(1ª parte)
Nas Antas ainda se lembra com saudade o espirito gentleman e determinado do fleumático Bobby Robson, que também saiu a mal com o clube mas que deixou uma imagem imborrável de um técnico de ataque, comprometido e que deixou escola (Mourinho e Villas-Boas que o digam).
No lado oposto dessa devoção estão certamente Fernando Santos e Jesualdo Ferreira, a quem o sucesso não foi nunca suficiente para entrar na galeria dos grandes. Também porque, o passado ligado ao Benfica acabou por ser um lastro nunca perdoado pelos adeptos em ambos casos.
O actual técnico do Panatinaikhos cometeu o feito histórico de ser tricampeão, algo a que o seu talento não estará alheio, mas nem isso lhe permitiu o mais leve elogio dos adeptos, incapazes de entender a sua postura esfingica no banco e fora dele.
Pior sorte sofreu o engenheiro do Penta, que chegou a sofrer na pele o desagravo dos adeptos depois de uma derrota frente ao Torreense. Dois anos sem vitórias e todo o seu passado foi questionado e o nome borrado da memória de quem vibrou com uma das equipas mais eficazes do futebol português dos anos 90.
Nem os titulados e imensamente talentosos Tomislav Ivic e Carlos Alberto Pereira, técnicos campeões, simpáticos e populares à época sobreviveram ao passar do tempo e hoje são poucos os que se lembram deles à hora de compilar a galeria dos grandes monstros dos bancos azuis e brancos. Perfis apagados que costrastam com a imagem guerreira que os dragões gostam de relembrar nas suas gestas.
No lado oposto estão incluidos os ódios de estimação de muitos em que se tornaram Octávio Machado (um caso de regressão progressiva, de jogador a técnico principal) e o holandês Co Adriaanse (ódio à primeira vista, com agressão fisica incluida pelo sector ultra dos adeptos furiosos após uma derrota em Vila do Conde) e até Victor Fernandez, espanhol e velho amor de Pinto da Costa que se tornou talvez no técnico campeão do Mundo menos respeitado pelos próprios adeptos.
Caso à parte para os portistas merece António Oliveira, imensa e polémica glória dentro e fora dos relvados. Há quem fique com o seu estilo guerreiro e insubmisso ao estilo da velha guarda e os que não esquecem quando se ajoelhou na Luz ou as suas túrbias relações com a empresa do irmão e o mundo da noite do Porto.
Os adeptos azuis e brancos não são diferentes dos demais, por muito especial que o clube nos pareça. Todos querem um treinador competente, talentoso, ganhador e com atitude, capaz de criar empatia com os jogadores, com a massa adepta e de impor respeito aos rivais. Talvez por isso a chegada do jovem André Villas-Boas, filho da casa, discipulo avantajado de dois grandes professores e um homem forjado no mundo da alta competição tenha encontrado uma empatia nas bancadas do Dragão que há muito não se via. Mas muitos dos que agora elogiam AVB podem acabar por sofrer o mesmo efeito provocado por Mourinho há seis anos, que rapidamente passou de bestial a besta. Porque o adepto segue um ideário colectivo e reage mal à afirmação individual. Passou isso no passado com aquele que é, provavelmente, a maior figura da história do clube.
Os que hoje talvez vetariam a Mourinho, os que num futuro possam fazer o mesmo com AVB caso siga o mesmo caminho, talvez fossem os mesmos que vetaram um tal de José Maria Pedroto, quando o seu “eu” individual, directo e frontal entrou em choque com a mentalidade da direcção e massa adepta de 1967. O mesmo que teve de ver a suspensão revogada antes de dar inicio ao FC Porto, abrindo a escola dos reis Artur, Jorge e (se possível) André que se seguiram. É impossível agradar a todos, os adeptos são assim.
Haverá algum dia um técnico azul e branco que consiga ser lembrado apenas pelo seu talento e não tanto pela sua postura de vida, atitude fora do campo ou passado clubistico? Uma tarefa bem mais dificil do que podemos imaginar, afinal somos todos humanos.
Nas Antas ainda se lembra com saudade o espirito gentleman e determinado do fleumático Bobby Robson, que também saiu a mal com o clube mas que deixou uma imagem imborrável de um técnico de ataque, comprometido e que deixou escola (Mourinho e Villas-Boas que o digam).
No lado oposto dessa devoção estão certamente Fernando Santos e Jesualdo Ferreira, a quem o sucesso não foi nunca suficiente para entrar na galeria dos grandes. Também porque, o passado ligado ao Benfica acabou por ser um lastro nunca perdoado pelos adeptos em ambos casos.
O actual técnico do Panatinaikhos cometeu o feito histórico de ser tricampeão, algo a que o seu talento não estará alheio, mas nem isso lhe permitiu o mais leve elogio dos adeptos, incapazes de entender a sua postura esfingica no banco e fora dele.
Pior sorte sofreu o engenheiro do Penta, que chegou a sofrer na pele o desagravo dos adeptos depois de uma derrota frente ao Torreense. Dois anos sem vitórias e todo o seu passado foi questionado e o nome borrado da memória de quem vibrou com uma das equipas mais eficazes do futebol português dos anos 90.
Nem os titulados e imensamente talentosos Tomislav Ivic e Carlos Alberto Pereira, técnicos campeões, simpáticos e populares à época sobreviveram ao passar do tempo e hoje são poucos os que se lembram deles à hora de compilar a galeria dos grandes monstros dos bancos azuis e brancos. Perfis apagados que costrastam com a imagem guerreira que os dragões gostam de relembrar nas suas gestas.
No lado oposto estão incluidos os ódios de estimação de muitos em que se tornaram Octávio Machado (um caso de regressão progressiva, de jogador a técnico principal) e o holandês Co Adriaanse (ódio à primeira vista, com agressão fisica incluida pelo sector ultra dos adeptos furiosos após uma derrota em Vila do Conde) e até Victor Fernandez, espanhol e velho amor de Pinto da Costa que se tornou talvez no técnico campeão do Mundo menos respeitado pelos próprios adeptos.
Caso à parte para os portistas merece António Oliveira, imensa e polémica glória dentro e fora dos relvados. Há quem fique com o seu estilo guerreiro e insubmisso ao estilo da velha guarda e os que não esquecem quando se ajoelhou na Luz ou as suas túrbias relações com a empresa do irmão e o mundo da noite do Porto.
Os adeptos azuis e brancos não são diferentes dos demais, por muito especial que o clube nos pareça. Todos querem um treinador competente, talentoso, ganhador e com atitude, capaz de criar empatia com os jogadores, com a massa adepta e de impor respeito aos rivais. Talvez por isso a chegada do jovem André Villas-Boas, filho da casa, discipulo avantajado de dois grandes professores e um homem forjado no mundo da alta competição tenha encontrado uma empatia nas bancadas do Dragão que há muito não se via. Mas muitos dos que agora elogiam AVB podem acabar por sofrer o mesmo efeito provocado por Mourinho há seis anos, que rapidamente passou de bestial a besta. Porque o adepto segue um ideário colectivo e reage mal à afirmação individual. Passou isso no passado com aquele que é, provavelmente, a maior figura da história do clube.
Os que hoje talvez vetariam a Mourinho, os que num futuro possam fazer o mesmo com AVB caso siga o mesmo caminho, talvez fossem os mesmos que vetaram um tal de José Maria Pedroto, quando o seu “eu” individual, directo e frontal entrou em choque com a mentalidade da direcção e massa adepta de 1967. O mesmo que teve de ver a suspensão revogada antes de dar inicio ao FC Porto, abrindo a escola dos reis Artur, Jorge e (se possível) André que se seguiram. É impossível agradar a todos, os adeptos são assim.
Haverá algum dia um técnico azul e branco que consiga ser lembrado apenas pelo seu talento e não tanto pela sua postura de vida, atitude fora do campo ou passado clubistico? Uma tarefa bem mais dificil do que podemos imaginar, afinal somos todos humanos.
Nota final: O 'Reflexão Portista' agradece ao Miguel Lourenço Pereira a elaboração deste artigo.
10 comentários:
Miguel,
Fazes um bem-intencionado esforço para comparar o carácter e as atitudes de José Mourinho e José Maria Pedroto, mas creio que falhas o alvo. Pedroto podia ter um carácter difícil e ser atreito ao conflito, mas nunca entrou em atrito com o clube por causa dos seus interesses pessoais. As polémicas e cisões entre as direcções do F.C. Porto e José Maria Pedroto foram sempre devidas a modos diversos de interpretar o interesse do clube. José Maria Pedroto nunca negociou às escondidas do clube a sua saída fosse para onde fosse; nunca insultou a cidade do Porto; sempre que estava fora do clube falava dele com saudade e evidente afecto.
Josá Maria Pedroto, Artur Jorge, António Oliveira e agora André Vilas Boas tinham/têm todos uma coisa em comum que Mourinho nunca teve nem poderá ter: eram dos nossos, eram da casa. É normal, nem todos podem ser tripeiros de nascimento ou adopção. Mas também é normal que essas afinidades ou falta delas determinem comportamentos diferentes.
A mim o "feitio" e o carácter de José Mourinho enquanto tais não me aquecem nem me arrefecem, a não ser quando afectam o F.C. Porto ou os seus adeptos, como já aconteceu, ou quando dão ao futebol uma imagem antipática e quezilenta, como sucede amiúde quando ele abre a boca. É uma pena e, como dizia o outro, "não havia necessidade".
Quanto a Fernando Santos e a Jesualdo Ferreira, não sou de opinião que o seu benfiquismo, ou até a antiga ligação profissional do segundo ao Benfica, tenham contribuído muito para a relativamente baixa popularidade de qualquer deles entre os adeptos do F.C. Porto. Não, em minha opinião o que se passa é que o adepto tem um faro especial para perceber quando está ou não perante um vencedor. Apenas isso.
Abraço
PS Dois pormenores: a cisão entre Pedroto e Pinto de Magalhães deu-se em 1969 e não em 1967. Carlos Alberto Silva, e não Pereira, era o nome do treinador campeão pelo F.C. Porto em 1991/92 e 1992/93.
PPS Uma observação: Mourinho não é um treinador de ataque, nem Pedroto ou Artur Jorge o eram. Treinadores de ataque eram Bobby Robson, Tomislav Ivic e António Oliveira.
Só mais uma coisa, Miguel.
Tal como o Mourinho, também o Artur Jorge deixou o clube para ir para o estrangeiro (e por duas vezes). Mas tratou do assunto com lisura e ombridade. Nunca ninguém lhe quis mal por ter tomado outro rumo.
Ah, e em Viena o Artur Jorge, homem até pouco dado a euforias, festejou como os demais o título europeu.
Excelente post e excelente comentário do Alexandre Burmester.
Parabéns a ambos.
Excelente post.
Gostava apenas de tecer alguns comentários sobre factos narrados: Fernando Santos esteve 2 anos sem ser campeão o que não significa "2 anos sem vitórias" pois nesses 2 anos ganhamos a Taça de Portugal, e sobre esse período do Eng.º convêm realçar que na sua segunda época (1999/2000) fomos aos quartos de final da Champions, depois de termos atravessado duas (e não uma como no formato actual) fases de grupos, uma com o Real e outra com o Barça, quartos onde fomos eliminados pelo Bayern Munique com a ajuda de um árbitro escocês; e só não fomos campeões nacionais por muito pouco, não fosse um mau atraso do Secretário no jogo em alvalade e não teriamos perdido esse jogo e, consequentemente, 3 pontos que fizeram a diferença na classificação final. Na 3º época do Eng.º, já sem Jardel e sem Zahovic e com outros jogadores lesionados como Paulinho Santos, demorou algum tempo a criar uma equipa vencedora, mas fizemos uma recta final com com 10 vitórias no campeonato, e só ficamos a 1 ponto do Boavista campeão, e na Taça UEFA chegamos pela 1ª vez na história aos quartos onde fomos eliminados pelo Liverpool. Tudo isto para contextualizar a era do Fernando Santos e repor alguma justiça, e analisar que se não fomos campeões, nem sempre foi por culpa nossa, mas por factores adversos, o jogo contra o Campomaiorense e a arbitragem vergonhosa que nos prejudicou, e traçou a derrota do Porto no jogo, foi suficiente para perdemos o título em 2000.
Carlos Alberto Silva não era um "perfil apagado" e pouco aguerrido como é relatado no post, muito pelo contrário tinha perfil de lutador e disciplinador.
Alexandre: "Treinadores de ataque eram (...) Tomislav Ivic..." Ivic treinador de ataque?????? Discordo e não me parece seja essa a marca e fama futebolística de Ivic, pelo contrário, super-defensivo, calculista a arriscar, lembro que, da segunda vez que esteve no Porto, jogamos uma eliminatória contra o Feyenord com 4 (?) defesas centrais: Aloísio, Fernando Couto, Jorge Costa e José Carlos. Era Ivic que se gabava e afirmava que dava "massacres de futebol defensivo" em resposta a outros treinadores que se gloriavam de praticar um futebol de ataque.
José Mourinho não é criticado pela sua falta de humildade ou pelo excesso de individualismo como refere. José Mourinho é persona non grata em muitos sectores do Dragão pela forma ingrata e desprezível com que trata o Clube que o colocou no topo do Mundo. Pela forma indelicada com que demasiadas vezes se referiu ao Futebol Clube do Porto a partir do último apito em Gelsenkirchen (até antes, negociando pela calada com o Chelsea antes do término da época). Por ter faltado ao respeito a todos os adeptos que o adoravam e defenderam perante um País, que ele hoje se deveria lembrar de como o tratara quando defendia as nossas cores.
Se por acaso André Villas-Boas atingir um sucesso semelhante ao do ex-mentor será inevitável que troque o seu Clube do coração por mais altos voos. Mas, tenho a certeza, não passará de bestial a besta, não irá nunca pelo caminho que foi o senhor Mourinho.
André Villas-Boas é sócio nº11428 do Futebol Clube do Porto. Ele festeja como nós.
Alexandre,
Desculpa pela tardança na resposta mas estou no meio deste inferno aereo espanhol e só agora pude ver o feedback ao post.
Naturalmente que Mourinho nao foi nem sera nunca dos nossos e isso é uma diferença importante, como o Guardiola e o Rijkaard em Barcelona, p.e. O que quis recuperar foi o julgamento de caracter realizado pelos adeptos que parecem sempre encontrar defeitos em tudo, mesmo nos nossos melhores treinadores.
Nao tenho duvida que Pedroto e Mourinho passarao para a historia como os dois melhores tecnicos portugueses e que ambos foram treinadores chave na historia do FCP e isso alegra-me muito. Mas ambos tiveram sempre nucleos contra entre alguns adeptos e ambos viveram situaçoes complexas em que ficaram ou deixaram ficar o clube entre a espada e a parede, de forma mais ombria o mestre pedroto, de forma mais egoista mourinho.
Mas mesmo outros grandes nomes que fomos acompanhando acabaram sempre por nunca gerar uma sensaçao de regojizo constante como sucede noutros lugares, capazes de suportar anos a fio um técnico com os seus defeitos e virtudes.
Espero que o AVB nao passe pelo mesmo porque ainda hoje é dificil encontrar um consenso entre algudos dos nomes que cito, seja pelo motivo que for.
Obrigado pela adenda e quanto a Mourinho e Artur Jorge nao serem técnicos de ataque (Pedroto vi menos), nao concordo porque depende da definião entre técnicos de ataque constante como eram, efectivamente, os que citas, e técnicos que temporizavam sempre o jogo á busca de ataques eficazes como faz Mourinho e fez A. Jorge.
um grande abraço
Um vintém é um vintém e um cretino é um cretino! Ponto.
Contra-blog imperdivél:
alfaiatelisboetamustdie.blogspot.com
Enjoy !
O Miguel Pereira tem razão num dos aspectos que aborda: raro é o treinador que satisfaz e gera consensos entre os exigentissimos adeptos portistas.
E, conforme se viu com Jesualdo, mesmo tendo alcançado 7 dos 8 objectivos definidos como prioritários (venceu 3 campeonatos e atingiu 4 vezes os oitavos da LC), foi e é mal visto por grande parte dos adeptos.
Daniel,
Tomislav Ivic, na sua versão 1987/88, era, sim senhor, um treinador de ataque. Foi das épocas em que o F.C. P. mais golos marcou. Concordo que na meia-época que cá fez em 1993/94 se fez notar mais pelas tácticas defensivas, mas o exemplo que dá do jogo de Roterdão é semelhante ao de Mourinho com o Inter em Barcelona nas meias-finais da LC na época passada: havia um vantagem a defender.
Miguel,
Tirando talvez Sir Alex Ferguson actualmente e, no passado, Bill Shankly no Liverpool, decerto treinador algum faz a unanimidade em parte alguma do Mundo, e não apenas no F.C.P.
Quanto a Mourinho e Pedroto, um é um narcisista, o outro foi apenas um homem com a coragem das suas convicções.
Abraço
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