quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A Taca do Arsenal (II)

A Taça do Arsenal (I)

II. O jogo contra os campeões ingleses

Na década de 30, o Arsenal emergiu como o clube de maior sucesso do futebol inglês. Entre 1929/30 e 1937/38 venceu cinco vezes o campeonato – Football League First Division (1930/31, 1932/33, 1933/34, 1934/35 e 1937/38) – e ergueu por duas vezes a Taça de Inglaterra – Football Association Challenge Cup, também conhecida por FA Cup (1929/30, 1935/36).
Devido à II Guerra Mundial, não houve competições entre 1939/40 e 1945/46, tendo as mesmas recomeçado em 1946/47, com o Arsenal a voltar a sagrar-se campeão na época de 1947/48.

Equipa do Arsenal de 1947/48
Atrás, da esquerda para a direita: A. Forbes, A. Macaulay, L. Scott, G. Swindin, W. Milne (treinador), W. Barnes, J. Mercer (capitão), I. McPherson
À frente, da esquerda para a direita: D. Roper, R. Lewis, R. Rooke, B. Jones, D. Compton, L. Compton


Em 1948, ainda com os 0-10 do ano anterior bem presentes na memória de todos, o Arsenal de Londres, considerada a melhor equipa do Mundo, foi convidado para fazer dois jogos particulares em Portugal.

O primeiro jogo foi a 3 de Maio de 1948, contra o Benfica, disputado no Estádio Nacional. Os ingleses não deram hipóteses e venceram os encarnados por 4-0, levando a imprensa da capital a afirmar que os «gunners» eram a melhor equipa que jogara até então em Portugal.
Consta que no final desse jogo, e perante a goleada sofrida, houve portugueses que disseram a elementos do Arsenal: se aqui venceram por 4-0, no Porto vencerão por mais. O FC Porto só tem um jogador importante, o Araújo.
Cândido de Oliveira, na altura treinador do Sporting, desabafou: “Os nossos jogadores treinam-se como amadores e recebem como profissionais”.

Quatro dias depois, a 7 de Maio, era a vez do FC Porto enfrentar o fabuloso team inglês.

Arsenal 1948/49
Atrás, da esquerda para a direita: Forbes, Wade, L. Smith, G. Male, D. Compton, Mercer
Segunda fila, da esquerda para a direita: Jack Crayson (staff), Lewis, Fields, Swindin,L. Compton, Macpherson, Milnes (trainer)
Terceira fila, da esquerda para a direita: Scott, McCauley, Whittaker (manager), Rooke, Barnes
À frente, da esquerda para a direita: Bryn Jones, Roper, Logie


O FC Porto da época 1947/48, treinado pelo argentino Eládio Vaschetto, era capaz do melhor e do pior.

A 20 de Outubro de 1947 tinha ido a Valência jogar com o campeão de Espanha e venceu espectacularmente por 1-0, com golo de Catolino. Nesse jogo, e para além do autor do golo, destacaram-se Barrigana, Gastão, Araújo e Ângelo Carvalho, um jovem médio que começava a impor-se na equipa azul-e-branca.

A 2 de Fevereiro de 1948, na penúltima jornada da 1ª volta, o FC Porto recebeu e venceu por 4-1 o super-Sporting dos “violinos” (os “leões” haveriam de revalidar o título de campeão a que juntariam a vitória na Taça de Portugal).

Contudo, no computo geral, a época não estava a correr bem a nível interno (o FC Porto terminaria o campeonato em 5º lugar). No entanto, o futebol praticado deslumbrou, dada a sua forte vocação ofensiva, que conduziu Araújo ao título de melhor marcador do campeonato com 36 golos.

Estádio do Lima

Os bilhetes para o jogo contra o Arsenal custavam 80 escudos e para irem ao Estádio do Lima os portuenses vestiram os seus melhores fatos e muitas senhoras sentaram-se nas bancadas como se estivessem na ópera.

Quando se esperava que o FC Porto tivesse o mesmo destino do SLB, os azuis-e-brancos presentearam os seus adeptos com uma exibição memorável.

Aos nove minutos, instantes antes de Araújo marcar o 1º golo, Quádrio Raposo, locutor da Emissora Nacional, anunciava: «Araújo tem nada menos de três ingleses à sua volta!».

Aos 30 minutos, e para espanto de todos, o FC Porto vencia por 3-0, com mais dois golos de Correia Dias, um avançado-centro que pesava quase... 100 quilos.

Até ao final do jogo, os restantes minutos foram de uma resistência heróica perante a avalanche britânica, mas recompensados por uma sensacional vitória final por 3-2.

Em A BOLA escreveu-se: «Meia hora de futebol diabólico destroçou a equipa londrina».

Um dos heróis do jogo foi o guarda-redes do FC Porto, Frederico Barrigana.

Frederico Barrigana

Antes de ingressar no FC Porto, em 1943, Barrigana era reserva de Azevedo no Sporting, mas as fantásticas prestações ao serviço do FC Porto levaram-no à titularidade na Selecção Nacional, pela qual se tinha estreado uns meses antes, em 21 de Março de 1948, num jogo contra a Espanha.

Mas quem encheu os olhos aos ingleses foi Araújo, ao ponto de afirmarem ser avançado para jogar em qualquer equipa do Mundo. Houve propostas para o levar para o outro lado do canal da Mancha, mas ele não aceitou. Nem sequer uma fortuna bastaria para o retirar da pacatez de Paredes.

(continua)

Fontes:
‘História de 50 anos do Desporto Português’, A BOLA
‘100 figuras do futebol português’, A BOLA

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