É prática no fim de cada época, depois dos festejos e no arranque da nova temporada, reunirmos o núcleo de portistas cá do bairro para balanço e perspectivas do nosso FCP.
Desta vez, estiveram, presentes para além do escriba, o Zé da Frutaria (dono do pomar) e a companheira, Rute Marlene (dona da peixaria), Svetlana (estudante universitária russa), Karaté Kid (mestre de lutas marciais), Manela (cabeleireira), Bispo Floribelo (regressado do mais famoso candomblé do Rio de Janeiro) e os gémeos Andrade (proprietários de uma pensão famosa, com água quente e fria e com os quartos todos equipados com bidé).
Feitas as apresentações, interessa particularizar que a reunião é informal, embora todos reconheçam que por ser mais velho devo moderar a conversa, e redigir uma pequena acta com o resumo da conversa, que teve lugar na sala vip da pensão, pouco ocupada pois o núcleo duro dos clientes vai directamente da recepção para os quartos.
Eis, então, o que retirei do nosso “encontro”:
“O Zé, para surpresa de todos, já não detesta JF. Ainda não se converteu à sabedoria do mestre, mas já o tolera e até admite que deva ficar por mais dois anos, pois está convencido que vamos chegar ao hexa. O PdC é único e, com ele, até o CAS foi bi-campeão.
Quanto aos reforços, nada diz, porque continua desconfiado, como sempre. A venda de Cissokho comprova a nossa capacidade de formar jogadores, a sagacidade negocial e desculpa todos os Benitez e Lucas Mareque que embrulhamos a preços pouco correntes.
A Rute Marlene que lhe serve de eco, desta vez surpreendeu-nos ao referir categoricamente que não pode com o professor/mestre e que só aceita a sua continuidade porque o nosso Presidente a avalizou. Por ela, desde que dispensou o Postiga, o Ibson, pôs na prateleira o Adriano e não soube aproveitar o Luís Aguiar, tirou a prova dos nove das suas capacidades. Pediu desculpas, mas JF continua a não convencê-la. Dos reforços aprovados tem muitas dúvidas que possam ser úteis: são escolhidos pelo JF. É mais do mesmo: vão para o armazém ou servirão para distribuir pelos clubes que os aceitarem.
A Manela referiu que acha o JF extremamente competente e muito bom profissional. Mas, de quem gosta mesmo muito é do Lucho e contou como conseguiu tirar uma fotografia com ele no último jogo no Dragão. El Comandante, salientou, para além de ser um bom jogador é muito simpático e um grande borracho.
Para o ano, o campeonato está no papo. Tem uma grande fezada nos novos reforços e acha que o Maicon vai ser melhor que o Pepe. O Presidente é que sabe!
O Karaté Kid ainda está ressabiado por lhe terem dado com os pés quando quis prestar provas para defesa esquerdo, mas culpa particularmente um dirigente que anda armado em delfim de PdC, disse ele muito irritado. Ainda tem que comer muita broa. Isenta a direcção pelo facto e insiste nos encómios ao Presidente. Relativamente a JF tem uma teoria muito própria, umas vez que reconhece que ele constrói muito rapidamente a(s) equipa(s), mas aproveita muito mal os recursos. E dá como exemplo o Tomás Costa que considera ter um enorme potencial que o JF não soube explorar devidamente. E sentenciou: é um fanático do seu modelo e não consegue (nem tenta) adaptá-lo às características dos jogadores que compõem o plantel. A equipa é muito macia e precisava dumas lições minhas para aprender uns golpes de pés em que sou exímio. Dos novos recrutas, para o ano faz o balanço.
O Floribelo saudoso do futebol/samba da sua pátria, acha a equipa do FCP excessivamente resultadista, mas reconhece que os objectivos têm sido atingidos com enorme mérito. Também ele, considera que é PdC que escreve a música e a letra da sinfonia que é o FCP e o resto são meros artífices para tocar a partitura que compõe. JF tem o perfil adequado para gerir o progresso na continuidade, mas não é homem de correr riscos. Certinho, como convém, não cria ondas e vai levando a carta a Garcia. Os novos jogadores contratados vão vingar, na sua maioria. Considera, porém, que o FCP precisa de mais dois ou três reforços se Bruno Alves e Lisandro saírem.
O gémeo mais velho é o que toma sempre a palavra. O mais novo é gago e com a proximidade de Svetlana fica completamente gagá. Descreveu as dificuldades do negócio, o desprezo que dedica ao Sócrates e a raiva que tem ao Rui Rio, e presenteou-me com uma dura crítica por ousar discutir a política remuneratória do CA da SAD. Falem do futebol, apoiem a equipa e deixem o negócio e a gestão a para quem sabe como PdC e o Blatter. Tem razão Mário, num ponto: há muita podridão no futebol e se estas paredes falassem, tinham muito a contar. Quanto aos novos recrutas acha que anda ali a mão dos empresários do costume. Apesar disso, há sempre um Cissokho para dar avultadas mais valias que ajudam a minorar os habituais e normais desequilíbrios financeiros.
A Svetlana jurou mais uma vez o seu amor ao Porto (que é a sua cidade) e ao FCP. Não fala muito de presidentes – tem uma estranha desconfiança pelos homens com poder -, gosta de futebol e adora os jogadores. Dos treinadores só confia no José Mourinho. O JF e o Queiroz são uns burocratas da bola e passam essa frieza às equipas que são tristonhas e pouco animadas. Quantos aos reforços espera que sejam tão bonitos como o Lucho e o Lisandro. E, depois, foi a confusão total quando a Svetalana aconselhou os gémeos a andarem caladinhos e não levantarem suspeitas sobre os clientes que tanto dinheirinho dão a ganhar e, muito menos, mandar bocas foleiras a pessoas que as não merecem de todo. BASTA, gritou! E aos berros, apontando para os gémeos atirou: vocês são uns chulos, armados em empresários que abusam e abusam da conversa da treta e mandam a deontologia para as urtigas. Se ponho a boca no trombone, prometo-vos um enterro de primeira classe.”
Depois disto, foi a confusão total. Não é narrável aquilo que disseram e os insultos que trocaram. A muito custo lá os conseguimos a acalmar. A Rute Marlene trouxe o bolo comemorativo do tetra e o Zé pôs a tocar os filhos do dragão. Toda a gente esqueceu a escaramuça anterior, cantou, brindou e dançou. A coreografia de Svetlana foi emocionante: despachou a roupa que a apertava, libertou o corpo (e que corpo!) e como bailou. E como ficou: linda como uma deusa, boa como o milho. Os movimentos que desenhou tomaram uma dimensão erótica de rara beleza. Voou sobre os nossos olhos (infelizmente bem longe das nossas mãos) que nem o Lisandro sobre os centrais. Uma grande comunhão no amor ao clube nos uniu a todos. Svetlana ajudou a criar esse momento de êxtase. Uma verdadeira filha do dragão, é o que ela é!