A propósito do tema 'coação sobre árbitros', alguns extratos de uma interessante e reveladora entrevista de Jorge Coroado (ao jornalista Rui Miguel Tovar)
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[Jorge Coroado]: No final do jogo [Benfica x Torrense], o Gaspar Ramos convidou-me para ir à sala de imprensa e aceitei. Cheguei lá e não havia nem um jornalista, só sócios do Benfica. (…)
[Rui Miguel Tovar]: E há sempre aquele Benfica-Sporting de 1995 [30 de Abril de 1995].
[Jorge Coroado]: Que processo, esse. Bem kafkiano.
Jorge Coroado e Caniggia (foto: jornal i) |
[Rui Miguel Tovar]: O vermelho ao Caniggia, porquê?
[Jorge Coroado]: A ideia é dar um amarelo ao Caniggia e outro ao Sá Pinto, por troca de empurrões na sequência de uma falta perto da área do Benfica. Só que o Caniggia insulta-me. Chama-me ‘filho da puta’ e manda-me para a ‘puta que te pariu’. Dei-lhe o amarelo. Depois ouvi isso e dei-lhe vermelho direto. O que as pessoas pensaram foi que eu me tinha enganado. Que eu julgava que ele já tinha amarelo e que portanto foi segundo amarelo. Nada disso. Foi amarelo, o primeiro dele naquele jogo, e depois o vermelho direto, porque não aceito insultos de ninguém. Seja em português ou em castelhano.
[Rui Miguel Tovar]: E depois?
[Jorge Coroado]: Na cabina do árbitro, o Gaspar Ramos [dirigente do Benfica] estava muito nervoso e incontrolável. Pedi-lhe então que se retirasse. É verdade que aquela casa [Estádio da Luz] era dele, e ele até era delegado ao jogo, pelo que podia estar ali mas não naquele estado, mas aquele espaço era meu.
Gaspar Ramos no banco de suplentes na década de 90 (foto: SAPO Desporto) |
[Rui Miguel Tovar]: A verdade é que a FPF instaurou-lhe um processo?
[Jorge Coroado]: Já lhe disse que foi kafkiano, não já?
[Rui Miguel Tovar]: Então?
Sampaio e Nora (foto de 2010) |
[Jorge Coroado]: Mal entrei na sala para depor, o relator do processo [Sampaio e Nora, membro do Conselho de Justiça da FPF, pertencente à lista de Vale e Azevedo para as presidenciais do Benfica uns anos depois] disse-me para estar tranquilo porque não gostava de mim. (…)
[Rui Miguel Tovar]: Arrumado? Sei de uns episódios estranhos por conta do vermelho ao Caniggia.
[Jorge Coroado]: Nada de especial. Fui ameaçado de morte com uma pistola e depois com uma faca, à porta do meu emprego, ali na José Malhoa.
[Rui Miguel Tovar]: O quê?
[Jorge Coroado]: De manhãzinha, ainda antes da 8h30. Foram pequenos-almoços diferentes. Eram adeptos de cabeça perdida que queriam fazer justiça com as próprias mãos. O da pistola só me queria assustar, o da faca do mato tentou atingir-me só que falhou o alvo e estragou-me o casaco. A sorte dele é que conseguiu fugir. O azar é que lhe fiquei com faca.
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Num período em que o “polvo encarnado”, com os seus múltiplos “tentáculos”, controla (quase) tudo e todos, é sempre bom relembrar estes episódios, porque há quem ande um bocado esquecido…
Nota: A entrevista completa do ex-árbitro Jorge Coroado pode ser lida aqui.
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