sábado, 5 de setembro de 2015

Cocaína, Coacção e Corrupção


Estes são os 3 C’s dos clubes da segunda circular que a Polícia e o Ministério Público andaram a ignorar durante uma década.

Desde que o procurador gondomarense Carlos Teixeira decidiu ignorar a gravidade de um telefonema entre Luís Filipe Vieira e Valentim Loureiro e não colocou o presidente benfiquista sob escuta, que o outrora apelidado de “Kadhafi dos Pneus” tem salvo-conduto para viver fora da lei. A estreita ligação a Saldanha Sanches e à sua mulher, a procuradora Maria José Morgado, terão ajudado a que Vieira ficasse sempre a salvo de uma investigação que teve como objectivo principal destruir o FC Porto e apenas como objectivo secundário o de apurar e eliminar os aliciamentos a árbitros de 2ª categoria e que deu pelo nome de Apito Dourado.

Até agora, pelos vistos.

Em 2008 a Polícia já tinha prendido 30 elementos da claque “no name boys” por tráfico de droga e armas. Essa claque tinha um armazém no Estádio da Luz onde guardava um arsenal de armas que incluía peças de guerra. Vieira terá mesmo solicitado à PSP para “aliviar” as vistorias na entrada do Estádio em dias de jogo para a malta da claque (afinal eles até eram bons rapazes…). A droga era utilizada para financiar os membros da claque. A investigação, essa ficou por aqui… Nessa altura o então Ministro da Administração Interna, Rui Pereira, era visto com frequência à direita de Vieira no camarote presidencial da Luz.

Mas o tráfico de droga por pessoas ligadas ao Benfica não acaba aqui. Em final de Agosto último, o Jornal de Notícias divulgou uma operação da Polícia Judiciária denominada por “Porta 18”. Foi detido José Carriço, pessoa de confiança de Vieira e funcionário do Benfica. O comunicado da PJ, emitido em finais de Julho, era vago e lacónico. Informava que a operação se destinava a “desmantelar um grupo organizado dedicado ao tráfico de cocaína” e que “a organização criminosa em causa, composta por indivíduos portugueses, dedicava-se à importação do produto estupefaciente para território nacional desde a América do Sul, por via aérea”. Não fosse o JN e ainda hoje ninguém sabia o que se passa nas instalações do Benfica.

A operação de buscas fazia parte de uma investigação maior da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes (UNCTE) que já durava há 8 meses e que culminou nesta detenção, tendo passado publicamente despercebida. Durante este período foram realizadas ações de vigilância, tendo sido registadas em mais de uma dezena de ocasiões as entradas e saídas da Luz por parte de cidadãos colombianos, com o pretexto de se irem reunir com José Carriço. Estas movimentações faziam-se pela porta n.º 18 do estádio, que deu nome à operação.
José Carriço foi detido na A1 (autoestrada n.º1), estando acompanhado de um outro indivíduo num automóvel do clube da Luz. Foi então que os 9,5 quilogramas de cocaína foram apreendidos. Ao mesmo tempo em que decorria a detenção, estavam a ser realizadas buscas no gabinete do administrativo no Estádio da Luz por parte de investigadores da PJ.



O vizinho do lado na 2.ª Circular também tem tido os seus “esquemas” impunes. Não nos esqueçamos do “Processo Cardinal” em que Pereira Cristóvão, na altura Vice-Presidente do Sporting, depositou dois mil euros na conta do árbitro assistente José Cardinal na véspera deste se deslocar à Madeira para um jogo entre o Marítimo e o Sporting, em Abril de 2012. O Conselho de Disciplina da FPF suspendeu Pereira Cristóvão de toda a actividade desportiva por 15 meses, a partir de Outubro de 2014. E assim transformou um caso de corrupção e coacção com inevitáveis consequência graves para o Sporting numa leve suspensão a um seu dirigente e numa multa irrisória ao clube. “Quem tem amigos não morre na cadeia”. Literalmente.

Pereira Cristóvão foi detido recentemente “por suspeitas de envolvimento em assaltos à mão armada nas zonas de Lisboa e Setúbal, no papel de informador”. Mais detalhes aqui.
   

8 comentários:

  1. «O caso da cocaína
    O Benfica tem razão na veemência com que rechaça a mais leve sugestão de tráfico de cocaína sob os seus auspícios ou conhecimento. Tanto quanto neste momento se pode saber sobre o caso José Carriço, o processo é sobretudo um azar de que nenhuma instituição ou empresa está a salvo. Mas, a confirmar-se a prática de atividades criminais nas suas instalações ou propriedades, não se pode de facto dizer que o clube não tenha nenhum tipo de responsabilidade. De resto, mantém-se por esclarecer uma série de coisas. Porque foi detido Carriço ao volante de um automóvel de um clube em que já não desempenha funções? E, já agora, porque não se antecipou a comunicação encarnada à notícia do JN?»
    Joel Neto
    O JOGO, 28 ago 2015

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  2. E os gajos do Benfica não parecem nada à vontade com esta história da cocaína, como se pode ver pelos comunicados que emitiram e pelos trolls que lançaram em sua defesa pelas caixas de comentários da internet. Até li um desses trolls a dizer, com um ar muito sério e tons de advogadês, que foi o Benfica que chamou a Judite!

    E num país em que tudo o que se passa na justiça imediatamente sai no jornal, chega a ser escandaloso, por cúmplice, o silêncio que pairou sobre o caso até que o JN teve acesso à notícia.

    Quanto ao caso Pereira Cristóvão/Cardinali, duvido muito que o ex-agente da PIDE, perdão, da PJ, não seja por ele condenado em tribunal. Nessa altura, gostava de saber o que vão fazer a Liga e a FPF. Os actos dos dirigentes no âmbito das suas funções responsabilizam também, e obviamente, os clubes.

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  3. Finalmente ao fim deste tempo todo se descobre as artimanhas que estas duas agremiações "tentaram" esconder.
    Ainda que estas descobertas só tenham impacto nalguns jornais, o resto da "des"comunicação social |parecem?| esconder esses factos.
    Quando começar a haver penas para os principais sujeitos que comandavam este esquemas, aí é que os cegos irão ver tudo.

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  4. Tudo isto é muito estranho, mas mais estranho é o silêncio dos "defensores" da verdade desportiva e da Liberdade de Imprensa que tanto barulho fazem noutras situações...Caladinhos que nem ratos. Realmente é verdade, se não fosse o JN ninguém teria sabido que este caso tivera como "epicentro" o próprio Estádio da Luz...Ou então a Judiciária está a trabalhar muito mal e andavam completamente ceguinhos, indo para a Luz, quando as coisas se passavam noutros sítios.E já agora, onde estavam os 451 kilos de Coca que foram entretanto apreendidos pela "Judite"?...

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  5. Este caso da porta 18 mostra que apesar de finalmente haver alguém com vontade de fazer o seu trabalho na policia, os indícios parecem demonstrar que a podridão instalada na coisa pública continua a reinar. Será coincidência que o motorista do Vieira, promovido a diretor do Benfica, tenha saído ou sido despedido do clube (ainda não vi esclarecido quando e porquê já não é funcionário das águias) imediatamente antes da visita da PJ. Parece-me óbvio que o Vieira foi informado a tempo de poder limpar a casa para receber as visitas...

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    1. Mas o tipo foi mesmo despido antes da operação? ou entre a operação e a notícia? Porque como comentou o José Correia acima, porque estaria num carro do clube se tinha sido despedido?
      Enfim, nada que não seja habitual no nosso país, o caso Cristóvão então é fantástico, zero responsabilidade para o clube, está certo, tinham aplicado a mesma lógica ao apito dourado e estava tudo ilibado que nenhum clube tem responsabilidade pelos actos de ninguém. Lá está, encaixa-se aqui o caso da porta 18!

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    2. Pois não sei se o despedimento foi antes, durante ou depois da visita da PJ pois os supostos jornalistas da capital se recusam a fazer o seu papel de informar. Uma vergonha para o jornalismo, para a policia, enfim reflecte o estado miserável em que o país se deixou cair.

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  6. Olá

    Lamentável e vergonhoso a continuação de «dois pesos e duas medidas» no que a estes aspectos diz respeito, o que não invalida que não devamos «cuspir para o ar», sob pena de podermos apanhar com «alguma coisa»....

    Cumprs
    Augusto

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