sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Caso Oliver, ponto de situação

Parece evidente que a temporada 2014-15 do FC Porto em campo tem quatro nomes próprios.
Jackson Martinez continua a demonstrar sem um avançado de excelência mas deve estar de saída. Um "pacto de cavalheiros" assinado no passado Verão, como sucedeu com Deco, que o clube vai cumprir. Ruben Neves foi a grande revelação e tem um futuro imenso pela frente, que a sorte o acompanhe contra as lesões. Brahimi foi a grande contratação do ano. Os primeiros quatro meses do argelino foram imensos. O jogador não teria chegado ao clube sem o apoio da Doyen e a mediação de Jorge Mendes e irá quando estes quiserem. É algo que o clube tem perfeitamente assumido. E depois, depois está Oliver Torres.

Oliver chegou emprestado em Julho. Um empréstimo de apenas uma temporada como petição expressa de Julen Lopetegui, treinador que o conhecia bem das camadas jovens do futebol espanhol, onde foi seu treinador. É uma das maiores pérolas do futebol europeu na sua posição. Com 19 anos é mais um nessa escola de "bajitos" como Xavi, Iniesta, Isco, Mata, Silva, Cazorla, Dennis Suarez e companhia. Um talento fora de série que a primeira parte da época confirmou. Naturalmente houve altos e baixos, o mais normal do mundo num jogador com menos de vinte anos que teve, em alguns casos, de jogar fora da posição medular. O FC Porto tinha o seu próprio "Oliver", Tozé, que continua emprestado e a dar boa conta do recado no Estoril mas o espanhol é um jogador mais fino, menos vertical e com melhor toque de bola. Para o modelo de jogo de Lopetegui era o eixo perfeito entre a classe de Brahimi, o estilo de jogo de Jackson e a visão de Ruben Neves. O eixo nuclear da equipa.

O médio espanhol chegou com empréstimo de um ano. O FC Porto quer algo mais. E pode ser que aquilo que até há uns meses era impossível possa mesmo suceder. 
Porque Oliver tem um problema, um problema chamado Simeone. O treinador argentino é actualmente o senhor indiscutível do Atlético de Madrid. Nada sucede na área desportiva do clube sem o seu consentimento. Foi o responsável por lançar Oliver ás feras, o seu primeiro defensor. Mas Simeone sempre olhou para o "bajito" com suspeita. Via-o muito técnico e com pouca intensidade fisica para se adaptar ao seu estilo de jogo, um estilo que todos sabemos como funciona. Pressão alta de um meio-campo fisicamente possante e com boa visão de jogo, transições rápidas, muitos jogos decididos a bola parada. Nesse esquema Oliver conta pouco. Tanto que o técnico preferiu em Dezembro do ano passado, em plena luta pelo titulo - que ganhou - e pela Champions - que perdeu na final - enviar o jogador para o Villareal. Uma escolha com sentido. O clube levantino tem um modelo de jogo radicalmente diferente do praticado pelo Atlético, muito mais parecido ao de Lopetegui. Oliver foi e quem ficou na primeira equipa com minutos de jogo acumulados foi o pequeno Saul, um jogador da sua geração, igualmente talentoso mas muito mais do gosto de Simeone pelo seu trabalho sem bola. Saul é o elegido do argentino e o jogador que conta para assumir protagonismo no meio-campo. Oliver caiu lá para trás na sua lista de escolhas. Mas Simeone não é a única variante neste negócio.

Quando o Atlético de Madrid assinou com David Villa a principio da temporada passada por um valor irrisório, muitos ficaram surpreendidos. Na realidade os clubes chegaram a um acordo de cavalheiros em que os blaugrana tinham o direito preferencial sobre três jogadores da formação colchonera: o lateral Manquillo (actualmente no Liverpool) e os médios Saul e Oliver. O Barcelona tem direito de opção por um valor estipulado para cada jogador - no caso de Oliver ronda os 15 milhões de euros - e tinha três anos para exercer o direito de compra. Por um lado o clube blaugrana já tem em filas jogadores para essa posição como o já citado Dennis Suarez mas também Rafinha Alcantara e Sergi Robert. Por outro lado, e isso complicou muito as contas, a FIFA vetou o clube de acudir ao mercado de transferências. O Barcelona pode comprar mas não registar jogadores e isso esfriou o interesse do clube catalão nos jogadores do Atlético.



Por fim está a indefinição que um clube como o Atlético de Madrid sempre vive.
Simeone já avisou que, caso ganhe a Champions League ou repita triunfo na liga, sai do clube. Considera que cumpriu todos os objectivos e tem ofertas de Inglaterra (Liverpool) e Itália (Inter). Portanto nada será concretizado até Maio em entradas e saídas. Se Simeone ficar, os jogadores com que não conta num principio terão mais fácil decidir o seu futuro. É o caso de Oliver, que o clube não quer vender mas cujo prolongamento do empréstimo ao FC Porto ou a outro clube seria possível e desejável. Se Simeone for embora o desejo do clube é recuperar imediatamente o jogador salvo que o novo técnico diga algo em contrário. Por outro lado estão as saídas.
O Atlético é um clube vendedor e receberá ofertas sobretudo por Koke e Griezzman. No caso do espanhol a sua posição nuclear é similar à de Oliver ainda que o seu suplente actual seja Saul. Por outro lado Tiago - braço direito de Simeone em campo - está perto da reforma e Arda Turan tem ofertas para sair. O caso do turco é importante. Tecnicamente é o mais parecido que há no plantel do Atleti a Oliver. Mas Arda é um homem e Oliver um menino e Simeone valoriza essa diferença. Só há lugar para um jogador desse perfil na equipa. Estando o turco, o lugar é seu. O Atlético está pendente de ver se a estrutura da medular (quatro titulares aos que se podia juntar Mario Suarez também com ofertas de Itália) se mantém igual ou não e dependendo do que suceder valorizará recuperar Oliver Torres.

São muitos variantes ainda em jogo e é difícil que até Maio a situação se esclareça. Até porque ainda está o jogador. Oliver quer triunfar e muito no Calderón. A sua primeira opção é voltar e tentar demonstrar na pre-temporada a Simeone que cresceu. E é bastante possível que a pré-época a faça em Espanha. Salvo se Simeone é categórico com o jogador é que Oliver verá com bons olhos um novo (e último) empréstimo. E nesse caso o Porto terá sempre prioridade para o médio que conta com a confiança do treinador (e se Lopetegui sair é certo a 100% que Oliver não volta também) e a admiração dos colegas. Não é de descartar que o FC Porto guarda o ás na manga de recuperar um Oliver descartado por Simeone em Agosto e não desde o inicio do ano.
O que é certo é que actualmente há uma linha de diálogo aberta oficiosamente entre todas as vertentes desta equação, um diálogo que começou há alguns dias. A mediação de Mendes, como sempre, será fundamental. A sua influência nas mexidas dos colchoneros no mercado é mais do que conhecida e o FC Porto joga com essa carta. Mendes não é empresário de Oliver mas tem um papel chave neste (e noutros) negócios. O mais provável é que se estabeleça um acordo de cavalheiros em que nós tenhamos prioridade absoluta num novo empréstimo (nunca compra, repito!) e que o Atlético tenha até Junho para clarificar a situação com o Porto, o que não exclui o volte-face que mencionamos antes de um empréstimo express em Agosto.



Mas, se há um par de meses era impossível imaginar Oliver um ano mais, a prolongação do empréstimo é agora uma realidade cada vez mais lógico. Sem ser primeira opção do treinador (mas sim do clube que não considera vendê-lo ao FC Porto nem a outro clube, salvo oferta mirabolante superior aos 15 milhões de euros e com o OK do Barcelona) é perfeitamente possível que Oliver queira ficar. Dos negócios do Atlético, do destino e desejos de Simeone depende agora tudo. Até Junho muito pode passar mas Oliver pode ser perfeitamente o primeiro reforço para 2015-16.

8 comentários:

  1. Belo post.
    Pena que nao se veja qq hipotese de comprar o jogador... mas eu compreendo... se emprestassemos o Ruben Neves a quem quer que fosse... nem pensar em vende-lo...

    So nao percebi uma coisa:
    " oferta mirabolante superior aos 15 milhões de euros "
    Acima dos 15milhoes é uma oferta mirabolante por um jogador de 19 anos que fará uma epoca completa no porto incluindo a champions?... entao como é que o nosso rival anda a vender miudos (andre gomes e bernardo) que quase nunca calçaram na equipa aos 15 milhoes (?) cada um...e o Oliver nao vale mais que isso?

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    1. Hugo,

      O Benfica pode fazer os negócios mirabolantes que quiser (outra coisa é que os valores sejam certos e esse dinheiro se tenha movido verdadeiramente ou apenas tenha servido para tapar contas) mas o Oliver é muito melhor jogador que o André e o Bernardo, isso acho que nem se discute. Agora, por um jogador de 19 anos, 15 milhões é uma oferta mirabolante se não estamos a falar de um Neymar, Ronaldo ou Messi. Essa é a lei do mercado e por esse valor, mais agora com as restrições do FFP, paga-se apenas em casos extremamente pontuais e muito contrastados.

      Eu acredito que o Oliver tem tudo para ser uma figura chave no futebol espanhol da proxima década mas não creio que um clube com a corda ao pescoço como o nosso possa dar 15 milhões por ninguem!

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    2. tapar contas foi o adrien lopez pelo que nunca se recebeu do falcao... se em vez do coxo do lopez tivessem exigido o Olivier...

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  2. @Miguel Lourenço Pereira, colocas de parte a possibilidade do Jackson ir para o Atlético de Madrid e o Oliver ficar envolvido na transferência? Já me sopraram isso ao ouvido nos "mentideros"...

    Adiante, qualquer cenário é possível mas o problema passa também pelo sucesso desportivo do FCP até ao fim desta época. Com Oliver como peça nuclear de um 11 que seja campeão em Portugal e atinja no mínimo os Quartos de Final da Liga dos Campeões a permanência do espanhol torna-se impossível. Qualquer clube inglês pode colocar facilmente 20 ou 22M€ na mesa do Atlético e nós, com ou sem Doyen, não.

    É esperar pelo milagre de um novo empréstimo ou a total loucura de gestão desportiva do Atlético por porventura não ver um diamante na palma da sua mão.

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    1. Miguel,

      Já muitos ouvimos esse rumor mas esse é um negócio que ao FCP interessa menos. O Jackson é uma das poucas opções que temos de fazer "cash" a sério e incluir um jogador que vale cerca de 15 milhões de euros no pack é reduzir enormemente o valor a receber.

      Por outro lado, como disse no artigo, o Oliver quer triunfar em Madrid e sabe que um ano mais de empréstimo é natural - até desejável se o treinador continuar a ser Simeone - mas a partir de aí já deixou claro que quer voltar. Não o vejo a aceitar nenhum negócio de venda definitiva por muito bem que se sinta (e sente) aqui.

      Como ponto final está o Barcelona. O direito de preferência sobre o Oliver é real e 15 milhões para o Barcelona - que está impedido de inscrever, não contratar - por um jogador com o potencial do Oliver custam muito menos que á maioria dos clubes.

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  3. Oliver e To-Ze na mesma frase ?!
    Só pode ser brincadeira...

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  4. Se o Óliver é tão fundamental para o Atlético e só está dependente da saída do Simeone, fico sem perceber as declarações do Enrique Cerezo em entrevista recente quando, e sobre o empréstimo dele, disse que a sua cedência em definitivo não estava fora de questão. A mim pareceu-me um claro piscar de olho, no sentido de poder estar envolvido num eventual negócio por Jackson/Danilo/Alex/Herrera/Brahimi/etc.. Porque sim, não tenho qualquer dúvida que o FC Porto não tem condições para pagar o Óliver, nem só por nós quanto mais com a concorrência que já terá aparecido. Mas também acho estranho que um presidente prescindisse de um activo tão importante por período indefinido, enquanto o Simeone se mantivesse por lá, e fizesse aquelas declarações...

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    1. João,

      O Cerezo é um presidente que mente dia sim e dia também. No caso do Atlético de Madrid tudo o que ele diga deve ser analisado com muito cuidado. O que é certo, e de fonte directa, é que o jogador não quer ser transferido definitivamente de nenhum modo e está disposto a deixar o contrato chegar ao fim a sair sem querer. E isso é sempre um problema para o clube vendedor, especialmente com um jogador "popular" com os adeptos!

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