Kléber. Muitas dúvidas e poucas certezas

O volte-face nas negociações entre o FC Porto e Kléber têm dado por estes dias azo a muitas especulações. No mesmo período em que decorriam as negociações para a aquisição do avançado brasileiro, vieram a publico notícias de que algo não ia bem no seio da Administração da SAD portista. A associação entre estes dois acontecimentos foi inevitável.

Não creio que Fernando Gomes tenha apresentado a demissão “apenas” por não concordar com a aquisição de Kléber, ou por a sua voz em sede de Conselho de Administração ter sido subalternizada no aval da mesma. Contudo acho perfeitamente plausível que tenha levantado reservas em avançar para uma contratação tão dispendiosa no mercado de Janeiro, isto depois de o plantel já ter recebido um reforço para o seu meio campo.

Desconheço as valias desportivas de Kléber. Dou de barato que a SAD tivesse confiança bastante no negócio que esteve prestes a concretizar-se. Ainda assim, ponderando todos prós e contras, tendo a achar que o abortar das negociações com o avançado do Cruzeiro foi benéfico para o FC Porto pelas seguintes razões:

- Negócio de risco: Os termos do princípio de acordo revelavam montantes financeiros e patrimoniais consideráveis (para não dizer dos mais elevados no histórico de transferências do clube), sendo que a anterior experiencia de Kléber na Europa não fora totalmente bem sucedida. Para a realidade financeira do FCP, só é concebível a aquisição de um jogador com valores desta grandeza quando a sua qualidade é inquestionável. Não me parece que fosse este o caso.

- Enquadramento desportivo: A entrada de Kléber no plantel portista era vista como uma alternativa à expectável longa ausência de Hulk. Como é sabido, o «Incrível» é preferencialmente utilizado por Jesualdo Ferreira pelas alas, no seu sistema 4-3-3 que insiste em manter, em que só há espaço para um ponta de lança. A adaptação de Kléber às laterais seria uma incógnita. E não creio que fosse capaz de actualmente roubar o lugar a Falcão. Encontrar um espaço na equipa para o Gladiador não iria ser fácil.

- Personalidade e futuro: As indicações que atravessavam o Atlântico oriundas de Belo Horizonte davam conta que Kléber é um jogador temperamental e algo conflituoso. Formas de estar na vida que não caiem bem no seio de um grupo de trabalho, muito menos dentro da estrutura portista, pouco dada a meninos insubordinados. Para um jogador de catálogo, que se assume como vedeta, iria ser preciso muito jogo de cintura para que a corda não quebrasse para um dos lados. E o caso Diego nunca foi esquecido entre os adeptos azuis e brancos.

Bem vistas as coisas, em minha opinião, talvez a SAD se tenha poupado a um negócio que era visto como a salvação, mas que mais lá para frente poderia vir a tornar-se numa complicação. O meu único lamento desta transferência não ter ido avante, é saber que a espécime mineirinha que acompanhou Kléber a Portugal, também foi recambiada para o Brasil.