sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

1993



Numa noite de insónia pouco habitual, pus-me a viajar pelos muitos canais televisivos à disposição, até que desaguei no RTP Memória que retransmitia o Farense-FCP do ano da graça de 1993. Essa jornada, segundo percebi do saboroso relato de Gabriel Alves, realizou-se já no fecho do campeonato e com o quase certo primeiro lugar no bornal do FCP. O jogo fez-se à luz do dia, estava muito vento e foi arbitrado por Donato Ramos.
O FCP alinhou: Baía; Bandeirinha, Fernando Couto, Aloísio, Vlk; Jaime Magalhães (Jorge Couto), Rui Filipe, André, Semedo; Domingos e Kostadinov. O treinador era o brasileiro Carlos Alberto Silva. O resultado final: 1-0 a favor da equipa algarvia, num jogo horrível, feito de colisão e muito pontapé sem arte nem jeito e demasiadas vezes dirigidos às canetas do adversário. Não jogávamos em “posse”, não saímos do 4x4x2, o meio campo foi demasiado lento, aqui e acolá com algumas acelerações do mal-amado Semedo e a única receita foi jogar para o Kostadinov que ainda incomodou, apesar da marcação impiedosa do brasileiro Luisão. Domingos foi muito castigado o que o condicionou. Apenas Aloísio e Vlk estiveram bem. Os restantes estiveram a um nível pouco condizente com os seus pergaminhos. A nossa equipa apenas incluiu três estrangeiros e dos portugueses só o André não veio da formação. A arbitragem foi um horror e permitiu ao Farense uma postura de violência inadmissível, nomeadamente no primeiro tempo. O comentador era hilariante e julgou sempre as agressões claras do nosso opositor como sendo involuntárias.
21 anos separam-nos daqueles tempos; o futebol mudou substancialmente e para melhor: na construção e qualidade do jogo, no preparo físico, na intensidade e velocidade,  com  arbitragens de melhor qualidade e muito menos violento. Pela negativa, o colossal recurso a jogadores estrangeiros em relação a esses tempos e a míngua de atletas da formação na constituição da nossa equipa principal. Outro contraste: o estádio do Farense estava cheio. Muito idêntica ao que se passa  nos nossos dias,  a mediocridade do comentário que não mudou a matriz: a falta de qualidade sustentada no duopólio que fornece a grande maioria dos comentadores da nossa praça: SLB e SCP e, ainda por cima, mauzinhos, mauzinhos.

Sou o mais velho do RP o que não é mérito para além das fragilidades que o envelhecimento provoca e continuarmos com vontade de andor por aí. Apesar disso, não tenho saudades do passado nem do futuro. Fala-se muito nestes tempos, na ausência de mística e aponta-se que nos falta na nossa equipa actual mais amor à camisola e dá-se como exemplos maiores dessa ligação clubista íntima, Vítor Baia e Jorge Costa. Gosto de ambos, mas na bola o atleta, não raramente, cede às circunstâncias. VB não hesitou em emigrar para o Barcelona, regressar depois de rejeitado no clube catalão com a garantia do mais alto vencimento praticado no nosso país e, hoje, colabora com o incrível Record, enquanto JC fugiu duas vezes, na primeira por ter atirado a braçadeira de capitão para o relvado a segunda por não ter tido a capacidade de reconhecer que já não reunia condições para ser titular. Um dos jogadores que mais aprecio no actual plantel é Óliver Torres que sem qualquer ligação ao clube e à cidade se comporta como sempre cá tivesse vivido ou saído da formação. O amor ao clube é importante, mas não é decisivo: a qualidade e o profissionalismo estão primeiro, digo eu.

4 comentários:

Pedro ramos disse...

Concordo quando diz que qualidade e profissionalismo devem vir primeiro, mas também penso que faltam referencias dentro do balneário, faltam líderes dentro do balneário, e isso também é devido à gestao que o clube tem vindo a fazer, quase sempre demasiado preocupada com os activos e com o mercado.
Tem faltado algum equilibrio nesse ponto nos anos recentes, já com VP tivemos necessidade de buscar Lucho para cumprir esse papel, e neste momente com Helton ainda a tentar regressar, resta talvez Quaresma que, pelo menos em termos públicos nao parece ser um grande exemplo a seguir.

Zé_dopipo disse...

Os anos passam e continuamos a destilar ódio sobre jogadores que nos representaram em momentos vários e que ajudaram, e de que maneira, a construir a glória do FCP actual. O VB foi uma das mais fantásticas transferências da nossa história e não fica bem falar disso da maneira que o faz aquí. Voltou ao FCP depois de conquistar alguns títulos em Barcelona e foi importantíssimo para voltarmos a ser campeões. Tem de fazer pela vida onde pode, porque, ao contrário doutro clube de que não gostámos, o FCP especializou-se a ostracizar as suas glórias.
Quanto ao JC, na altura defendí eu e muita gente, que não tinha atirado a braçadeira ao chão, mas sim que ela tinha caido por acaso. Claro que para sí, não há dúvida, o homem atirou mesmo com a braçadeira. E assim se pretende escrever a historia do nosso clube.

João Machado disse...

Pior que tudo é que tínhamos um grande líder, com salários em atraso, que se foi embora porque houve dinheiro para ir buscar um tipo que por sempre o ego à frente da equipa e que de líder só se for da moda dos bonés e leggins que tanto agrada a uma franja da claque.

A ver o que Lucho faz em Sevilha! Ainda vai calar muitas bocas!

Filipe Sousa disse...

Não me parece que o Mário esteja destilar ódio sobre ninguém; é apenas a perspectiva dele sobre duas figuras marcantes dos últimos anos, que como homens que são, podem cometer erros. O Vítor Baía, teve problemas com o Mourinho, colocou os seus interesses à frente da equipa, mas soube redimir-se; o caso em nada beliscou o seu percurso mas também não vale a pena fazer de conta que não existiu.