Por Miguel Lourenço Pereira (*)
Poucas vezes a vida oferece oportunidades para emendar a mão. Entrar numa encruzilhada acarreta em si dúvidas. Incertezas. Temores. Mas superado o nevoeiro, o que nos espera pode ser mais precioso que o pote de ouro no final do arco-íris.
O adepto portista é pouco paciente por natureza. Todos concordam que o ciclo de Jesualdo Ferreira chegou ao fim. Uns que já tinha chegado há muito. Outros, pura e simplesmente, que o ciclo nem devia ter começado. A realidade é que o actual técnico entra no restrito lote dos treinadores que mais tempo se sentou no banco azul e branco. Três anos. Uma ninharia. Para nós, portistas, uma imensidão. O futebol é um jogo de paciência para impacientes. Tanto nas vitórias como nas derrotas. É habitual caminhar pelo Dragão e ouvir adeptos falar de final de ciclos com treinadores que nem um biénio levam na casa. Pasme-se. Será uma questão cultural. Lembro-me, por exemplo, de um tal Alex Ferguson. Quando chegou a um decadente Old Trafford, o estádio de um clube que de grande só tinha o nome ganho vinte anos antes, ninguém suspeitava que pudesse mudar o destino do Manchester United do dia para a noite. E tinham razão. Demorou oito anos para ser campeão pela primeira vez. O ano passado somou o seu 11 título. Um recorde. Paciência. Uma virtude difícil.
O futuro desportivo do FC Porto depende grandemente da escolha que a direcção faça para o cargo de técnico. Não me vou meter em questões alheias ao aspecto desportivo. Há, neste espaço, melhores analistas que eu para analisar as contas e posturas da SAD. Mas serão contas sempre a ter em consideração, todos o sabemos. Mas o que é inevitável é o futuro difícil que nos espera. Com o segundo lugar como uma miragem difícil, parece claro que nos vamos ter de habituar à primeira ausência da Champions League pela primeira vez em oito anos. Lembram-se? Eu também. Haverá quem diga que desportivamente o FC Porto estava pior em 2002, quando chegou Mourinho. Discordo. Os títulos enganam. No caso do adepto portista, cegam. Nessa época havia um plantel repleto de jogadores de alto nível. Nem vale a pena nomear quem a memória não esquece. O novo treinador não terá a mesma sorte. Entre veteranos que jogam a contra-gosto, um exército de sul-americanos que tem chegado em formato de “contentor” e jogadores riscados por adeptos, direcção e pelos próprios colegas, o futuro técnico do FCP terá mais de um dilema. Há quase 60 jogadores emprestados. Quantos realmente servirão? Quem, do actual plantel, tem cabeça e maturidade para encarar um futuro sem certezas? E as vendas, esse negócio de risco que se tornou na nossa politica desportiva com os resultados à vista de todos? Sem grandes negócios em perspectiva e com o buraco financeiro que se avizinha não é descabido que a SAD venda o único activo de (real) valor actual do clube: Falcao.
Um tiro no pé que não difere muito do que se viveu no Verão passado. Mas que é possível. Portanto, no meio de tantos problemas, e sem a necessária paciência de os adeptos, que devemos esperar do novo treinador?
Sem avançar nomes por pura especulação, há algo que me parece claro. O novo treinador terá de ter duas características de difícil coexistência. Por um lado, deverá ter o carácter suficiente para se impor e unir um balneário despedaçado. E terá de ser, forçosamente, um potenciador de talentos. Um técnico habituado a trabalhar e lançar jovens. Com paciência para entender os seus erros e sabedoria para os encaminhar na hora certa. Sem dinheiro e com um plantel descompensado, será inevitável recorrer à formação. E, qual pescadinha de rabo na boca, voltamos ao principio. Há realmente oportunidades únicas na vida. O SL Benfica tem estrutura para se aguentar no topo um par de anos e o Sporting pode, perfeitamente, ser uma equipa diferente na próxima época. A competitividade que faltou – e enganou – nos últimos anos parece estar de volta. E isso vai exigir mais de quem precisa de tempo. E paciência. Os adeptos querem títulos. A SAD quer lucro. Só que, em lugar de repetir erros do passado, está na hora do FC Porto mudar de rumo. Apostar claramente numa politica desportiva a médio e longo prazo, onde os títulos são o instrumento e não apenas o fim. Pensar num técnico não só como o mero homem que aposte numa táctica dinâmica, que motive o balneário ou ganhe jogos com substituições certeiras. O novo FC Porto deveria ser, acima de tudo, um clube onde o técnico possa ter tempo e espaço para moldar um projecto ganhador. Uma nova táctica, um novo sistema, um novo colectivo. Uma nova postura pouco habitual neste rectângulo tristonho. Inovadores portanto. Como sempre fomos!
Dedicação, profissionalismo e atitude são exigências obrigatórias. Que seja o tempo a ditar o resto. Talvez seja a hora de procurar alguém capaz de remar nessas águas difíceis, esquecendo as estrelas de balneário e os apupos das bancadas ao primeiro tropeção. Alguém que entenda que a superioridade não se faz só de números. É uma questão de atitude. De raça. E disso entendemos nós!
(*) Durante a infância Miguel Lourenço Pereira cresceu a ouvir as lendas de Artur de Sousa, Hernâni, Pedroto e Oliveira. Viu aos ombros do pai chegar os heróis de Viena ao velho estádio das Antas que seria a sua segunda casa desde os dez anos. Entre noites europeias, visitas regulares aos Aliados e longas tardes de domingo, "doutorou-se" no catecismo portista. Agora, à distância de muitos quilómetros, sofre da mesma forma com que seguia cada lance junto à linha de fundo do novo Dragão.
Nota final: O 'Reflexão Portista' agradece ao Miguel Lourenço Pereira a elaboração deste artigo.
Foto: Alex Ferguson com o chairman do Manchester United, Martin Edwards, em 1986.
35 comentários:
"O novo FC Porto deveria ser, acima de tudo, um clube onde o técnico possa ter tempo e espaço para moldar um projecto ganhador. Uma nova táctica, um novo sistema, um novo colectivo."
- então, porque quer que o treinador actual vá embora?... não é mais fácil dar-lhe tempo? (-e não ter de pagar 1 milhão de indemnização?)
Reine Margot,
Sou defensor da aplicação ao FC Porto do modelo de Manager, da mesma forma como já poderia ter sido feito em 1985 não tivesse morrido Pedroto, o que teria feito do FCP um clube bem à frente do seu tempo. Em lugar disso tivemos uma ultra-presidencialização do clube.
Esse cargo implicaria muito mais para o técnico do que simplesmente treinar durante a semana e escalar o onze titular. Implicaria um envolvimento profundo em distintas áreas do clube, na formação e na gestão de activos e também nas movimentações de mercado.
E isso pede um homem de multiplos recursos, dinamico e com caracter. Não vi nenhuma dessas caracteristicas reflectidas em Jesualdo nos últimos 4 anos e tenho a certeza de que não cairão do céu se ficar mais um. Naturalmente que não defendi a renovação por dois anos o ano passado e a indemnização a pagar é apenas o espelho da actual gestão.
Sinceramente acho que para começar um projecto destes de raiz é preciso algo novo que seja capaz de florescer. Não de algo que já cheire a podre.
cumprimentos
Parabéns ao Miguel, que se deu a conhecer no Portistas de Bancada e assina um blog muito especial e bom que é o Em jogo. Escreve bem, tem ideias claras, conhece o futebol na perspectiva histórica. E faz-nos concordar, em geral, com ele. Na teoria. Porque, na prática, caro Miguel, as coisas são terrivelmente difíceis de acertar. E, como já registado no comentário anterior, não é fácil compatibilizar coisas que parecem díspares, distantes, sem concordância.
É que, pelo prisma abordado, Jesualdo mereceria continuar e até pode continuar, porque tem mais um ano de contrato (para quem valoriza essas coisas comezinhas de respeitar contratos e honrar compromissos) e trabalha nas condições que o clube lhe oferece para trabalhar: vendendo pérolas, gerindo os activos, compondo a manta. A gestão de risco foi sempre assumida pela SAD, porque carga de água o treinador paga as favas?
É evidente que muitas opções de Jesualdo têm sido mais discutidas que nunca. E nem sempre o jogo do risco dá resultado. As condições de base para o sucesso variaram em cada ano, consoante as vendas, mais do que as compras. Este ano muitas coisas emperraram desde o início e continua sem haver a clareza nem o tempo (qual fim de ciclo? o de Lucho e Lisandro foi na época passada. Fim de ciclo para Jesualdo, ou início de outro com bases diferentes de trabalho?) para o melhor balanço.
Parece haver aqui uma precipitação, a tal impaciência.
Quando é preciso racionalização, paciência e, assim, o treinador não a merece?
Ou o foco deve ser apontado à SAD? Ela é que assume o risco e contrata o treinador para o desempenho nas condições possíveis e impostas pela administração. E só estamos a falar do que se passa no campo. E fora dele? Como tem actuado a SAD? E, assim, alguém vai-se manifestar contra a SAD? Pôr a SAD na rua? Como? Há candidatos?
Há 3 resultados possíveis no futebol mas muitas discussões à volta de qualquer um deles.
Resta saber as perspectivas futuras. Não admito, por exemplo, Paulo Bento, como alguns teimam em propagar como se fosse viável ou tivesse valor. Admitiria, sim, Carlos Carvalhal, que me parece ter muito valor humano e profissional. Qualquer deles um Alex Ferguson, o primeiro apodado de tal e corrido sem problemas, o segundo com mais potencial mas também no clube errado.
Mas um caso Alex Ferguson é uma questão de cultura e o Miguel sabe que isso é impraticável em Portugal.
Caro Miguel Pereira,
Permita-me apenas uma pergunta:
Imaginemos o seguinte cenário. As mudanças que pede concretizam-se. Contudo e se no próximo ano não ganharmos o campeonato também irá cheirar a podre?
Pergunto isto, porque acho um pouco exagerado estar a exigir mudanças drásticas, mencionar sempre os mesmos exemplos (Man Utd e Ferguson), falar em podridão, quando não ganahmos o campeonato.
O modelo de Manager de 1985 que defende não passa de uma incógnita. Uma dessas ideias teóricas (para não dizer utópicas) que são muito bonitas no papel mas dificilmente se podem aplicar a uma realidade em constante mutação.
Além disso o modelo que o FCP tem neste momento, seja ele qual for, tenha ele o nome que tiver, e que para alguns não passa de um modelo à volta de Pinto da Costa, tem dado frutos. Ou será que não? Eu pelo menos nas últimas décadas tenho dado por mim a festejar títulos com alguma frequência.
Obrigado
Concordo plenamente com tudo, só existe um problema onde encontrar alguêm com o dito perfil? Sinceramente só me ocorrem dois nomes Mourinho ou Carlos Queiros.
Zé Luis,
É sempre bom ler-te e é uma pena que já não o possa fazer no sempre certeiro Portistas de Bancada que me introduziu aos "blogs portistas" que a minha distância geográfica não me permitia conhecer a 100%.
Naturalmente que um modelo de Manager em Portugal é algo muito similar a uma utopia, sei-o perfeitamente. Especialmente no modelo de gestão que, precisamente antes da doença de Pedroto, se determinou para o FCP com Artur Jorge como treinador de campo e o "Mestre" como Manager à inglesa.
Depois disso passamos a ter o inverso. Um clube presidencialista à portuguesa onde o tecnico é apenas o instrumento da vontade da direcção. Funcionou em alguns casos, noutros não. Acabou por ser o profissionalismo, o rigor e a exigência das equipas presidenciais (com Teles Roxo à cabeça) que manteve o projecto em alta. A SAD destroçou essa ideia.
Sempre fui contra o modelo de SAD como o apresenta o clube e, tens toda a razão, aqui o menor dos problemas que tem o clube é o técnico. Pessoalmente acho que o JF não é mais que um treinador de nivel mediano. Preso tacticamente, sem chama, incapaz de arriscar e - a meu ver - pouco perspicaz na hora de montar planteis. Mas claro que a culpa não a tem ele. Não o gostaria de o ver para o ano por uma questão de gosto pessoal. Mas se me acenam como alternativas com Paulo Bentos, Domingos ou Villas-Boas, arrepio caminho. Isso é mais do mesmo em diferentes doses.
A questão do modelo que defendo - mesmo que nunca venha a ser posto em prática - ultrapassa a questão do técnico. Obrigaria a uma revisao da politica desportiva e administrativa de cima a baixo. Cargos de directores desportivos sem fundo de armário deixariam, finalmente, de fazer sentido. Poderia ser um processo longo, mas seria a meu ver o que melhor frutos traria a nivel estrutural. Centrar-se em titulos é uma questao meramente conjuntural.
Caro AFC,
Felizmente temos passado muito tempo nos Aliados. Mas como disse no texto os titulos cegam. E a meu ver isso é o que está a passar com o FCP. Os adeptos limitam-se a querer o titulo, de vez em quando a taça e pelo menos os oitavos da CL. Parece-me bem. Mas também me parece pouco.
E se essas mudanças se efectuassem, e naturalmente a equipa perdesse, nao me cheiraria a podre. Precisamente pelo que está no texto. Há projectos que sao mais arriscados que outros. E que precisam de mais doses de paciencia. O que já sabemos todos, na Invicta nao é fácil.
Para mim nao é por perdermos o campeonato que estamos num momento triste da nossa historia recente. É pela perda de rumo. Só propunho uma ideia alternativa. Pode nem ser a melhor, ou como diz o Zé Luis, a mais adequada para a nossa cultura. Mas também não gosto da vigente. Se houver outras alternativas, força com elas.
um abraço e obrigado eu
Parabéns Amigo...estas em todas!!
Em relação ao tema por ti lançado, concordo que o Jesualdo não devia ter renovado...quanto mais por 2 anos. Sinceramente acho que ganhámos pelo menos 2 campeonatos, não por mérito inteiro dele, mas sim por SLB e SCP estarem demasiado fragilizados.
A nossa cultura latina faz-nos vibrar demasiado com o futebol, não permitindo que um treinador se mantenha num clube sem ganhar títulos.
Benitez, Wenger, ... não "cabiam" tanto tempo num clube português, espanhol ou italiano.
E não podemos querer copiar algo, só porque é bom nos outros. Esta é a nossa forma de ser e não estou a ver grandes possibilidades de mudanças.
Precisamos de um treinador que chegue, ganhe e jogue bem (apesar de todas as condicionantes a que estará sujeito que já expuseste).
Por um lado é preciso um treinador que conheça minimamente o futebol português, pois o FCP este ano terá de utilizar a jovem "prata da casa"; por outro é preciso alguém com um carácter forte e uma mentalidade diferente da dos últimos anos.
Aposto no Domingos.
Já tem provas prestadas no nosso campeonato (Leiria, Académica, Braga), além de ter sido treinador do Porto B, conhecendo desde já alguns dos possíveis "reforços".
Além disso, foi um jogador influente no FCP, conhecedor da mentalidade do nosso clube.
Relativamente às características humanas vejo-o no mesmo grupo do Carlos Carvalhal, que o Zé Luís referiu no seu comentário.
Parabéns também ao blog por esta "nova aquisição". É uma prazer ler algo tão bem escrito e ainda por cima de um amigo de infância.
Continuação de bom trabalho.
abraço
Gostava apenas de saber quem são os "há quase 60 jogadores emprestados"!
O F. C. Porto tem 27 jogadores emprestados. Sendo que 8 deles envolveram investimento: Sapunaru, Prediger, Stepanov, Leandro Lima, Rentería, Pelé (atribuído um valor na transferência de Quaresma), Benítez e Leandro. Os restantes são os nossos jovens.
Digam-me, por favor, quem são os outros quase 33 que desconheço.
O clube maravilha em ano e meio já solicitou o empréstimo de 16 Milhões de Contos. 40 Milhões de Euros do novo empréstimo obrigacionista e outros 40, um ano atrás, relativos ao Papel Comercial. Não contabilizados nestes números estão todos os outros empréstimos bancários obtidos dando como garantias receitas de vários anos vindouros para a compra de jogadores. O plantel deles custou 18 Milhões de Contos, o nosso 12, quase totalmente à nossa custa.
Nós não estamos bem, mas eles sim, estão bem, não haja dúvida! A gestão deles é realmente a melhor e mais correcta. A máquina da propaganda consegue realmente dar cartas em todos os quadrantes! O que a perda de um título faz. Serve para colocar em causa tudo o que nos diz respeito, até por nós, os próprios adeptos, e valorizar todos os absurdos da gestão do nosso principal adversário, até por nós, adeptos adversários.
Fizessemos nós o que eles fazem, o que se diria!
E reparem que mesmo assim são necessários os favores regulares dos desequilibradores de preto!
Não estamos bem, mas daí à quase paranóia generalizada...
Um abraço
depende das "letras pequeninas" que se puserem.
tendo JF (ou qualquer outro) renovado contrato, concordo que tenha sido por dois anos.
é preferível pagar a indemnização que tenha sido acordada (se for o caso) do que, a meio da época, ver um treinador em fim de contrato a não conseguir disciplinar uns maduros que se revoltam no balneário, seguros de que o treinador vai embora e eles ainda têm mais 4 e 5 anos de contrato garantido.
Caro Miguel Pereira,
Só uma achega relativamente à questão do Manager.
Parece que nem em Espanha resulta:
"Schuster: «Pensei que Florentino tinha-se deixado de Valdanos»"
http://www.maisfutebol.iol.pt/espanha/bernd-schuster-real-madrid-jorge-valdano-florentino-perez-criticas-maisfutebol/1147595-1486.html
Paulop,
Propositadamente não coloquei nenhum nome porque é um cargo que exige muito de um técnico. Mourinho já sabemos como é, Queiroz é um óptimo gestor mas creio que sai a perder na questão táctica. Não tenho resposta para isso, mas lembro-me sempre que todos os melhores técnicos começaram sempre sobre grande suspeita.
Vitor,
Obrigado pelas palavras. Já sabes o que penso em relação ao Domingos. Não lhe vi ainda méritos para dar o salto e não sou apologista de que, só por ter estado na casa, e tu sabes bem o quanto o apreciava como jogador, seja o homem certo para o lugar. Culturalmente há muitas diferenças entre os latinos e os do norte e centro da Europa (ainda ontem disse o Mourinho na conferencia de imprensa que lhe impressiona que os seus rivais dos dias do Chelsea sigam todos no mesmo sitio, com um traço amargo de inveja) mas o que é bom deve-se sempre aproveitar, seja donde seja. Só assim se cresce.
Rogério,
Toda a razão. 60 é um número desorbitado de emprestados mas um número próximo aos jogadores a quem a SAD paga os salários. Há efectivamente 28 atletas do FCP emprestados com os salários pagos pelo clube. Parece-me uma barbaridade, sejam jovens a "rodar", sejam contratações falhadas. Mas são opiniões.
Mas, que eu saiba, no texto não se menciona o Benfica. Ou o Sporting. Ou quem quer que seja. E esse é parte do problema. O FC Porto não tem de agir conforme os restantes clubes estão ou deixam de estar. O FC Porto tem de agir na busca pela excelência, independentemente do dinheiro que se gaste lá em baixo, dá-me exactamente igual. Volto a repetir, a meu ver, nao se perde só um campeonato. O que digo aqui já o dizia há anos, quando os titulos cegavam. Agora que já nao há viagem aos Aliados muitos começam a compreender.
O problema do FCP nao é o Benfica, nunca o foi. Somos nos proprios. Quando nos superamos e ultrapassamos os nossos obstaculos, somos imparáveis. Gastem o dinheiro que gastem eles.
Nobigdeal,
Acredito que se deve mudar de treinador porque se deve mudar de projecto, de politica. Caso a politica se mantenha igual, acho que a SAD deveria ser coerente e manter o técnico. Para isso lhe deram carta branca durante dois anos.
AFC,
Claro que não, o Real Madrid é o clube mais presidencialista da história do futebol. O proprio Guardiola está a tentar (provavelmente sem sorte) aplicar o mesmo modelo no Barcelona. Mas duvido que o consiga. Mas continua a ser, apesar de tudo, para mim a opção desportivamente mais sólida. Mas se o clube quer continuar uma via presidencial, tudo bem. Lembrem-se apenas de que, a cada derrota, nao é ao treinador que se devem mostrar os lenços brancos. O problema é que é sempre ele que leva com elas. E os senhores da direcção incolumes ficam. E ficarão.
um abraço
Novamente aqui estamos a comecar uma discussao a partir de uma premissa errada... Com que direito dizemos que os jogadores nao valem nada e que portanto o novo treinador teria muito mais que fazer que Mourinho??
A situacao que temos e a mesma do Benfica no ano passado... um treinador que contagia os jogadores a jogarem devagar, sem ambicao, com muito medo... Temos o Quique portugues.... e como o Benfica do ano passado, de vez em quando fazem uma jogatana, mas depois voltam "os processos"... Mandem o Quique (Jesualdo) embora e tragam um treinador que nao complique (ponha a equipa obvia a jogar), esteja habituado e jogue para ganhar seja contra quem for e onde for, e que saiba tirar algum minimo proveito de jovens... Basicamente, dos treinadores que aceitariam vir e nos poderiamos pagar... venha o Jorge Costa (ate porque parece-me que os jogadores tem mais problemas psicologicos que de tecnica ou tactica...)
Caro Pedro,
Acredito que haja no plantel do FC Porto jogadores de talento. Mas, futebolisticamente falando, creio que é um plantel (e não digo onze, atenção) que se pauta pela mediania. Talvez sem alguns tropeções infantis servisse para consumo interno. Mas se queres ombrear com o melhor futebol tens de ser mais ambicioso. E não quero acreditar que olhes para este plantel e o vejas ao mesmo nível de 2002/2003. Para mim são incomparáveis. Por cada Marco Ferreira e Jankauskas que tinha essa equipa, havia um Maniche e um Costinha. Hoje isso não se verifica.
Há uma mão cheia de jogadores de qualidade e esses sim são vitimas da conjuntura actual. Mas há muitos jogadores que noutros planteis azuis e brancos (e noutros clubes do nosso nível) simplesmente não têm lugar. Mas a questão volta a ser a mesma Pedro. Para quem acredita que o FCP tem um problema conjuntural a mudança de treinador ou de algumas ovelhas negras no balneário até pode funcionar. Quem, como eu, pensa que o problema é estrutural, sabe que a questão do plantel e do staff técnico é o mais pequeno dos nossos problemas.
Um abraço
Fundamentalmente o âmbito das funções de um treinador em Portugal depende muito do perfil e personalidade do próprio treinador. Há treinadores mais acomodatícios à vontade ou caprichos dos dirigentes e há outros que não toleram interferências, nem sequer na constituição do plantel.
O próprio modelo inglês, que aprecio, já não está em muitos clubes no seu estado puro, com vários treinadores já sem as alargadas funções de outros tempos, especialmente no campo administrativo, muito embora nenhum dirigente de um clube inglês (exceptuando o Abramovich)tenha a iniciativa de contratar jogadores, com ou sem o acordo do treinador. A entrada de uma série de "patos bravos" estrangeiros no futebol inglês tem também, sem dúvida, contribuído para a diluição do papel do manager, sendo aqui de realçar que os proprietários estrangeiros de clubes ingleses que mais têm sabido respeitar as tradicionais funções dos treinadores são os americanos. Já quando se trata de russos ou árabes a coisa nem sempre funciona como devia.
Outro factor típico e quase exclusivo do futebol inglês é a longevidade dos treinadores à frente das equipas, mas mesmo isso já conheceu melhores dias. Actualmente, e escrevendo de memória, apenas seis treinadores da Premier League estão no cargo há mais de 3 épocas: Sir Alex Ferguson (Man. U., 25 anos), Arsène Wenger (Arsenal, 13 épocas), David Moyes (Everton, 8 épocas), Rafael Benitez (Liverpool, 6 épocas), Tony Pulis (Stoke City, 4 épocas), Mick McCarthy (Wolverhampton, 4 épocas) e Martin O'Neill (Aston Villa, 4 épocas). Claro que, em qualquer outro país, estes números são inconcebíveis, mesmo noutros países europeus não-latinos. Uma questão de feitio, de cultura e uma questão, simplesmente, de "perceber de bola".
já tivemos um hipótese... chamou-se José Mourinho e acho que a Sad devia ter feito um "pressing" para incutir a cultura de vitória que o clube tem!
Afinal de contas, ele ainda nao ganhou mais nenhuma champions, nem UEFA..
E se o tivessemos mantido, criando amor ao Porto e paixão por todo aquele projecto? Propondo-lhe ganhar penta, champions e tudo o resto nos anos seguintes!
seria mais desafiante do que conquistar o titulo inglês, italiano e, porventura, espanhol?
Talvez.
Mas so ele pode responder a esta questão.
PS: peço desculpa d so falr em Mourinho mas e um treinador q me marcou. Um líder, sábio, entendedor, motivador, companheiro, trabalhador! enfim.. ele é isto tudo porque é o melhor... de sempre! tenho pena q a SAD nao tenha visto isto!
Obviamente 7 e não 6 treinadores.
Gostei do texto mas não consigo concordar com a linha de prioridades.
Não é a questão do "manager" que me assusta ou mesmo a substituição de Jesualdo - de quem sempre fui e sou apoiante. Continuo, como em anos anteriores, a entender que o portista, genéricamente, escolhe sempre o caminho errado - substituir o treinador.
Eu só assumo que o ciclo de JF acabou, APENAS porque ninguém consegue trabalhar com 90% dos adeptos a darem-no como culpado.
Já escrevi isto mais de "1000" vezes - é pedir contas e responsabilidades a uma mão cheia de administradores incapazes de gerir o "monstro" que criaram. Não têm visão estratégica, comunicacionalmente estão ao nível do pior benfica/sporting e pior do que as causas anteriores - deixaram-se corromper, uns pelos Araújos, outros, pelas vendas milionárias que vão deixando umas gorjetas em bancos da Suiça e os restantes pela descoberta que fizeram com o viagra.
Em suma, quando os portistas cortarem o eucalipto, pode ser que o FCP tenha um futuro digno do Sec.XXI. Se o mantivermos, o trajecto vai ser bem penoso, porque desenganem-se aqueles que acham que é com treinador X ou Y que isto lá vai.
PS. Lucho, diz que pensou em acabar a carreira no FCP. Não o deixaram. E depois fala-se em falta de "comandantes". É o dinheiro que manda na cabeça dos SADistas. E treinador que o Eucalipto queira, terá sempre de ser alguém que concorde com objectivos de clube da 2ª DIV europeia.
Um abraço Miguel Pereira.
Gustavo disse:"peço desculpa d so falr em Mourinho mas e um treinador q me marcou. Um líder, sábio, entendedor, motivador, companheiro, trabalhador! enfim.. ele é isto tudo porque é o melhor... de sempre! tenho pena q a SAD nao tenha visto isto!´"
Gostos não se discutem, caro Gustavo, mas esse Mourinho, além de tudo o que referes, é o mesmo tipo que diz que "ama" o Chelsea e se tem derretido todo com o seu regresso de hoje a Stamford Bridge mas que, quando se tratou de voltar ao Dragão com o Chelsea, disse que jogar contra o Porto era, para ele, como jogar contra outro clube qualquer e que ir ao Porto era como "ir a Palermo". A isso chama o povo português "cão que não conhece o dono". Escusado será dizer que, mais logo, estarei a torcer pela eliminação do Inter e, consequentemente, mais um fracasso desse pavão emplumado na Liga dos Campeões.
Alexandre,
Naturalmente a entrada de vários investidores estrangeiros na Premier League levou também a outro tipo de gestão afastada do modelo histórico de Manager que se ergueu nos anos 50/60. E que fique claro que os ingleses também não são perfeitos, continua a haver muitos clubes que contratam 2 ou 3 treinadores por ano se as coisas não vão bem. Acho que um técnico com controlo em diversas áreas é um técnico mais responsável. Se se limita a cumprir ordens ou se tem um campo de acção reduzido, o seu impacto acaba por ser directamente proporcional. Veremos logo como sai a eliminatória ;-)
Gustavo,
Como disse bem o Alexandre, o José Mourinho nunca ficaria num clube como o FC Porto. É uma ave que quer outro tipo de voos. O seu "amor eterno" ao Chelsea resulta, pura e simplesmente, de saber que é um grande europeu onde poderá voltar e ser bem recebido e ter todas as condições de voltar aos triunfos. Para ele Portugal nunca seria um desafio, independentemente dos objectivos colocados. Mas, uma coisa é certa, para funcionar um modelo de Manager é preciso alguém com caracter, dominador de várias vertentes do jogo (dentro e fora do terreno de jogo) e um bom gestor. Exceptuando Mourinho, desde José Maria Pedroto que o FC Porto não tem um técnico com essas caracteristicas.
Miguel,
Obrigado pelo apoio. Concordo contigo a 100%. O texto centra-se apenas na figura do técnico por uma questão de gestão. Mas também porque, o modelo que defendo, implica directamente uma mudança muito grande na estrutura administrativa. E como sempre disse e repito, aí está o "cancro" do FCP. Na gestao da direcçao ou da SAD (quase se confundem na sua inoperancia). Nao tenho nada contra o JF, já vi muito pior no Porto infelizmente. Vejo-lhe limitaçoes mas acima de tudo, é preciso reforçar que o JF é o tipico de técnico que agrada ao FCP. Submisso, servil e bom para levar com as balas. Isso, com a figura do Manager, nao faria sentido. Está claro que o contentor argentino vem sem o desejo expresso do técnico. Eles limitam-se a chegar ao Olival e Jesualdo lá os poe a treinar. Nao creio que tenha muito voto na matéria, se queres que te diga. E aí é justo que se atribuam as responsabilidades a quem é devido.
A nivel de organizaçao acho realmente que o FCP desceu uns bons furos do que era. Ao assumir-se como um clube presidencialista, assume também que precisa de um lider activo, omnipresente e infalivel. Nos ultimos anos PdC não foi nada de isso. E os que se amontoam à sua volta, á espera da inevitável sucessão, revelam-se imitaçoes baratas da sua pior forma.
O teu PS é tudo aquilo que sinto nisto momento relativamente à nossa direcçao.
um grande abraço
Miguel Pereira: "Mas, uma coisa é certa, para funcionar um modelo de Manager é preciso alguém com caracter, dominador de várias vertentes do jogo (dentro e fora do terreno de jogo) e um bom gestor. Exceptuando Mourinho, desde José Maria Pedroto que o FC Porto não tem um técnico com essas caracteristicas."
Aqui discordo, caro Miguel. Artur Jorge e Bobby Robson (que até fora manager em Inglaterra)e, porventura, o próprio António Oliveira, tinham essas características
Bem, antes de mais, o Jesualdo Ferreira utiliza o tal "contentor" argentino com tamanha frequência que não parece mesmo nada que esteja a ser "forçado" a algo de que não goste.
Estou até em crer que, podendo, Marianos e Guaríns seriam jogadores típicos que Jesualdo escolheria por sua total e livre iniciativa.
Segundo, esta questão do "manager" esteve em voga há muitos anos atrás.
De então para cá, só 2/3 clubes de topo ainda mantêm essa ideia como base da sua organização.
Desses, apenas o Manchester United é um clube regularmente vitorioso.
O Arsenal, pese embora o seu futebol atractivo, nem tanto.
Caros dragões, queria lançar aqui uma questão. De entre os muitos jogadores da nossa liga quem vos parece que tem qualidade para entrar no Dragão? Lancem alguns nomes...
O Martin Edwards da foto é filho do antigo presidente do Man. U.(1965/1980)Louis Edwards, também conhecido pelos seus pouco claros negócios de grossista do ramo alimentar. Foi o Martin Edwards que, ao colocar as acções do clube na bolsa, acabou por permitir a aquisição hostil do mesmo pelo Malcolm Glazer, coisa que o clube está a pagar com língua de pau, pois o Glazer imputou ao clube o gigantesco financiamento que contraíra para levar a cabo a aquisição.
Em 2002 este Martin Edwards teve de demitir-se de presidente do clube após alegações de que teria usado os serviços de uma prostituta numa viagem ao estrangeiro ao serviço do clube. Permanece hoje no clube como presidente honorário vitalício e membro do conselho e administração.
De notar que Alex Ferguson esteve longe de ser um êxito instantâneo em Old Trafford, após lá ter chegado em 1986 vindo de uma carreira de sucesso no Aberdeen. Em 1988/89, por exemplo, o clube terminou o campeonato em 11º lugar. A paciência, perseverança e apoio incondicional de Martin Edwards foram fundamentais ao futuro sucesso de Ferguson. Essas qualidades também não se encontram com facilidade entre os dirigentes dos clubes portugueses.
Alexandre,
Com o Bobby Robson poderia concordar. Era um excelente técnico e um homem dedicado. Quanto ao Artur Jorge, parece-me que, apesar de tudo, foi um Mourinho precoce no sentido que saiu à primeira oportunidade para um projecto "tentador" no estrangeiro, quando tinha tudo para ser o sucessor moral do Pedroto durante largos anos.
Relativamente ao António Oliveira, não tenho nada a dizer como jogador, mas confesso que não gostaria ter ninguém do seu caracter como Manager do FCP. Mas pode ser que tivesse sido uma outra opção.
Excelente apontamento histórico do Martin Edwards. É verdade. Se nao ha cultura de Managers em Portugal é também porque a estrutura dirigente é do nivel que é. E isso é um problema estrutural do país, nao só do mundo do futebol.
Um abraço
Ainda a questão dos Managers.
Pergunto até que ponto eles têm a influência desejável sobre tudo o que é organização da equipa?
Será que Alex Fergunson quis contratar Sung Park porque ele era um excelente jogador ou apenas porque era um asiático. Pergunto: será que a decisão é dele ou da Administração que lhe indicou aquele jogador?
Devo salientar que as comparações com os campeonatos ingleses, espanhóis e italianos são sempre complicadas.
Portugal é um país com cerca de 10 milhões de habitantes e este é o mercado dos clubes portugueses. Ora o nosso termo de comparação é com países da mesma dimensão como a Bélgica, Holanda, etc. E comparando com estes o FCP é uma história clarissima de sucesso. Creio que desviarmo-nos do rumo até agora seguido tentando copiar estruturas não será o melhor caminho.
O FCP sempre foi um clube relativamente fechado. E nenhum treinador teve completa autonomia para decidir contratações. Mas atenção. Não teve o treinador do FCP assim como não têm os treinadores das grandes equipas europeias. Poderia dar vários exemplos. Recordo-me de Zyrkov no Chelsea.
Nem Mourinho teve essa autonomia. Da equipa que jogou a final de 2004 apenas Nuno Valente e Derlei foram exigências do treinador. O resto são jogadores que já estavam no clube (Vitor Baia, Jorge Costa, Ricardo Carvalho, Costinha, Deco, Alenitchev) ou foram contratados pela direcção e apenas tiveram o aval de Mourinho numa fase final (Paulo Ferreira, Maniche, Benni, Carlos Alberto, Pedro Emanuel). Foi portanto um trabalho do Departamento de Prospecção que é controlado pelo clube e não por um treinador acabado de chegar. Esse é o mériot que temos que dar a quem dirige o clube.
quero felicitar o excelente artigo de opinião que acabei de (re)ler. concordo plenamente com as ideias nele defendidas: acima de tudo, há um modelo de gestão que ultrapassou o prazo de validade e que merece ser repensado.
também defendo que: 1) há que considerar seriamente a sucessão de Pinto da Costa à frente dos destinos do Clube - o Homem não é eterno e o nosso presidente já comemorou 73 primaveras (apesar de parecer um jovem imberbe. basta ler as notícias cor-de-rosa para o percebermos...); 2) para além das tácticas, dos sistemas de jogo e da planificação dos plantéis, há que perceber que tipo de treinador pretendemos e que tipo de jogador é capaz de envergar a camisola do FCP.
serei preciso neste último ponto: gostaria de ver, por exemplo, um treinador como Guus Hiddink a treinar o meu clube. para mim, seria "ouro sobre azul" - tanto mais que tem um preço de mercado equivalente a um Prediguer, por assim dizer ;)
por último e em sintonia com o tipo de jogador, será de elementar justiça que o próximo treinador conceda mais atenção à formação do clube - o célebre projecto "Visão 6/11" - e conceda reais oportunidades às jovens promessas do Clube - um aspecto muito descurado por Jesualdo. e (re)lembro que, no jogo contra a Académica, não fosse a inesperada lesão do Mariano, o Professor preparava-se para efectuar «apenas e só» uma única substituição ao longo de todo o desafio e com o resultado a evidenciar um mais do que provável empate.
ou seja: é confrangedor percebermos que, para além de não haver "banco", há vários jogadores que poderiam ter a oportunidade de intervir e não o conseguem - como, por exemplo, o Sérgio "30 milhões" Oliveira.
bem hajam e MUITOS PARABÉNS! pelo vosso espaço de reflexão.
saudações PENTCAMPEÃS
Zé Luís disse...
«trabalha nas condições que o clube lhe oferece para trabalhar: vendendo pérolas, gerindo os activos, compondo a manta. A gestão de risco foi sempre assumida pela SAD, porque carga de água o treinador paga as favas?»
Excelente pergunta, caro Zé Luís mas, como o Miguel Teixeira escreveu em cima, ninguém consegue trabalhar com 90% dos adeptos a darem-no como culpado (eu penso que serão mais de 90%).
Miguel,
Eu não estava a referir-me ao carácter do Oliveira - nem ao de nenhum dos outros que referi. Apenas pretendi dizer que acho que ele tinha a capacidade para ser um manager. O mesmo se diga do Fernando Santos, independentemente da sua valia técnica.
Abraço
Miguel Pereira disse...
«Para quem acredita que o FCP tem um problema conjuntural a mudança de treinador ou de algumas ovelhas negras no balneário até pode funcionar. Quem, como eu, pensa que o problema é estrutural, sabe que a questão do plantel e do staff técnico é o mais pequeno dos nossos problemas.»
Caro Miguel, também me parece que, no nosso modelo presidencialista, estando o presidente longe dos seus melhores dias e preocupado com outros assuntos, temos um problema estrutural.
Contudo, não me parece que a questão da qualidade do plantel seja uma questão de somenos. Um plantel de qualidade, onde existam referências sólidas da cultura e identidade portista, será sempre o alicerce em cima do qual se poderão construir equipas de sucesso.
Alexandre,
Eu sei, foi um aparte meu. Acho que o Oliveira era um treinador ousado (aquela vitória em Milão!!) mas havia algo nele que me deixava uma eterna desconfiança. Mas concedo que possas ter razão relativamente á esmagadora maioria dos técnicos, sendo que vejo mais o F. Santos e o B. Robson (no seu lado de gentlema) mais propicios a trabalhar em regimes presidenciais que o A. Jorge ou Oliveira.
AFC,
Tens toda a razão. Precisamente por isso quis deixar claro que estamos bem piores que em 2002. Porque aí havia um plantel de muita qualidade. E houve incorporações inteligentes da direcçao. Alias o Mourinho nao é um genio nas contratações. É-o mais a sacar o melhor de cada jogador.
Concordo com a dificuldade em importar um modelo como o de Manager e isto nao deixa de ser um "wishful thinking". Mas o FCP é mais do que um clube presidencialista. É um clube pintocostista. E isso tem data de validade, já se ve. E com outro presidente, no mesmo modelo de gestão, pode-se garantir o mesmo sucesso que uma mudança de rumo? Não acredito. Qualquer clube que depende de uma figura tão forte ou empalidece com o fim desta ou regenera-se totalmente. Eu aposto claramente na segunda.
E quanto ao caso do Park, ele ja estava no PSV, clube com que o Ferguson mantém boas relações. Uma coisa boa nele é que sabe gerir o aspecto comercial mas impoe-se sempre. E gosta de ter operários. Park pode vender muitas camisolas, mas é muito util em campo. Se nao o fosse duvido que estivesse ainda em Old Trafford. Mas para um tecnico ser assim precisa de muita estaleca
Penta1975,
Concordo com a maioria do que escreves e naturalmente Hiddink é um bom treinador. Mas é um "mercenário", na melhor acepção do termo, e nunca o prenderiamos aqui mais do que um ano ou dois. E precisamos de alguém com continuidade. Quanto a PdC, estamos de acordo.
Jose,
Concordo em absoluto e não quis deixar de transparecer a minha preocupação com o plantel actual e a falta de uma estrutura á Porto. São aspectos fulcrais, especialmente a questão de balneário. Mas no caso deste texto tentei preocupar-me mais com o aspecto estrutural do que a conjuntura actual que tão bem aqui têm tantos analisado e com a qual concordo plenamente.
um abraço
caro Miguel:
você a certa altura da sua resposta ao margot diz o seguinte:
"Esse cargo implicaria muito mais para o técnico do que simplesmente treinar durante a semana e escalar o onze titular. Implicaria um envolvimento profundo em distintas áreas do clube, na formação e na gestão de activos e também nas movimentações de mercado."
Ora nessas circunstâncias só conheço uma pessoa plena noção de todas a áreas sobretudo noção de como conseguir consiliar jogadores "estrangeiros" com jogadores da formação: Luis Castro.
Ele mais que ninguém tem plena noção do real potencial dos miudos, além de ser bom treinador com uma mentalidade realista e ambiciosa! Além de ter o maior de todos os atributos: É portista!!
p.s: não, não fui pago para o promover, mas estou farto de ver nomes atirados para o lugar sem a mínima qualidade ou argumentos para tal. enquanto se falou só de 3 nomes: Jorge Costa,Domingos ou Vilas-Boas , eu não me pronunciei pois são homens da casa e por isso achei que até poderiam ter perfil; mas ouvir falar em Paulo Sousa???não tem um único ponto a favor a não ser o agente dele ser o jorge mendes...
Saudações portistas!!!
O adepto portista é pouco paciente por natureza. É verdade. Também sou. Quando o FCP perde, fico fulo e digo muitos disparates. Não sou exemplar. Raramente poupo o treinador e os jogadores que mais me desagradaram, de casa ou de fora. Não faço distinções. Nem penso na estrutura.
Esta impaciência feita de dor, dura 48 horas. Depois regresso e sou capaz de ponderar com mais razoabilidade os acontecimentos. Converso, discuto e mando palpites. De vez em quando, uns escritos como forma de participar no diálogo entre portistas.
Ninguém gosta de perder e sempre houve quem rasgasse os cartões na hora da derrota. Mas, a grande maioria seguiu o meu caminho. Foram muitos anos de espera. Paciente e cheia de esperança. Ia-se para todo o lado e enchia-se as estradas de bandeiras azuis e brancas. Perdia-se demasiadas vezes e, apesar disso, o FCP cresceu sempre.
Não é por morrer uma andorinha que acaba a primavera. Este ano tem sido um desastre feito de muitos incidentes. Mas, a situação não sendo de desespero não dá margem para errar tanto, até porque o FCP não pode deixar de constituir-se como candidato ao título da próxima época e contar com argumentos para tal. E não devemos exigir menos à SAD.
Bem, antes do mais quero deixar os meus sinseros parabéns e agradecimentos ao Miguel por um magnifico texto, profundo mas claro e acessível, bem como a todos os que aqui comentaram os temas em discussão com contribuições excelentes.
Agora os meus pobres "two cents":
Em primeiro lugar não creio que a equipa de hoje seja tão inferior à de 2001-02 quanto isso. Certo que tinhamos o Baía, o Deco, o Costinha, o Capucho e o McCarthy, mas tambem tihamos o Pavlin, o Maric, o Quintana, a pior versão do Secretário, o Ricardo Costa, o Pena, e por aí adiante.
Segundo o blog http://paixaopeloporto.blogspot.com/2008/05/foto-do-dia-fc-porto-200102.html nessa altura o Otávio jogava com 3 trincos (Paredes, Costinha e Soderstrom)!
Ora, isto não me parece uma equipa assim tão superior à de hoje em dia, mas isso é a minha opinião.
Outro aspecto que já aqui foi referido é que não são 60 jogadores sob empréstimo mas cerca de 50 e poucos sob contrato com a FC Porto SAD. Emprestados são cerca de 25.
A questão do "manager" sempre foi uma questão que me seduz bastante e todas as épocas em que o Porto se revela mais frágil, lá volta à baila.
Creio que é impossível - realisticamente impossível - implementar uma estrutura não presidencialista em qualquel clube português pelo menos durante as próximas 2 ou 3 décadas. Porquê? Porque somos, regra geral, um povo de ovelhas que tem muito pouca propensão para mudar o que quer que seja.
Logo, alguém que se distinga ao serviço do clube será um forte candidato à presidência do mesmo.
Tendo dito isto, concordo que o modelo presidencialista se diluiu bastante com a chegada das SADs, onde vários interesses se cruzam mesmo dentro das direcções executivas.
Eu não vejo mal no facto do clube ter um modelo que se perpetue, ainda que com nuances, independentemente do treinador. Isso é a mística e a imagem e alma do clube. O treinador trás métodos e competências e ideias próprias mas que deve sempre adequar à realidade do clube que o contrata.
Penso que foi este um dos pontos em que Jesualdo Ferreira mais deixou a desejar: para ele a equipa terá de jogar dentro de um modelo rígido, onde os jogadores ou se adaptam ou são postos de parte.
A sua inflexibilidade táctica tem aspectos positivos e negativos, mas infelizmente, tornam-se mais evidentes os negativos quando todos os adversários sabem como hão de fazer para nos derrotar.
Daí que eu apoie a mudança de treinador e entre os potenciais candidatos ao lugar, prefira o Domingos.
Quanto mais não seja porque a dupla Domingos / Baía (este muito dificilmente escapará a ser Presidente do FC Porto, clube e SAD) parecem ter um destino comum traçado.
Ruben,
De todos os nomes que vieram à baila, confesso que não gosto de nenhum. Acreditar que "Guardiolas" e "Mourinhos" nascem da terra assim como assim é de loucos. E não vi nenhum destelho de genialidade em cada um desses nomes. Quanto ao Luis Castro, não conheço o seu trabalho. Pode ser um elemento a ter em consideração. Na estrutura actual do FCP há um elemento, creio que actualmente treinador das camadas jovens, que sinto que respira futebol e parece ter aprendido bem a licção enquanto jogador. Tem perfil de líder e creio que terá um futuro interessante. Mas talvez seja demasiado cedo para ele.
Mário,
Acho que somos todos assim. Quantas vezes nao voltei do estádio a jurar que nunca lá mais punha os pés. Ou que "odiava" tudo o que tivesse a ver com o clube. Está no sangue de cada adepto. Nao há exemplos perfeitos. Ontem, ao ouvir uma rádio inglesa, percebi que todos os adeptos que entravam no ar queriam uma "revoluçao" no Chelsea. Uma equipa com treinador novo, alguns dos melhores do Mundo e lider da Premier. O adepto é impaciente por natureza.
Hmocc,
Obrigado pelas tuas palavras,
Para que vejas o quão certo estás, em Espanha já se fala em Guardiola como presidente do Barcelona daqui a um par de anos. Isso diz tudo sobre o modelo de gestão latina. E também das nossas debilidades.
O problema para mim do FCP nao é ser um modelo presidencialista. É ser um modelo pintocostista. Estivemos nesse limbo em 1985 e optamos por essa via. Deu-nos muitos titulos e alegrias mas é um modelo gasto. E se acenta numa pessoa como lider, temos de ter cuidado em saber quem é e que planos tem. Hoje em dia a SAD e a direcçao estenderam uma cortina de fumo. Se houvesse uma politica clara e concisa, talvez não fizesse falta este tipo de discussões.
Quanto ao plantel de 2002 e o de agora, concedo naturalmente que era um plantel que nos dava muitas dores de cabeça. Sofremos muito nessas longas noites. Mas a base, creio, era melhor. Baía, J. Costa, J. Andrade, Paredes, R. Carvalho, Costinha, Alenitchev, Deco, McCarthy, Capucho, Postiga (o de então) eram mais de meia-equipa. Hoje não consigo sumar o mesmo número de jogadores de 1 nivel. Que depois havia muita merda, isso está claro (Ibarra, Mario Silva, Rubens Jr, Frederiks, Pavlin, Pena e companhia). Mas era um grupo sólido, que já levava anos juntos, e que só precisava de ajustes. Entre as compras da direcçao e as apostas do Mourinho, fez-se ali uma equipa única.
Um abraço
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