quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Esta não é a nossa guerra

Não NES, não foi o árbitro.
O FC Porto é um clube que se faz respeitar na Europa. Nenhum outro, fora do quarteto Real-Barcelona-Manchester-Bayern tem tantas participações, tantos minutos de antena e tantas referências na história da Champions League como nós. Ao contrário do que sucedia antes, qualquer adepto europeu associa Portugal ao Porto e fá-lo não só pela hegemonia interna mas, sobretudo, pelas participações europeias, com vários títulos pelo meio. E esse respeito foi sempre ganho em campo, com suor, arrojo e atitude. Se sabemos que no futebol europeu há uma natural tendência para beneficiar os tubarões (igual que nas ligas nacionais os pequenos têm sempre mais razões de queixa) também sabemos que na Europa o Porto brilha quando joga com atitude, raça, espírito ofensivo e faz do seu estádio um forte intransponível. Tudo aquilo, em suma, que o FC Porto de NES não foi contra a Juventus. Claro que a expulsão de Alex Telles dá a NES o pretexto ideal para tapar as misérias do jogo colectivo. E sim, todos nós somos conscientes de que o mais que provável Hexacampeão italiano, é uma equipa superior ao Porto em todos os sentidos do jogo e em todas as linhas do campo. Isso nem sequer está em discussão. Mas uma coisa é saber a qualidade dos argumentos do rival e outra é ignorar as próprias valências. Como quando Pepe foi expulso, num celebre clássico europeu entre o Real Madrid e Barcelona, e Mourinho teve a lata de dizer que minutos depois era quando "ia atacar", jogando em casa e a medo, também NES sempre poderá dizer que o Porto ofensivo ia surgir mais tarde ou mais cedo se não fosse a expulsão de Telles. Talvez fosse assim. Conhecendo o treinador, permitam-me duvidar.

A expulsão é inquestionável.
Chorar sem sentido é de pequenos. O Porto beneficiou-se das expulsões - merecidas - contra a Roma e chegou á fase de grupos num momento tremido da época, dentro e fora de campo. Na altura todos no clube disseram que, com ou sem hara-kiri romano, o Porto era melhor e passaria. O mesmo passou no jogo de quarta-feira. Com ou sem a expulsão de Telles ficou claro que a Juve é melhor e tem todas as condições para seguir em frente. Falamos de um campeão italiano, de um finalista da Champions de há dois anos, não de uma equipa qualquer, não há vergonha em assumi-lo, especialmente quando somos nós que há três anos que não celebramos absolutamente nada. Mas não, tinha de ser culpa de um árbitro que, salvo algum que outro erro pontual - um cartão que ficou no bolso numa falta sobre André Silva, um fora-de-jogo mal assinalado a Dybala e um amarelo a Cuadrado por simulação recorrente - esteve bastante bem. Byrch não condenou o Porto. Como Defour em Málaga, foi Telles que obrigou os colegas a remar contra o temporal com menos um. E foi NES, com o seu esquema táctico inicial numa espécie de 4-2-2-2, que entregou desde o primeiro momento as armas á Juventus. Allegri, que não é um treinador italiano comum, e que já no ano passado teve Guardiola e o seu Bayern contra as cordas até cometer o erro supremo de tirar Morata em Munique, chegou ao Porto com a ideia de atacar e nunca abdicou de alinhar três avançados e dois defesas que actuavam quase como extremos. Antes e depois da expulsão. Procurou sempre o golo e quando o conseguiu procurou o segundo trocando Lichsteiner por Alves e mantendo três avançados bem dentro da área para criar superioridade como se viu no golo de Pjaca. Podia ter aguentado o excelente 0-1 mas não o fez. Algo que dificilmente alguém verá a NES fazer num campo qualquer. Se o FC Porto tivesse procurado entrar de forma imponente, talvez a mentalidade dos jogadores fosse outra, de uma e de outra equipa. Telles não tem desculpas mas será que o discurso medroso do treinador não inculca também negatividade nos futebolistas? Da mesma forma que um treinador ofensivo retira pressão aos jogadores quando os manda para a frente, aquele que só pensa em defender coloca sempre uma dose extra de pressão e nervosismo porque quem defende sabe sempre que não pode cometer falhas. Telles e Layun - este Layun, o de este ano - não se têm revelado mentalmente fortes (não são Maxi Pereira para por um exemplo) e foram claramente superados pela noite. O primeiro com duas entradas, uma das quais podia perfeitamente no contexto da Champions dar vermelho directo, e o segundo com uma assistência que não se permite nem em infantis (passe para o coração da grande área sem ver um colega) e deixando-se superar por Alves, não marcando correctamente a sua zona de influência, no lance do segundo golo. Empurrados para trás desde o primeiro momento, sucumbiram ao momento. Têm toda a responsabilidade individual mas fazem parte de um plano colectivo que ia dar a bola e o campo á Juventus e procurar a bola parada e o contra-ataque num jogo em casa para criar perigo. Aquilo que nunca se deve ver no Dragão...contra ninguém.



Todos se lembram dos mil e um defeitos de Lopetegui mas contra o Bayern de Guardiola - que era bem mais equipa que esta excelente Juve - a pressão alta de Jackson e Quaresma foi o que destroçou o jogo dos alemães. Contra o United de Ferguson, o Porto de Jesualdo soube impor-se e só um missil de Ronaldo fechou uma eliminatória sempre discutida taco a taco. Na Quarta o Porto não entrou para discutir a eliminatória olhos nos olhos e nestas alturas isso paga-se bastante caro salvo se se dorme com a sorte como sucedeu na Luz. E contra os italianos a sorte, habitualmente, está do seu lado. Soares foi engolido por dois dos melhores centrais do mundo. Brahimi, o único que tentou, caminhou sempre só. A Herrera apenas se lhe viu aquando do duro golpe no pé e Ruben e Danilo estiveram sempre mais dentro que fora da sua grande área e no caso do primeiro podem dar-se por satisfeitos de terem acabado o jogo. Com 20 milhões de euros por pagar por Oliver, o jogador mais criativo do clube dormiu no banco. Mensagens para quem está atento. E a Juventus, já se sabe, não é o Vitoria de Guimarães por muito que partilhe cores.

Felizmente, dentro do mal resultado e da má exibição, todos sabemos que no contexto presente esta não é a nossa guerra. Haverá tempo para dar um salto de qualidade na Europa mas o importante é focar-nos naquilo onde realmente temos de estar a 100%. O Campeonato deve ser a máxima prioridade do clube em todos os sentidos. Devolver o sabor de vitórias, quebrar um ciclo negativo nosso e positivo do rival e garantir o encaixe da Champions no próximo ano com o pequeno bónus extra de se ser campeão nacional. Tudo isso hoje vale mais que uma reviravolta milagrosa em Turim. Moralmente o grupo e os adeptos não se devem deixar afectar por um resultado natural, com ou sem expulsão, mas isso não significa que não seja necessário tirar lições, sobretudo para o jogo na Luz onde se pede, não, onde se exige, um Porto com uma atitude muito diferente da que se viu ontem. Até ao final do ano é muito provável que existam jogos perigosos, jogos tensos mas só por duas vezes o Porto se medirá contra rivais de altura, no Juventus Stadium e na Luz. Que o primeiro sirva de balão de ensaio para gerar medo no coração dos segundos. Que sintam o bafo do Dragão e não a versão medrosa de rabo entre as pernas. Mais do que uns quartos de Champions o FC Porto precisa de espetar uma lança no "salão de festas". Essa é a nossa batalha. E é para ganhar!

5 comentários:

Unknown disse...

Jogar sem Olver neste jogo é rediculo, a falta de tomates para sentar o Andre silva, vai dar nisto até ao fim do campeonato. Brahimi, soares e Corona é simplesmente o melhor tridente. Juntar Danilo, oliver e 3º medio que sinceramente nem sei qual o melhor, se calhar o mexicano layun ( mas nesta altura ja nao da).

Pedro Reis disse...

Excelente comentário, nada a acrescentar, está lá tudo o que é relevante!

P.S. Tantas oportunidades falhadas para contratar Leonardo Jardim e Marco Silva, esses sim treinadores que elevariam seguramente o FCP para os melhores níveis da sua história recente...

Pedro ramos disse...

O nosso futebol é cada vez mais previsível e não por acaso, os criativos têm cada vez menos tempo de jogo em detrimento do "músculo". Se NES não quer ter controle e iniciativa em jogos como em Guimarães ou contra o Rio Ave nesta altura do campeonato, não acredito que vá mudar até ao final.
A jogar assim, estamos sempre mais dependente dos acasos de cada jogo para vencermos, sempre mais dependentes do penalty que pode ou não ser assinalado, da bola que pode bater no poste e sair.
O problema não é o jogo de ontem é o retrocesso que a equipa tem revelado nas últimas semanas, que parece ser para continuar.

João Carreira disse...

Excelente análise do jogo , também como eu o vi ... Simplesmente desolador , NES ! Temo que ... (e não digo o que temo ! Cruzes ! Canhoto ! ) . Como já aqui alguém comentou , com tantas chances para se ter contratado um TREINADOR , foi-se buscar um "filósofo " , ainda por cima ... medíocre . Haja Deus !
Saudações Portistas
João Carreira

Luís Negroni disse...

O NES é um malandro, definitivamente. Primeiro, mandou o Alex Telles ter aquelas duas paragens cerebrais em 2 minutos para que o FCP ficasse a jogar com menos 1 logo aos 25 minutos e isto, claro, só para que o FCP tivesse um pretexto para poder ser tão defensivo como pretensamente o NES gosta. Depois, maquiavelicamente, so para calar aqueles portistas que querem o Layun a titular, "mandou" o mesmo Layun fazer aquela brilhante "assistência" para o primeiro golo da Juventus e ausentar-se em parte incerta logo de seguida para que o jogador da Juventus que devia estar a ser marcado pelo mesmo Layun pudesse fazer o 2° golo com a maior das facilidades.