sábado, 31 de janeiro de 2009

Um olhar azul-e-branco sobre a arbitragem


Com o início este fim-de-semana da 2ª volta do campeonato é altura de fazer um balanço sobre as arbitragens.
Como a comunicação social do regime se encarrega de fazer balanços segundo a perspectiva oficial (leia-se, encarnada e verde), irei recordar alguns dos principais casos, segundo um olhar azul-e-branco.

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16/08/2008: Supertaça Cândido de Oliveira, Sporting – FC Porto (2-0)
Árbitro: Carlos Xistra (Castelo Branco)

27’ (0-0) Entrada violenta de Caneira sobre Rodríguez

Jorge Coroado: “O sportinguista chegou atrasado ao lance e "inteligentemente" alongou o movimento com a perna direita, atingindo Rodríguez na zona do baixo ventre. Não se entenda o gesto de Caneira como fortuito ou casual. Aquilo é intencional e deliberado. O vermelho, já que de conduta violenta se tratou, aplicava-se na perfeição.”

Rosa Santos: “É uma entrada com o pé alto, no baixo ventre de Rodríguez. É uma entrada violenta e o cartão amarelo seria um favor. Deveria ter visto o jogador do Sporting o cartão vermelho.”

59’ (0-2) Cotovelada de Rochemback a Lucho

Rosa Santos: “Rochemback dá uma cotovelada no adversário e o árbitro esteve mal. A brutalidade é passível de cartão vermelho.”


Na sequência da entrada violenta de Caneira, se este tivesse sido expulso (como deveria), o Sporting ficaria reduzido a 10 elementos quando ainda faltavam 63 minutos e o resultado estava em branco. O FC Porto perdeu a Supertaça.

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30/08/2008: Liga Sagres (2ª jornada), Benfica – FC Porto (1-1)
Árbitro: Jorge Sousa (Porto)

5’ (0-0) Luisão agride Sapunaru


Jorge Coroado: “Com o braço esquerdo, Luisão atingiu deliberdamente Sapunaru. O jogo estava interrompido para execução de um canto. Somente a acção disciplinar se impunha, que seria cartão vermelho.”

Rosa Santos: “Luisão dá uma chapada na cara de Sapunaru. Não ficam dúvidas de que o defesa-central do Benfica merecia ser expulso na sequência deste lance."

António Rola: “Sendo um lance de muito difícil julgamento para o árbitro, na verdade Luisão, sem que esteja a disputar a bola, com o cotovelo atinge a cara do adversário.”

Quando o jogo se aproximava do fim, Nuno Gomes também quis "molhar a sopa" e teve uma entrada brutal sobre Sapunaru que o árbitro, de forma muito benevolente, puniu apenas com um cartão amarelo.


Não há dúvidas de que Luisão e Nuno Gomes deveriam ter sido expulsos. No caso do central brasileiro, o SLB ficaria a jogar com menos um elemento logo ao quinto minuto, quando ainda faltavam 85 minutos (!) para o jogo terminar. O simples facto da Comissão Disciplinar da Liga ter aplicado um sumaríssimo a Luisão, é demonstrativo de que o lapso da arbitragem é indiscutível.
O FC Porto perdeu 2 pontos.

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01/09/2008: Liga Sagres (2ª jornada), Braga – Sporting (0-1)
Árbitro: Bruno Paixão (Setúbal)

Uma semana após as queixas estridentes de Paulo Bento no final do Sporting–Trofense (que os leões venceram por 3-1), o Sporting foi a Braga e teve a recompensa.

36’ (0-1) Postiga viu um cartão amarelo, por impedir a marcação rápida de uma falta contra a sua equipa.

39’ (0-1) Em plena área do Sporting, Postiga atira-se para cima de Meyong, encavalitando-se nas costas do avançado do Braga (conforme se pode ver na foto seguinte).


Lance de penalty mais do que evidente e cartão amarelo para o jogador infractor (neste caso seria o 2º cartão amarelo para Postiga). Contudo, Bruno Paixão decidiu transformar um penalty descarado numa falta de Meyong! Com esta decisão, Bruno Paixão não só impediu o Braga de chegar ao 1-1, como evitou que o Sporting ficasse a jogar com 10 nos últimos minutos da 1ª parte e durante toda a 2ª parte!

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20/09/2008: Liga Sagres (3ª jornada), Sporting – Belenenses (2-0)
Árbitro: Elmano Santos (Madeira)

Pela segunda jornada consecutiva o Sporting foi beneficiado por um erro da equipa de arbitragem.

33’ (0-0) Hélder Postiga recupera de uma situação de fora-de-jogo (até estaria fora do campo no momento do cruzamento) para marcar o primeiro golo do Sporting.
O mesmo árbitro assistente – Álvaro Mesquita – também não tinha visto, logo aos 6 minutos, um outro fora-de-jogo de Postiga, permitindo que este se isolasse e rematasse com muito perigo (por cima da trave).



"Num momento em que o Belenenses equilibrou o jogo, sofremos um golo ilegal, em fora-de-jogo"
Casemiro Mior, treinador do Belenenses

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21/09/2008: Liga Sagres (3ª jornada), Rio Ave – FC Porto (0-0)
Árbitro: Pedro Proença (Lisboa)

79’ (0-0) Penálti indiscutível contra o Rio Ave não assinalado.



Jorge Coroado: "Na sequência do livre cobrado pelo Bruno Alves, a bola ressalta no poste e Gaspar, que vem na cobertura ao seu guarda-redes, alonga o braço direito, perturbando a trajectória da bola. Grande penalidade que devia ter sido assinalada, e não foi."

Rosa Santos: "Há realmente um desvio de Gaspar com o braço que deveria ter sido punido com grande penalidade. Para além disto, o jogador do Rio Ave deveria ter visto o cartão amarelo. Aqui, o árbitro erra nas componentes técnica e disciplinar."

Soares Dias: "Pelas imagens televisivas, é possível verificar que a bola, depois de bater na poste, ressalta na direcção do Gaspar, que a desvia com o braço. Ficou por marcar uma grande penalidade contra o Rio Ave."

António Rola: "Após a bola embater no poste da baliza do Rio Ave e ressaltar para o terreno de jogo, Gaspar utiliza o braço direito ao tentar desviar a sua trajectória, pelo que ficou por sancionar uma grande penalidade contra o Rio Ave."


Não há qualquer dúvida que o árbitro de Lisboa Pedro Proença fez vista grossa a uma mão evidente de Gaspar, a 11 minutos do fim do jogo. O FC Porto perdeu 2 pontos.

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05/10/2008: Liga Sagres (5ª jornada), Sporting-FC Porto (1-2)
Árbitro: Lucílio Baptista (Setúbal)

28’ (0-1) Penálti assinalado contra o FC Porto, porque Lucílio Baptista considerou que o toque com o braço de Tomás Costa em João Moutinho foi suficiente para derrubar o jogador sportinguista.
Decisão muito polémica e não é por acaso que pessoas cuja simpatia pelo FC Porto é nula, como Eugénio Queirós (anti-portista primário), António Boronha, Rui Santos ou Paulo Catarro, questionam a decisão do árbitro ou afirmam mesmo peremptoriamente que não foi penalty.

58’ (1-2) Perdoada expulsão a Derlei após entrada violenta sobre Sapunaru.

Rosa Santos: "Seria cartão vermelho a punir entrada violenta do Derlei, que entra com a sola à canela do adversário. E isso nada tem que ver com o desporto."

António Rola: "Derlei, de uma forma desproporcionada, exibe os pitons na perna do adversário de forma violenta, pelo que se justificava, para além da sanção técnica, a exibição do cartão vermelho ao jogador do Sporting."

Sobre a “coerência” do critério disciplinar de Lucílio Baptista, atente-se na seguinte análise feita pelo ex-árbitro José Leirós (companheiro de blog de Eugénio Queirós) sobre diversos lances desse jogo:

19’: Cartão amarelo por exibir a Moutinho que simulou falta que Lucilio não assinalou;
22’: 1ª falta de Lucho que deliberadamente rasteirou Rochemback e foi–lhe exibido o cartão amarelo;
24’: Critério diferente. Abel deliberadamente rasteira Fucile e Lucilio não lhe exibi o cartão amarelo;
32’: Cartão amarelo tardio exibido a Abel que antes tinha cometido falta mais merecedora;
53’: Moutinho queixa-se que foi empurrado mas não pode usar aquela linguagem com Lucilio e deveria ter sido exibido o cartão amarelo;
65’: Segundo cartão amarelo por exibir a Abel que deliberadamente rasteira Bruno Alves cortando jogada perigosa ou comprometedora.


Num jogo em que teve motivos mais do que suficientes para expulsar três jogadores do Sporting – Abel, Moutinho e Derlei – o árbitro, com a sua habitual “excelente gestão do jogo”, conseguiu não só evitá-lo, como ainda assinalou um penalty altamente discutível contra o FC Porto. Enfim, Lucílio “Calabote” Baptista no seu melhor.

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09/11/2008: Taça de Portugal (4º eliminatória), Sporting – FC Porto 1-1 (4-5)
Árbitro: Bruno Paixão (Setúbal)

7’ (0-0) Liedson acerta com o cotovelo na boca de Fucile e o uruguaio tem de sair do relvado para receber assistência médica.

Rosa Santos: "Só um cartão era possível, o vermelho, porque se tratou de uma agressão."

Soares Dias: "Na disputa de bola, Liedson vai com o cotovelo e agride a face do jogador do FC Porto. Era lance para expulsão."

46’ (1-0) Perante a habitual pressão histérica do público de Alvalade, Bruno Paixão amarelou três jogadores do FC Porto – Bruno Alves, Pedro Emanuel e Lucho – entre os 37 e os 46 minutos. De notar que, nesta altura do jogo, o FC Porto tinha um total de 6 faltas (uma média de um cartão amarelo por cada duas faltas!), enquanto o Sporting já ia em 16 faltas (e zero cartões).

62' (1-1) Hulk é derrubado por Polga na área do Sporting, mas o árbitro limita-se a marcar canto. 1º penalty (e cartão amarelo para Polga) que ficou por marcar contra o Sporting.



65' (1-1) Cartão amarelo para Polga, devido a mais uma falta dura sobre Hulk. Devia ter sido o 2º cartão amarelo para o defesa brasileiro do Sporting.

68' (1-1) Rui Patrício atropela Hulk pelas costas, derrubando-o de forma ostensiva. É impossível o trio de arbitragem não ter visto. Caído no chão, Hulk é ainda atingido na cara por uma patada de Caneira.
2º penalty que ficou por marcar contra o Sporting e o Caneira deveria ter visto um cartão vermelho directo (e não 2º cartão amarelo).



Jorge Coroado: "Rui Patrício, sem razão objectiva ou aparente (devido à distância a que estava a bola) saltou sobre Hulk, derrubando-o. Grande penalidade que ficou por assinalar."

Rosa Santos: "Rui Patrício sai extemporaneamente da baliza e cai ostensivamente em cima do jogador do FC Porto. O árbitro devia ter marcado penálti."

Soares Dias: "Rui Patrício choca com intenção, a bola não está ali e devia ter sido marcada uma grande penalidade. Ele não tem motivo nem necessidade de fazer aquilo, porque a bola está fora da zona dos intervenientes."

António Rola: "Rui Patrício, sem qualquer hipótese de jogar a bola, carregou o jogador do FC Porto de forma a que o árbitro punisse a mesma falta com grande penalidade contra o Sporting. Má apreciação do árbitro."

73' (1-1) Liedson, que já tinha atingido Fucile logo no início do jogo, entra de pé em riste atingindo Bruno Alves com violência, justificando cartão vermelho e não o amarelo exibido.

Jorge Coroado: "Liedson, de sola, sem que a bola lá se encontrasse, atingiu Bruno Alves cometendo conduta violenta, justificando cartão vermelho e não o amarelo exibido. Mau auxílio do assistente António Godinho."

115' (1-1) Rochemback atinge Rolando com o braço esquerdo na face, derrubando-o. Bruno Paixão cometeu a proeza de transformar um penalty contra o Sporting (o terceiro que ficou por assinalar!) e cartão vermelho directo para Rochemback, numa falta de Rolando! É, de facto, um predestinado para a arbitragem...

Jorge Coroado: "Rochemback, com o braço esquerdo atingiu o adversário na face, derrubando-o. A bola estava em jogo e a grande penalidade justificava-se, embora se compreenda que, pelo aglomerado de jogadores, o árbitro não tenha visto."

Rosa Santos: "O árbitro marcou a falta ao contrário e acho que decidiu mal. Não sei se a bola estava em jogo, mas se estivesse era grande penalidade. Mas é mais fácil marcar contra quem ataca do que contra quem defende."

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11/01/2009: Liga Sagres, Benfica – Braga (1-0)
Árbitro: Paulo Baptista (Portalegre)

Sem dúvida, a arbitragem da Liga que teve mais influência no resultado final. Erros em demasia, e sempre contra o Braga, que apresentou queixa-crime contra o árbitro.

45'+2': O único golo do jogo, marcado por David Luiz
Facto: No momento do livre de Aimar, David Luiz encontrava-se em claríssima posição de fora-de-jogo. É impossível o árbitro auxiliar não ter visto, não só por ser um lance de bola parada, mas também porque as linhas da grande área ajudam a perceber a posição completamente irregular do jogador do SLB.

56': Paulo Baptista assinala penalty a favor do SLB, punindo uma pretensa falta de Mossoró sobre Di Maria
Facto: Mossoró não comete qualquer falta sobre Di Maria, o qual, até pela forma como reage após a decisão do árbitro, deveria ter visto um cartão amarelo por simular um penalty.

61': Alan cai na grande área do SLB, após disputa de bola com Katsouranis, mas o árbitro nada assinala
Facto: Katsouranis agarra Alan, primeiro pelas costas e depois por um braço em plena grande área do SLB. Penalty claro contra o SLB (e cartão amarelo para Katsouranis) que ficou por assinalar.

70': Matheus entra na área do SLB e quando se esgueirava em direcção à baliza dos encarnados é varrido por Luisão, mas o árbitro nada assinala
Facto: Ficou por marcar um penalty mais do que evidente, ao ponto de até A BOLA (jornal semi-oficial do SLB) o reconhecer. Além do penalty, Luisão teria de ser admoestado, no mínimo, com o cartão amarelo.

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11/01/2009: Liga Sagres (14 jornada); FC Porto – Trofense (0-0)
Árbitro: Luís Reforço (Setúbal)

Logo nos primeiros minutos do jogo, um golo mal anulado ao FC Porto por, supostamente, Rodriguez ter tentado jogar a bola com a mão!...
Não chegou a tocar na bola com a mão, mas como tentou... É uma nova regra, de aplicação exclusiva aos jogadores portistas...

87’ (0-0) Valdomiro, central do Trofense, derruba Lisandro.

Jorge Coroado: "Valdomiro, de forma temerária, procurou disputar a bola a Lisandro sem o conseguir. Ao invés, pisou-lhe o pé esquerdo, derrubando-o. Grande penalidade que ficou por assinalar.”

Rosa Santos: "É uma clara grande penalidade que o árbitro de Setúbal não assinalou. O árbitro entendeu que não houve falta, mas a verdade é que Lisandro foi mesmo rasteirado no pé de apoio. Um erro grave do árbitro estreante em jogos a envolver os chamados grandes."

António Rola: "Valdomiro tentou jogar a bola, mas não o conseguiu. Como tal, rasteirou o jogador do FC Porto, cometendo assim falta passível para grande penalidade. Erro grave do árbitro ao não sancionar a respectiva falta."

Um golo mal anulado e um penalty por assinalar a três minutos dos 90. O FC Porto perdeu 2 pontos.

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14/01/2009: Taça da Liga; Rio Ave – Sporting (0-1)
Árbitro: Jorge Sousa (Porto)

O árbitro assistente António Vilaça não assinala o fora-de-jogo de Vukcevic, que beneficia de uma posição irregular para dar a vitória ao Sporting a dois minutos do fim do jogo. O montenegrino está vários metros à frente do último defesa do Rio Ave na altura do remate de Postiga ao poste. Como a bandeira ficou em baixo, Jorge Sousa validou o golo.



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17/01/2009: Taça da Liga; Benfica – Belenenses (1-0)
Árbitro: Bruno Paixão (Setúbal)

Bruno Paixão anulou um golo ao Belenenses ao minuto 90, assinalando uma falta que não existiu sobre Moretto. Houve, isso sim, uma falha do guarda-redes benfiquista, que largou uma bola fácil. O golo permitiria ao Belenenses seguir em frente na Taça da Liga, como o melhor segundo classificado.



Jorge Coroado: "Moretto não é o Eduardo Mãos de Tesoura, mas na verdade beneficiou da comiseração do árbitro. Não houve qualquer infracção, pois foi o guarda-redes quem abordou mal o lance. Largou a bola e permitiu que os visitantes fizessem golo indevidamente não validado."

Rosa Santos: "É falta, mas falta de jeito do guarda-redes do Benfica. Não vejo qualquer interferência do jogador do Belenenses em impedir o guarda-redes de jogar a bola e como tal o árbitro precipitou-se ao marcar falta."

António Rola: "Foi mal anulado o golo ao Belenenses, pois Moretto não sofre qualquer infracção. Na sua falha o guarda-redes encarnado teve a protecção do árbitro ao considerar que tinha sofrido falta."

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Em pelo menos três jogos (SLB x FC Porto, Rio Ave x FC Porto e FC Porto x Trofense), erros graves de arbitragem absolutamente indiscutíveis, contribuíram para que o FC Porto perdesse 6 pontos no campeonato.

Um outro aspecto a salientar, é o facto de o FC Porto ter sido claramente prejudicado pelas arbitragens em TODOS os jogos que fez esta época contra o Sporting e o SLB. Isto é indiscutível, basta rever esses jogos e as respectivas análises.

Ah, e Bruno Paixão, o "Calabote de Campo Maior", foi figura de destaque em três dos 11 jogos acima referidos. Como habitualmente, o Bruno está em grande!

P.S. Na lista de jogos apresentados, poderia incluir dois em que, no balanço dos erros indiscutiveis de arbitragem, o FC Porto foi favorecido: FC Porto x Leixões e Braga x FC Porto. Contudo, os erros indiscutiveis de arbitragem nesses dois jogos não foram suficientes para inverter o resultado final.

Fontes:
[1] ‘Sou Portista com muito orgulho’, Janeiro de 2009
[2] Análises do
s ex-árbitros do ‘Tribunal de O JOGO’
[3] ‘Os 10 casos mais polémicos da arbitragem’, JN, 23/01/2009

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

E agora, Ricardo Costa?


«O Tribunal Constitucional rejeitou o recurso do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol e considerou definitivamente ilegal a utilização das escutas telefónicas do Apito Dourado no âmbito do processo de corrupção desportiva Apito Final. Com esta decisão, o Boavista pode recorrer da descida de divisão e Pinto da Costa dos dois anos de suspensão a que foi condenado
in JN

(...)

O caso Calabote (IV)

I. A trajectória da bola e as decisões da FPF
II. A pouco inocente nomeação de Calabote
III. Os estágios das selecções em... Lisboa

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IV. Treinador-adjunto do SLB no banco do Torreense

No jogo com o FC Porto ao Sport Clube União Torreense só a vitória interessava, porque esse era o único cenário que lhe permitiria acalentar a hipótese de escapar à descida de divisão. Contudo, segundo uma notícia do JN, “dizia-se em Torres Vedras, e os jogadores locais sorriam quando em tal lhes falava, que havia um prémio de cinco mil escudos para cada um no caso de conseguirem empatar ou pelo menos sofrer poucos golos.”

Nota: Veremos que durante o jogo, treinador e jogadores do Torreense estiveram sempre mais preocupados com os interesses do SLB do que na sua própria situação, ao ponto de continuarem a fazer anti-jogo e a queimar tempo mesmo quando já estavam a perder (resultado que os atirava inapelavelmente para a 2ª divisão).

Na semana que antecedeu o jogo, o Torreense transformou-se numa espécie de Benfica B, com os treinos a serem orientados por elementos dos encarnados.

Como se tal não bastasse, no dia do jogo aconteceu o impensável. O treinador-adjunto do Benfica – o argentino Valdivielso – sentou-se no banco de suplentes (!!) de onde deu instruções aos jogadores do Benfica B... perdão, do Torreense.


Alguns benfiquistas, cujo fair play, ética e moral desportiva só se aplica aos outros, desvalorizam este inacreditável episódio, dizendo que Valdivielso era um elemento pouco importante na estrutura benfiquista, o que fez com que o árbitro do jogo não o tenha reconhecido e, por isso, permitido que ele continuasse no banco de suplentes do Torreense.
Este argumento, além de ser ridículo, é mentira.

José Valdivielso não era um elemento menor da estrutura do futebol encarnado e muito menos um desconhecido do público.
Em 1954 assumiu o cargo de treinador principal do Benfica e, por exemplo, durante esse período orientou a equipa em cinco derbies.
Depois, e durante quatro épocas consecutivas (entre 1954/55 e 1958/59), foi treinador-adjunto de Otto Glória, a quem haveria de suceder durante uns meses na transição do treinador brasileiro para o húngaro Bela Guttmann (de quem continuou a ser treinador-adjunto).

Plantel do SLB 1961/62


De notar que em 1954, o “pouco importante” Valdivielso ganhava, como treinador-adjunto do SLB, 6 contos por mês, tanto como José Szabo (treinador de campo do Sporting), Fernando Riera (treinador do Belenenses) e apenas menos um conto que Fernando Vaz (treinador do FC Porto).

Para além de treinador-adjunto, Valdivielso era também responsável pelos treinos de captação. Acerca destas funções, José Henrique, guarda-redes do SLB entre 1967 e 1976, contou a seguinte estória:

"Tinha treze anos na altura [época 1956/57]. Fui aos treinos de captação e, naquela altura eram trezentos ou quatrocentos miúdos que iam para o Campo Grande. O treinador era o Valdivielso. Ele pediu um guarda-redes e eu levantei a mão. (…)
O Valdivielso estava na parte de cima a ver o treino, a observar os seniores, começou a ver-me a defender e, quando acabou o treino, pôs-me na baliza com eles todos a chutarem. Resumindo e concluindo, já não me deixou sair, meteu-me dentro do carro, trouxe-me para a rua do Jardim do Regedor para assinar contrato."

Ou seja, Valdivielso era uma espécie de treinador da casa, onde trabalhou cerca de 10 anos, tendo desempenhado diverso tipo de funções (incluindo orientar outras equipas em jogos oficiais contra adversários directos do SLB...).

O que disseram os jornais sobre este estranho e inédito caso (mais um naquela época)?

«Surpreendeu toda a gente a presença de Valdivielso, treinador-adjunto do Benfica, nos bancos dos técnicos do Torreense. Na verdade, o técnico benfiquista "viveu", longe da Luz, os "assaltos" finais deste emocionante campeonato. Findo o jogo fomos encontrar Valdivielso, chorando na cabina do Torreense.
Quisemos saber a razão da sua presença e acabámos por ser esclarecidos por Fernando Santos, orientador técnico da equipa de Torres Vedras, que nos afirmou: “Valdivielso não teve qualquer interferência na orientação da equipa, nem nós a aceitaríamos sequer. Veio a Torres como espectador e só por deferência esteve sentado junto a mim.”»
A BOLA


O ‘Mundo Desportivo’ (23/03/1959) reproduz a versão de Valdivielso, em que este diz que «chegou à porta do campo e o fiscal negou-lhe a entrada porque o cartão não tinha validade. Os bilhetes estavam esgotados e dificilmente conseguiria lugar na geral. Foi saudar os treinadores do Torreense e contou-lhes o sucedido. Estes, "como cavalheiros", convidaram-no a sentar-se no banco, o que aceitou. Disse ainda que foi ver o jogo para observar um jogador do Torreense num jogo de responsabilidade com vista a futura contratação.»


O ‘Norte Desportivo’ (26/03/1959) publica uma imagem de Valdivielso no banco do Torreense e refere:
«Antes do encontro, o treinador-adjunto dos encarnados esteve nos vestiários da equipa local e ali ministrou uma prelecção de ordem técnico-táctica. Depois acompanhou a equipa até ao terreno e, com o mais espantoso à-vontade, sentou-se no chamado banco dos técnicos.
Durante o jogo (...) deu instruções para o campo, fez gestos teatrais, refilou com o juiz-de-linha e até interferiu num ligeiro episódio com Hernâni


Em 02/04/1959, o ‘Norte Desportivo’ publicou uma entrevista de António Costa, defesa do Torreense, em que este diz:
"Bem, ele não nos treinou. Esteve na cabina a conversar connosco e, depois, foi sentar-se no banco dos nossos técnicos. Mas não nos deu indicações algumas.
A verdade é esta: receberíamos, por intermédio dele, um prémio se vencêssemos ou perdêssemos com o Porto por margem escassa. Cinco contos a cada jogador. (...) quero esclarecer um ponto: Valdivielso não chorou na cabina, por termos perdido. Limitou-se a regressar a Lisboa com o dinheiro..."

Para além da ridicula explicação de Valdivielso, repare-se na contradição entre o que diz A BOLA (“fomos encontrar Valdivielso, chorando na cabina do Torreense”) e o jogador do Torreense (“Valdivielso não chorou na cabina por termos perdido”). Podiam ter ensaiado melhor...

Como prova do bom relacionamento e para selar o “pacto de amizade” entre os dois clubes, após o final do campeonato e antes de se iniciar a disputa da Taça de Portugal, Benfica e Torreense fizeram dois jogos entre si, um em cada campo, para manter a forma...

Nem o SLB, nem o Torreense, nem Valdivielso sofreram qualquer punição da parte da Federação Portuguesa de Futebol ou da Direcção Geral dos Desportos.
Zelar pela defesa da ética e da moral desportiva fazia parte das competências destas duas entidades, mas era algo que elas só costumavam aplicar a outros clubes mais a Norte...

(continua: ‘V. Deus deu o campeonato à melhor equipa’)

Fontes:
[1] ‘CSI – Calabote Scene Investigation’, Pobo do Norte, Maio de 2008
[2] ‘Todos os treinadores do Benfica’, Maisfutebol Especiais, Novembro de 2007
[3] 'Glória e Vida de Três Gigantes', A BOLA, 1995

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

SMS do dia - XXXI

EM DEFESA DE FÁTIMA FELGUEIRAS

Qual será a diferença entre as ajudas da Câmara Municipal de Felgueiras ao F.C. Felgueiras, pelas quais a Drª Fátima Felgueiras está a ser julgada, e a "solução imaginativa" com que o antigo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Dr. Pedro Santana Lopes, resolveu as dificuldades do S.L. Benfica na construção do novo estádio?

Oeiras mais perto...


É usual ouvir-se um cliché futebolístico de que uma partida de futebol é óptima quando tem muitos golos. O jogo da noite passada do Dragão demonstra que tal afirmação pode não ser inteiramente correcta. Velocidade, ritmo, dinâmica e entrega de todos os intervenientes do encontro, tornaram-no num espectáculo agradável para quem o quis seguir.

Foi o Leixões que assumiu quase sempre as despesas de toda a 1ª parte, com excepção dos primeiros 5 minutos, que vieram a confirmar-se fatais para os Matosinhenses. Num lance quase todo ele desenhado por Mariano (iniciado e finalizado), com auxílio de Lucho e Lisandro pelo meio, os portistas superaram a “barreira invisível” com que Beto resguarda a suas redes.

Até ao período de descanço os comandados de José Mota fizeram valer e impor o seu futebol iminentemente apoiado e temerário, com evidentes dificuldades do reformulado meio campo azul e branco em suster o caudal ofensivo Matosinhense. Apesar do grande volume de jogo do Leixões, a sua melhor ocasião surgiu a partir de uma perda de bola proibida de Bruno Alves, mas Nuno opôs-se bem ao cabeceamento de Zé Manuel.


Nos segundos 45 minutos do encontro, a ambição Leixonense manteve-se em alta, mas o FC Porto teve pelo menos o mérito de ir pondo amiúde Beto de olho bem aberto. Hulk e Lisandro, logo no recomeço, ofereceram ao melhor guarda-redes Português da actualidade, razões para brilhar ainda mais. Zé Manuel respondeu bem, com novo cabeceamento, mas Nuno voltou a negar-lhe o golo.

A vantagem portista agradava a Jesualdo, mas a equipa tardava em saber controlar o jogo. No centro estava a questão. Meireles e Lucho não eram suficientes para preencher os espaços, já que Guarin parecia estar noutro lugar que não no Dragão. Ainda assim o Colombiano manteve-se em campo, mas o acrescento de Tomás Costa ao miolo de terreno arrastou o FC Porto para um domínio mais consistente da partida, o suficiente para fazer carimbar a passagem para as meias-finais da Taça de Portugal.


Positivo: Finalmente um jogo onde no seu final não serão esmiuçadas até ao tutano as decisões da equipa de arbitragem. Mérito de João Ferreira pela boa prestação que teve. Mérito aos jogadores por não lhe complicarem a vida.

Negativo: Guarin, não é que tenha estado mal, mas também não esteve bem, ou melhor, alguém o viu em campo? Deve ter sido por esse motivo que Jesualdo não o retirou durante o encontro, esquecendo-se que o Colombiano estava em jogo.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Judas explica-se...

O Judas resolveu explicar publicamente as razões que o levaram a rescindir contrato unilateralmente com o FC Porto em Maio do ano passado. Fê-lo numa entrevista dada à RTP, esse imparcial órgão de comunicação social pago por todos nós, onde ainda teve espaço para afirmar que já obteve a nacionalidade portuguesa e que está pronto para ser seleccionado para o próximo jogo sabendo já a letra do hino nacional. Pela atitude que tomou contra o seu anterior clube, que como se sabe em Portugal representa a raiz do Mal, Judas será de certeza recebido no Terreiro do Paço como um “bom português”.
Os sócios do FC Porto ficaram assim a saber que foi o medo de levar “um tiro no joelho” que ditou que o Judas fosse o primeiro jogador em todo o Mundo a invocar a “Lei Webster” para rescindir unilateralmente um contrato (isto, claro está, excluindo o próprio Webster). As pressões do empresário e o aliciamento de outros clubes nada tiveram a ver com o caso. A hipótese de que tenha sido de facto ameaçado poderá não ser de todo inverosímil. Partindo do princípio que o episódio relatado é verdadeiro, o jogador terá ficado sem condições para continuar no clube e na cidade. No entanto não é sequer razoável que a forma de resolver uma questão destas fosse a rescisão unilateral do contrato com o recurso a tal expediente. Haveriam de certeza soluções onde ambas as partes pudessem sair com mais benefícios financeiros.
Ironia do destino, o actual clube do Judas, o Atlético de Madrid vem jogar ao Dragão no próximo mês nos oitavos de final da Liga dos Campeões. Que jeito deu esta “entrevista” para tentar limpar a imagem do Judas antes de visitar o Dragão (a entrevista e o modo como foi conduzida foi mais um prego no caixão da RTP, depois queixem-se de “tratamento discriminatório”). Os sócios do FC Porto têm memória e o Judas, que se diz disponível para um dia voltar a Portugal (que mistério, para onde será?...) terá, acredito, uma recepção à altura da sua atitude quando jogar no Dragão.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Livre conduto para denegrir o FC Porto

«Os Donos da Bola reflectem muito aquela curiosidade pacóvia que temos quando paramos a ouvir uma conversa de peixeiras ou quando se organiza uma enorme fila de carros que pára na estrada só para ver os mínimos estragos de um simples toque de dois veículos. (...)
Misturam-se também, neste programa semanal, outras coisas bem menos felizes: relembro a entrevista da semana passada, de José Manuel Mestre ao secretário-geral da UEFA, Gerhard Aigner, em que se tentava conduzir a entrevista conduzindo o entrevistado com perguntas canhestras como "Sabe que o Sr. Pinto da Costa insultou dois árbitros no ano passado?". Aigner é raposa velha e, com um indisfarçável ar de enfado, foi-lhe respondendo educadamente. Fazia lembrar François Mitterrand, que no primeiro septanato na Presidência da França, chamou um dia a Giscard d'Estaing "le petit telegraphiste", porque este andava pela Europa a fazer queixinhas do Presidente do seu país.»
Manuel Queiroz, PÚBLICO de 01/12/1996


Alguém na RTP lembrou-se de enviar um jornalista a Madrid para fazer uma entrevista ao ex-jogador do FC Porto Paulo Assunção a qual, pela forma insidiosa como foi conduzida e pelas perguntas canhestras que foram feitas, me fez recordar a entrevista de há 12 anos atrás de José Manuel Mestre (jornalista da SIC) a Gerhard Aigner.

Estranhamente (ou não) a entrevista, conduzida (e de que maneira!) pelo jornalista Hélder Conduto, não teve qualquer pergunta sobre o actual clube de Paulo Assunção, sobre a adaptação do jogador a uma nova realidade (cidade, país, clube ou campeonato), ou sequer sobre o desempenho do Atlético de Madrid e as perspectivas dos colchoneros para esta época.
Não, o interesse do jornalista da RTP era outro. Queria que o jogador dissesse porque razão não tinha renovado pelo FC Porto.

Ora, conforme é público, o processo da renovação do médio-defensivo brasileiro arrastou-se durante toda a época 2007/08, com o jogador a recusar as sucessivas propostas que a FCP SAD lhe fez. De forma resumida, relembremos o que aconteceu nos últimos meses da época passada.

Em 2 de Fevereiro de 2008, após a vitória (4-0) sobre o U. Leiria, Paulo Assunção foi confrontado com os rumores que havia na comunicação social, sobre a possibilidade de abandonar o FC Porto mediante o pagamento de uma indemnização equivalente ao valor dos seus salários até ao final do contrato. O jogador afastou liminarmente esse cenário afirmando:
Também vi isso nos jornais, que posso sair pagando os salários, mas o meu empresário está a falar com a direcção do FC Porto.
A minha vontade é ficar aqui, mas ainda não há acordo. Eles [FC Porto] estão a apresentar uma situação boa para eles, eu estou a apresentar uma situação que seria boa para mim.
Interesse de outros clubes? Só sei pelos jornais, tenho contrato até 2009 e quero ficar aqui.”

Em 23 de Fevereiro de 2008, após a vitória (3-0) sobre o Paços de Ferreira, Paulo Assunção voltou a negar a existência de contactos com outros clubes e afirmou:
Como está a minha renovação? Confirmo que o meu empresário está a falar com o FC Porto e que o processo está em marcha. Estamos na fase das negociações”.

Perante as sucessivas recusas do jogador às propostas de renovação que a SAD portista lhe ia apresentando e aos rumores, cada vez mais fortes, de que o jogador ia rescindir o contrato recorrendo à lei Webster, em 13/03/2008 o seu empresário – Ilson Visconti – veio a público reconhecer que o médio brasileiro estava a ser aliciado para rescindir contrato com o FC Porto no final da época.
É verdade que têm surgido muitos empresários a propor essa saída ao Paulo. Ele foi aliciado para rescindir com o clube no final da época, pedem-lhe para fazer isso, mas o jogador quer ficar”.

No dia 22 de Abril de 2008, O JOGO publicou uma notícia onde refere:
«Paulo Assunção tem contrato com o FC Porto até 2009 e os portistas pretendem prolongá-lo até 2012, intenção que tem encravado nas exigências do jogador, consideradas pouco razoáveis pela administração da SAD. Paulo Assunção é um dos elementos nucleares da equipa de Jesualdo Ferreira, mas não é internacional e já tem 28 anos de idade.»

Finalmente, e culminando aquilo que toda a gente já tinha percebido (o jogador não ia renovar porque tinha propostas de clubes estrangeiros que a FCP SAD não poderia cobrir), a 30/04/2008 a agência Lusa divulgou a seguinte notícia:
«Continuam as especulações da imprensa sobre o alegado assédio do Atlético de Madrid a jogadores portistas. Depois de Raúl Meireles e Lucho González, a imprensa desportiva fala em Paulo Assunção, atestando que os responsáveis do emblema madrileno perguntaram à SAD portista o preço do passe do jogador.
O processo de renovação de Assunção com o Porto prossegue sem acordo e diz-se que o brasileiro solicita um aumento desmesurado no salário para prolongar o actual vínculo que se prolonga até ao fim da próxima época.»

Há muito que se falava no Atlético de Madrid como estando por trás das sucessivas recusas do Paulo Assunção em renovar o contrato, mas esta noticia da Lusa, de finais de Abril, veio clarificar a situação.


Eu percebo muito bem que em vésperas de vir ao Estádio do Dragão, dê jeito ao jogador dizer que não renovou por causa do episodio das ameaças que lhe foram feitas à saída de um treino. Contudo, há um pequeno “pormenor” que desmente esta versão. Este incidente ocorreu em 15/05/2008, numa altura em que já era público que o jogador ia rescindir o contrato porque tinha quem lhe pagasse mais (até os nomes dos clubes interessados eram do domínio público).

Sendo isto mais que óbvio (há enumeras noticias da altura que o confirmam), porque razão a RTP enviou um jornalista a Madrid cujo único propósito pareceu ser reescrever a história, ignorando deliberadamente factos que tinha obrigação de conhecer?

Mais. No final da entrevista, o pivot do ‘Domingo Desportivo’, o mais famoso adepto do União Sport Clube Paredes - Carlos Daniel -, virando-se para António Tadeia comentou que as declarações de Paulo Assunção iam dar umas manchetes de jornais (sim, de manchetes anti-Porto percebem eles...).

Mas o que é que as declarações do médio brasileiro têm de novo para justificar manchetes?

Nada. A única coisa de novo é a contradição entre o que Paulo Assunção afirmou à RTP (“disseram-me que, se não renovasse até quarta-feira, levaria um tiro num joelho”) e o que tinha dito há um mês atrás, em entrevista a O JOGO (edição de 26/12/2008), em que disse que um grupo de adeptos que tinha assistido ao treino ameaçara partir-lhe uma perna.

De resto é uma notícia requentada, porque no próprio dia em que o incidente se verificou (há mais de oito meses!), a comunicação social deu conta do mesmo, tendo sido amplamente noticiado por televisões, rádios e jornais.

«Paulo Assunção, jogador do Futebol Clube do Porto, apresentou queixa na PSP, contra desconhecidos. O jogador contou à polícia que tinha sido ameaçado à saída do treino de terça-feira, por quatro indivíduos.
Os indivíduos aconselharam-no a assinar a renovação de contrato com o FC Porto nos próximos dois dias ou poderia sofrer consequências físicas.»
in SIC online, 15/05/2008 10:49

Por tudo isto volto a perguntar: o que pretende a RTP com este tipo de campanhas anti-FC Porto?
Competir neste "campeonato" com a TVI, 'Correio da Manhã', Record e 'A Bola', para ver quem conquista a maior fatia de simpatia entre os milhões de frustrados que odeiam os actuais Tri-campeões nacionais?

Relativamente ao jornalista Hélder Conduto, após ter trocado (em Maio de 2006) a TSF e a SIC pelo grupo RTP, tendo assumido a função de coordenador de desporto da estação pública, este benfiquista natural de Aljustrel mostra que tem ambição e que sabe qual é o caminho mais curto para chegar ao topo.

Parabéns Hélder, mais uma ou duas entrevistas destas e és promovido. Aliás, até já tenho uma sugestão para os anúncios da tua próxima entrevista:
«Exclusivo RTP. Saiba o verdadeiro motivo de Adriaanse se ter pirado do Porto».
Já imaginaram as manchetes bombásticas que uma entrevista com o holandês podia dar?
Até já estou com água na boca... É desta que vamos entalar o Pinto da Costa!


P.S. Algumas das perguntas que o jornalista da RTP se “esqueceu” de fazer ao Paulo Assunção:
- Em Junho de 2004 tinha um compromisso verbal com o Sporting mas acabou por assinar pelo FC Porto. Quanto é que o FC Porto lhe ofereceu a mais do que o Sporting?
- Quando assinou contrato com o FC Porto fê-lo até Junho de 2009. Assinou o contrato com o FC Porto coagido ou ameaçado por alguém?
- Alguma vez o FC Porto desrespeitou compromissos que tinha consigo, nomeadamente ao nível de salários ou prémios?
- Apesar de não ter chegado a um entendimento para a renovação do contrato com o FC Porto, alguma vez foi colocado de parte ou deixou de ser convocado por causa dessa situação?
- Acha bem que recorrendo à lei Webster os jogadores possam desrespeitar contratos que assinaram livremente, enquanto que os clubes são obrigados a cumprir os contratos até ao último dia?
- Foi apenas em 2007 que soube do interesse do Atlético de Madrid na sua contratação, ou antes disso já tinha havido contactos com o seu empresário?
- É coincidência que o Paulo Assunção tenha sido contratado pelo clube de que mais se falou durante os longos meses em que andou a negociar a renovação com o FC Porto?
- O Atlético de Madrid pagou ao Paulo Assunção, ou o seu empresário, algum prémio por assinatura do contrato?
- A proposta do Atlético de Madrid era superior à do FC Porto? Qual era a diferença anual (em centenas de milhares de euros)?

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O caso Calabote (III)

I. A trajectória da bola e as decisões da FPF

II. A pouco inocente nomeação de Calabote

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III. Os estágios das selecções em... Lisboa

Nas décadas de 50 e 60, havia três selecções de futebol sénior: a selecção principal, a selecção B e a selecção militar.

Selecção B, década de 50 (foto: ‘Glórias do Passado’)


Ora, conforme referido atrás, já em 1956/57 o treinador do FC Porto – Flávio Costa – tinha ficado indignado por, em momentos cruciais da época, jogadores do FC Porto serem convocados para trabalhos das selecções em... Lisboa.

Pois desta vez não podia ter havido melhor altura para agendar um estágio em Lisboa da Selecção Militar: precisamente na semana que antecedeu a última e decisiva jornada do campeonato 1958/59!

Este facto verdadeiramente inacreditável, levou Monteiro da Costa, capitão do FC Porto, ao seguinte desabafo:
Calcule que nesta semana não pudemos realizar um treino de conjunto com todos os nossos jogadores. Faltaram-nos o Hernâni, o Arcanjo e o Barbosa, os três em Lisboa por causa da selecção militar. Eu compreendo os interesses da selecção, mas numa altura destas de campeonato, com um jogo decisivo para a atribuição do título, é, evidentemente, uma dificuldade que nos foi criada”.

Miguel Arcanjo, Mendes (SLB) e Hernâni entrevistados na RTP, 1958 (foto: ‘Glórias do Passado’)


De facto, a utilização do serviço militar e dos trabalhos das selecções era outro dos aspectos onde o Sistema mostrava toda a sua eficácia.

Hernâni Ferreira da Silva, o “furacão de Águeda” , é um caso exemplar de como algumas destas coisas funcionavam.
Vindo do Recreio de Águeda, ingressou no FC Porto em 1951 onde jogou até 1964. Contudo, em 1952 teve de representar outro clube – o Estoril – por se encontrar a cumprir o serviço militar em... Lisboa.
Hernâni foi 28 vezes internacional A e pela Selecção Militar jogou sete vezes, tendo sido o capitão na fase final do Torneio Internacional inter-selecções Militares de Países Europeus, realizada em Portugal, em 1958, e em cuja final disputada no Estádio de Alvalade Portugal venceu a França por 2-1.

Repare-se no seguinte pormenor: o Hernâni, que era só o melhor jogador do FC Porto (e considerado por muitos um dos melhores jogadores portugueses de sempre), cumpriu o serviço militar em 1952 e sete anos depois, aos 28 anos, ainda era convocado para os trabalhos da Selecção Militar realizados, claro está, em Lisboa.

Selecção Militar, 1958 (foto: ‘Glórias do Passado’)


Tentei encontrar um caso semelhante no Benfica ou no Sporting, isto é, um caso em que um dos melhores jogadores desses clubes, sete anos após concluir o respectivo serviço militar, continuasse a ser convocado para trabalhos da Selecção Militar a... 320 km de distância.
Não descobri, deve ter sido lapso da minha pesquisa...

(continua: ‘Treinador-adjunto do SLB no banco do Torreense’)

Fontes:
[1] ‘Glórias do Passado’, Outubro de 2008
[2] ‘CSI – Calabote Scene Investigation’, Pobo do Norte, Maio de 2008


Fotos: ‘Glórias do Passado’

domingo, 25 de janeiro de 2009

A terceira é para ser de vez

Após o FC Porto - Trofense numa conversa de café alguém disse: Agora vamos a Braga, estamos fod****!, ao que alguém retorquiu: Que nada, é destes jogos que nós gostamos, eles vão jogar o jogo pelo jogo, não vão pôr o autocarro à frente da baliza, e com esses podemos nós bem.

Dito e feito.

Mas a coisa começou cinzenta, a novidade Cissokho (uma grande prova de confiança no Benitez) foi logo posto à prova, tremeu mas não caiu e na 2ª parte teve mesmo a jogada do jogo.


A coisa aliviou muito graças à força da digi-evolução (isto é só para quem vê o canal Panda) entre o Ronaldinho (o da era Robson no Barça) e o Adriano que dá pelo nome de Hulk (Givanildo para os amigos). O Rochemback já não é o único.


Mas a coisa lá melhorou e chegou o golo (sim, estava fora de jogo*), e então estávamos nas nossas sete quintas. Restava esperar pelos erros do adversário e aproveitá-los, e assim foi. Foi mais um, mas podiam ter sido mais dois ou três (Ó Licha! Aquilo é golo que se falhe?)


E assim acabou a 1ª volta, com o campeão em 1º lugar. Agora o campeonato "decide-se" nas próximas 4-5 jornadas. Que o campeão esteja à sua altura e que consiga furar os pneus dos próximos autocarros que vão parar no Dragão com origem na 2ª circular, quer jogue em 433 ou 442.

Positivo: Duas grandes jogadas dos laterais.

Negativo: Eu sei que não vejo os treinos, mas ainda gostava de saber o que é que o Jesualdo vê no Mariano. Até o Vinha tinha mais utilidade.

* Enquanto estava aqui a escrever estava um deputado da nação (um tal de ribeiro cristovão) a espumar na Sic Notícias. Gosto tanto de os ver espumar.

Fotos gamadas ao Gettyimages.

sábado, 24 de janeiro de 2009

O centro e a criatividade


Portugal é um país que tem uma grande atracção pelo centro, fazendo jus ao ditado de que no centro é que está a virtude.
No futebol parece acontecer o mesmo. Na velha Albion, pátria do dito, não acontece nada de muito diferente: 45 a 50% do tempo do jogo (pelas estatísticas que tenho tirado do campeonato inglês) a bola anda na zona de projecção entre as linhas superiores que delimitam as grandes áreas.

É aí a zona nevrálgica: era normal ouvir falar na batalha pela conquista do meio campo ou que ganhar o meio campo era essencial para ganhar a guerra. Ontem como hoje, dominar essa zona do terreno era (e é) crucial. E não foi, por acaso, que passou a ser mais habitada com os treinadores a privilegiarem a concentração de jogadores nessa zona do terreno. O problema que se põe é como utilizar esse domínio num ataque continuado, como se impõe a uma equipa como a do FCP, pelo menos ao nível caseiro.

Não há sistema ou processo que dispensa a criatividade e esta é uma condição que no futebol como nas artes abriga um conjunto vasto de talentos (quase sempre) autónomos. O pintor, não tem que ser tenor nem bailarino ou escritor. No futebol há jogadores criativos com características diferentes: Messi, Ronaldo, Káká, Xavi, Roberto Carlos, Maicon, Baresi, Pilro, Torres, Madjer, Quaresma, Lucho ou Pedro Moutinho são jogadores criativos mas com uma identidade própria e que nunca pode ser expressa com total liberdade porque não competem individualmente. Dependem sempre de terceiros.

Para além disso, não são dispensados de ter um perfeito domínio técnico, táctico e uma boa capacidade física. E, sem, isso não há criatividade que chegue. E, cada vez mais, ao jogador de futebol se exige que domine todas as vertentes do jogo: saiba defender, atacar, passar, rematar, centrar, correr, ocupar espaços e não esquecer que é apenas uma parte do todo.

Se a isto tudo o atleta juntar um ritmo alto de forma consistente e for suficientemente privilegiado para ultrapassar os seus adversários com as suas habilidades e decidir jogos, então estamos perante um artista. No FCP será difícil poder ter alguém desse tipo nas nossa fileiras.

Hulk é criativo? Lucho é criativo? Lisandro é criativo? Rodriguez é criativo? Tarik é criativo? Guarín é criativo? Tomás Costa é criativo? Bruno Alves é criativo?
Não sei, mas acho que alguns são muito bons jogadores e acho que a criatividade (a improvisação) é importante sob pena do jogo se tornar demasiado rotineiro, mas a potência, a rapidez, a capacidade de execução, a desmarcação, a marcação, a mobilidade, o aproveitamento das bolas paradas, a certeza no último passe e o poder de remate são qualidades que se aperfeiçoam e não exigem necessariamente um alto grau de improvisação. Exigem que os gestos técnicos sejam aperfeiçoados ao extremo, e quando o domínio desses dotes atingirem um bom nível estamos muito próximos de poder criar – na base do treino – muitos lances de excelência.

Dizia um actor que não há nada que dê mais trabalho que a improvisação. No futebol acho que se passa um pouco do mesmo, e como diria qualquer gestor (treinador) o caminho do êxito requer 90% de transpiração e 10% de inspiração.

Não creio que um treinador do FCP prepare a sua equipa para jogar em contra-ataque. Seria um incompetente, e não creio que JF o seja. Agora que a transição rápida seja muito rotinada sempre que seja possível o contra golpe, não só é adequado como é desejável. E que o FCP crie um conjunto de condições para favorecer essas transições rápidas, também me parece muito avisado. Mas, o jogo do FCP não pode ser só isso. O JM que privilegia bem mais a posse de bola tem sentido enormes dificuldades em Itália e esta semana levou um baile táctico do Del Neri.

É futebol. Sobre o contra-atque, e retirado do Planeta Futebol, transcrevo um breve resumo da evolução táctica nos primórdios do futebol, a importância do WM que Bella Gutman projectou em Portugal nos anos 50 no FCP e SLB, já quando o 4x2x4 de Otto Glória e Yustrich parecia vingar sobre os demais processos tácticos.

“Depois dos rudimentares 2-2-6 e 2-3-5, surgiu nos anos 30, o grande fundador da dinastia táctica do futebol mundial: Herbert Chapman.
No fundo, dizem os estudiosos, Chapman tinha descoberto a raiz do contra ataque, grande arma futebolística do futuro. Sábio, porém, também percebera que a eficácia de qualquer sistema dependeria sempre da qualidade dos seus jogadores.

Estudioso e sagaz, Chapman criaria então o famoso WM, assim chamado porque a formação dos jogadores em campo lembrava as pontas de ambas as letras, o sistema que serviria de base a toda a evolução táctica que ciclicamente marcou o século do futebol. Basicamente, o novo sistema alicerçava-se no recuo de dois dos cinco jogadores do ataque, que assim passavam a ocupar postos que seriam designados por interiores.

Ao mesmo tempo, com o recuo de um médio centro para o meio da defesa, criando o stopper, enquanto os dois médios ala flectiam no terreno, ficava desenhado um quadrado a meio campo que garantiria todo o equilíbrio da equipa, pelo que também chamaram ao sistema o “Quadrado Mágico de Chapman”. Passava-se a jogar em 3-2-2-3, a grande figura permanecia o avançado centro, mas pela primeira vez na história do futebol havia equilíbrio entre o número de defesas e avançados. O onze tornava-se um bloco mais coeso.”

Coesão, eis pois a questão e que todos os treinadores perseguem, sem desprezo por uma escolha critreriosa dos melhores jogadores (possíveis) para cumprirem as diferentes tarefas que são cometidas a uma equipa de futebol.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

SMS do dia - XXX

É a chamada entrada de carrinho:

Carro com dias contados
Sem ser um apaixonado por velocidade, Miguel Lopes gosta de carros desportivos. A ida para o FC Porto faz com que já ande a deitar o olho a vitrinas mais luxuosas

in O Jogo

O caso Calabote (II)

I. A trajectória da bola e as decisões da FPF

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II. A pouco inocente nomeação de Calabote

Chegados à última jornada do Campeonato Nacional da I Divisão da época 1958/59, tudo se ia decidir a 23 de Março de 1959, com o FC Porto a deslocar-se a casa do Torreense e o Benfica a receber na Luz o Desportivo da CUF.

Para um jogo que se previa escaldante, com o estádio da Luz totalmente esgotado, a Comissão Central de Árbitros entendeu nomear o Sr. Inocêncio Calabote (AF Évora), um árbitro de má memória para os portistas.

Mas afinal, quais eram os antecedentes de Inocêncio Calabote e que desaconselhariam a sua nomeação para um dos dois jogos decisivos, ainda por cima envolvendo o SLB?

Recuemos no tempo para relembrar os factos que estiveram na origem da fama que o Sr. Calabote já tinha (antes do Benfica-CUF).


Época de 1953/54

30 de Novembro de 1953, Sporting–FC Porto: vitória dos “leões” por 2-1, mas com o segundo golo, apontado por Vasques, a ser muito polémico.

No final do jogo, um Barrigana revoltado afirmou: “Quando a bola vinha no ar, a cair sobre a baliza, fiz-me ao lance para a captar, o Vasques antecipou-se e enfiou-a nas redes com um soco.”

O autor do golo retorquiu: “Foi um golo limpo, de cabeça, aliás o árbitro estava mesmo ao pé de mim.”

Quanto ao árbitro – Inocêncio Calabote – garantiu não haver tido dúvidas (mal seria se dissesse o contrário...) e afirmou:
E se eu expulsasse o Barrigana pelas atitudes que tomou? Essa foi a parcialidade de que me acusaram os portistas! Barrigana foi indisciplinado, só a responsabilidade do encontro é que me levou a não o expulsar pelo seu comportamento e pelas suas ameaças...”

Que rico árbitro! Diz que foi ameaçado por um jogador e não o expulsou... Pois, devia estar com a consciência pesada...

Anos depois, numa entrevista que deu após o final da carreira, o sportinguista Vasques reconheceu que esse célebre golo tinha sido de facto marcado com a mão.

Nota: Recorrendo a factos irrefutáveis, irei demonstrar ao longo destes artigos que Inocêncio Calabote era um individuo que mentia comprovada e descaradamente, incluindo naquilo que escrevia nos relatórios dos jogos.

Francisco Guerra (árbitro), Abel da Costa e Inocêncio Calabote, jogo Espanha-Turquia, em Chamartin, a 06/01/1954 (foto: Boletim 'O Árbitro', Nº5, Novembro de 1957)



Época de 1956/57

O FC Porto tinha como treinador Flávio Costa, o qual veio substituir Yustrich, e que antes de chegar ao Porto tinha no seu curriculum ter treinado dois dos maiores clubes brasileiros (o Vasco da Gama e o Flamengo) e sido seleccionador do Brasil.
Segundo relatos da época, bem como de quem assistiu e ainda é vivo, os azuis-e-brancos jogavam um futebol que deslumbrava e rapidamente se isolaram na liderança do campeonato. Após vencerem o Sporting (2-0), Belenenses (5-0) e Vitória de Setúbal (7-1), no início de 1957 também o Benfica foi derrotado nas Antas de forma concludente (3-0), isto apesar de Monteiro da Costa ter sido expulso ainda na primeira parte (aos 40 minutos).

O FC Porto estava embalado para a revalidação do título de campeão mas, como era habitual nesse tempo, houve forças exteriores que começaram a meter pedras na engrenagem.

Primeiro com a chamada de vários jogadores portistas a trabalhos da Selecção realizados em Lisboa. Ora, há 50 anos uma deslocação Porto-Lisboa não se fazia de auto-estrada, confortavelmente instalado, com ar condicionado, em duas horas e meia. O desgaste destas viagens era enorme e, indignado com estágios marcados em momentos cruciais da época, Flávio Costa acusou a Federação de “os impedir de treinar-se como deveria ser”.

Depois veio o Sporting-FC Porto, da 18ª jornada, disputado no dia 13 de Janeiro de 1957. O jogo teve uma arbitragem altamente polémica, tendo os azuis-e-brancos sido derrotados por 1-2.
No final do desafio, jogadores e treinador do FC Porto não calavam a sua revolta.

«O juiz de linha chamou-me parvo quando lhe reclamei um fora-de-jogo. E foi mais longe, utilizando termos ainda de maior incorrecção. Absolutamente lamentável, a linguagem que me dirigiu. E houve muita maldade nesta partida. Os sportinguistas mostraram-nos muitas vezes as solas das botas
Osvaldo Cambalacho

«Os jogadores do Sporting foram à liça apenas para não nos deixar ganhar, dando duro, sem bola
Hernâni

Flávio Costa não aguentou tamanha roubalheira e disse: "a arbitragem desse tal Calabote foi péssima".

Calabote?!! Pois é, foi ele mesmo que arbitrou esse Sporting-FC Porto de má memória da época 1956/57.

«Quando corria em todos os portistas a imensa esperança, um empeço, em Alvalade: derrota por 1-2, os benfiquistas outra vez à perna. Mas começavam a pressentir-se zoadas de forças secretas no caminho – com Inocêncio Calabote na ribalta
in 'Glória e Vida de Três Gigantes', A BOLA

Pedroto, perante o que se tinha passado e quase direi premonitório daquilo que haveria de ocorrer dois anos depois, não teve papas na língua e no final do jogo afirmou: “terei todo o prazer em ver Inocêncio Calabote na lista negra”.

Pedroto num FC Porto–Sporting da 2ª metade da década de 50 (foto: ‘Glórias do Passado’)


Mas há mais. Nos 26 jogos da época 1956/57, Inocêncio Calabote foi nomeado para arbitrar o Benfica em cinco ocasiões:
11ª jornada, Barreirense – Benfica (2-4)
13ª jornada, Académica – Benfica (0-0)
15ª jornada, Sporting – Benfica (1-0)
22ª jornada, Setúbal – Benfica (2-3)
26ª jornada, Benfica – Académica (2-0)

Que regra ou critério esteve na base de se ter nomeado o mesmo árbitro – Inocêncio Calabote – para arbitrar quase 20% dos jogos de uma equipa – o SLB?
Havia alguma razão ou interesse especifico para nomear Calabote para tantos jogos do SLB?

Pior. Como é possível que esse árbitro tenha sido nomeado para arbitrar quatro dos jogos que essa equipa fez fora de casa, três dos quais seguidos (11ª, 13ª e 15ª jornadas)?
Imagine-se como reagiriam os benfiquistas (ou sportinguistas) e a sempre “isenta” imprensa de Lisboa se um árbitro conotado com o FC Porto fosse nomeado para arbitrar 30% dos jogos que os “dragões” fizessem fora de casa... De certeza que não era só o Carmo e a Trindade que cairiam...

Mais ainda. Nas últimas cinco jornadas da época 1956/57 o Sr. Calabote apitou dois jogos do Benfica incluindo, claro está, o decisivo jogo da última jornada (tal como iria acontecer dois anos depois).

Tudo absolutamente normal, não é?
Pois, parece que naquele tempo era.


Época 1957/58

19ª jornada, Benfica-FC Porto: os azuis-e-brancos venceram por 3-2, mas o que marcou este jogo, arbitrado por Calabote, foi a expulsão do melhor goleador do FC Porto e as consequências e (in)decisões subsequentes da FPF.

«Inocêncio Calabote pôs mascarra na tarde, ao expulsar o portista António Teixeira, num lance que suscitou dúvidas, muitas dúvidas.
Espantado, com as lágrimas bailando-lhe nos olhos, ciciou: “Sinceramente, não sei por que fui expulso. A jogada foi viril, mas não bati em ninguém. O Serra cuspiu-me na cara e eu, nesse instante, empurrei-o, perguntando-lhe apenas se isso se fazia. Claro que fiquei indignado, mas não bati em ninguém, nem sequer esbocei essa intenção.”»
in 'Glória e Vida de Três Gigantes', A BOLA

No seu relatório Calabote escreveria: «Teixeira foi expulso porque bateu na cara do adversário.»

Com base no relatório de Calabote, o castigo aplicado a Teixeira foram três jogos de suspensão.
Inconformados, os dirigentes do FC Porto solicitaram à FPF a relevação da pena ou, no mínimo, a sua suspensão até à conclusão do inquérito que foi aberto (no estádio ninguém tinha visto a agressão).

A FPF recusou a solicitação do FC Porto e a Direcção Geral dos Desportos disse o mesmo.

«Demonstraram ambas, sem sequer cuidar de guardar as aparências, que agiam com dois pesos e duas medidas, até porque antes vários clubes lograram efeitos suspensivos em processos semelhantes de penalização de atletas seus
in 'Glória e Vida de Três Gigantes', A BOLA

Em meados de Março de 1958, com o campeonato quase concluído, a FPF emitiu, finalmente, um comunicado a propósito do caso Teixeira.

«Que sim, admitia-se que Teixeira fora mesmo mal expulso durante o jogo com o Benfica, que, por isso, fora injusta e ilegalmente obrigado a um castigo de que os dirigentes do FC Porto logo recorreram, pedindo baldadamente o efeito suspensivo que o regulamento da Federação estabelece e que tem sido concedido a todos os outros clubes portugueses que o invocam, mas que decidira passar uma esponja sobre tudo. Mais: ao fim de dois meses de inquérito (dois meses!) confirmava-se o que milhares de espectadores do Estádio da Luz já sabiam: que Teixeira nada fez que merecesse o castigo de expulsão – mas que o FC Porto tomasse tudo à conta de lamentável incidente ou partida do destino!»
in 'Glória e Vida de Três Gigantes', A BOLA

O timing e conteúdo deste comunicado da FPF diz quase tudo sobre o que era o Sistema do antigamente. E, claro, demonstra que Calabote mentiu descaradamente no relatório do jogo.

No final do campeonato Sporting e FC Porto somavam ambos 43 pontos, mas com vantagem para os “leões” que assim ganharam mais um campeonato marcado por calabotices e pelos dois pesos e duas medidas da FPF.

Miguel Arcanjo, Yustrich e Teixeira, Outubro 1987 (foto: Revista 'Dragões', Novembro de 1987)


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Repare-se na quantidade de casos (e graves!) que já tinham envolvido Calabote em jogos do FC Porto contra Sporting e Benfica, não por acaso disputados em Alvalade e na Luz. Por tudo isto, Inocêncio Calabote era, pelas piores razões, um árbitro bem conhecido dos adeptos portistas. Foi pois com um misto de indignação e apreensão que no Porto se soube da nomeação de Calabote para um dos jogos decisivos da última jornada da época 1958/59.

Mas não foi só a "imprudente" nomeação de Calabote que marcou os dias que antecederam a última jornada do campeonato nacional de 1958/59. Os “tentáculos” do Sistema eram muitos e fizeram-se sentir em outras manobras de bastidores.

(continua: ‘Os estágios das selecções em Lisboa’)

Fontes:
[1] 'Glória e Vida de Três Gigantes', A BOLA, 1995
[2] 'Norte Desportivo', Março de 1957
[3] ‘Paixão pelo Porto’, Julho de 2008


Fotos: ‘Paixão pelo Porto’, ‘Glórias do Passado’, Boletim 'O Árbitro' Nº5

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

SMS do dia - XXIX

Há coisas nesta taça da liga que me fazem uma certa espécie, a começar pelos 3 grupos à imagem dos "grandes", e a acabar no goal-average (ainda gostava de saber como é que se compara um goal-average de 2:1 com um 1:0).

Mas uma das coisas que me fazia mais espécie, era esta necessidade de fazer um sorteio para as meias-finais. Era muito mais simples definir que o melhor 2º classificado não podia jogar com o vencedor do seu grupo e jogava com o melhor classificado dos outros 2 grupos. Os outros dois jogavam entre si. O que na prática dava um sporting-guimarães e um ben71ca-FC Porto.

Mas hoje ao passar pelo blog do António Boronha, percebi que afinal o sorteio fazia todo o sentido.


foto gamada no blog António Boronha (que a tinha gamado a A Bola)

A Farsa da Liga


Esta edição da Taça da Liga foi apresentada com toda a pompa pelo gebo seboso presidente da Liga, Hermínio Loureiro. Mas como toda a gente já teve oportunidade de confirmar a competição é um verdadeiro embuste. E começou por sê-lo no momento em que a Liga alterou o seu formato de modo a que os três grandes tivessem grande facilidade em chegar às meias-finais. Pode ter sido em parte influência dos sponsors mas podia e devia a Liga ter pensado e executado melhor os moldes em que a competição se desenrola.
Os jogos realizaram-se entre todos os clubes das Ligas profissionais à excepção dos três grandes que esperavam confortavelmente “sentados” como cabeças de série em cada um dos três grupos de qualificação para as “meias”. Só por si, este tipo de formato já retira toda a emotividade à competição e fez mesmo com que os jogos de qualificação para a fase de grupos estivessem completamente “às moscas”.

Isto já é um factor de descrédito mas o pior não é isto. Pior ainda foram os exemplos de arbitragens miseráveis, tendenciosas, que alteraram a verdade desportiva ao longo da fase de grupos. Estou a referir-me aos jogos Rio Ave x Sporting em que o clube lisboeta obteve o golo da vitória em claro fora-de-jogo e Benfica x Belenenses em que o Bruno Paixão anulou um golo limpo ao Belenenses depois de já ter ignorado um penalty contra o Benfica. Este derby lisboeta foi um jogo escandaloso. Pena é que o clube do Restelo não fique sequer indignado por ser roubado de forma tão vil com a arbitragem do Paixão. Não sei como é que ainda é possível que este ladrão seja nomeado para apitar jogos nas competições profissionais depois de anos e anos de péssimas e dolosas arbitragens. Um mistério, ou talvez não.


Contudo, o presidente da Comissão de Arbitragem, Vítor Pereira, ainda teve a lata de afirmar que “apenas uma equipa vai garantir presença na Liga dos Campeões e isso vai provocar muito nervosismo, ansiedade e provavelmente muitas questões que vão pôr em questão tudo e todos”. Enfim, é mais um irresponsável que já devia ter sido demitido há muito tempo.

A última polémica, que não é mais publicitada na comunicação social porque um dos beneficiados é o SLB e o outro é o Guimarães (clube “amigo” do primeiro), está no regulamento da Taça da Liga. Diz então o regulamento que:

As meias-finais são disputadas a uma mão, em campo neutralizado, entre os 4 Clubes apurados na fase anterior.
É efectuado um sorteio pela Liga PFP para alinhamento das equipas.
Os critérios para determinar quem joga na qualidade de Clube visitado são os seguintes:
1. Melhor lugar e pontuação obtidos na 3.ª Fase;
2. Melhor “goal average”;
3. Maior número de golos marcados na 3.ª Fase;
4. Média etária mais baixa de jogadores utilizados nos jogos da 3.ª Fase.

É um regulamento ambíguo e que dá azo a interpretações diversas, mediante o interesse e a classificação final de cada clube na fase de grupos.
Porque razão é que não foi feito primeiro o sorteio das meias-finais e só depois aplicados estes critérios?
E o que é que significa "goal average"? A definição clássica inglesa de quociente entre golos marcados e golos sofridos, e que foi banida dos campeonatos europeus nos anos 70?
É que nesse caso o clube apurado seria o Belenenses e não o Guimarães. Ou a Liga, de tão profissional que é, se esqueceu de substituir o termo "goal average" por "goal difference"?

“No caso entre Belenenses e Guimarães, os dois métodos dão diferentes resultados. As equipas têm os mesmos pontos (quatro), e um critério de desempate por goal average puro coloca o Belenenses à frente do Vitória e, por conseguinte, nas meias-finais. Isto porque se dividem os dois golos marcados pelos azuis por um sofrido, o que dá uma média de 2; já o Guimarães, com três marcados e dois sofridos, só tem uma média de 1,5. Prevalecendo o critério de diferença de golos, as equipas têm saldo igual (um positivo), mas impera a regra seguinte, que beneficia a do Minho: maior número de golos marcados.”

O Jogo, 21/01/2008
A Liga, ao aperceber-se da borrada que fez, logo emitiu um comunicado para tentar remediar o irremediável:

"Em face de dúvidas suscitadas na comunicação social relativamente ao apuramento para as meias-finais da Taça da Liga, entende a Liga Portuguesa de Futebol Profissional prestar o seguinte esclarecimento:

O 1º ponto do nº 3 do artigo 7º do Regulamento da Taça da Liga elege o melhor "goal-average" como primeiro critério de desempate entre clubes que tenham alcançado a mesma pontuação. A referida expressão "goal-average" reporta-se à diferença entre golos marcados e sofridos; tal corresponde ao entendimento comum na linguagem corrente do futebol e, certamente por isso, como tal, foi interpretado pela generalidade da comunicação social, designadamente as televisões quando traçaram os cenários de apuramento em face dos resultados que se iam verificando nos jogos da última jornada da 3ª fase.

Dito pela negativa, não se significou nem se quis significar através da referência a "goal-average" a qualquer tipo de quociente entre golos marcados e sofridos. Sendo certo que, actualmente, em todas as competições internacionais, a referência ao "goal-average" expressa a diferença entre golos marcados e sofridos.

Acresce que o critério baseado na diferença entre golos marcados e sofridos harmoniza-se com o espírito geral do Regulamento, que é o de estimular e premiar a marcação de golos, como está claramente expresso no ponto 2º do nº 3 do artigo 7º da Taça da Liga."



É mentira que “actualmente, em todas as competições internacionais, a referência ao "goal-average" expresse a diferença entre golos marcados e sofridos” como a Liga quer agora fazer passar. É falso apenas e só porque "todas as competições internacionais" já não mencionam o termo "goal average" desde os idos anos 70 do século passado. Este método de desempate foi abandonado desde a final do Campeonato do Mundo de 1970 e desde a época de 1976/1977 no campeonato inglês.
Para o atestar basta atentar no ponto 6.05 do regulamento da Liga dos Campeões e no ponto 6.06 do regulamento da Taça UEFA:

6.05 If two or more teams are equal on points on completion of the group matches, the following criteria are applied to determine the rankings:

a) higher number of points obtained in the group matches played among the teams in question;
b) superior goal difference from the group matches played among the teams in question;
c) higher number of goals scored away from home in the group matches played among the teams in question;
d) superior goal difference from all group matches played;
e) higher number of goals scored;
f) higher number of coefficient points accumulated by the club in question, as well as its association, over the previous five seasons (see paragraph 8.02).

6.06 If two or more teams are equal on points on completion of all the group matches, the following criteria will be applied to determine the rankings:
a) superior goal difference from all group matches played;
b) higher number of goals scored;
c) higher number of goals scored away;
d) higher number of wins;
e) higher number of away wins;f) higher number of coefficient points accumulated by the club in question, as well as its association, over the previous five seasons (see paragraph 8.03).


Ou seja, na Liga nem se derem ao trabalho de ler um único regulamento internacional antes de elaborarem os regulamentos desta competição mas ainda tiveram o desplante de emitir este ridículo comunicado.

Com as arbitragens declaradamente tendenciosas a favor dos clubes de Lisboa, os estádios vazios e os erros na elaboração do regulamento é caso para dizer que esta competição será um sucesso.
Só é pena que os patrocinadores não se tenham dado conta que não deviam ter financiado uma nova competição de uma instituição dirigida por miseráveis e incompetentes.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

SMS do dia - XXVIII

No Dragão foi eleito o melhor golo da época (até à data), no Domingo Desportivo é o melhor golo da época (até à data), no you tube leio elogios e coisas que tais.



Serei o único a achar que é a pior 'bicicleta' de que tenho memória? É certo que foi eficiente, mas daí a ser um golo bonito e bem executado, acho que vai uma grande distância.

O caso Calabote (I)

Talvez por sentirem que o peso de décadas de privilégios não foi esquecido pelo país desportivo, vários blogues benfiquistas e o próprio site oficial do SLB têm tentado reescrever a história do emblemático caso Calabote. O descaramento é tal que em alguns casos chegaram ao ponto de insinuar que, vistas bem as coisas, quem foi beneficiado pelas arbitragens dessa época (1958/59) foi o FC Porto.

Ainda esta semana, um relativamente conhecido comentador benfiquista (participante habitual no painel do Porto Canal), escreveu o seguinte num dos principais blogues do SLB (de que ele é um dos mentores):
Uma mentira dita mil vezes não passa a ser verdade. Nos últimos dias, a tentação de ir ao baú da História para tentar explicar o presente, fez ressuscitar um nome: Inocêncio Calabote. Quem o fez não conhece a história, nem tem tempo para essas minudências do estudo e da investigação séria e rigorosa. (...)
Calabote, que foi irradiado (sendo o primeiro árbitro a sofrer tal punição) já cá não está para se defender, mas é preciso que a História o reabilite e lhe faça justiça.”

Leram bem. Segundo benfiquistas do século XXI, é preciso que a História reabilite Inocêncio Calabote e lhe faça justiça!

Pois bem, numa altura em que se estão quase a completar 50 anos do “Caso Calabote”, e para que um número cada vez maior de pessoas fique a conhecer o que era o futebol português do antigamente, o ‘Reflexão Portista’ irá publicar uma série de artigos sobre este caso em que, para além dos penalties e da habitual discussão à volta dos minutos de compensação dados por Calabote no Benfica-CUF, iremos abordar os antecedentes, as decisões da FPF, o comportamento de jogadores e treinadores, o relacionamento entre clubes e as reacções dos jornais.

Nota: Este e os restantes artigos são baseados em fontes consultáveis e devidamente identificadas. No caso de algum dos nomes, datas, factos ou citações estarem incorrectos, agradeço a devida correcção através da caixa de comentários ou do e-mail do blog.

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I. A trajectória da bola e as decisões da FPF

Época 1958/59. Após 18 jogos o SLB ia na liderança do campeonato, com o Belenenses em 2º lugar a três pontos e o FC Porto em terceiro a quatro pontos de distância.
No dia 1 de Fevereiro de 1959 disputava-se a 19ª jornada e o SLB tinha uma difícil deslocação ao Restelo, a casa do seu perseguidor mais directo. A expectativa era grande, porque uma vitória dos azuis deixá-los-ia a apenas um ponto dos encarnados (na altura a vitória valia 2 pontos) e relançaria o campeonato a sete jornadas do fim.

«Entre belenenses e benfiquistas ocorreu, no jogo do Restelo, um caso invulgar. Costa Pereira não deteve uma bola, na marcação de um canto, que, muito escorregadia (o desafio foi disputado numa tarde de chuva cinzenta), se lhe escapou para dentro da baliza. O árbitro, Macedo Pires, não considerou o golo, mandando marcar pontapé de baliza. É que, na sua opinião, a bola descrevera um arco ao sair do canto, ultrapassara a linha de cabeceira e voltara ao campo, dando azo a um lance pouco vulgar
in 'Glória e Vida de Três Gigantes', A BOLA


«Fernando Vaz, treinador dos «azuis», considerou que dois erros do árbitro tinham decidido o campeão. Mas, se o árbitro dizia ter visto a bola sair pela linha de cabeceira, reentrar em campo e cair depois da estranha viagem dentro da baliza do Benfica, nada a fazer
in 'Glória e Vida de Três Gigantes', A BOLA


Reparem bem, segundo o árbitro Abel Macedo Pires (AF Lisboa), após Matateu ter marcado o canto, a bola descreveu um arco ultrapassando completamente a linha de cabeceira, voltou a entrar no campo e, desafiando todas as leis da Física, foi parar ao fundo da baliza do Benfica!
Não acreditam?
Pois é verdade, naquele tempo aconteciam coisas destas...

Perante tamanho escândalo, que deixou o país desportivo incrédulo, o ‘SPORT ilustrado’ ironizou com a situação e cerca de uma semana depois publicou um esquema em que tudo está “perfeitamente explicado”:

A trajectória mirabolante do canto de Matateu (clique na imagem para a ampliar)


«Conversa de todos os dias desde há mais de uma semana. Foi golo; não foi golo; a bola passou assim; a bola não saiu; a bola fez um "S"; a bola descreveu uma curva; o árbitro apitou; não apitou; abriu os braços; mas estava atento; não estava; estava – irra... que é demais!
Para acabar com tanta discussão o nosso colaborador gráfico Manuel Vieira fez a montagem da presente página indo ao local do crime fazer a foto e tracejando a seguir a trajectória da bola desde o pontapé de canto de Matateu (que não estava lá) até entrar nas redes de Costa Pereira (que também não estava lá).
Como se vê pelo tracejado, o esférico tomou a direcção de Almada, contornando o magnífico monumento que ali se ergue, voltou ao Restelo e entrou nas redes.
Entretanto, o árbitro Macedo Pires – que, também não se vê na foto, nem se pode ver, pois está proibido de pisar campos de futebol – apitara (mais ou menos quando a bola se cruzava com um cacilheiro) e o golo não contou, nem pode contar.
Mais nada!»
in "SPORT ilustrado", Fevereiro de 1959


Com o árbitro a invalidar o golo marcado por Matateu a três minutos do final do jogo, o desafio terminou empatado (0-0), para enorme alegria dos encarnados que mantinham a distância para o seu principal rival dessa altura.

Revoltado, o Belenenses protestou o jogo mas, apesar das evidências, o Conselho Técnico da Federação indeferiu o protesto. Mesmo sabendo que a probabilidade de ganharem o recurso era muito reduzida (não havia memória de uma decisão do Conselho Técnico ser contrariada), os azuis de Belém recorreram para o Conselho Jurisdicional da FPF.

A trajectória da bola (fonte: Sport Ilustrado, Fevereiro de 1959)


Entretanto o campeonato continuou e na penúltima jornada o Benfica foi a Alvalade, sendo derrotado por 1-2.
Devido a este resultado e à recuperação que o FC Porto (treinado por Bella Guttmann) tinha feito, encarnados e azuis-e-brancos entrariam na última jornada com os mesmos pontos, mas com vantagem dos portistas na diferença de golos.
Contudo, quando já ninguém o esperava, mais um golpe de teatro com origem na Federação. O Conselho Jurisdicional da FPF decidiu contrariar a decisão do Conselho Técnico e dar provimento ao recurso do Belenenses, mandando repetir o Belenenses-Benfica.

Ora, se no início de Fevereiro o Belenenses era o principal rival do SLB na disputa para o título, nesta altura já nada podia lucrar com a repetição do jogo. Era 3º classificado e nem com uma vitória poderia chegar ao título.
Pelo contrário, o SLB que aquando do protesto do Belenenses tudo fez para evitar a repetição do jogo, tinha agora todo o interesse na repetição do mesmo, porque uma vitória permitiria que entrasse na derradeira jornada com mais um ponto que o FC Porto.

Há 50 anos como agora, vê-se para que lado e ao sabor de que interesses pendiam as decisões dos órgãos da Federação.

Quarta-feira, 19 de Março de 1959, foi o dia marcado pela FPF para a repetição do Belenenses-Benfica. A classificação era a seguinte:

1º FC Porto, 25 jogos, 39 pts. (78-22)
2º Benfica, 24 jogos, 38 pts. (70-18)
3º Belenenses, 24 jogos, 35 pts. (62-25)
4º Sporting, 25 jogos, 31 pts. (49-26)

«Imagine-se o que foi a repetição do encontro. O Belenenses já só estava relativamente interessado; os jogadores do F. C. Porto, nas bancadas, sofrendo a bom sofrer; o Benfica lutando para tirar partido daqueles 90 minutos suplementares, que tanto havia contrariado e, agora, davam tanto jeito...»
in 'Glória e Vida de Três Gigantes', A BOLA

O jogo terminou empatado (1-1), resultado feito ainda na primeira parte.

Assim, à entrada da 26ª e última jornada do campeonato 1958/59, a classificação era a seguinte:

1º FC Porto, 25 jogos, 39 pts. (78-22)
2º Benfica, 25 jogos, 39 pts. (71-19)

(continua: ‘A pouco inocente nomeação de Calabote’)

Fontes:
[1] 'Glória e Vida de Três Gigantes', A BOLA, 1995
[2] António Tadeia, O Jogo, Dezembro de 2007
[3] ‘Blog do Belenenses’, Janeiro de 2008
[4] ‘Belenenses Ilustrado’, Setembro de 2008


Fotos: ‘Belenenses Ilustrado’, ‘Blog do Belenenses’