Embora me custe, confesso que não tenho estofo de campeão. Enquanto
cidadão/atleta, falhava com frequência um golo fácil e metia outros de complexa realização,
que enchia de inveja, colegas e adversários, pela elegância dos movimentos. No
basquete, falhava com a mesma facilidade bolas debaixo do cesto, quase tanto
como acertava de três pontos e, quando venci alguns jogos assim, atingi os “pontos
mais altos da minha carreira”. Obviamente, que ao sucesso destes feitos está
associada a menor ansiedade do cidadão/atleta em função do julgamento público ser
muito mais benevolente em situações complicadas. Ou seja: tremia muito mais
quando a responsabilidade do sucesso do movimento me cabia por inteiro. Como
adpeto, sigo o mesmo rumo: acredito na vitória do FCP depois de alcançada a
vantagem de três golos e já com uma boa parte do tempo do jogo realizado. Antes
dos confrontos, prevejo uma série de ameaças prontas a explodir e a prejudicar os
meus intentos. Tenho medo do inesperado e na dúvida, duvido. Até já pensei em fazer
como o meu Pai que vestia a mesma roupa (e outras que foi fazendo sempre
iguais) para puxar a sorte para o seu lado. Como se constata, é um problema de
família, esta falta de estofo.
Dei por mim a pensar nestas coisas, quando assistia, cheio de
gozo, ao Barça/Real Madrid. Desfrutei do jogo intensamente e vivi com
entusiasmo todas peripécias que ocorreram durante os 90 minutos. Embora tenha
havido vencido e vencedores, considerei que ambos estiveram perfeitos (inclui os erros cometidos) na
excelência do espectáculo apresentado. Nem fiz acusações, nem me atreveria a
considerar que os derrotados o tinham sido por manifesta falta de estofo de campeões,
no seguimento do esbanjamento, em jornadas anteriores, do pecúlio que tinham
amealhado. O espectáculo valeu pelo todo, e nesse mérito colaboraram ambas
as equipas, por igual.
No jogo entre o Nacional e o FCP, não gozei nem um bocadinho
o jogo, culpei todo o mundo pela desgraça final (e o treinador por maioria de
razão), dormi mal, acordei cedo e zangado com a vida. Apesar desse desassossego,
nem por uma vez pensei que tínhamos realizado uma exibição vergonhosa ou que os
atletas (e o treinador) não tinham estofo de campeões. É provável que
estivessem ansiosos e manifestassem cansaço, mas isso não é próprio da natureza
humana? E não é mais atendível quando as grandes decisões são tomadas pelos
jogadores de forma quase instantânea? Não fomos, assim, campeões ao minuto 92? Gosto muito do FCP, mas ainda não aprendi
(e não vou aprender) a viver de bem com o jogo antes da vantagem de três golos para
o nosso lado e aceitar uma derrota com naturalidade. Das sentenças, procuro libertar-me
o que ocorre naturalmente ao fim de gozar um nojo de 72 horas. Acho que o
treinador é bom, esta equipa é boa e não é por morrer uma andorinha que acaba a
primavera. A equipa do FCP tem muitos campeões, recomenda-se e merece todo o apoio dos sócios e adeptos.
1 comentário:
Bela prosa, como de costume, Mário. Seja qual for o contexto, é sempre um prazer lê-lo!
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