemos ganhar algo ou ir longe nas competições europeias!!



Anónimo disse...

Este ano temos...mas vamos com calma irmão~!