quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A Taça do Arsenal (I)

I. O enquadramento político e desportivo

Há 60 anos atrás a Europa estava ainda a tentar curar as feridas resultantes da II Guerra Mundial.

Em Portugal, a década de 40 do século XX foi um período de grandes obras públicas e da exaltação da nacionalidade, com Lisboa a ser promovida como a capital do Império português.

Neste contexto, a Exposição do Mundo Português, destinada a comemorar as datas da fundação de Portugal e da restauração da independência, foi inaugurada em 23 de Junho de 1940, em Lisboa, pelo Chefe de Estado Marechal Carmona, acompanhado pelo Presidente do Conselho Oliveira Salazar e pelo Ministro das Obras Públicas Duarte Pacheco.

Quatro anos mais tarde, a 10 de Junho de 1944, foi inaugurado nos arredores de Lisboa (em Oeiras) o Estádio Nacional, com uma arquitectura inspirada na Escola Paisagista Alemã, e que, para além de servir para a prática do desporto, visava também a criação de um espaço para manifestações públicas inspiradas nos princípios políticos do Estado Novo.

O futebol português não fugia a esta “ditadura do centralismo” e a década de 40 ficou marcada por um domínio esmagador dos clubes da capital. Foi o período de ouro do BSB – Benfica, Sporting e Belenenses – que, inclusivamente, chegavam a formar uma selecção de Lisboa para jogar contra equipas estrangeiras.

Equipa de Lisboa num jogo contra o Vasco da Gama em 1947, com a inscrição no galhardete de "Selecção Benfica, Sporting e Belenenses" e "BSB" no emblema (fonte: Blog 'Futebol inesquecivel')


Após ter ganho os campeonatos de 1938/39 e de 1939/40, este último de forma brilhante (17 vitórias, 0 empates, 1 derrota), o FC Porto entrou num longo período de jejum de títulos.
No início de Maio de 1948 (a quatro jornadas do fim do campeonato) os “andrades” iam a caminho da 8ª época consecutiva na sombra dos clubes de Lisboa.

1940/41: 2º classificado
1941/42: 4º
1942/43: 7º
1943/44: 4º
1944/45: 4º
1945/46: 6º
1946/47: 3º

De facto, o Sporting, treinado por Cândido de Oliveira, iria ganhar o campeonato de 1947/48 (“o campeonato do pirulito” por ter sido decidido por um golo) e o FC Porto ficaria em 5º lugar, atrás dos habituais BSB e também do Estoril.



Em oito épocas, entre 1946/47 e 1953/54, o Sporting dos “cinco violinos” – Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travaços e Albano – sagrou-se sete vezes campeão nacional, impondo recordes (um tri e um tetra) que só viriam a ser ultrapassados pelo FC Porto do Penta na década de 90.

Os “cinco violinos”


Quanto à Selecção dita nacional não diferia muito da equipa do BSB. Reflectindo a visão, poder e domínio avassalador dos clubes da capital, normalmente só incluía um portista – Araújo – sendo, por isso, designada ironicamente por Sport Lisboa e... Araújo.

António de Araújo nasceu em Paredes, a 28/09/1923, tendo chegado ao FC Porto na época 1942/43, onde ainda jogou ao lado do seu ídolo, Artur de Sousa (Pinga), até 1946.
Araújo era um exímio marcador de golos, quer no campeonato (foi o melhor marcador na época 1946/47, com 36 golos em 25 jogos), quer na Selecção Nacional. Aliás, logo na sua estreia, contra a França, foi o autor de um dos golos da vitória por 2-1 sobre os gauleses. No entanto, o jogo onde mais brilhou foi contra a Espanha, a 26 de Janeiro de 1947, no qual marcou dois golos que contribuíram para a primeira vitória (4-2) oficialmente reconhecida de Portugal sobre nuestros hermanos. A sua exibição neste jogo teve um tal impacto, que foi recebido na sua terra natal com bandas de música, foguetes e sessão oficial de boas vindas.
Entre Abril de 1946 e Novembro de 1947, Araújo fez nove jogos pela Selecção Nacional em que marcou seis golos. Numa altura em que os jogadores da “província” tinham o acesso à Selecção praticamente vedado Araújo, com a sua indiscutível qualidade, relegava para a reserva o sportinguista Vasques, impedindo que na Selecção se repetissem os «cinco violinos».

Apesar das vitórias sobre a França e a Espanha, foi também neste período que Portugal sofreu a derrota mais humilhante da sua história futebolística. A 25 de Maio de 1947, a Selecção inglesa veio ao Jamor derrotar a sua congénere portuguesa por 10-0, num desafio que ficou conhecido como «dez a fio».

A forma como a Inglaterra (a pátria do futebol) esmagou a Selecção Nacional, reforçou o seu enorme prestigio e a áurea de invencibilidade que tinham as equipas inglesas.

(continua logo à tarde)

Fontes: Wikipedia; 'História de 50 anos do Desporto Português', A BOLA

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