domingo, 27 de maio de 2012

O dia de maior glória da nossa história


Estava quente, naquela manhã de 27 Maio de 1987.
Ainda as finais se disputavam, felizmente, nas mágicas quartas-feiras.
Seria uma data que qualquer portista jamais esqueceria.

Ainda na véspera, ouvíamos, à noite, a "Bola Branca" na "RR".
Sem net, era a única forma de, na altura, ficarmos a par das últimas, directamente do hotel em Viena.
O último jornal na TV limitara-se a um "Esperemos que a notícia de abertura de amanhã seja a vitória do FCP!".
Jaime Pacheco seria o único jogador a ficar de fora, dizia-se. E, assim, fomos todos dormir.

Saberíamos mais tarde que, naquela mesma madrugada, Madjer estava a meditar em todas as fintas e dribles que poderia fazer no dia seguinte. Não queria deixar nada ao acaso. Confessou-o no seu livro "Madjer, l'artist".

No dia D, acordamos com o programa de manhã da RTP.
Ainda por lá não se dançava música-pimba com cachecóis à mistura, mas o vidente de serviço assegurava que os ventos estariam de feição para as nossas cores. "Não era um garantia, mas...".

E como foi difícil trabalhar ou ir para as aulas naquele dia.
Nunca mais eram as 19h15...
E tudo muito quente continuou, naquela esplêndida tarde de sol.

Como habitualmente na altura, a emissão da RTP começaria praticamente em cima do apito inicial.
Ninguém se via nas ruas da baixa. Silêncio se fez. Era o jogo das nossas vidas.

E o resto é História.

Discurso do rei Artur ao intervalo: "Daqui a 45 minutos não há bola que foi à trave e, por azar, não entrou; não haverá também desculpas com o árbitro nem outras quaisquer. Daqui a 45 minutos, vocês são Campeões da Europa ou não!".

Frasco, Juary e Madjer. Madjer e Juary. 10 minutos intermináveis, mas o Mly lá nos acalmava um pouco. 
Apito final.

Pinto da Costa a desmaiar, ainda no camarote, e o João Pinto a não largar o caneco nem por nada. "Um rapaz como eu com a Taça dos Campeões nas mãos!"
E eis a a foto de família dos vencedores: os saudosos Teles Roxo e Zé Beto. Também nomes, agora algo "estranhos", como D'Onofrio, Álvaro Braga Júnior ou mesmo Octávio. O grande Dr. Domingos Gomes: "Destas fotos, já ninguém me poderá retirar". Casagrande, que não chegou a ser preciso. Festas, um júnior, que ainda andava pelo "Alexandre" a estudar. O "Moreno" e o Rodolfo Moura. O Prof. João Mota. Até o inefável Delano Vieira lá pelo Prater circulava.

Os grandes favoritos, esses que até se davam ao luxo de jogar com o veterano Hoeness, para a sua despedida, perdiam ali mesmo ao pé de sua casa.
Mais derrotas muito penosas, em finais europeias, se seguiriam para este Bayern.

E pronto, os noticiários começariam mesmo com a frase mais bonita que um adepto pode desejar ouvir: "Boa noite, o FCP é Campeão Europeu!".

E depois aquela multidão imensa nos Aliados.
Até Domingos Paciência, júnior já famoso de tantas vezes ser chamado ao plantel principal, por lá andava.

Poucas horas se dormiriam.
Os atletas ainda chegariam a aparecer no relvado das Antas, já a madrugada ia bem alta, mas meio tímidos.

E eram primeiras-páginas de chorar de orgulho, as do dia seguinte:
"Porto, Rei da Europa", no "JN".
Até mesmo o Alfredo Farinha d'"A Bola", que teria levado a pá para Viena, se renderia ao "Danúbio Azul".

Crianças festejavam, felizes, jogando à bola pelas ruas e escolas do Porto.
Importante mesmo, naquele dia 28, era marcar um golo de calcanhar.

Foi preciso esperar até ao Domingo seguinte para voltar a sentir grandes emoções.
Último jogo do campeonato contra o Elvas. Grande enchente nas Antas. Já de manhã, Juary e Madjer, abraçados na capa do Record, asseguravam: "Heróis só nos filmes!".

E era vê-los, todos ali, a entrarem em campo com a Taça dos Campeões nas mãos. Afinal, tudo aquilo tinha sido mesmo verdade.

Goleada das antigas. Madjer e Futre poupados, jogariam apenas meia-parte. Chegou e sobrou.


1986/87 escrito a letras de ouro.

Meses depois e com tempo para reflectir, ainda a muitos custava acreditar que tudo tinha acontecido assim mesmo: de modo tão perfeito.

Em 27 Maio de 1987 tudo mudou. 
Nunca mais seriamos os mesmos.

6 comentários:

Azulantas disse...

Ainda hoje esse momento é o momento que considero mais alto da minha vida de adepto portista.

Nunca mais houve nem vai haver noite tão inesquecível como a de Viena.

Sevilha e Gelsenkirschen foram excelentes, tal como Tóquio, mas Viena foi superlativa, foi sublime.

Provavelmente a melhor última final do tempo em que o futebol ainda não era um negócio-circo, ,as sim um desporto profissional de alta competição.

Carlos disse...

Excelente texto.
A relembrar como vivi esse grande dia.

iur disse...

A palestra de Artur Jorge, no intervalo, foi o despertar para uma segunda parte memorável: Têm 45 minutos para entrar na História do Futebol. E isto não é um sonho, é a realidade.

25 anos passaram e recordamos, com emoção, uma realidade de sonho. 27 de Maio de 1987, um dos dias mais felizes da minha vida.

Um abraço a toda a família Portista.

Antonio Silva disse...

"Como habitualmente na altura, a emissão da RTP começaria praticamente em cima do apito inicial."

Só que no ano seguinte a RTP teve uma "Tarde Especial Benfica" a recordar os feitos de há um quarto século antes.

Já agora recordo a final da Taça de Portugal de 1988 onde a RTP se limitou a uma transmissão roskoff só com 2 ângulos de visão do campo. Já no ano seguinte a RTP brindou a final do Benfica - Belenenses com uma transmissão de luxo, com câmaras por todo o lado. Quem pagou por isso? Os contribuintes, claro.

Unknown disse...

Este foi o dia, este foi o jogo.

Não sei o que nos reserva o futuro, mas diria que é impossível igual este dia.

Penta disse...

excelente!

somos Porto!, car@go!
«este é o nosso destino»: «a vencer desde 1893»!

saudações desportivas mas sempre pentacampeãs a todas(os) vós! ;)
Miguel | Tomo II