Que nunca lhe falte a coragem, Sr. Presidente

O FCP arrisca-se a ficar em 3º lugar,numa época que, até ao momento, tem corrido de forma extremamente irregular. Não temos sido muito diferentes da época anterior, mas o SLB apareceu muito forte. Esse facto tem dado uma legitimidade ao SLB que não tivera até à presente época, em função das boas exibições que a sua equipa tem proporcionado. Nessa onda de optimismo cavalgam todas as euforias e a velha pretensão hegemónica de dominar o futebol e as instituições que o gerem: acusam-nos de arrogantes, mas já deu para ver que os dirigentes e muitos adeptos do SLB não são apenas arrogantes, julgam-se melhores: uma espécie de raça superior.

E, obviamente, que a sua força – insisto, sustentada na excelente época que está a fazer – vai tender a ser tentacular. As instituições desportivas em Portugal são fracas e tendem a render-se ao mais forte. No caso do SLB esse perigo redobra, porque goza de um grande apoio mediático e, cada vez mais, o facto e a notícia existem conforme o tratamento dos media.

Vivemos uma situação de viragem. O SLB tem sido um fracasso desportivo nos últimos anos em função da sucessão de erros cometidos. A arrogância da raça encarnada só deixava ver os vícios alheios. Sem capacidade para vislumbrar os pecados próprios, jamais foram capazes de ver para além do umbigo, apesar de contarem com um apoio quase reverencial, por parte dos dirigentes da Liga e da FPF.

Jesus fez o milagre da multiplicação de pontos. Nos bastidores exploram ao máximo o sucesso actual, junto das instituições públicas e privadas. Nas catacumbas fazem o jogo sujo. Que o digam Sapunaru, Hulk e Vandinho. O SLB está muito mais forte no campo e fora dele.


O FCP tem um desafio quase sem precedentes se o SLB não se degolar na sua tendência para a autofagia. Como não podemos contar com o ovo no cu da galinha, o melhor é prepararmo-nos para os exigentes desafios que se seguem. O processo de mudança correrá em circuito fechado. O treinador sairá e é provável que decorra igualmente alguma limpeza no balneário. PdC comandará todas as operações como no passado, assessorado pelos seus homens de confiança.

A margem de erro terá de ser muito menor, porque provavelmente não vamos à CL, o que significará que no exercício de 2010/11 teremos um buraco estrutural na ordem dos 40 M€ e uma maior dificuldade de recorrer ao crédito, nas actuais condições.

PdC tem sido um bom gestor em situação de crise. Foi assim, quando despachou Quinito e fez regressar Artur Jorge, Ivic para entrar Robson, Octávio para dar lugar a Mourinho, Couceiro para contratar Adriaanse e Jesualdo para substituir o holandês. Aliás, essa capacidade vem desde o início do seu mandato como presidente quando, contra ventos e marés, teve a coragem de “substituir” Pedroto por Artur Jorge, depois de Morais ter conduzido o FCP à final da Taça das Taças.

PdC solução ou problema? Espero que o nosso presidente entenda que continua no poder em regime de monopólio, devido ao facto de uma grande maioria dos sócios, cuja gratidão está acima de qualquer suspeita, confiar na sua competência, admirar a sua argúcia, estimar o seu amor ao clube e querer a sua continuidade. Não terá desculpa se não souber mudar de paradigma. Sendo profissional e generosamente remunerado, era bom que blindasse a sua vida privada, e se entregasse com total empenho na gestão do FCP, sacrificando tentações e aproximações pouco recomendáveis. O FCP não pode cair na vitimização e culpar terceiros do insucesso da corrente época. Temos de ousar olhar para dentro e corrigir os erros, nomeadamente os que se entranham pela sua repetição. Olhar o futuro, obriga a analisar o presente com exigência e sem cedências.

Um dos grandes problemas dos homens que se constituem poder durante muito tempo decorre do facto de (intimamente) considerarem que, reconhecendo serem substituíveis, sentirem que são imprescindíveis. Nessa condição, perpetuam-se no poder por espírito de missão que renovam a cada (novo) mandato.

Gostaria que o nosso Presidente não seguisse esta ilusão, nem comandasse o seu tempo de serviço exclusivamente segundo disponibilidade que sente para o cargo, ou a generosidade dos proponentes habituais. Saber sair por iniciativa própria (e no momento azado) é uma prova de grande coragem e sabedoria. Que nunca lhe falte a coragem, Sr. Presidente.